Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 4
Audácia


Notas iniciais do capítulo

Oi ^-^ consegui postar antes do que imaginava, então espero que curtam. Achei esse capítulo meio parado, mas é mais pra explicar umas coisas



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Não ele não fez aquilo, recuso a acreditar que possa ter feito algo tão estúpido. Mas é verdade, ele fez. Mas por que diabos de motivo ele... Deixe pra lá, eu realmente não estou afim de pensar nisso agora. A Cerimônia já acabou, e sigo a fileira de pessoas vestidas de preto para o exterior. Sinto, ouço e vejo diversas respirações e corpos ofegantes tentando recuperarem-se para correr o mais rápido que podem. Passamos pela bancada das outras facções, e eu tento não procurar por minha antiga família; é difícil, e isso também é sabido, mas eu preciso. Preciso mesmo.

Corremos até a parte de fora do Eixo, tão rápido que eu quase nem percebo. Ou quase, apenas quase.

Estamos indo em direção ao metrô, não sei o que faremos lá. Balanço minha cabeça de um lado para o outro e vejo fios castanhos ondularem-se rapidamente no vento, minha panturrilha está começando a me incomodar, não costumava praticar muitas atividades físicas na Franqueza.

Eu deveria ter pensado nisso antes.

 Uma garota vestindo o amarelo da Amizade passa por mim esbaforida e sorri, mas que garota simpática. Chegamos quase todos juntos perto do lugar aonde os trens chegam e vão, e dá para se perceber o chão balançar e consigo ver uma sombra negra avançar com velocidade. Ah, devo ter feito uma expressão engraçada. Isso era previsível. A parte em que estamos inclina-se para baixo, e podemos correr se precisarmos de mais impulso para subir ao trem. Olho para os lados e fito aqueles olhos castanhos, mas não quero vê-los.

Não, de jeito algum. Antes que possa perceber o trem passa por mim e vejo sombras desesperadas em agarrar a grade de ferro atrás do último vagão. Suspiro e corro em linha reta, tentando flexionar bastante os joelhos, vamos, vamos. Vejo que já estou no trecho certo, então tomo impulso e seguro uma barra com a mão esquerda e tento empurra meu quadril para frente. Piso na parte de baixo da grade e logo me puxo para cima, e olho para cima. O tempo está fechando, e penso naqueles cujos pés não entraram neste trem. Deve ser um estágio de eliminação, ou algo do tipo.

Apoio os dois cotovelos na grade e inclino-me para frente. Há um garoto baixo de camisa azul que ainda corre com suas pequenas pernas e luta para não perder os óculos. Junto com ele há um garoto ruivo da Amizade e um de minha antiga facção, passo os olhos por todos eles e estendo a minha mão, é um capricho ao qual me permito realizar. O garoto de óculos me encara e eu aceno com a cabeça, ele tenta ir mais rápido e seus dedos pequenos seguram uma parte de minha mão, estendo o outro braço, segurando-o e vou para trás, deixando-o apenas com o pé para fora. Bato com as minhas costas na canela de um garoto vestido de cinza e levanto para ajudar o ex erudito. Dou um leve puxão na manga de sua camisa T e ele cai para dentro, com o rosto no chão de ferro. O garoto levanta a mão pálida para cima, erguendo o óculos e eu rio, mesmo sem entender o porquê.
-Tudo bem contigo?- eu pergunto, sentando no piso do vagão, que não estava tão cheio assim. Ele faz o mesmo, mas apoia as costas na grade meio enferrujada. Pega o óculos e passa-o pela barra da camisa azul escura, o limpando.
-Aham. Eles não quebraram. - e põe a armação à frente dos olhos, verificando seu estado atual.
-De nada. - disparo, tentando soar séria. Ele cora e faz um gesto cortês com a cabeça. Ele me parece ser uma pessoa... Sei lá, não sei. Percebo que o trem aproxima-se do vão de um prédio, e não surpreendo-me ao me dar conta que esse vinha a ser o nosso destino. Nossa, como estou demorando hoje. Muitos dos iniciandos levantam-se e já começam a pular, e eu seguro-me nas grades e me empurro para frente, saltando para fora.

Dura milésimos de segundos, mas é algo que não posso ignorar. O vento em meu rosto, o sopro batendo em meu corpo, essa brisa que parece acariciar meu cabelo e criar cócegas na ponta de meu nariz. Tudo isso me lembra o porquê de ter ido embora, tudo isso me dá a ideia de liberdade; me faz sentir viva. Como nunca fui antes. Não quero m deparar com a pessoa que deixei de ser tão cedo. E meu melhor amigo possui a capacidade de tirar isso de mim.

Caio com o joelho esquerdo no chão e cambaleio, mas antes olho para trás, há algumas pessoas que não conseguiram pular.

Um som alto e estridente ressoa em meus ouvidos e estala o fundo de meu tímpano. Corro um pouco para ver melhor e consigo vislumbrar o corpo de uma garota usando o amarelo da Amizade caída no vão entre o prédio e os trilhos.  Gostaria de poder ajuda-la, mas simplesmente não posso.  Não agora. Mas não consigo me mexer, de qualquer forma.

Várias sombras passam por mim, e não consigo ver aonde vão. Olho novamente para a garota e percebo que não sairá de seu posto tão cedo. Um filete vermelho começa a escapar por entre seus cabelos e seguro um soluço.

Viro meus pés para a frente e corro, o mais rápido que consigo até enxergar o resto dos iniciandos à minha frente. Estamos sobre a superfície de um prédio, e há um parapeito de meio metro feito de concreto, talvez nossa única proteção contra o que quer que esteja além do mesmo.

Caminho devagar até chegar bem perto de alguns transferidos que trocam alguns sussurros.

-O que houve?- pergunto, passando as mãos no cabelo. A garota de vermelho –obviamente vinda da Amizade – abre bem os olhos e logo diz:

-Eles vão querer que a gente pule, de novo.

Encaro seus olhos escuros e assustados e rio um pouco:

-O que mais eles poderiam pedir da gente, além disso? Atirar em alguém? – seus olhos se abrem mais ainda e a garota loira e um pouco mais baixa ao seu lado usa uma roupa praticamente igual as dela, e traços faciais semelhantes ri e aponta para a outra.

-Vocês são irmãs?- pergunto, de forma bastante idiota.

A garota de olhos arregalados relaxa e sorri de leve.

-Não é óbvio?- as duas riem. Ouço alguns gritinhos ao redor cessarem-se  e um homem aparece pé, na mureta feita concreto, e sua postura é rígida. O que mais me assusta é seu estado de calmaria, como se fosse perfeitamente normal. Sua simples presença é suficiente para que todos se calem, automaticamente.

E então ele começa a falar, e não presto muita atenção. Só sei que falou seu nome, que eu não me lembro qual é, e disse que os iniciandos iam primeiro.

E as coisas acontecem muito rápido, um garoto de cabelo roxo corre para a frente e pula a mureta. Eles querem mesmo que façamos isso? Qual seria o sentido?

Há gritos e comemorações logo abaixo de onde estamos, provavelmente onde o cara se atirou. Resfolego, jogo meus braços para frente e para trás. As gêmeas com quem falava me encaram com uma careta de medo estampado em seus rostos pueris.

Dou passos para trás e me jogo para frente, e logo estou correndo, sintomeus pés baterem no concreto gasto e minha sapatilha escorregar de meus pés enquanto chuto o vento e vejo que deixei meu sapato lá em cima. Maravilha. Estou caindo de costas e sinto as mãos de vento passarem por mim, até ser tomada por uma ardência leve nas costas, como se fossem fios. Fios não, uma rede. Meu corpo balança-se para frente e para trás e logo vejo uma mão estendida e a aceito, volto aos meus eixos e encontro-me apoiada sobre meus pés, um rapaz de cabelo preto espetado que me ajudou a levantar me guia até fora da rede.

Sinto-me tonta. Eles moram em um... Subterrâneo? A entrada é embaixo de um prédio. Isso é insano e... Fantástico.

-Qual o seu nome?- estou prestes à abrir a boca e repetir o que sempre vim dizendo. É uma coisa automática, meu nome é...

Não.

Mas se eu pudesse ser outra pessoa? Ter outro nome? O que eu faria?

“Nos encontraremos em breve, Carl”. Sim, John. Encontraremo-nos em breve, por você e pelo resto que vem pela frente, a nossa pequena piada pode se tornar minha nova identidade. Sinto sua falta, irmão.

-Meu nome é Carl.- ele provavelmente não entendeu, mas não irei repetir. Fui clara. Ele faz um gesto indeciso com a cabeça e eu confirmo. –Tem certeza? Mas Carl não é nome de homem? – o rapaz franze o nariz.

-Sim, e daí?- ergo uma sobrancelha. Ele muda a expressão e grita para alguém o meu nome, em seguida são vários gritos que ouço, abro e fecho a mão. Consigo sentir o sangue pulsar em meus punhos, ele sorri de mal jeito.

-Seja bem-vinda á Audácia, Carl.


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Notas finais do capítulo

Bom feriado, beijos