– Ele o quê?!– Leo exclamou, deixando cair seu garfo na qual comia ovos mexidos.

Reyna não desviou o olhar de Leo e prosseguiu, dando uma mordida na superfície lustrosa e vermelha de uma maçã.

– Jason já gostou de mim. - Ela falou, e Leo pôde perceber que ela queria falar aquilo rapidamente para não sofrer tanto - Mas eu o dispensei.

– E estou fazendo das tripas coração para você vir me falar que dispensou ele há um ano? - Ele disse, ironicamente, e Reyna apenas bufou.

Esperanza abriu a porta do quarto e colocou a cabeça para fora, ainda caindo de sono. Ela vestia um pijama longo e antigo, com o tecido já gasto e estava descalça. Seus cabelos longos e castanhos faziam um nó no topo da cabeça e os olhos ainda estavam vagos e vermelhos. Esperanza trabalhava demais, e não tinha muito tempo para si. Mesmo sendo bonita, ela não era o tipo de beleza delicada.

– Estão fazendo muito barulho - Disse, na voz embargada, coçando um olho - Leo, você já fez minha omelete com meu nome escrito em...

– ... Ketchup. Su desejo, mi desejo– Ele falou, sorrindo, mostrando a comida na qual se lia 'Esperanza' em vermelho vivo. Ela disse 'Ótimo, vou voltar a dormir' e se trancou novamente dentro do quarto. Reyna achara o pedido dela infantil, mas ele limpou a garganta numa forma de pedido para uma explicação. Ela prosseguiu.

– Havia uma garota. Eu percebi no momento em que a vi que não tinha páreo. Ela era linda. Não, mais do que linda, era estonteante. - Tinha um pouco de admiração e de raiva ao mesmo tempo, misturados em sua voz - E eu percebi que ele estava balançado. Ele me perguntou se eu gostaria de ficar com ele, mas Jason gostava dela. E eu sabia que era errado se Jason não tinha certeza.

Leo levantou as sobrancelhas, um pouco surpreso.

– Recusou o garotão por senso de valores. - Voltou a comer. E falou, ainda de boca cheia - Surpreendente.

– Não era a coisa certa a se fazer. - Ela suspirou, mordendo novamente a maçã, reprovando a maneira que ele falava com a comida na boca.

– Quem é essa garota?

Reyna o encarou, pedindo silenciosamente para que ele não tivesse perguntado aquilo.

– A presidente do conselho estudantil. Piper Mclean.

Leo cuspiu todo o café da manhã, sujando a mesa e o prato. Reyna fez uma careta, mas não se distanciou, apenas afastou de si a maçã, perdendo o apetite. Piper não era o tipo de garota na qual um menino não pensaria duas vezes antes de decidir com quem ficar. Não era necessário observá-la por muito tempo e veria tudo o que atraía: a beleza e personalidade. Reyna queria dizer que odiava Piper, mas não, ela prezava a garota.

– Piper? - Ele repetiu, limpando a boca com a manga da camisa - Aquela Piper?

Ela assentiu com a cabeça.

– Substituiu Drew na última eleição, e desde então as duas têm uma rixa na qual tento me manter neutra.

– O pai dela não é famoso? Um ator por quem todas as garotas raspariam as sobrancelhas e tatuariam o nome dele na testa?

– Sim - Ela disse, dando um pequeno sorriso de canto, incrédula ao se imaginar de sobrancelhas raspadas por causa de um homem bonito que atua - Em parte. Eu não faria isso.

– Você é muito espertinha. - Leo disse, mexendo as sobrancelhas de forma sugestiva - Eu gosto.

– Você é presunçoso - Rebateu ela - Eu não gosto.

Ele balançou os ombros como se não ligasse, sorrindo.

– Vamos ao Johnny's? - Leo disse, e ela já entendia o porque. Ele quer ver Thalia, pensou. Reyna negou com a cabeça. - Por favor... - Fez um bico - Por favorzinho...

Olhando o quão estranho ele ficava naquela expressão, ela apenas se levantou e pegou suas coisas. Leo se levantou saltitante e ambos foram para o restaurante. Ela observou-o por alguns segundos enquanto andavam na calçada. Valdez tinha um jeito diferente, quase incômodo, de se mover e agir. Parecia que havia tomado cafeína suficiente para derrubar uma manada de búfalos, se não estava tamborilando os dedos na perna enquanto andava, mexia sempre com as mangas longas da camisa sem botões.

Ao se sentarem numa mesa, Leo perguntou à garçonete se Thalia poderia os atender. Reyna não a deu muita atenção, mas pela reação dele, que foi bater com a cabeça na mesa, Thalia provavelmente não poderia estar presente.

– Dia de folga - Repetia, com a cabeça batendo no metal revestido de vermelho. O nariz amassando na superfície - Hoje é o dia de folga dela... Folga.

– Não esperava que ela ficasse aqui todos os dias da semana, não é mesmo? - Reyna disse, folheando uma revista qualquer que havia ali perto. Ao virar a página, viu uma modelo que conhecia até demais. Não mostrou à ele a imagem de Piper impressa no papel, destacando um conjunto de roupas da estação.

Ele continuou a se torturar.

– Idiota. É isso que eu sou. - Bateu novamente a cabeça, num baque surdo. Ela desviou os olhos. Uma bebida chegou para ele e Leo deu um gole, ainda chateado porque a garçonete não era Thalia Grace.

Reyna o interrompeu.

– Leo.

Quando Reyna olhou para o lado, ela desejou não ter nascido. Queria rosnar de raiva ao ver a Presidente do Conselho ali, pedindo informação para uma atendente no restaurante. Descendência indígena, de cabelos lisos, algumas mechas trançadas e num comprimento perfeito com a pele num leve bronze ao contrastar com os olhos verdes. Da última vez que os vira, tinha certeza de que eram azuis, mas aquilo não importava tanto quanto Leo cuspir (novamente) todo o refrigerante ao ver Jason se postar ao lado dela. Reyna observava a vaga cicatriz no lábio dele se mexer, pensando inconscientemente o quão parecida com a sua ganha na queda da bicicleta. No entanto, a sua não era para sempre.

– Leo - Jason cumprimentou o melhor amigo - Podemos sentar aqui com vocês? - Ele olhou para Piper - Está tudo bem, Piper?

Ela deu um sorriso, de ofuscar. Mas Reyna conhecia aquele tipo de sorriso, era completamente forçado.

– Sim. - Disse. E Leo também assentiu.

– E o que a Rainha da Beleza faz aqui com o superman oxigenado? - Falou, dando espaço para ela sentar ao lado dele enquanto Jason se sentava ao lado de Reyna. Ambos tensos com o lugar, mas tentavam não demonstrar nada.

– Sempre engraçado, Valdez. - Piper falou, radiante, tentando se mostrar simpática.

Leo colocou um braço ao redor do ombro dela e apontou os dois dedos da outra mão para os olhos azuis de Jason, soando ameaçador. Estou de olho, era o que o sinal queria dizer.

Eles riram, e Reyna se forçou a curvar os lábios para aparentar que achava graça. Piper pegou o braço dele e o tirou, de forma delicada. Reyna ainda conseguia ver que ela estava fingindo ser amigável. Leo, no entanto, se deixara cair pela beleza dela, assim como Jason. Todos fizeram os pedidos e, assim que terminaram, Jason saiu com Leo para pagar a conta.

– Eu posso contribuir - Disse Piper, já colocando a mão na sua bolsa em estilo cherokee. Jason negou sorrindo, dizendo que ficaria por conta dele.

Reyna apenas estendeu o dinheiro para Leo, que o pegou dando uma piscada.

– A próxima é sua.

– Okay - Ele disse, e saiu com Jason para um ponto do restaurante que não se via.

Piper relaxou e pareceu ter um olhar mais seguro e crítico. Ela se voltou para Reyna, a olhando com seus olhos verdes.

– Próxima? - Seu tom era duvidoso e mais seguro do que antes dos garotos saírem dali. Ela não precisava se fingir para Reyna.

– Por que está tão surpresa? - A voz afiada disse, descontraída, mas atenta, como um esgrimista. - Aqui não sou eu quem tenta ser quem não é.

– Não quero discutir - Piper disse, crispando os lábios.

A garota de cabelos negros colocou os cotovelos na mesa, procurando intimidar a outra. Reyna não era de brigas, mas se as fazia, havia uma razão. Respirou fundo e respondeu com paciência.

– Sou próxima de Leo, apenas isso. Venho com ele aqui muitas vezes. - Fez uma ligeira pausa - Ele não é meu namorado.

No outro lado do restaurante, Jason chamou Leo para conversar, atrás de umas plantas e de onde seriam invisíveis para as outras:

– O que achou dela? - Ele estava sério agora, cruzando os braços numa expressão diferente de antes.

– Se eu dissesse que não gostei, estaria mentindo. - Leo sorriu.

– Você não seria o único. - Desviou os olhos azuis - Eu estou realmente preocupado com a Piper, Leo.

Leo ficou surpreso.

– Mas ela pareceu tão legal - Disse, levantando as sobrancelhas - Vai me dizer que têm azia? Olha, não tem nada que uns chás e receitas caseiras não resolvam.

– Dá para levar a sério? Ela tenta se fazer de alguém muito gentil. - Jason continuou - Piper é incrível, mas toda a sua vida teve de fingir ser alguém diferente. A conheço tempo suficiente para ver que ela é diferente. Pode parecer inocente, mas a personalidade é forte. Ela é incrível.

Jason gosta mesmo dela, Leo pensou. Reyna não tem chance. Gostaria de dizer que não era verdade, mas era. Ele colocou a cabeça para fora, pretendendo espiá-las, e o loiro fez o mesmo.

Piper agora não estava da mesma forma, e pareciam estar discutindo. Na revista em cima da mesa, deixada de lado, Leo pôde ver a imagem da garota na folha. Ambas fizeram expressões zangadas.

– Vamos embora - Jason disse para Leo, andando para a direção delas – Agora.

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– Cupcakes, deem boas vindas para o novo cup- - Hedge limpou a garganta - ... A nova aluna na classe. Todos vocês já devem saber que a presidente Piper Mclean está mudando de turma.

Reyna amassou o bilhete na mão com força. Levantar a cabeça e seguir em frente, não importa o que aconteça. Levantou-a e viu Piper, na frente da sala, com sua mochila e broche de P de Presidente do Conselho presa à camisa social que usava. Os olhares de todos, principalmente dos garotos, estavam fixos nela.

– Um anjo caiu do céu hoje! - Gritou Connor Stoll, no fundo da sala.

– Presidente, eu quero ser seu segurança! - Disse Travis, irmão de Connor e com os mesmos cabelos cacheados e sorriso irônico, depois de dar um alto assovio.

Piper deu um sorriso envergonhado e cumprimentou a todos eles, se sentando na carteira ao lado de Reyna, perto da janela. Ela deu uma olhadela pelo canto do olho azul, mas Reyna não o retribuiu. Pegou outro papel e uma caneta, escreveu algumas palavras e pediu para entregarem à Thalia.

O que acha de uma pessoa que finge ser quem não é?

Algumas carteiras do lado, depois de receber o recado, Thalia fez uma auréola acima da cabeça com as mãos, para dois segundos depois colocar chifres em si mesma. Talvez fosse aquilo.

O sinal do último horário tocou e Leo, ao lado de Reyna, olhou pela janela a paisagem da escola. Estava deserto até um garoto com uma máquina fotográfica aparecer, olhando para os lados e sem sucesso em achar o que procurava, logo indo embora. Os dois desceram as escadas e chegaram à rua, se dirigindo para casa.

Queria poder falar para ele sobre Piper, que ela já era uma pessoa nada parecida com a que aparentava. Cada palavra da garota mostrava ter um efeito extremamente forte nos outros, convencendo-os de que ela era doce e igual a qualquer esteriótipo de garota bonita e meiga. O pai de Piper era um homem bonito, famoso e, a melhor parte segundo todas as mulheres, solteiro. A filha não era diferente. Trabalhava de modelo, conhecida por herdar a beleza nativa de Tristan Mclean, e desde cedo foi acostumada a ser famosa. Com o convívio com ela pelo conselho, Reyna sabia que Piper não era tão frágil assim, dentro dela havia uma verdadeira força. Ela se perguntava se Jason vira aquela força e, por isso, gostara dela.

– Eu faço o jantar - Ela disse.

– Então vou ter que preparar a privada. - Ele falou, zombeteiro.

Reyna rolou os olhos e ignorou. Alguns minutos depois, um vulto passou por eles. Ela viu os cabelos castanhos lisos de Piper enquanto a modelo corria à frente deles.

– Me escondam, por favor! - Ela sussurrou, e Reyna olhou para trás. Viu um garoto com a máquina fotográfica preparada correndo atrás dela. - Essa não! - E Piper tornou a correr.

– Só mais uma foto, Srta. Mclean!

Reyna simplesmente largou a mochila e pegou uma lixeira ali perto, cheia até a boca, e jogou com força próximo do fotógrafo. Ela caiu no chão, mas o tamanho do barulho fora tão grande que ele deixou de lado Piper e saiu correndo assustado, olhando para trás como se a garota fosse um monstro prestes a devorá-lo.

– Não precisa agradecer - Disse Reyna à Piper, rosnando - Vai para a minha casa, não é seguro com mais desses por aqui - Ela olhou para Reyna como se não acreditasse no que ela dizia, já que as duas não se davam muito bem - Um apartamento de luxo é mais seguro que a casa de Leo. Há seguranças, portas trancadas e comida. Você vai dormir lá. - Ela permaneceu parada enquanto Reyna caminhava - Ande, já está escurecendo.

Piper deu um passo à frente, franzindo o cenho.

– Por que está fazendo isso? - Ela disse. Reyna parou.

– Você disse para a escondermos. - Falou a membro do conselho, simplesmente - E já esqueceu? - Seu olhar altivo tomou conta do ambiente, olhando Piper de forma intensa - Você foi minha melhor amiga.