Um Amor Imperial escrita por girmione


Capítulo 1
Capítulo Um




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Ela chega apressada na sala, como se estivesse atrasada para algum compromisso. Uma mulher de olhos cor de âmbar e cabelos loiros armados e bem cuidados, que fazem aparentar não ter mais que trinta anos. Com seu casaco de tweed cinza e uma saia de mesma cor, um par de saltos altos Loubotin e bolsa Louis Vuitton, parece a mais alta executiva de uma empresa multinacional. Mas eu sei que não é.

Senta ligeiramente em uma cadeira, e então faz a pergunta que eu estava me questionando desde que fora chamada a comparecer à sala do diretor.


– Mas Sr. Hollin , eu não consigo entender. Se o senhor não me chamou aqui porque Ashley cometeu algum delito, então por que exatamente?


Minha mãe sempre foi muito ocupada, nunca teve muito tempo para mim. Em meus dezesseis anos de vida, a única coisa que realmente sei sobre ela é que se tivesse o trabalho de se despencar de seu escritório no centro de Manhattan para a James Melt High, é porque ela sabia que sua filha estaria encrencada. Acontece que esse não é o caso. Eu nunca faço nada de errado na escola, e hoje não foi uma exceção.


– Não Sra. Andrews, sua filha não cometeu nenhum tipo de delito. – disse o diretor com uma voz um tanto formal demais - Pelo contrário! A chamamos aqui para parabenizar a senhora e Ashley pelo boletim azul! - festejou Sr. Hollin


Nossa, outro boletim azul. Chamar minha mãe aqui só para isso? Ele só pode estar tentando dizer algo mais, a história do boletim azul deve ser só uma introdução, mas o que seria o resto?


– Desculpe, mas o que é um boletim azul? – minha mãe questionou. Não foi atoa que eu disse que ela não tem tempo para mim.

– Mãe, um boletim azul é quando todas as notas de todas as matérias são A+ - me pronunciei pela primeira vez desde que a estranha com quem moro entrara na sala.

– Ah sim, muito bem. Mas não são sempre essas suas notas?


Sempre este tom de desprezo, nunca uma parabenização ... como eu conheço isso. Essa é minha vida natural, a vida natural de Ashley Andrews, mais conhecida como AA, ou A+, que recebeu esse nobre apelido graças à suas notas. É verdade que sempre tiro as melhores notas da classe e todos os professores gostam de mim, mas minha vida não é perfeita nem nada. Nem perto disso.

Para começar, minha mãe nem liga para minhas notas. Tudo que importa na vida dela é defender casos vistos como impossíveis, demitir secretárias e ficar trancada no escritório ou no quarto até tarde. É nisso que se baseia a vida da inúmeras vezes nomeada melhor advogada de Nova York.

E depois, por causa da minha grande obsessão por notas azuis, não tenho muitos amigos, na verdade só dois. Sarah é a um tanto clichê asiática perfeita em tudo que se muda para a América, a única diferença é que ela tem uma certa deficiência no quesito notas (não que ela se preocupe muito, sempre diz que vai pintar quadros em algum lugar na Europa quando se formar). Com sua personalidade forte, seus cabelos negros com pontas rosas e seus olhos puxados sempre com delineador bem forte, recebe o rótulo de durona.

Mas na verdade é a pessoa mais manteiga derretida que conheço. Me lembro uma vez que estávamos assistindo High School Musical 2 e ela chorou quando Gabriela Montez deixou o amor platônico – jogador de futebol – inteligente – popular – lindo Troy Bolton ir embora. Não que eu também não tenha chorado, gosto muito desse filme. Só não gosto mais porque estou cansada de me dizerem que pareço com a Gabriela, sinceramente não sei aonde, pelo menos não fisicamente. É lógico que não sou uma morena perfeitinha totalmente modificada pelas maquiagens da indústria cinematográfica. Eu sou muito sem sal. E nem meus cabelos loiros escorridos e meus grandes olhos castanho-esverdeados, muito menos meu corpo praticamente reto vão chamar a atenção de um Troy Bolton. Mas fora isso até que somos parecidas, tirando o fato de eu ser mais inteligente que a nerd – cantora – dançarina – de bem com a vida o tempo todo – meiga – que tem o namorado dos sonhos Montez.

Jared, meu outro amigo, diz que sonha em encontrar sua Gabriela. Acho que ele sonha demais. Deve ser por isso que suas notas são tão baixas. Eu tento ajudar ele e Sarah nos estudos, mas é simplesmente impossível. Jared sempre está muito ocupado com o novo jogo de PS3, e Sarah ouvindo suas músicas alternativas de bandas que ninguém nunca ouviu falar. Acho que isso tudo de não conseguir estudar vem da genética, afinal meus únicos e melhores amigos são gêmeos. O resto da escola só me conhece e discrimina como A+.

Não que eu ligue muito para eles, afinal só tem garotas anoréxicas com seus cabelos, pele, e rostos perfeitos, que brincam de mexer pom poms, cantar musicas irritantes e subir umas em cimas das outras em formato de pirâmide. E os garotos podem seriamente ser confundidos com neandertais, tudo do no corpo, nada no cérebro. A verdade é que eles me ignoram porque não sabem quem eu sou, ou melhor, de quem eu sou filha. Porque se soubessem, acho que... seria muito, muito ruim mesmo. Por isso prefiro manter em segredo.

O único problema, é que eu estava exatamente com a pessoa que pretendia manter em segredo no único lugar que precisava mantê-la em segredo. E acho que essa coisa de manter segredo não estava indo muito bem no momento.


– Sim, na verdade, esse foi o vigésimo quinto boletim azul de Ashley desde a sexta série, o que na verdade é um recorde em todo o estado de Nova York. – disse o diretor, cortando o silêncio e me deixando pasma com a notícia.


Vinte e cinco boletins azuis? Recorde Estadual? Eu sabia que tinha muitas notas boas, mas nem tanto assim. Quando foi que eu passei a ser tão perfeccionista com minhas notas?


– E como srta. Andrews se forma nas classes avançadas que frequenta no final desse semestre, e só sobrariam algumas para o ano letivo seguinte, nós da associação de professores de Nova York tivemos uma reunião, e chegamos a uma conclusão. – o diretor fez uma pausa, procurando as palavras certas para usar - Ashley Andrews, é com prazer que informo que a senhorita se formará totalmente no ensino médio esse ano.


Dei um pequeno grito de alegria. Eu iria me formar no ensino médio quando acabasse esse semestre. E então eu poderia realizar meu sonho: passar um ano inteiro viajando pela Europa! Ah, Londres, Paris, Roma, Atenas, Berlim, Dublin, Copenhagen, e tantos outros...


- Mas minha filha está na penúltima série. Não deveria se formar junto com os outros colegas de classe, só no próximo ano? – minha mãe não podia ficar vinte minutos sem estragar minha alegria.


– É isso que estou falando nesse exato momento. As matérias só são dadas realmente até a penúltima série, e a última é só uma revisão de tudo que você já aprendeu na escola. E como Ashley se mostrou dentro de todas as matérias já estudadas, nós professores não vemos a necessidade dela em cursar o último ano. Por isso vamos entregar o diploma esse ano à ela.






- Não pense que porque você vai se formar esse ano, que eu vou pagar aquela sua viagem louca pela Europa.

- Mas mãe, você prometeu que quando eu completasse o ensino médio...

– E isso incluía o último ano, mas parece que isso não está nos seus planos.


Nossa conversa com o diretor havia acabado, e ela pediu para acompanhá-la até a saída. Eu estava apreensiva pois logo o sinal iria tocar e todas as pessoas que não sabiam sobre a minha “identidade secreta” descobririam meu segredo. Mas se eu fizesse as vontades dela, quem sabe eu convenceria ela a me deixar fazer essa viagem.


– Mas eu vou me formar, não vou? Não era esse o combinado?

– Minha filha, eu pensei que quando você se formasse já teria seus dezessete, quase dezoito anos. – ela disse, parando de caminhar e olhando diretamente em meus olhos - Acontece que eu não vou mandar minha única para um ano inteiro sem rumo pela Europa tendo apenas dezesseis anos e maturidade de doze. – disse voltando a andar para a saída.

Maturidade de doze? Acho que essa doeu.

– Mãe, tenho dezesseis anos, e caso você não saiba, maturidade de bem mais. Você só acha que tenho maturidade de doze anos porque nunca passa tempo comigo, está sempre trabalhando. Você sinceramente acha que me conhece de verdade? – eu afirmei desejando no segundo seguinte que nunca tivesse dito isso antes. Agora mesmo que ela não me deixaria viajar.

– Você tem razão... Veja, vou pensar nessa viagem. Mas não fique alimentando esperanças. E lembre-se que estou fazendo isso para o seu próprio bem, eu te amo, Ashley. – no momento em que ela disse isso, o sinal tocou. Eu comecei a apressá-la para a porta de saída, torcendo para que ninguém a visse.

– Ahn... o-obrigada. Também te amo. Tchau


A primeira pessoa que passou pelo corredor, seguida pela manada de várias outras, não chegou a ver minha mãe. Como só tinha passe livre por ser chamada na sala do diretor para aquele tempo, me apressei para a próxima aula. Suspirei, pois por mínimas as chances, poderia estar na Europa dali a menos de 5 meses.



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Notas finais do capítulo

É minha primeira história original. O que acharam? O que pode melhorar? Por favor me digam!



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