Era meio difícil ver-te com outra pessoa. Não que eu tivesse morrido por isso, claro, pessoas não morrem por tristeza... ao menos eu não morri.

                Quando recebi a carta, ou melhor, o convite para o seu casamento, as lágrimas caíram sem meu consentimento. Elas rolavam por minhas bochechas, pingavam sobre o papel de carta todo enfeitado com seu nome ao lado do dela. Minha maquiagem fez dois rastros negros pelo meu rosto, que seguiam como rio cujas águas carregam veneno por onde passam.

                Eu sabia que isso aconteceria, algum dia. Minha mente já se preparava para isso. Mas só minha mente, pois meu coração fora ingênuo e ainda acreditando, em vão, que um dia você voltaria.

                Minhas mãos tremiam justamente naquele dia, quando a casa estava vazia e , mesmo que eu gritasse, ninguém viria me acudir. Naquele dia em que recebi sua carta, meus joelhos me falharam e minha voz me abandonou. O chão repentinamente ficou perto demais e pouco tempo depois nada mais enxergava, minhas lágrimas simplesmente não permitiam que meus olhos funcionassem. Aquele dia, chorei até a exaustão, caindo sobre o tapete gasto da sala e dormindo até que o sol tocasse e me avisasse que um novo dia havia chegado.

Em meus sonhos, e fora deles, minha cabeça girava e girava, até parecia que tinha bebido todas as doses de tequila do mundo. Naquela noite, você invadiu meus pensamentos vestido de noivo, no altar daquela igreja. Eu estava vestida de noiva, porém, não era a sua noiva. Ela entrou na minha frente, mais bonita e elegante, me olhou de cima a baixo e nada disse, apenas fez aquele olhar de deboche, como se dissesse “nossa, e ainda se acha bonita?”. Minhas roupas, repentinamente, estavam rasgadas e sujas de terra e tinta. Uma tinta vermelha. Então eu notei que não era tinta.

Era o sangue de vocês dois.

Acordei assustada com o sol em minha face.

E me senti vingada, como se tivesse feito aquilo de verdade.

E assim pude encarar seu casamento, te olhar nos olhos e nada mais sentir. Afinal, para mim, você já estava morto desde a noite passada.

Boa eterna noite, meu antigo amado.