No começo, ela achou que o odiaria pelo resto da sua vida.

Desde o começo, quando se encontraram pela primeira vez ela sabia que ele estava lá para infernizar a sua vida e ela faria de tudo para fazê-lo engolir suas palavras. Afinal, eles eram rivais.

Mas aí aconteceu.

Ela não fazia ideia de como, nem quando ou por quê. Aconteceu de uma forma tão inesperada que a atingiu como se fosse atropelada por uma manada de Tauros.

Ela se apaixonara.

E logo por ele.

O rival que ela definia como metido, cabeça-de-alface, cabeça-de-gosma, convencido e irritante capturara seu coração sem que ela nem percebesse. E pelo visto, ele não devolveria tão cedo.

Até porque ela mesma roubou o dele sem que ele – ou ela – percebesse.

Bem, o que estava feito, estava feito. E ela sabia que tentar relevar ou esquecer, não adiantaria em nada, até porque o sentimento começou a apertá-la tanto por dentro que ás vezes ficava difícil de respirar, literalmente.

Uma surpresa maior ainda foi quando ela descobriu que ele sentia o mesmo, uma alegria estufou seu peito de uma maneira que ela desejou que continuasse para sempre quando eles finalmente deixaram o orgulho de lado e ficaram juntos. E ela que pensava que o odiaria para sempre.

Realmente, se dissessem antes à May que se apaixonaria pelo seu rival Drew, ela riria e perguntaria se era uma piada.

Mas agora, apenas um sorriso terno toma conta de seus lábios.

***

Apesar de agora estarem juntos, ambos não deixavam se ter as suas brigas de sempre, afinal não era por causa da situação atual deles que eles pegariam leve um com o outro com relação a treinos e torneios.

Mas infelizmente, essas brigas saiam um pouco do controle.

–SEU IDIOTA! – A morena berrou, tacando uma almofada na cara do garoto a sua frente que conseguiu segurá-la a tempo.

–Sério, May? – Retrucou.

–Ah, cala a boca! – Resmungou, virando o rosto, mesmo que no fundo concordasse que o ato tinha sido bem infantil.

–Ah. – Começou ele, jogando a franja para o lado. – A culpa não é minha se você não admite que sou melhor coordenador que você.

Ela o fuzilou com o olhar.

–Convencido!

–Perdedora!

Os dois ficaram se encarando até que...

–S-Seu... Argh! – Ela grunhiu alto e saiu do quarto batendo o pé, fechando a porta com um estrondo.

Drew continuou encarando a porta por alguns minutos, mas acabou suspirando por fim.

–Essas brigas não vão parar, vão?

Realmente, brigar é algo exaustivo, principalmente quando se briga com alguém que realmente gosta e a pior parte é aquela dorzinha no peito que te incomoda até que você finalmente tome coragem e peça desculpas.

Infelizmente, os dois “brigados” em questão eram orgulhosos demais para fazer isso.

Drew encarou a porta do quarto que ele e May estavam usando do Centro Pokémon. O jovem havia saído para andar pela cidade depois da briga que tiveram, para arejar as ideias, mas ele sabia que mais cedo ou mais tarde, teria de falar com a garota.

Ele soltou um resmungo e entrou.

Enquanto andava para mais perto do centro do quarto, avistou May deitada no pequeno sofá de dois lugares que ficava encostado na parede, porém esta estava dormindo profundamente.

Ele balançou a cabeça e tirou o cobertor de uma das camas que ficavam há alguns passos do sofá e cobriu a garota.

–Realmente...

Então, foi aí que ele percebeu os cantos dos olhos da jovem, estavam um tanto inchados e vermelhos como se ela tivesse chorado há pouco tempo.

Sabe aquela dorzinha chata? Pois é, o garoto a sentiu doer com uma estocada de faca.

Ele sentou no chão e olhou para o rosto sereno da morena. Ele se inclinou para frente e deu um beijo de leve na testa da jovem.

“Desculpa”

May acordou quando o sol começava a se pôr e sentiu algo pesado puxar seu lençol.

Espera, lençol?

Ela olhou para baixo e viu um garoto de cabelos verdes encostado no sofá, dormindo. A jovem levou a mão a testa, enquanto sonhava sentira algo quente tocar-lhe ali e sentiu-se mais tranquila durante o sono.

–Ah, entendi. – Ela sorriu e afagou levemente os cabelos do jovem que dormia.

“Desculpa também.”

***

A manhã seguinte havia nascido fria dando boas-vindas ao inverno, ambos estavam sentados no sofá enquanto tomavam chocolate quente. Nenhum dos dois parecia estar bravo com a briga de ontem, mas nem se quer tocaram no assunto.

De fato, eram tão orgulhosos, mas não importava muito.

Enquanto bebericava o seu chocolate, a jovem olhava para Drew pelo canto do olho, já este tomava seu chocolate enquanto via TV.

–Vai ficar olhando para mim até quando?

Ela se encolheu – quase derrubando o chocolate – e sentiu suas bochechas arderem.

–E-Eu... Não... – Ela tentou falar.

–Você é tão previsível, May. – Ele riu baixo, colocando a caneca na mesa a frente deles.

–Ah, fica quieto! – Ela resmungou, terminando o chocolate e colocando a caneca na mesa também. Ele apenas sorriu, ainda olhando para a TV.

May olhou para a janela e viu que o vidro começava a ficar embaçado até que ela mesma sentiu o ar gelado tocar seus braços, ela os esfregou tentando se aquecer.

Então, uma mão a puxou e quando ela se deu conta estava encostado no ombro de Drew.

–E-Ei!

–Que foi? Você tá com frio, não?

–... Estou.

–Então, não reclame, ué.

–Hunf!

Ela poderia até argumentar, mas estava mesmo quentinho assim, por isso resolveu deixar como estava. Não que ela estivesse achando ruim.

Ela olhou de novo para o jovem, pensando como tudo acontecera de uma forma que ela nunca esperaria.

–É sério, vai ficar me olhando até quando? – Ele olhou para ela.

Argh.

–Não é nada disso.

–Ah, não?

–Claro que não. – Exclamou, convicta. Ele ficou com uma gota.

...

–May, tem chocolate no seu rosto.

–Eh? Onde? – Ela perguntou, esfregando as bochechas. – Saiu?

–Não.

Ela esfregou de novo.

–E agora?

Ele negou com a cabeça e ela esfregou de novo, um pouco mais forte.

–Agora?

–Não. – Ele disse, segurando o queixo dela. – Aqui.

E juntou os seus lábios aos dela, pintando as bochechas da jovem de um vermelho vivo, mas assim com as gotas de chuvas que chegavam rápido até a base do vidro da janela, o beijo terminou.

–Pronto, agora saiu. – E voltou sua atenção para a TV.

A jovem piscou um par de vezes e depois se encolheu segurando a jaqueta do mesmo e forçando-se a se concentrar na TV também. Porém, nenhum dos dois pareceu conter um pequeno sorriso que se formou em seus lábios.

Muitas coisas não mudaram entre eles, já outras tomavam um rumo em que nunca pensariam quando se conheceram no começo. Se perguntassem a eles se fariam diferente, provavelmente... Hm, não. Risque isso. Com certeza, a resposta deles seria não.

Afinal, é assim que as coisas acontecem, não é?