Mágica Nerfal escrita por Robert Julliander


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

ATT: Capítulo editado em 02/02/2024. Nada na história mudou, apenas corrigindo erros e "amadurecendo" a escrita.



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— Você! — Gritei apontando pra ele com meu dedo de unha pintada. 

— Uou! Já ganhou a marca tão rápido? — Me assustei, mas não me deixei ser intimidado por ele, aliás quero respostas. 

— Marca? Do que você está falando? É da minha unha? Por que ela está assim? — Ele se levantou da arquibancada e vinha em minha direção, estava descendo as escadas e eu gritei. — Não se aproxime! Fique onde você está! 

— Você quer respostas ou não? — Ele ignorou meu ultimato. — Preciso que você confie em mim. — Ele continuava se aproximando. 

— Não confio em você. O que você e a professora Paula fizeram comigo? — Eu estava parado e juro que meus olhos lacrimejaram, não pelo vento que balançava não só os meus, mas os cabelos do Jhonatan também, nem por estar triste ou algo do tipo, estou com raiva. Senti aquela sensação de sangue esquentar de novo e ele se aproximava cada vez mais. 

— Eu posso te ajudar Erick. Sério, não sou o cara mal como pareço, sou o mocinho! — Mocinho?  Logo o repreendi. 

— Mocinhos não fazem rituais demoníacos que mudam a vida de pessoas que eles nem conhecem! — Ele deu uma gargalhada seca e sarcástica e repeliu a minha crítica. 

— Ritual demoníaco? Cara, achei que você fosse menos preconceituoso. — Ele chegou a três metros de mim — Aquilo não era um ritual demoníaco, aquilo era um ritual de descoberta. — Franzi a testa e meu olho cresceu, rapidamente aquela sensação de sangue fervendo parou e me vi perguntando. 

— Descoberta? — Perguntei apático, ele deu mais dois passos e agora estava a dois metros e meio mais perto de mim. 

— Erick você é um bruxo. — Olhei para ele e por uns cinco segundos ficamos nos encarando, a situação perde um pouco de seriedade quando solto uma gargalhada debochada. 

— Bruxo? Tá bem, agora eu sei que você é maluco. — Tirando todo aquele demonismo que vi, isso de bruxos não existe, é pura lenda local de uma pequena cidade no meio de uma grande floresta. 

— Você está caçoando de mim? — Ele estava irritado e agora estava a quase um metro e meio de distância de mim — Você já teve o estranho sonho flutuando no universo? Viu alguma coisa estranha se movendo ou crescendo nas paredes de sua casa? Você está com a unha do dedo indicador da mão direita marcada? Sentiu as sombras perfurarem seu coração, quando a chave, aquilo que parece fogos de artificio te acertou? — Ele acabara de descrever tudo que se passou comigo nessas últimas horas, mas como pode? Fui drogado só pode. Ele já deve ter experimentado pra saber as sensações. ele coloca suas mãos sobre meus ombros. —Você é um bruxo Erick! — Ele grita comigo, depois respira fundo e parece ficar mais calmo e continua falando — E parece que você vai ser um bruxo bem poderoso, ao julgar pela marca quase pronta no seu dedo, eu posso te ajudar. Posso te provar, venha comigo na Praça Luce Nerfal, hoje antes do sol se pôr, prometo te mostrar tudo. — Por alguma razão eu o ouvi sem interromper, bruxo? Bruxo poderoso? E se ele estiver me enganando? Mas, o que ele poderia querer comigo pra inventar toda essa história? O que ele ganharia com isso? Ele me deu as costas saiu do campo, foi caminhando pelo estacionamento e depois de vinte minutos, saiu da escola indo pela rua principal. 

Fiquei em choque, passei um bom tempo igual uma estátua, parado no meio do campo. Permaneci por mais cinco minutos pensando no nada. Dei umas piscadas, balancei a cabeça tentando voltar ao mundo real. Sinceramente não sei o que fazer agora, só estou perdido, voltei para aula e a Dani já estava com cara feia, querendo saber o porquê de eu ter saído daquela forma. Nem me dei conta que havia entrado no meio da aula de português e nem pedi permissão para entrar na sala. Minha sorte é que o professor não liga tanto assim para formalidades. 

— Agora me explique. Por que saiu daquele jeito Rick? — Me virei para trás e respondi com cara de paisagem. 

— Ainda não sei D., ainda não tenho certeza. Quando souber te conto, ok? — Estava na cara dela que ela não estava entendendo nada, acho que eu também não entenderia, acho que ninguém entenderia. Tipo, ontem eu estava de boassa, normal, hoje chego cheio de mistérios, correndo por aí e voltando com cara de paisagem, bem aquela cara de vi um fantasma. Se a D. fizesse esse mistério comigo eu já teria surtado de curiosidade e ficaria com raiva dela. Apesar de todo mistério que eu estou fazendo a Dani foi simplesmente muito compreensiva, amo ela por isso, respeitou meu espaço e sabia que se fosse pra contar, eu já teria contado. 

As aulas passaram, mas eu não havia prestado atenção em nada, lembrando o que Jhonatan tinha me falado. “Você é um bruxo Erick!” Essa ideia idiota até pareceu real na minha mente, tudo o que ele disse fazia muito sentido, mas preciso de mais respostas. O que mais me assusta nessa bobagem toda, é que as lendas locais podem ser reais, se isso for verdade, vou ter que reler ou rever todas as histórias que já ouvi ou li sobre Mágica Nerfal. E a maioria das lendas ou contos daqui não são nada, enfatizando, nada boazinhas e felizes. 

Hoje tenho uma daquelas aulas obrigatórias tipo curso, eu não poderia ir mais cedo do que realmente queria ir para a Praça Luce Nerfal. Adoro as aulas de curso, principalmente porque escolhi literalmente uma arte que domino e amo, artes plásticas. Me alivia fazer quadros com tinta a óleo, é super relaxante e me deixa calmo, explica um pouco de eu ser tão observador sobre alguns detalhes, principalmente quando envolve cores. Apesar de mandar bem na pintura, hoje estou totalmente sem inspiração, o professor Corey estava até surpreso, geralmente eu pego no pincel e nem penso duas vezes, já estou pintando paisagens supercoloridas, mas hoje nem sabia por onde começar, agora eu estava realmente indeciso se veria Jhonatan ou não. 

A aula já estava quase no fim e eu nem encostei a ponta do carvão na tela e o professor me chamou atenção. 

— Erick. O que aconteceu? Geralmente você não tem dúvidas, faz paisagens de uma beleza muito alegre, quem vê seus quadros percebe, o quanto seu autor vê o mundo de forma tão bonita. Mas hoje você nem encostou na tela, espero que na próxima aula você esteja mais inspirado, quando estiver na frente de uma tela deixe os problemas de lado, use isto como terapia, pois você é realmente muito bom no que faz. — Suspirei de chateação e me desculpei. O que deveria fazer agora? Ver o Jhonatan e ver o que ele tem pra me mostrar, ou ir pra casa ver como posso tirar essa mancha da minha unha? Quer saber? Estou decidido.  

*--Alguns minutos depois...--* 

— Por um momento achei que você não viria. — Jhonatan pareceu aliviado, estava sentado no encosto de um banco na praça, seus pés apoiados onde deveria estar sentado.  

A Praça Luce Nerfal é enorme com suas várias árvores grandes e verdes. Tem uma fonte muito linda com anjos escupidos no meio da praça, essa fonte é cheia de peixes de variadas cores, até já desenhei um quadro inspirado nesses peixinhos. Havia postes devidamente colocados, que iluminavam com eficácia, várias estradinhas de tijolos cinza. Os tijolos eram feitos por algum tipo de material que brilhavam de acordo com a luminosidade do local. No momento o sol está se pondo, o céu está meio alaranjado com tons de rosa, sem muitas nuvens, estava muito lindo, fiquei inspirado? Agora não posso ficar me dando ao luxo de pensar num quadro novo. Ok, se concentra, tenho que falar com o Jhonatan e saber o que está acontecendo comigo. Ele sai andando na minha frente. 

— Vem me segue. — Ele dá um pulo do banco e começa a caminhar. 

— Para onde estamos indo? — Relutei. 

— Quer saber o que está acontecendo ou não? Já disse vai ter que confiar em mim. — Algo dentro de mim confia nele, mas aquele deboche autoritário de "me segue, eu mando aqui!" só me irrita. Tentando relevar o jeito dele, sinto que posso confiar nele, de alguma forma eu sei que tenho que estar aqui e segui-lo. 

Uma parte da praça é grudada por um grande pedaço da Floresta Nerfal. A cidade em si, é rodeada por uma floresta gigante e muito verde, com uma quantia significativamente rica de fauna e flora. Possui muitas colinas altas e algumas montanhas cheia de cavernas ao longe. De um lado da cidade encontra-se um belo lago, fonte de água pura e cristalina chamado de Lago de Luz e do outro lado havia um rio, que corria depois de ser quebrado por uma cachoeira ao longe, que descia das montanhas no Norte.  

Entramos na floresta por aquela parte na praça, meio que pensei duas vezes antes de entrar numa floresta, perto do anoitecer, com um garoto que fez alguma coisa sombria entrar no meu corpo. E pior, que por incrível que pareça era como se eu precisasse segui-lo, como se aquela coisa sombria que entrara ontem em mim pedisse “exigisse!”, que eu siga o Jhonatan. 

— Já estamos chegando? — Questionei olhando para cima, observando as folhas que balançavam com o vento, já até dava para perceber que o sol já tinha se escondido e o céu estava agora num tom azul escuro e meio roxo e um leve tom de violeta, era até possível ver algumas estrelinhas aparecendo. 

—Sim. É logo ali. — Ele aponta para uma cabana de madeira. A cabana tinha dois andares e era cheia de folhas grudadas nas paredes, ao redor encontrava-se altíssimas árvores e um poço na frente. 

Ele continuou andando em direção a cabana e fiquei o olhando de longe. 

— Você não vem? — Ele se virou e chamou alto. Meus pés basicamente se moveram sozinhos, totalmente contra minha vontade. 

— Estou indo. — Continuei seguindo-o. 

Entramos na estranha cabana, a porta rangeu enquanto ele abria, entramos num tipo de sala cheia de velas brancas acesas, alguns cômodos com muitos livros velhos e empoeirados e uma escada que levava possivelmente para o segundo andar, se não fossem as velas, juro que não conseguiria ver nada aqui e Jhonatan continuou andando. Abriu uma porta abaixo da escada e falou. 

— Vem estão nos esperando.  

Arregalei meus olhos, respirei fundo e nem me dei ao luxo de perguntar "quem são eles?" Aliás, eu iria descobrir mesmo. Descemos uma escada de pedra e logo estávamos abaixo do solo, tinham várias tochas guiando um longo caminho rochoso, que me permitiu ver que onde estamos parece uma caverna, logo me atrevi a perguntar. 

— Onde estamos exatamente? — Jhonatan continuou andando e se pôs a falar. 

— Estamos abaixo em algum ponto da Floresta Nerfal, não sei dizer exatamente. Este lugar era usado como fuga de escravos há uns cem anos atrás. Sabe que escravos eram maltratados né? Depois que a família Nerfal chegou por essas bandas...  

— Os escravos saíram daqui — eu o interrompi — e a família Nerfal lhes deram casas de respeito, em troca de lealdade eterna, sei, sei. Amo a história local. — Ele continuou caminhando na dianteira e falou. 

— Ótimo. Ao menos não preciso perder tempo contando toda história, como ia dizendo... — Ele nem pôde terminar, logo avistamos uma porta. — Aqui. Já chegamos. 

Ele abriu um pouco porta e pude ver que a caverna era ampla, bem grande, cheia de tochas e lá no final tem um grande trono, onde estava sentado um velho encapuzado de branco, ao lado direito desse velho, tem um homem alto de cabeça baixa, com capuz marrom escuro. Havia também, cinco pessoas sentadas no chão, não conseguir observar suas características, mas percebi que eram adolescentes assim como eu e a frente desses adolescentes tinham outros cinco, mas esses parecem um pouco mais velhos do que os que estavam sentados. Tinha um, que? Havia um hexagrama no chão da caverna, isso de novo? 

— O que vai acontecer aqui? — Perguntei assustadoramente desconfiado. 

— Ok. — Ele me puxou pelo pulso pra fora da sala (caverna) e explicou. — Eu te disse que você é um bruxo não menti, — eu já estava abrindo a boca para reclamar e ele fez uns gestos com as mãos, pedindo para que eu o deixasse explicar — Todo ano, a linhagem de magia da família Nerfal, é renovada, escolhendo seis adolescentes com 16 anos, que tenham nascido aqui em Mágica Nerfal. Basicamente, é como se a família Nerfal encontrasse um jeito de que sua linhagem mágica não desapareça. — Eu não estava entendendo muito e ele me parece bem apressado. — Você não tá entendendo né? — Ele leu meus pensamentos? — Você sabe, como dizem as lendas locais que a família Nerfal, eram bruxos e construíram a cidade blá, blá, blá. O que acontece, é que os sete irmãos, herdeiros da mágica Nerfal, tinham sido amaldiçoados e não podiam ter filhos, foi um jeito de alguém, ninguém sabe quem na verdade, os impedir de cometerem suas mágicas irresponsáveis contra os moradores. 

— Acho que lembro de algo assim em alguns livros de fábulas, — Li uma vez quando criança, um livro que falava dos sete travessos. Eles eram irmãos que usavam magia para pregar peças nas pessoas e que alguém os enganou lhes amaldiçoando, para que deixassem as pessoas em paz. No livro dizia que a moral da história era que, se você faz brincadeiras de mal gosto com as pessoas, uma hora essas brincadeiras podem voltar como consequências para você, ou algo assim. — Continue. — Pedi curioso. 

— Certo, eles fizeram um ritual, coordenado por seu pai o John Nerfal. 

— O que eles fizeram exatamente? — Eu parecia uma criança boba, quando um adulto conta pra ela uma história e ela fica com olhinhos brilhando e implorando por mais. 

— Eles criaram o ritual das linhas mágicas, chamado de Mágica Nerfal. E Sim, — Ele respondeu antes que eu pudesse falar, dizer ou perguntar qualquer coisa —por isso que o nome da cidade é esse. — Minha cabeça estava a mil, como aquele emoji que tem o cérebro explodindo. — Os herdeiros dessas linhas mágicas, bruxos, só podem ser aqueles que nascem aqui. Você é um herdeiro agora, você faz parte de uma das pontas da linha. Todo ano, essas linhas são renovadas. Por isso aquele ritual que você viu a gente fazendo na escola ontem, era um ritual de descoberta, para ativar as magias dentro dos novos escolhidos. Ano passado, eu estava na mesma situação que você. 

— Mas eu não quero ser bruxo. Na verdade, não posso e... 

— Se você fizer o ritual da descoberta ano que vem, — ele me interrompe — talvez você deixe de ser bruxo. Algumas pessoas perdem os dons mágicos depois do ritual, talvez você também perca. — Eu estava até mais aliviado em saber que pode ser reversível, mas preciso saber mais. 

— E se eu não voltar ao normal? E por que minha unha está pintada assim? — Ele meio que deu um sorriso simpático, pegou minha mão direita e falou olhando pra minha unha. 

— Talvez você continue bruxo, mas depois do ritual você pode não praticar mais magia e viver sua vida normalmente. Não se preocupe com sua unha, ninguém pode, quer dizer, ninguém consegue ver essas pinturas, só bruxos conseguem ver a marca de outro bruxo. 

— Urfa! — Suspirei aliviado — Sério que ninguém pode ver? — Me empolguei e até conseguir rir um pouco. — Sabe Jhonatan, você não é tão irritante quanto eu achava. — Ele abriu um rápido sorriso que logo se desfez. Uma garota alta, com uma franja branca encapuzada de preto abre a porta e reclama. 

— Vamos! Vocês só têm mais cinco minutos. Jhon se apressa cara. 

 Jhonatan olha para ela e a manda embora abanando as mãos. 

— Você ainda não me respondeu. O que viemos fazer aqui? — Perguntei. 

— Hoje vocês casulos. 

— Casulos? — O interrompi. 

— Yeah. Como chamamos os bruxos recém-descobertos. 

— Estranho, mas tudo bem continue. — Pedi sorrindo. 

— Vocês casulos precisam fazer os reconhecimentos de seus dons. Sua unha vai sofrer algumas mudanças. Mas não tenha medo. Sabe aqueles adolescentes sentados? São todos casulos, os que estão de pé, são mentores, guias dos casulos. Ah, a propósito, eu sou seu mentor. O velho encapuzado de branco é o ancião, que irá nos organizar e o cara de capuz marrom é um sacerdote, meio que ele é um professor para casulos, pode perguntar o que quiser pra ele ok? — Ele pôs o capuz preto e continuou falando enquanto abria a porta. — Esse ritual que vamos fazer agora é seguro, não se preocupe Erick. Eu prometo que como seu mentor, não vou permitir que ninguém te faça mal. Mas preciso que você confie em mim. — Concordei e até abri um sorriso aliviado, algo dentro de mim confia em cada palavra dita por ele e eu simplesmente parei de resistir a isto. Jhonatan abriu a porta completamente e disse — Você pode se sentar na ponta da direita, vou ficar na sua frente ok? — Assenti concordando com a cabeça e entramos na caverna. 

Sentei-me ao lado de um garoto, ele tem um grande moicano colorido pelas cores, verde, vermelho e roxo, era todo tatuado e muito magricela. Normalmente não sou o tipo de pessoa que rotula alguém por estilo ou aparência, mas ele parecia seguir o estilo punk. Tinha um alargador grande, enorme, na orelha direita, acima da orelha tinham mais três brincos mini argolas de prata. Ele me ignorou, não olhou para o lado fingindo que não percebeu que cheguei ali, fiquei olhando para frente e o cara de capuz marrom começa a falar. 

— Boa noite irmãos. — Sua entrada me deixou curioso sobre as horas, já eram quase dezenove horas, eu deveria ter chegado em casa há algum tempo, desliguei o celular e continuei prestando atenção no cara de capuz marrom. — Casulos. — Até me ofendi, ele entonou esta palavra de um jeito que agora pareceu até ruim ser chamado assim, como se estivesse esnobando a gente. — Graças aos mentores de vocês, acho que já devem ter uma certa clareza do que vai acontecer aqui e sabem que são bruxos. Hoje é o dia, um dos mais importantes na vida de qualquer bruxo, pois hoje, vocês irão descobrir o dom natural de vocês. Deixem-me explicar adequadamente. — Legal, espero que tudo fique bem esclarecido agora. E ele começou a explicar. 

— A essência de seus espíritos tem forças diferentes aos jovens da idade de vocês. Por isso as linhas mágicas se conectaram com cada um de vocês. — De certa forma acho que está começando a fazer sentindo, tipo, as linhas se conectaram com a gente por termos nascido aqui e porque nossos espíritos têm um tipo de essência estranha, que nos tornam diferentes ou receptivos para as linhas mágicas. — Peço que vocês fiquem de pé. — Ele ordena e todos nós nos levantamos e ele continuou a dizer.  

— Alexa. — Ele diz e aquela garota com uma mecha branca na franja levanta a cabeça, ela estava ao lado do Jhonatan e usava um capuz preto. — Explique para os casulos, a evolução da magia, explique sobre o hexagrama. 

— Estão vendo o hexagrama? — Ela começou a explicar. — Este que foi modificado, antes de ser o que é hoje? — Todos direcionamos nossa atenção a um círculo com uma estrela de seis pontas dentro dele, desenhado no chão. E ela, continua. — Antes era o pentagrama. O pentagrama representa os quatro elementos da natureza e na ponta superior o elemento espírito. Percebendo que estava perdendo um verdadeiro potencial em magia, John Nerfal, com sua inteligência e perspicácia, aprimorou os meios mágicos e expandiu as opções de uso externos de energia mágica. Evoluindo a estrela de cinto pontas, o pentagrama, para uma de seis, o hexagrama. Podemos usar os quatro elementos em suas respectivas pontas, porém, vendo que a força espiritual tinha um potencial gigantesco ele concentrou o elemento espírito no meio do círculo. Abrindo espaço para mais dois elementos, a luz e as trevas. O elemento espírito, abriu portas para duas forças mágicas, que simploriamente podem ser explicadas como o caos e a ordem, o bem e o mal. John Nerfal revolucionou o mundo da magia, dando a liberdade para que nós bruxos estejamos no centro de tudo e tudo está sob o nosso controle.  

O encapuzado de marrom ergueu os braços eufórico com a explicação de Alexa e o ancião, o velho encapuzado de branco, acabara de se levantar e já estava agora bem próximo ao hexagrama. Enquanto ele caminhava lentamente ao redor do símbolo desenhado no chão, aproveito refletir. Se entendi bem, antes os bruxos usavam o pentagrama para basear o uso de suas magias e o John Nerfal, o fundador da cidade e aparentemente o bruxo mais poderoso conhecido, fez um upgrade nesse símbolo. Ele realocou a posição do elemento espírito que ficava na ponta superior e colocou no meio, dando liberdade para mais dois elementos, luz e trevas. É acho que é isso. 

— Eu, ancião Marcus Kefrer. Invoco os espíritos. — O velho começou a falar e parei de perder tempo com minha confusão mental — Espírito de FUXIA, com sua graça e força sempre trouxe vida para todos em nosso planeta. — Ele despejou num recipiente que estava em uma das pontas da estrela, água e andou para uma ponta abaixo. — Agora invoco MAND’HAUM, que com seu calor, sempre protegeu, as mais primitivas formar de vida e continua trazendo força de vontade para seus seguidores. — Então ele acendeu uma vela vermelha, andou reto ignorando a ponta inferior indo para a ponta do outro lado. — Invoco a ti com muita honra RODÚRIA, com sua vitalidade e capacidade única de criação, que cuida de seus filhos com dedicação e capricho. — Depois de ter colocado um punhado de terra nesta ponta, ele segue para próxima ponta acima desta. — E por fim, eu te invoco ENSULOR, guiador das almas e libertação dos espíritos, tu que nos dá a misericórdia de nos mostrar sua força, onipresença e nos permite viver com honra. — Falou o ancião fincando catavento totalmente branco no chão, ele voltou a sentar em seu trono e o cara de capuz marrom prosseguiu. 

— Aqui coloco o Cristâneo angelical representando a luz. — Ele colocou uma espécie de cristal branco e iluminado na ponta superior, acho que o cristal tinha aproximadamente vinte e cinco centímetros. Ele tira outro cristal de seu capuz, mas este era azul muito escuro, quase preto que iluminava também, era uma luz arroxeada e escura. Ele seguiu para a ponta inferior, a que antes teria sido ignorada pelo ancião — E para equilibrar o hexagrama Nerfal coloco o Cristâneo demoníaco representando as trevas. — Ele se virou para nós e falou com um sorriso gentil. Olhando diretamente no rosto dele agora, pude notar que ele é um homem de aparentemente quarenta anos, cabelos loiros bem aparados, barba feita e um queixo com aqueles furinhos, olhos castanhos e pude perceber que seu braço é bem peludo. Ele continuou a falar — Meus jovens. — Os mentores incluindo o Jhonatan ficaram ao lado do velho, três de um lado do trono e três do outro. E o cara peludo de capuz marrom continuou. — Agora seus dons mágicos serão liberados, vamos quebrar este selo, que rompe e limita seus poderes. — Ele apontou para uma garota na outra ponta da fila e falou. — Luce Derdelim. — Ela usava uma roupa muito simples e branca, tinha o cabelo preso num rabo de cavalo, cabelos castanhos e muito lisos, ela usa óculos e pude ver através das lentes que seus olhos eram azuis. Ela é bonita pra falar a verdade. 

— Oque? O que quer que eu faça? — Ela praticamente gaguejou. O sacerdote respondeu com calma. 

— Prestem atenção. Todos precisaram fazer o mesmo processo, de um por um, então fiquem atentos. Luce olhe pra mim. — Ela o olhou super nervosa, estava apertando as mãos e tenho certeza de que as mãos dela estavam suando, ela esfregava os dedos muitas vezes nas vestes, provavelmente para enxugar o suor ansioso das mãos. O sacerdote parecia muito sério e continuou a dizer. — Luce entre no círculo e fique no centro do hexagrama. Todo nós somos nossos espíritos, nossa força, nossas vontades, anseios, angústias, sentimentos e nossa essência, seja ela iluminada ou sombria. A bruxaria no centro de tudo, era o sonho do nosso ancestral, a conexão com a magia, o poder de mudar ou destruir vidas. — Todos ficamos parados observando __ A verdadeira força nas linhas mágicas Nerfal, somos nós, e nós estamos no centro de tudo! Nós! Nós! — Ele começou a gritar ardente de anseio e uma emoção intensa. — Nós somos os espíritos que John Nerfal escolheu para o centro do seu círculo. Luce, repita comigo, FRANGITUR ILLUD SIGNACULUM! — Luce falou baixinho e ele gritou de novo assustando todos nós. — Vamos Luce mais alto, repita! Grite! Anseie, deseje!   

Frangitur illud signaculum. — Ela elevou sua voz e falou. 

— Repita, Frangitur illud signaculum!  

 Ela repetiu por umas três vezes e me arrepiei quando vi, a água que estava no recipiente estava levitando e ela logo dançou rodopios ao redor de Luce — Eu sinto. — Ela disse — Eu sinto! — Ela sorria como se estivesse sentindo muito prazer. — Yeah! Uma energia incrível, me sinto dentro d'água, mas consigo respirar e falar. 

 A água volta para recipiente e o sacerdote pergunta com alegre sorriso, mostrando seus dentes. 

— Como está se sentindo?  

— Viva! — Ela conta sorridente e percebo sua unha do dedo indicador da mão direita, está brilhando em um azul intenso, como se fosse feita de neon. 

— Quem vai ser o próximo? — O sacerdote pergunta. O cara do moicano deu um passo a frente e o sacerdote confirmou — Venha irmão Petter Rougher.  

— Me chame de Billy. Odeio ser chamado de Petter. — O garoto do moicano colorido logo o corrigiu. O sacerdote sorriu e o indicou para o centro do hexagrama, Pett... Quer dizer, Billy, se dirigiu para o centro e falou as mesmas palavras de que Luce havia entoado a segundos atrás. Logo o fogo da vela começara a subir e ficou dançando rodopios quentes ao redor do Billy. Ele gritou. — PUTS! Caralhooo! Que sensação da hora velho. É melhor que drogas esse bagulho mano. — Todos nós sorrimos com os argumentos dele, vendo que até agora todos eles estavam sentindo ótimas sensações, eu meio que estava mais confortável e seguro, aliás todos estão adorando. 

Billy saiu do hexagrama e logo um cara ao lado dele se ergue para frente. 

— Minha vez! — Ele parecia muito querer sentir isso, ele tem cabelo castanhos penteados e petrificados com gel para trás, usa óculos, mas os óculos não o deixavam ridículo, alto, mago e tinha um narigão. O sacerdote o chama pelo nome. 

Danilo Soliver. Venha meu filho. — Nossa são pai e filho de verdade? E eles realmente se pareciam muito. Isso me lembra que meu pai quando souber vai me matar ou tentar me exorcizar e só me deixa mais ansioso pensar nisso. Se ele soubesse que estou aqui, nem sei do que ele seria capaz. O Danilo gritou as palavras, aquelas estranhas que todos os outros dois falaram. A terra se levanta, mas diferente dos outros dois que apenas um elemento havia se manifestado, o fogo da vela vermelha também se ergue, junto com um forte vento, soprado pelo catavento, logo esses três elementos giravam envolta do Danilo ele gemeu alegremente. 

— Sim. Sim! Como é incrível pai. Me sinto quente, me sinto leve e me sinto com os pés no chão. — O pai dele (o sacerdote) parecia surpreso e até pude ouvir o Jhonatan cochichando para alguém ao lado dele. 

— Três elementos? Nossa cara. — Logo o vento sessa, o fogo diminui e a terra se arrasta para seu lugar na ponta. 

— Você! — O pai do Danilo aponta pra mim. — Você será o próximo Erick. — Me assustei, já estava até andando em direção ao hexagrama quando uma garota ao lado da Luce caminhas a minha frente quase me atropelando. 

— Eu peço a vez. E Não precisa me apresentar sacerdote, meu nome é Juliana Oivlar. — A garota é loira de cabelos curtos e roupas curtas, com uma camiseta preta de coraçãozinho na frente, calças jeans muito acochadas, juro, estava até dividindo o bumbum dela, corei tentando não encarar. Botas de couro e um colarzinho de pimenta, ela entra no círculo e fala as palavras mágicas. Logo uma rajada intensa de vento, sendo emanada do cataventos é liberada. As capas dos capuzes das pessoas aqui dentro da caverna, entram em completa desordem devido a ventania incessante, assanhando os cabelos de todos que sacudiam para o alto e para os lados. E a garota no centro do círculo estava levitando? A Juliana dava muitas gargalhadas como se alguém estivesse fazendo cocegas nela, ela encostou novamente os pés no chão e logo o vento parou, foi quando ela colocou os pés no chão, que pude ver uma tatuagem de pimenta próxima a virilha dela, tentei não ficar encarando. Ela sai do círculo caminhando na minha direção, mexia bastante o maxilar, percebi que estava mascando alguma coisa. Eu estava tentando não encarar ela, até porque eu não queria parecer desrespeitoso ou um tarado. Ela passa por mim e cospe o chiclete no chão a minha frente, olho para o rosto dela e percebi uma feição de repulsa dela comigo. Eu nem fiz nada pra essa garota, o que que deu nela? Se a Dani estivesse aqui iria falar algo como, “olha só essa garota vadia acha que é quem?” Ri internamente pensando na D. reagindo a isto. 

Uma outra garota veio a mim, ela tem um lindo cabelo ruivo, tão intenso que era literalmente vermelho, era encaracolado até a cintura. Seus olhos são grandes e verdes e ela está usando um vestido muito fofo com desenhos de flores. 

— Você por favor, pode me ceder a vez? Estou um pouco ansiosa, gostaria de ir logo. — Ela pareceu tão ingênua e fofa, como dizer não pra ela? 

— Claro. — Confirmei com um sorriso gentil, ela também sorri agradecendo e seguiu a frente. 

— Muito bem Sophia Liatra, parabéns por sua iniciativa. — Elogia o sacerdote sarcasticamente olhando pra mim. Ela sorrir doce pra ele e fala as mesmas palavras estranhas que todos os outros haviam dito. A terra se moveu docemente ao seu redor, pareciam que estavam dançando, percebi o alegre e frágil sorriso que Sophia deu, que veio acompanhado por uma lagrima delicada. Ela nem precisou falar para descrever o que sentia, eu já tinha certeza, era amor, felicidade, carinho, afeto, muitos de meus quadros tento trazer esses sentimentos em tintas, mas nunca consegui transpassar isso em uma imagem feita por mim. Agora mais do que nunca estou pronto para entrar no hexagrama, já estava até ouvindo as batidas nervosas de meu coração, que bateu mais forte ainda quando o sacerdote olhou nos meus olhos e chamou. 

— Erick Mackdayne. — Cada passo que dava eu suspirava, respirava cada vez mais forte. Qual seria meu elemento? Eu iria me sentir bem como todos os outros? Olhei para o Jhonatan em pé me olhando, ele estava sorrindo e faz um gesto de legal com a mão, engoli em seco e falei ao chegar no centro do hexagrama. 

Frangitur illud Signaculum. 

 


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