No cainho arrisquei perguntar à Ian sobre a Sunny, estava ainda meio confusa com o fato de ela ter partido, ninguém sabia para onde, tudo o que sabíamos é que depois de brigar com Kyle ela deixou a caverna e não deu mais sinal de vida. Sabia que o relacionamento entre os dois ia passar por crises, principalmente por Jodi ter sido completamente suprimida, mas não tinha ideia de que seria tão conturbado. Sabia também que mais cedo ou mais tarde ela daria as caras, e o desaparecimento recente de Brant me indicava que Kyle o havia mandado atrás dela.

Ian demorou um pouco para responder, estávamos um tanto quanto longe da "cozinha" ainda, por isso a pressa não lhe parecia acessível.

- Kyle está ansioso para a volta dela. Já faz uma semana. - Disse em tom sério, mas depois riu, perdido em alguma lembrança. - Acho que essa mania da Jodi ficou nela. Jodi sempre sumia e deixava o Kyle louco.

Não pude deixar de rir de volta, minha preocupação tinha desaparecido um pouco e apesar de eu tentar não pensar nela nos últimos dias, não conseguia simplesmente desligar, queria que ela voltasse para casa logo.

- Ele fica menos nervoso quando ela está por perto. - Comentei.

Ian me puxou para mais perto, desenlaçando nossas mãos para poder colocar a sua em meu ombro, o afagado levemente.

- Sunny o faz bem, talvez ele supra essa dor de ter perdido a Jodi.

- Acho que não será muito provável. - Admiti em voz baixa e acrescentei em seguida. - Deve ser meio difícil para ele, olhar para a Sunny e ver só ela ali, nem uma ponta de sua Jodi.

- Ele prefere tê-la dessa forma do que perdê-la para sempre. - Rebateu Ian, mantendo sua voz tão baixa quanto a minha. - Talvez Jared pensasse dessa forma quando Melanie era sua hospedeira. - Ele deu de ombros rapidamente, voltando a falar. - Acho que nunca irei entender.

Sua voz continha um leve tom de tristeza, misturado com um pouco de dúvida, nada era muito confiável naquela época.

- Não precisa entender. - Balbuciei. - Nunca vou deixar você.

- Eu sei que não, Peg. 

Seus lábios tocara minha testa exatamente no minuto em que entramos na cozinha. Estava cedo, muito cedo. Mas ainda assim havia uma boa quantidade de pessoas ali, todas sentadas em seus lugares comendo lentamente. A colheita fora boa no dia anterior, portanto a pressa não era algo prominente naquele momento.

Acompanhei Ian sentando-me à seu lado, enquanto o via puxar a cesta de pão para perto de nós, me encorajando a pegar um. 

Melanie apareceu de repente, se sentando no banco de frente para mim e com um sorriso feliz no rosto.

- Tenho uma boa notícia! - Exclamou. Pude notar seus olhos brilhando.

- O Kyle não está choramingando pelos cantos? - Mel o olhou feio, praticamente imitei seu olhar. - O quê? Isso seria uma boa notícia.

Dessa vez Melanie o ignorou, retirei meus olhos dos dele quando, quando sua boca se abriu e ela voltou a falar, como se Ian não tivesse soltado suas pérolas.

- Tem haver com o Kyle. - Começou, olhando para nós, esperando que descobríssemos o que ela tinha para dizer. Mas eu não era boa em adivinhar as coisas. Muito menos Ian. Mel bufou. - Ah, vocês são horríveis nisso! Enfim, ouvi Jeb falar com Doc hoje de manhã e aparentemente, Brant localizou a Sunny! - Antes que eu pudesse falar algo, ela completou. - E é por isso que o Kyle não está aqui. Ele foi buscá-la, ou algo assim.

- Onde ela está?

Ian foi mais rápido.

- Não sei. Mas é uma boa notícia não é?

- Claro que sim! - Exclamei de volta. Um sorriso brincava em nossos rostos, eu estava feliz em saber disso.

- Cadê o Jared?

Ian parecia meio submerso ao assunto, como se toda a felicidade em saber que Sunny estava bem tivesse sido preenchida por algo ruim, que ele mantinha para si mesmo.

- Qual o problema? - Perguntei ao mesmo tempo em que Melanie falou: - Na sala do Doc, com o Tio Jeb.

E então, antes mesmo que me respondesse, Ian se levantou e se dirigiu a porta em passar rápidos, sem olhar para trás. Não pude deixar de notar que minha boca estava levemente aberta, não havia entendido nem um pouco, o porquê daquela reação.

- Qual o problema dele?

- Boa pergunta. 

Mordi meu pão. Melanie continuou me olhando por alguns minutos, mas depois entendeu sua mão por cima da mesa e agarrou um dos pães que ainda restavam na cesta. Aquele silêncio todo ajudava minha mente fértil a criar perguntas sobre o motivo de Ian ter agido estranhos, mas eu não queria pensar que ele estava me escondendo algo, por mais que eu soubesse que ele estava.

- Onde está Jamie?

- Na escola. - Melanie respondeu tampando a boca com a mão livre enquanto mastigava. - Ele insiste em ir para lá. - Deu de ombros.

- É bom para ele. - Resmunguei. - Digo, frequentar uma escola, com outras crianças e pensar que, por pelo menos algumas horas, ela estaria fazendo o mesmo que faria se estivesse lá fora.

- É, você tem razão. - Concordou. - Ele gosta de ir para lá, mas de uns dias para cá, começou a reclamar. - Ela riu. - Você deve saber sobre a tal, Sara não é? Conheço a mãe dela, mas quase nunca a vi. Enfim, Jamie disse que ela o deixa nervoso.

- Ele está apaixonado?

- Não sei. Acho que ele não tem idade para se apaixonar ainda.

- Não existe idade para se apaixonar, Mel. - Murmurei. - Olhe para mim, ainda me sinto uma criança nesse corpo e ainda assim estou totalmente apaixonada.

- É diferente. - Ela colocou o pão na mesa e me olhou nos olhos. - Não estou dizendo que Jamie não tem idade para se apaixonar. O que eu quis dizer é que, ele ainda não sabia o real sentido dessa palavra.

Tive que concordar, dessa vez Melanie estava certa, o amor era algo muito confuso para mim, imagino para a cabecinha jovem de Jamie.

Era complexo demais e ás vezes, dava até dor de cabeça.