Na varanda de uma casa de campo, um homem estava em pé usando apenas a calça de um moletom, observando, desapontado, a chuva.

Há muito tempo não tirava férias e suspirava sempre ao pensar que a chuva atrapalharia seus planos. Seu único consolo era a xícara de chocolate quente que vez ou outra ele levava aos lábios tentando ser otimista.

Acabou lembrando-se de quando se casaram. Foi um furacão. O Japão inteiro parou quando o casamento foi anunciado. Milhares de sessões de fotos, entrevistas, convites para participarem de dramas e filmes juntos...

Lory parecia apenas colocar mais lenha na fogueira, adorava ver como os dois reagiam a tudo. Até mesmo Fuwa Sho demostrou divertimento ao ver a situação dos dois.

Um caos total até todos se acalmarem.

Três anos depois o caos voltou quando Kyoko engravidou. Decidiu viajar com ela para a América e ter a criança lá onde não havia tantos holofotes. Era uma garotinha, decidiram dar o nome de Chieko para ela. Uma garotinha com os olhos âmbares como a mãe e os cabelos dourados como os de Kuon.

Quando voltaram ao Japão as coisas estavam mais calmas e eles puderam trabalhar e cuidar de Chieko normalmente, mas decidiram não ter outro filho.

A surpresa veio sete anos depois, quando Kyoko acabou engravidando. Decidiram continuar no Japão devido o trabalho e para não atrapalhar a escola de Chieko.

Seus devaneios foram interrompidos quando sentiu dois braços envolverem gentilmente sua cintura. Sorriu apertando levemente a mão daquela mulher. Ela usava apenas uma camisola rosa e trazia sobre os ombros um agasalho.

- Pare de suspirar desse jeito, sabe que isso não é bom. – beijou-lhe as costas nuas. – Está frio aqui fora, é melhor entrar antes que pegue um resfriado.

- Hm... – suspirou. – Eu tinha tantos planos para nós hoje.

- Teremos outras oportunidades. Não precisa ficar tão desapontado.

- Ando tão ocupado ultimamente que nem tive tempo para as crianças.

- Eles só querem ficar perto de você, não importa onde.

- Só eles? – virou-se de modo que pudesse abraça-la pela cintura. Kyoko sorriu e colocou o agasalho ao redor dos ombros dele. Pegou a xícara da mão do rapaz e tomou um gole antes de dizer:

- Só eles... Estou tão ocupada com o drama que nem tive tempo para pensar em você. – ele estreitou os olhos. – O que devo fazer Kuon? Acho que não tem amo mais.

- Você é péssima em mentir. – deu um selinho demorado na garota até que recebeu um chute na canela.

Olhou para baixo e viu um garotinho de cabelos negros e olhos claros vestindo um pijama azul-bebê com a cara emburrada e os braços cruzados sobre o peito.

Kuon deu uma risada baixa e olhou para Kyoko.

- Você seduziu nosso filho.

Kyoko entregou a caneca ao Kuon, em seguida, pegou o garotinho no colo e beijou-lhe a bochecha fazendo-o sorrir e abraça-la pelo pescoço.

- Não disse?

- A culpa é mais sua do que minha. Não é Rick? – o garotinho não respondeu, apenas aconchegou-se ainda mais no colo da Kyoko. Ren voltou a suspirar.

- Claro, claro... Vamos estrar e assistir algum filme. Lembro-me que Chieko comentou algo sobre isso recentemente.

- Tudo bem, mas eu faço a pipoca. Não queremos a casa pegando fogo.

- Ei! Isso só aconteceu uma vez. – disse enquanto entravam na casa e fechava a porta. Ainda era estranha para ele a ideia de ser feliz e fora Kyoko que mostrara isso para ele. Fizera a escolha certa.

 Quinze anos... Quinze anos e ainda consigo me apaixonar por ela todo dia...