Assim que atravessei a porta do quarto Miguel me tomou em seus braços, eu havia ligado para avisar que estava voltando e que precisavamos conversar, eu achei que começaria a chorar porque a situação realmente não era boa mas simplesmente não consegui chorar. Miguel afagava meus cabelos e murmurava algumas coisas mas não dei atenção, estava mais preocupada com sua reação depois que eu contasse a ele o que Felipe pretende fazer. Nos sentamos na cama, eu sentada em seu colo de modo que ele poderia olhar diretamente em meu olhos.

– Pelo jeito que você chegou imagino que a notícia não seja boa – falou colocando uma mecha de meu cabelo para trás da orelha – O que o Felipe está tramando dessa vez?

– Ele vai se mudar, e tem o direito de me levar mesmo eu não querendo pois ainda sou menor de idade e ele é minha única família – falei baixando o olhar

– E pra onde exatamente ele pretende ir? – perguntou delicadamente

– Nova York.

Não precisou de mais nada, Miguel ficou totalmente sem reação, ele olhava em meus olhos mas seu olhar era vazio e seu rosto não tinha nenhuma expressão que denuncia-se o que se passava em sua mente. Ele balançou a cabeça vagarosamente e fez menção de que iria falar mas apenas me abraçou forte.

– Não quero te perder mas não há nada que eu possa fazer a não ser aproveitar meus últimos dias ao seu lado – falou baixinho

Uma onda de dor invadiu meu peito e fez com que meu coração doesse, Miguel ainda me envolvia em seus braços, senti algo molhado e quente em meu pescoço e percebi que Miguel estava chorando. De todos os meses que passamos juntos nunca tinha visto ele chorar, nem mesmo quando estavamos na clínica.

•••Dois dias depois •••

Antes mesmo de Felipe me contar sobre a mudança já estava tudo organizado para nos mudarmos, sim eu tinha passaporte e nem sequer sabia Felipe conseguiu visto para todos e já tinha até conseguido uma vaga em uma escola super requisitada no bairro onde iriamos morar. Talvez tenha sido por isso que ele queria tanto falar comigo nesses dias, talvez quisesse minha opinião sobre as coisas e eu simplesmente o ignorei. Agora estou aqui sentada no chão do meu quarto na minha antiga casa, os policiais já tinham liberado a casa, estava guardando minhas coisas para despachá-las, eu teria apenas mais um dia com Miguel e depois iria embora de sua vida.

– Quer ajuda? – perguntou Jessica parando na porta

– Não precisa se incomodar, e não fique fazendo força – falei levantando

– Seu irmão já está carregando o caminhão, posso mandar vir buscar suas caixas?

Apenas confirmei com a cabeça e desci para sala, a casa parecia a mesma exceto pelos móveis cobertos por lençóis brancos, Felipe disse que não iriamos levar nada além dos pertences pessoais pois iria vender a casa com os móveis e tudo. A varanda parecia a mesma só que agora sem as flores que minha mãe tanto gostava e minha cadeira favorita apenas as lembranças, Miguel apareceu na rua e gesticulou para que eu descesse. Ele me recebeu com um abraço apertado e depois depositou um beijo em meus lábios.

– Contagem regressiva não é mesmo? – sua voz era suave mas tinha uma certa tristeza – Eu quero que fique com isso

Ele me entregou uma caixinha de veludo azul e dentro tinha um cordão de ouro branco, tinha um medalhão em forma de coração e dentro continha nossas iniciais e a data do dia em que nos conhecemos. Apertei o medalhão em minha mão e lhe encarei, seus olhos perguntavam se eu tinha gostado enquanto os meus estavam marejados.

– Precisava mesmo ter feito isso? Miguel eu te amo e adorei sua intenção mas isso só faz com que a despedida seja mais dolorosa – falei pegando uma de suas mãos

– Então você não gostou. – falou com um olhar decepcionado – Eu queria fazer algo pra que você se lembrasse de mim mas no lugar só te decepcionei.

Era evidente que ele havia ficado triste por eu não ter gostado do presente mas tudo que falei era verdade, toda vez que eu olhasse para o medalhão um buraco se abriria em meu peito, é óbvio que eu sempre me lembrarei de Miguel mas essa seria uma maneira mais dolorosa. Coloquei o medalhão em sua mão e me virei para que ele colocasse em meu pescoço, quando me virei novamente um breve sorriso se passou pelos lábios de Miguel e eu me permiti sorrir também. Me despedi de Felipe e Jessica e fui para casa de Miguel, Fernanda tinha organizado um jantar de despedida pra mim, o que achei totalmente desnecessário, mas era uma boa maneira de me despedir deles.

•••♥•••

– Quando sua mãe começou a gostar de mim de verdade, eu vou embora – falei me jogando na cama – Até parece que eu estou em um filme!

– O que vamos fazer amanhã? – perguntou Miguel deitando ao meu lado

– Eu não sei, desde que eu esteja com você pode ser qualquer coisa!

Sentei em seu colo passando uma perna de cada lado de seu quadril, Miguel colocou as mãos em minha cintura e colou nossos lábios em um beijo calmo, aos poucos ele foi levantando minha blusa até ela estar no chão do quarto quando ele finalmente econtrou o fecho do sutiã comecei a rir e corri para o banheiro.

– De novo, Carol! Isso já esta perdendo a graça – falou indo atrás de mim

Tomamos um longo banho de banheira e depois ficamos assistindo filmes até pegarmos no sono. Acordei com um pouco de luz que passava pelas cortinas, Miguel dormia tranquilamente e eu passaria por milhares clínicas de reabilitação só pra chegar aqui e admirar essa imagem. Fiquei acariciando seus cabelos vagarosamente tomando cuidado para não acorda-lo, com um movimento suave ele pegou em meu pulsou e levou minha mão até sua boca onde depositou um beijo na palma.

– Desculpe, não queria te acordar – falei me aconchegando em seu peito

– Não me importo em ser acordado por você – deu um beijo em minha testa e voltou a dormir.