Quando acordei Miguel já não estava no quarto, olhei em volta o procurando mas nem um sinal dele. Ja iria chamar a enfermeira quando a porta se abriu revelndo Miguel.

- Ja acordou, estragou minha surpresa. – falou fazendo bico

- Café na cama, vou ficar mal acostumada – falei rindo

- Bom dia! – e deu um beijo na minha testa

Ele colocou a bandeija no pé da cama e me ajudou a sentar, colocando também uns travisseiros nas minhas costas. Esse garoto está me mimando demais.

- Como eu não sabia do que voce gosta, trouxe torradas, suco de laranja e uma salada de frutas – falou me entregando a bandeija

- Pra uma primeira refeição em nove dias, esta ótimo – faleu sorrindo

Realmente eu estava sintindo falta da comida, as torradas estavam deliciosas, dividi algumas com ele. Não sou tão egoísta assim, mas as frutas estavam tão boas que tive dó de dar a ele.

- Não vai me oferecer? – perguntou com certa ironia

- Não! Estão muito boas, depois voce pega eu não posso sair daqui se lembra – falei de boca cheia pra provoca-lo

- Então é assim – arqueoou as sombrancelhas – Venho aqui te ajudar e voce me retribui assim.

Ele avançou tentando pegar a colher da minha mão, comecei a rir enquanto me esquivava de seus ataques. Quando ele finalmente pegou o pote eu ja tinha comido tudo.

- Voce vai seu severamente punida, Richner – falou serio enquanto se aproximava ainda mais

Meus olhas estavam colados nos seus, ele foi se aproximando cada vez mais sem tirar seus olhos dos meus, nossos lábios estavam roçando um no outro quando a porta se abriu fazendo Miguel se afastar.

- Desculpem me – falou o medico – Mas preciso ver minha paciente

- Sem problemas – falou Miguel – Eu vou levar a bandeja.

Assim que Miguel saiu comecei a rir e o medico me acompanhou.

- Meu nome é Nicolas e eu sou o responsavel por voce – falou calmamente – Como se sente?

- Bem, incrivelmente bem – respondi – Quais são suas novidades pra mim?

- Bom, voce teve um quadro de melhora excelente. Não precisa mais do soro, já esta se alimentando. Acho que a tarde já pode voltar pra clinica – falou olhando a prancheta

- Boas noticas – falei rindo

- Vou dar uma olhada no seu ferimento – falou pegando meu braço

Assim que removeu a faixa pude ver que era um corte de mais ou menos 9cm, e estava com cinco pontos. Eu fiz aquilo? Com um simples pedaço de vidro fiz todo esse estrago?

- Pela perda de sangue a cicatrização vai ser lenta, fora isso esta tudo em ordem – falou – Posso deixar assim, ou quer que eu cubra?

- Poderia cubrir? Não quero me lembrar disso por enquanto – falei em um sussurro

Ele afirmou com a cabeça e pediu licença por um momento, Miguel voltou e analisou meu braço sem falar uma palavra. Nicolas voltou com um rolo de faixa e luvas em mão, ele fez a limpeza do local e voltou a enfaixar.

- Vou ligar para clinica avisando que eles podem vir busca-los a tarde – anunciou antes de sair do quarto

Miguel se sentou ao meu lado e cariciou meus braços.

- Por que fez isso? – perguntou sem me olhar

- Desespero, dor, angústia – falei firme

- Por mim, prometa que não fara mais isso? Eu consegui parar, voce também consegue.

Concordei com a cabeça e o abracei, ficamos assim por minutos então ele me soltou. Mais uma vez ficamos conversando em silencio, no começo eu achava totalmente estranho pois eu sabia exatamente o que ele queria me dizer apenas estudando seu rosto.

- Faça logo – falei começando a rir

- Fazer o que? – ele parecia confuso

-Eu sei que voce quer me beijar, ja que te interromperam na primeira vez.

Ele sorriu e foi se aproximando como havia feito antes, só que dessa vez ele olhava para os meu labios. Eu ja estava sentindo sua respiração contra meu rosto então ele parou, fiz uma careta e ele riu e me beijou de vez. Um beijo calmo e apaixonado como o primeiro.

Miguel me fazia feliz com pequenos atos e tinhamos uma ligação inexplicavel. Quando o ar nos faltou ele se afastou.

- Quero mais – falei fazendo bico

- Seu pedido é uma ordem senhorita – falou rindo

Ele veio pra cima de mim me dando mais um beijo, uma das suas mãos estava em minha cintura e a outra suportava seu peso sobe a cama, ele passou a mão para as minhas costas então eu cortei o beijo.

- Isso não é hora e nem lugar, Miguel.

- Por que? Se fosse hora e lugar voce me permitiria essa dadiva? – falou sorrindo maliciosamente

- Quem sabe – dei de ombros – Voce não queria ser o primeiro?

Ele riu e se ajeitou na cama e ficamos conversando até Maria aparecer. Eu ja a considerava como uma segunda mãe, e fiquei muito feliz quando ela apareceu no quarto.

- Querida! Que bom que esta melhor – falou me sufocando em um abraço

- Tambem senti saudades, Maria – falei beijando sua bochecha

Ela praticamente expulsou Miguel do quarto, me ajudou a tomar um banho e trocar de roupa. Rapidamente ja estava saindo do hospital, o que foi um alivio pra mim.

Assim que chegamos na clinica Maria logo correu para seus deveres, fiz Miguel ir descansar, enquanto eu dava uma volta pelo jardim. Encontrei Dona Marta sentada em um banco.

- Carol! – abriu um sorriso ao me ver – Fico feliz em te ver novamente.

- Obrigada! Sabe sinto saudades de quando era voluntaria, e voces foram maravilhosos na apresentação – falei me sentando junto a ela

Ela me contou o que se passou durante os dias em que eu estava no hospital.

- Como a senhora consegue? – perguntando mudando totalmente o rumo da conversa

- Assim como querida? – perguntou

- Viver nesse lugar, sabendo que esta aqui porque te julgam mentalmente incapaz de viver uma vida sozinha – falei baixinho

- Eu vim pra cá depois que meu marido faleceu – começou – Semanas depois de crema-lo comecei a ter sonhos com ele, e enquanto estava acordada via ele, e nós conversavamos. Meus filhos ficaram preocupados e me trouxeram pra cá.

- Continue – falei

- Eles disseram que eu tinha que aceitar que Bento ja não vivia entre nós. Eu sabia que era verdade só não queria acreditar. Então um dia resolvi aceitar o obvio e viver em paz – falou mirando o vazio

- Isso parece fazer bem a voce! – falei estudando seu rosto

Ela se virou pra mim e segurou minhas mãos.

- Apenas aceite seus fantasmas. Voce é jovem, poderá sair daqui e viver uma boa vida.

Eu não sabia o que lhe falar então apenas fiquei mirando seus olhos cor de mel.

- Vou descansar depois conversamos mais.

Ela se levantou e seguiu em direção aos dormitorios, aquilo que ela me falou ainda vai gerar muita reflexão em minha cabeça. Resolvi caminhar entre as flores enquanto pensava no que Dona Marta havia me dito.

- Olha quem tenho o prazer de reencontrar – eu conheço essa voz

Me virei vagarosamente, sim era ele, como eu suspeitava, Pablo.

- O que voce quer? – pergunto serrando os dentes

- Nada, só vim trazer umas coisa para o meu irmão – falou se aproximando

Eu estava muito surpresa com sua presença então dei um passou para tras.

- Calma, não vou encostar em voce – falou sorrindo de lado

Realmente ele não tocou em mim, ele apenas pegou uma das rosas e se virou pra mim. Eu ainda estava muito surpresa então não me mexi, ele se aproximou e chegou perto, perto ate demais. Colocou uma mecha do meu cabelo para tras da orelha e colocou a flor em meus cabelos, deu a volta e ficou atras de mim.

- Aquela noite foi muito prazerosa – sussurrou em meu ouvido

Bastou aquilo para me despertar, me virei para ele e dei um soco em seu peito.

- Cachorro, cretino, idiota, imundo... – as palavras sairam como gritos enquanto eu dava saraivada de socos em seu peito

Ele segurou meus braços e serrou o maxilar, nesse momento dois enfermeiros estava se aproximando. Pablo me soltou e foi arrastado pra longe de mim.

- Voce mais uma vez – falou o enfermeiro segurando meus braços – vou ter que te colocar no isolamento.

O que? Isolamento? Como assim? Vão me colocar na camisa de força ou algo parecido? Outro enfermeiro se aproximou e espetou uma agulha em meu braço, logo a inconsciencia me levou.