O Príncipe Cinza escrita por Micaela Salvya


Capítulo 21
Família Redheart




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Respirei fundo. Maldição!

O dia estava lindo, o gelo estava reluzindo a luz do dia, a visão era magnifica e Zane estava ao meu lado. Tudo estava excelente. A menos que o fato de guardas reais estarem no nosso encalço fosse, assim humm, motivo de tristeza ao meu coração feliz e colorido.

Meu sentimento com relação a isso era muito "feliz" também.

Resumindo eu queria matar aqueles seres trazidos das profundezas do meu ódio naquele momento.

Olhei para frente e quase caí, um meio círculo de Sombras esperava-nos à frente. Um outro grupo estava atras.

Bem, como chegamos naquela situação?

Depois de voltarmos a nossa caminhada em direção a Acelentia, nos perdemos em conversas.

– Porque nunca procurou ajuda? -perguntei curiosa. - Depois que soube do que a Irmandade era realmente capaz?

– Quem me ajudaria? A vida dos menores são as mais controladas. Tínhamos que ser mantidos na linha, crescer na causa, acreditando nela. Acho que por um tempo acreditei de fato, mas foi com o sacrificio dos seus pais que consegui abrir os olhos, enxergar. Alias, também foi a partir dai que vi que eu não um menino inocente incapaz de machucar alguém, eu seria capaz de fazer o que a profecia ditava.

– Você sabe que não foi uma decisão sua, certo? Meus pais sabiam onde estavam se metendo e decidiram correr o risco.

– Pode até ser, mas se não fosse por mim não teriam que tomar qualquer decisão. - ele retrucou indiferente. Eu sabia mais, aquilo o afetava mais do que deixava transparecer.

– Se fossem quem acha que é, uma Sombra na alma, não seria capaz de sentir remorso. -eu apontei.

Ele assentiu sem acrescentar mais nada.

Passamos a tarde conversando e andando, e aliás Gandara eventualmente apareceu e acompanhou-nos durante a caminhada, e por volta do fim da tarde um pressentimento me assaltou.

Algo estava errado. Foi então que eu senti as múltiplas essências de ruins.

– Temos que correr! - puxei Zane pelo braço e bem... foi assim que terminamos onde estávamos agora.

Todos usavam armaduras douradas e polidas que brilhavam ao sol poente, provavelmente muito desconfortáveis para correr, principalmente nesse frio maldito do Mar Gelado.

Um homem tomou um passo a frente.

– Ambos são acusados de roubarem o selo real. - pisquei? Roubar? Selo real?

– Desculpe, mas isso deve ser um grande mal entendido...

– Não houve mal entendido. -o guarda desembainhou sua espada pontuda e letal e ordenou. -Guardas, levem-os para a masmorra!

Em um segundo estávamos encarando infinito gelo e um castelo ao longe e de repente estávamos ambos presos por barras num cubículo nojento e mal cheiroso.

UOU! Aquilo requeria uma quantidade imensa de Yz. Algo próximo a poder-impossível-de-existir.

– Como..-

– Dizem coisas sobre esse rei. - foi a declaração misteriosa de Zane. - Afinal o que tem nesse seu pacote que tinha que entregar em Acelentia?

Congelei. Oh, não. Oh, por favor não!

Abri o pacote e uma espécie de carimbo com um símbolo antigo e "realesco" brilhava inocente.

– Merda. - suspirei irritada.

Zane balançou a cabeça desacreditado.

– A confusão te persegue ou é você que a persegue? -ele riu suavemente. - Não posso dizer que tenha tido tantas emoções assim ultimamente, talvez nunca. Incrivelmente... eu gosto.

– Que bom que você está se divertindo, continue aí... rindo - afinal o que ele estava fazendo ali deitado? - enquanto eu tento nos tirar desta situação.

Vasculhei a estreita área da cela e descobri coisas bem inúteis, ou no mínimo nojentas. Alguns crânios, ratos, sangue seco, palha outras coisas que eu sinceramente não queria descobrir o que era.

– Acho que vamos passar outra agradável noite na presença um do outro. - Zane declarou confiante e riu alto ante minha carranca.

–---

Pela manhã fomos levados perante a presença do rei e eu estava no mínimo nervosa. No máximo surtando.

Na verdade antes de encontrarmos Vossa Majestade tomamos banho, porque afinal narizes reais não foram feitos para cheirar as essências daquele calabouço. Nenhum nariz, na verdade.

O banho foi num lago perto do castelo, que estava congelando por sinal. Na verdade foi bem desconfortável ter esse momento natureza, mas uma servente me ajudou a encontrar o lugar e até segurou uma tendinha pra mim para que nenhum olho curioso visse o que não devia.

No final ela me estendeu uma coisa horrível que um dia foi um vestido. Fui forçada a vesti-lo e encontrar o tal rei de Acenlentia.
– O Rei Luor os espera. -a servente disse antes de entrarmos na sala.

A sala do trono estava abarrotado de guardas. Todos bem armados e suas armaduras brilhantes e recém-polidas. No centro do brasão da casa real havia uma coração sangrento vermelho. Coração o órgão. Nojento. Diferentemente de Core onde os guardas vestiam metal prateado usado e útil, aqui a vaidade parecia falar mais alto.

As grossas colunas e os arcos no teto eram puras obras de arte, esculpidos e pintados por artistas, eles pareciam engrandecer o reino de uma maneira que na minha opinião era ilusória.

Senti as diversas essências dos guardas e aquilo me inundou, era demais, e ao mesmo tempo viciante. Eu nunca antes prestara atenção as essências de uma sala cheia, eu queria explorar meu poder, aquilo me chamava, era fascinante, como descobrir cheiros e perfumes nunca antes experimentados. Extrasensorial.

Uma figura altiva e lustrosa se sentava no trono dourado e imponente, porem por um momento um sentimento estranho me assaltou, algo escuro se espreitava na sala.

Me virei vasculhando a sala novamente com meu sentir. Nada.

– Procurando mais coisas para roubar? -perguntou a voz grave do Rei Luor.

– Não acho que seja por isso que estamos aqui, Vossa Alteza. -declarei ao encarar diretamente os olhos do poderoso.

Seu cabelo era loiro escuro, descuidado e seus olhos eram de uma cor de nada. Apesar de tudo, ele devia ter sido um homem bem apessoado quando fora mais novo. Ao lado de sua grande cadeira cara havia uma miniatura mais delicada. Nela estava sentada uma loira estonteante, uma mulher de generosas curvas e um decote beirando ao obceno. Eu teria chutado que tinham um caso se não fosse pela aparência semelhante. Afinal, um rei possuir uma mulher com metade de sua idade não era assim tão comum, e ela parecia do tipo que casaria por poder.

Mas então percebi os olhos iguais ao de seu pai cor de nada, fixados em Zane. Fixados.

O homem, acredite se quiser, possuía a mesma quantidade de jóias que sua filha, por incrível que pareça. O que era muito, por sinal. Anéis em todos os dedos, colares e pedras intricadas no tecido de suas roupas. E em suas cabeças, gigantes pedras preciosas carmesins pendiam de suas coroas. Ostentoso? Imagina.

O rei pareceu ofendido, irritado com minha impertinência. Eu realmente não gostava de ser manipulada.

– E porque pensaria isso? - ele perguntou sem hesitar.

– Porque se quisesse mesmo seu precioso selo real os guardas que nos prenderam teriam nos revistado imediatamente, ao invés disso aqui estamos, manhã seguinte e ninguém mencionou o carimbo idiota.

Luor Redheart gargalhou alto, reverberando sua risada profunda pelo salão.

– Muito perspicaz, minha cara. O que então supõe que tenha vindo fazer aqui?

– Acho que está tentando descobrir o que as Caçadoras querem. Se engana porém, porque não vim por elas. -joguei o selo para o trono e ele pegou agilmente, bons reflexos.

– O que então veio fazer em Acelentia? -ele lançou um meio sorriso confiante.

– Passear. Conhecer novos ares.

Luor sorriu mais amplamente.

– O que realmente quer, Luor? -veio a pergunta inesperada de Zane, ele parecia impaciente e inquieto.

– Meu Príncipe, não somos assim tão íntimos para me tratar pelo nome.

Congelei. Ele sabia sobre Zane? COMO?

– Oh, não se espante, Laura Hunter. Achou que o próprio rei não saberia quem perambula por suas terras? Mas o que há de suspeito nisso, estão somente a passeio por Acelentia, certo? Uma Caçadora e o Traidor.

Firmei a mandíbula com raiva, aquela cobra vestida de rei.

– Podemos ir embora agora? -perguntei perdendo a paciência, ficar mais tempo ali só despertaria meu temperamento.

– Oh, não, fiquem. -ouvi a voz aguda e irritante da princesa e minha rangi os dentes.- Zane, amorzinho, eu imploro, fiquem por esta noite.

Suspirei. Acho que minha raiva corria pelo sangue daquela família.

–---

Fomos "convidados" a almoçar com os Redhearts e foi no mínimo entediante.

Selene, a princesa não conseguiu esconder seu desespero por Zane. Luor manteve uma conversa superficial que eu me dignei a responder com o menor número de sílabas possível.

Quando voltei ao quarto encontrei uma senhora sentada a me esperar. Ela parecia familiar de alguma maneira, mas minha mente não me ajudou a recordar de onde.

– Laura. -sua voz parecia nostálgica. Franzi minha sobrancelha, ela me conhecia?

– Desculpe, quem é a senhora?

Ela se apressou a se levantar e alisou as pregas das roupas.

– Sou Ronda. A curandeira.

– Prazer, Ronda. Posso humm... te ajudar em algo?

– Quero que saiba que em breve estará entre a vida e morte. Quando precisar, basta me chamar.-e com essas palavras bem chocantes, francamente elas eram mais assustadoras, Ronda saiu pela porta.

Corri atras dela, vasculhando ambos os lados do corredor. Ela se fora.

Eu comecei a pirar. Em palavras mais descritivas: hiperventilei. Minha sanidade voou pela janela. Assim, puff.

Não sei precisamente quanto tempo se passou, perdi totalmente a noção do tempo, mas eu poderia dizer que no mínimo foi uma eternidade, e mesmo assim não havia ar suficiente em meus pulmões.

O que me despertou foi uma mão que começou a tentar me acalmar. Palavras talvez estivessem envolvidas no conforto, mas eu não poderia dizer com certeza.

– Inale devagar, segure o ar. - tentei ao máximo obedecer à poderosa voz, mas meu desespero estava ganhando.- Depois exale devagar.

Inale, segure. Conte até cinco e expire.

Finalmente ouvi a mim mesma segurar o ar e expirar como o comandado. Fiz novamente e novamente até que pude sentir que meu coração não iria pular pela minha boca.

Chuva. Zane estava ao meu lado.

– Obrigada. - meu corpo estava suado e assustado, apesar de não estar mais surtando. Olhei ao redor, surpreendentemente eu estava encolhida em uma bola no chão do lado da parede da porta.

– O que aconteceu, Splendae? - a voz de Zane acalmou meu coração.

– Uma senhora curandeira acabou de me dizer que eu vou ficar entre a vida e a morte em breve. E por alguma razão acho que a conheço de algum lugar.


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