–Sora está atrasado...

–Gawrsh, será que se perdeu no caminho? Deixamos que pegasse a Gummy sozinho. Lembra quando ele tentou pilotar pela primeira vez?

–Aww... Não me faça lembrar fatos que me trazem dores de cabeça.

–Huhu, mas ele já tá crescido, naquela época ele apenas tinha quatorze anos. –disse sorrindo, fitando o infinito brilho das estrelas da região de Mysterious Tower.

Donald e Goofy já estavam acostumados com as bobagens de Sora, eles mesmos influenciaram o menino a “sempre sorrir em qualquer ocasião” ou então que “pessoas tristes não serão bem-vindas ao grupo”.

Sora sempre fora um menino descuidado, que tinha o dom de se divertir sem se preocupar com as consequências. Assim era ele, aquele garoto adorado por todos, querido por muitos; um amor de pessoa, sempre ajudando e dando apoio àqueles que se perdiam em suas trilhas. Era um rapaz de sorte, conseguia relacionar-se com facilidade; criar vínculos, laços de amizade.

–Espero que não tenha encontrado nenhuma criatura gigante.

–Hyuk! Donald, com o quê está se preocupando? Olha até onde nós chegamos! Ele quase se tornou um mestre da keyblade.

–Pois é, mas não conseguiu! Devia ter treinado mais. –cruzou os braços movendo a cabeça negativamente.

–Se você acredita nele, ele ficará bem. –Goofy agora sorria para o parceiro. –Hey, aquele não é o...

–Riku e...? –Donald estreitava a vista tentando decifrar o vulto feminino que estava junto do albino.

...

–Kairi se tornar portadora da keyblade?! –Donald não conteve o susto.

–Exatamente. Precisamos de mais uma luz para lutar contra as treze escuridões de Xehanort. Kairi já havia despertado sua keyblade e materializado esta. Contando com ela, estaremos em sete. –explicava Mestre Yen Sid, sério, diante da situação emergencial.

–Ah, sim. No castelo de The World That Never Was ela havia materializado pela primeira vez. –Riku fita a garota com um sorriso esboçado. –Mas deve tomar cuidado, Kairi. Não vá acabar que nem eu. Não se deixe levar pelas trilhas da escuridão, elas estão por toda parte, manipulando a todos.

–Hm, ficarei bem. Quero muito ajudá-los, poder protegê-los... Você, Sora e todos os que são importantes a mim. –rolou o olhar até o de Riku. – Não quero mais esperar naquela ilha, quero agir também! –sorriu cerrando o pulso, mostrando determinação.

–Uau! Kairi também será portadora da keyblade! Será que daqui a pouco seremos dignos de obter uma? Hein, Donald? –Goofy brincava com as penas da cabeça do pato que lançou um olhar brabo.

–Certo, daremos início aos treinamentos básicos de Kairi. Riku, você pode descansar por agora. –Yen Sid ordenou.

–Como quiser. Obrigado. –retirou-se do local; seguiu descendo os diversos degraus da residência.

Após deixar a torre, sentou-se sobre os degraus frontais e passou a observar aqueles astros brilhantes.

Coçou forte a cabeça diversas vezes. Ele realmente havia recebido a marca de mestre? Provou ter o direito de segurar a keyblade? Sim. Estava passos à frente de Sora, e a quilômetros de distância de Kairi. Sentiu seu peito apertar; a chave não havia deixado de desejar tê-lo como guardião.

Continuou fitando as estrelas, quando se lembrou de que aquela criaturinha ainda não havia retornado.

–Ai, ai. Sora foi pra ficar, então? –levantou-se batendo a roupa. –Parece que vou ter que buscá-lo. Você não me dá sossego, hein? –riu das próprias palavras. –Agora... Aonde estaria você?

Isso não importava.

Se realmente estiverem interligados, seus caminhos os levarão um ao outro.

Pois seus destinos determinaram isso.

...

–Waah, quantos! Não me lembro de ter visto tantos assim! –brincava com todos no pátio do primeiro distrito de Traverse Town. –Muito obrigado, caras! Vocês são os melhores. –sorria brilhantemente, verdadeiramente contente com o momento.

Sora estava realizado: havia encontrado seus amigos Dream Eaters, Riku havia passado no teste, sua jornada estava encaminhando-se a um final glorioso.

–É incrível! Depois que Riku me salvou... Estou me sentindo melhor do que nunca! Ahh, será que agradeci apropriadamente a ele? –sorria sem jeito enquanto acariciava seu Meow Wow. –Depois eu compro uma figure legal pra ele, aquela que ele estava olhando na prateleira outra vez que fomos pra Twilight Town.

–Wow, achei que você fosse guardar segredo até meu aniversário!

O castanho olhou incrédulo para cima. Riku estava na sacada acima do bar, pronto para dar um salto.

Pulou em frente ao amigo, observando o local. Havia bichos diversos, sua maioria formada por espécies que nem lembrava ter visto.

–Então... Pra quê você veio aqui? –olhou o menino a sua frente.

–Ora, como assim? Vim agradecê-los. –sorriu.

–Hm, e precisa demorar tanto pra fazer isso? –agarrou Komory Bat que planava em sua direção. –Caramba, eles se materializam nessa dimensão também?

–Exatamente por isso que demorei! Incrível, não? –agarrava diversos ao mesmo tempo.

Riku deu uma risada. Sora havia crescido apenas por fora; por dentro continuava aquele garotinho explorador e curioso de sempre.

–Donald já estava arrancando as penas de preocupação!

–Haha, ele sempre foi muito cauteloso. Mas me diga, Riku, você não deveria estar treinando?

–Bom... Sora, preciso que seja flexível quanto a isso... –fitou o chão.

–O que foi? –agarrou os ombros do amigo. –Aconteceu alguma coisa?

–Pois é. Estava faltando uma luz. Mestre Yen Sid ordenou que eu buscasse alguém que tinha compatibilidade com a keyblade... Esse alguém é a

–Kairi.

O albino surpreendeu-se com a resposta de Sora, no entanto era a que melhor se encaixava no contexto, pois até mesmo Sora sabia que Kairi tinha tal compatibilidade e que, mais cedo ou mais tarde, isso seria inevitável.

–... Isso. Sora, às vezes você me impressiona. –deu uma risada disfarçada.

–Hm, sem problemas. Tenho certeza que ela conseguirá! Além do mais, ela terá a nós, não é mesmo? –sorriu preocupado.

–Sora... –passava a mão nos cabelos rebeldes do amigo. –Não precisa ficar se culpando.

O menor balançou a cabeça tentando aceitar os fatos. Riku estava certo, havia rumos que não poderiam ser mudados, nem mesmo com sacrifícios. Kairi já enfrentara muitos problemas, o correto era que aprendesse a utilizar a chave: ajudaria em diversas situações.

–Ahh, quer dizer que vou ter que esperar até meu aniversário pra ganhar um agradecimento digno? –tentou quebrar a leve tensão que se propagou.

–H-hein? –Sora começou a rir. –Agora que você ficou sabendo, terei que arranjar outro presente. –suspirou pensativo.

–Mesmo assim... Vou ter que esperar. –apoiou o rosto em uma das mãos.

O maior pegou em um dos fios espetados do pequeno, dando leves puxões. Observava aquela criatura pura à sua frente. Brilhava diante de seus olhos, sua aura acalmava Riku. O salvava de quaisquer incertezas, medos.

Era como a luz.

Era a luz...

A sua luz.

A luz que o fez seguir em frente pela mais densa e profunda escuridão. Era para onde ele queria voltar, estar, ficar. Para sempre ao lado dele; ele que sempre foi a razão de seus planos e seus atos.

Sora fitou o mais velho com o cantinho dos olhos. Riku continuava puxando os fios, com o olhar perdido em sua forma.

–Riku? Tem algo que você queira agora? Porque os presentes eu só darei no aniversário!

–Hm... Não consigo pensar em nada agora, mas ficar assim é bom. –cerrou os olhos.

–É, faz tempo que não ficamos assim. Você sempre fica puxando meu cabelo. –risos.

E o silêncio se estendeu até Riku deixar sua cabeça cair sobre o ombro de Sora. O pequeno nada disse, pairava seu olhar nos diversos Dream Eaters. Por que o tempo não estacionava ali? Era o que se perguntava.

–Hey... Riku... –cochichou. –Vamos voltar antes que você babe meu ombro? –brincou.

–Ah, qual é? –chacoalhou o amigo.

–Brincadeira. Porém temos de voltar, se não vão nos xingar. Certo? –tentava levantar o corpo do maior. –Vamos, vamos. Eu também gostaria de ficar assim por mais um tempo, Riku...

–É mesmo? –agora seus cabelos tapavam seu rosto, impedindo Sora de ver a expressão satisfeita dele.

O castanho estava tendo dificuldades em levantá-lo, Riku não ajudava e o fazia propositalmente.

–Riku, vamos! –já estava sem jeito, até que o amigo cedeu.

–Certo, certo. –espreguiçou. –Vamos nessa, Sora.

–Sim! –abrira um sorriso radiante.

Desciam os poucos degraus da frente da loja de acessórios, até que pequenos Dream Eaters atrapalharam a passagem fazendo Sora tropeçar neles. Riku logo agarrara sua mão, porém foi em vão.

–Ai, ai, ai... Minha cabeça dói. –disse o menor.

–Claro, não olha onde pisa. Sempre com a cabeça nas nuvens, hein? –ria da situação, ao mesmo tempo em que se preocupava.

–Só preciso que saia de cima de mim, Riku. –tomou os ombros do amigo.

–Heh.

Enlaçou os dedos nos cabelos de Sora puxando-o para um beijo ali mesmo, apertando com vontade e desespero aquele corpo debaixo do seu.

–R-Riku... –tentativa em vão. Sem pensar duas vezes, escorregara seus braços para a nuca do albino puxando-o para si.

Entreabriram os lábios rapidamente, necessitando aquela exploração. Foi quando Riku adentrou a boca do menor agressivamente, o deixando sem ar. Entretanto Sora manteve as carícias, ansiando por mais.

Suas respirações descompassadas prejudicavam o ato, contudo não ousaram finalizar. O albino ria do menor inexperiente, achando fofo o modo que ele tentava segui-lo.

Sora soltava leves murmúrios à procura de ar, Riku suavizou o beijo retirando sua língua da boca do outro. Continuaram colados, o maior sugava o lábio inferior, mordiscando.

–Hmph... Riku... –sussurrou. Encontrava-se completamente corado e um tanto “estranho”. Agarrou-se ao pescoço do amigo sentido seu cheiro. –Você está a salvo. –o tranquilizava o fato de poder tocá-lo, pois ele estava ali, era possível senti-lo. –Prometa... Que você estará sempre ao meu lado...

–Sora... –sorria para ele. –Prometo não repetir aquele infame erro. Foi egoísmo da minha parte te querer só pra mim.

–Riku, você promete? –mantinha seu olhar desesperado e objetivo.

–... –suspirou. –Você sempre me faz concordar com suas ideias... –riu. –É uma promessa. –depositou um selinho que estalou forte.

Levantaram-se. Perceberam todos os Dream Eaters quietos em volta, como se estivessem admirando a cena.

Sora pegou na mão de Riku, e sem fitá-lo balbuciou:

–... Fruta Paopu...

–Hein? Não te ouço.

–V-vamos repartir a Paopu? –seu rosto fervia. Sentiu a outra mão de Riku puxar seu rosto para si.

–Quero que diga olhando para mim. –comandou sério.

–Riku... –agarrou a mão pousada em sua face. –Eu quero repartir a Paopu... Com você. –fechou os olhos já não contendo a vergonha.

–Hey. –chegou ao ouvido dele, cochichando algo que somente Sora deveria ouvir.

E assim partiram para onde deveriam estar: ajudando no treinamento de keyblade da Kairi.

Pois a luz transforma-se em escuridão.

A escuridão resulta em luz.

Ambos se complementam.

São inseparáveis.

Pela eternidade.