Beijo. Era algo que Kyoko desconhecia. Ainda era uma garotinha, jovem demais parar entender as coisas. Talvez não entendesse nem mesmo o conceito de sexo oposto. Sentada embaixo de uma árvore pensava, ruborizada, como seria um beijo. Tentava inutilmente espantar esses pensamentos sujos enquanto surtava imaginando como seria beijar seu príncipe encantado Sho-chan.

“Qual será o sabor de um beijo?”

Adormeceu após certo tempo. Tentar impedir seus pensamentos havia sido deveras cansativo. Foi naquele lugar, embaixo da árvore sentindo a brisa fresca de uma tarde ensolarada, que Kyoko teve um sonho, um sonho que jamais esqueceria por mais que desejasse futuramente. Sho apareceu em seu sonho montando um cavalo e vestindo uma armadura prateada que o deixava ainda mais belo, seus cabelos estavam longos e seus olhos estavam mais vivos, pareciam suplicar por ela.

Sho desceu do cavalo e aproximou-se lentamente de Kyoko como se não quisesse assustá-la, quando na verdade era ele quem estava assustado, não se reconhecendo mais. Kyoko usava um vestido branco de seda fina que ia até os pés. Os cabelos longos e negros estavam presos em um coque tradicional. Kyoko não conseguia se mover, por mais que quisesse se jogar nos braços do seu “Sho-chan” não conseguia se mover, a intensidade daqueles olhos tinha paralisado a pobre garota.

“K-Kyoko, como?” Foi a única coisa que ele disse antes de tomar os lábios dela fervorosamente. Ela não conseguia se mover, não conseguia respirar, não conseguia pensar, ele tinha dominado ela completamente. Separou-se dela subitamente, ofegante, e ficou olhando assustado como se ela o tivesse enfeitiçado. Rapidamente montou em seu cavalo e fugiu por entre as árvores deixando a garota sentada completamente entorpecida para trás.

Quando ela acordou estava com o rosto todo vermelho e não conseguia raciocinar. Pôs as mãos sobre as bochechas numa tentativa inútil de conter o embaraço. Aquele sonho tinha sido muito real. O sabor do beijo ainda estava em sua boca.

“Canela...” Lembrou com os dedos nos lábios enquanto surtava pelas memórias.

Kyoko não imaginou e talvez jamais saiba que próximo a ela estava um príncipe acuado, jogando pragas no mundo todo.

“Maldita!” Gritava em pensamentos, completamente ruborizado, ainda tentando entender como pode ter beijado aquela garota inútil e sem nenhum sex-appeal. Encostou-se a árvore fazendo o mesmo gesto inconsciente dela. Colocou os dedos sobre os lábios sentindo todo seu corpo reagir. Ele podia sentir a maciez daqueles lábios inocentes colados ao seu, sentir o desejo que ela mantinha por ele. Agora jogava pragas sobre ele mesmo por querer voltar para perto de Kyoko. Esmurrou a árvore tentando espantar aqueles pensamentos e se controlar, jamais cederia a vontade de seus pais, jamais ficaria com uma dona de casa. Jamais.

[...]

Kyoko acordou com um humor péssimo e olhou para a cama percebendo que ele não estava mais lá. Achou melhor assim, precisava se recompor, pois ter aquele sonho ainda era um incômodo para ela. O relógio marcava 02h00min da manhã, então resolveu verificar onde ele estava. Sentou-se na cama colocando os pés no chão. O piso estava gelado e ela acabou recolhendo-se e desistindo de sair. Foi quando ele entrou no quarto vestindo apenas uma calça moletom e segurando um copo com água.

– Esta tudo bem Kyoko? Você parecia estar tendo um sonho ruim. – falou em um tom preocupado, enquanto colocava o copo em cima do criado-mudo.

– Estou bem agora, não precisa se preocupar. – aproveitou e deu um leve beijo nos lábios daquele homem quando ele voltou para a cama, sendo correspondida com paixão. Quando encerrou o beijo, sorriu carinhosamente para ele e sussurrou. – Hortelã.

– Tem certeza que está tudo bem? O que quer dizer com hortelã?

– Nada, só descobri que prefiro hortelã a canela. – Riu novamente ao ver a expressão confusa no rosto dele. – Você foi ver o Rick?

– Fui sim, ele ainda está assustado por ter que se acostumar a dormir sozinho. Parece que não quer se separar da mãe. – sussurrou antes de puxá-la para deitar em seu peito.

– Quem será que ele puxou? – disse enquanto se aconchegava ainda mais nos braços dele.

– Se continuar me tratando assim vou ficar mal acostumado. – Ela sorriu, e sentiu seu rosto ficar quente quando ele beijou sua testa. – Boa noite Kyoko.

– Boa noite, Ren. – adormeceu quase que imediatamente, feliz por saber que era amada, feliz por ter sido ele quem curou suas feridas. Talvez até mesmo agradecida por tudo que passou. Sem isso ela não teria conhecido o amor de sua vida, seu verdadeiro príncipe.