Fitava os fios loiros com extrema devoção, a expressão tranquila de seu rosto trazendo-lhe a calma que só quando estava ali conseguia sentir. Se pudesse ficaria ali sempre. Sempre a fitá-lo, a adorá-lo, a vigiá-lo... Mas não podia. Ficava apenas por um tempo, mas logo se esgueirava de volta ao seu quarto, de volta ao seu mundo. Podia um sentimento tão forte ser tão errado assim? Não sabia dizer, só sabia sentir.

E o sentia em silêncio, tentando buscar formas de controlá-lo e mantê-lo apenas em si. Não poderia permitir que ele soubesse. Ele não entenderia. Por isso não confiava seu segredo a ninguém; alguém poderia lhe contar. Não aguentaria ouvir aquelas palavras que ele havia dito a outro alguém, não suportaria se elas fossem para si; por isso compreendeu quando viu os olhos daquele amante declarado transbordando em lágrimas, por isso entendeu quando ele implorou por uma chance, por isso o ajudou a se levantar e se acalmar. Como alguém poderia não amar aquele loiro calmo de sorriso de anjo?

Deixou que um suspiro escapasse de seus lábios e se ergueu, disposto a sair dali e voltar para suas sombras; as únicas que conheciam o segredo de seu coração. Mas a mão magra segurou em seu pulso com firmeza, forçando-o a voltar para o loiro.

- Fica aqui. - Observou-o se afastar mais para a beirada da cama e entendeu o pedido.

Deitou-se calmamente ao seu lado, aspirando o perfume que ficara impregnado no travesseiro. Ajeitou-se melhor quando o loiro deitou a cabeça em seu peito, acomodando-o como podia junto a si. Às vezes isso acontecia. Ele o pegava no flagra e não falava nada, apenas pedia para ficar ali, do lado dele. Se ele soubesse como doía fazer isso...

- Está tão quieto...

- E você estava dormindo.

- Não estava. Mas se você soubesse disso, não teria vindo.

Não respondeu. Isso sempre seria seu vicio. Vê-lo sempre seria seu eterno vicio. E não tinha vontade de se livrar dele. Gostava de ficar ali. Tão à margem, mas tão próximo.

Deixou que sua mão subisse aos fios que tanto gostava e se perdessem em carinhos simples e leves. Amava-o tanto que chegava a doer. E sempre doeria. Sua doce dor, seu amargo amor...