Edgar recusou o prêmio de melhor jornalista de 1911, dado ao seu pseudônimo, Antônio Ferreira, e surpreendeu sua esposa revelando a todos que ela era quem escrevia as matérias de Paulo Lima, sendo a verdadeira vencedora do concurso. Laura ficou extasiada de tanta alegria por ter seu trabalho reconhecido e principalmente por ter o apoio de seu marido. O melhor marido do mundo!

O evento durou a tarde toda se estendendo até anoitecer. Todos os presentes deram o braço a torcer e, mesmo olhando com desconfiança e, em alguns casos, desprezo, foram cumprimentar Laura e Edgar em sua mesa. O casal foi alvo de comentários bons e maus; alguns julgavam a profissão da moça e o fato de o marido apoia-la, a maledicência respingou também em Melissa, vítima de olhares indiscretos que incomodaram especialmente Edgar.

- Laura, vamos embora logo... Não estou gostando do jeito que estão olhando pra Melissa. Se fosse apenas comigo, eu não me importaria, mas ela é só uma criança. – sussurrou para a esposa.

- Eu também percebi... Também não estou gostando do rumo que esses olhares e comentários estão tomando... Achei que era apenas pelo prêmio,  – deu um sorriso discreto para ele e voltou a ficar séria – mas não é só isso...

Guerra e Celinha se aproximaram e também comentaram sobre o clima pesado que havia se estabelecido no local. Eles resolveram ir embora. Guerra, Celinha, Laura, Edgar e Melissa saíram da Colonial à francesa evitando qualquer outra situação desagradável.

- Ufa! Conseguimos sair da boca dos leões – brincou Guerra.

- Nem me fale! Se ficasse mai um pouco ali dentro acho que morreria sufocada com tanta hipocrisia – completou Celinha.

Todos riram, mas Edgar e Laura não estavam tão felizes como antes. Melissa estava sendo julgada injustamente. “A bastardinha,” pensavam uns; “Como a esposa aceita a filha fora do casamento assim?”, se perguntavam outros...

- Papai, você tá triste? Tia Laura, tá tudo bem? – a menina estava confusa – Vocês ganharam um prêmio supimpa! Por que tão assim?

- Não filha, tá tudo bem! – Edgar sorriu disfarçando.

- Melissa, quer levar o troféu pra casa? Se você achou tão legal assim... acho que merece essa responsabilidade, hein? – brincou Laura deixando o clima mais leve.

- Oba! Quero sim! – disse pegando o objeto da mão da madrasta. – “ E o prêmio vai para Melissa Vieira” – entoou brincalhona a menina ao receber o troféu das mãos de Laura.

Todos riram e perceberam que a tensão da tarde não afetara em nada a pureza da criança. Isso deixou Edgar e Laura aliviados e permitiu que seguissem para casa com um largo sorriso no rosto, se permitindo lembrar apenas dos bons momentos proporcionados por aquela premiação.

Ao chegarem a sua residência, Melissa demonstrava estar cansada; era tarde e ela já devia estar dormindo. Laura responsabilizou-se por bota-la na cama e contar-lhe uma história. Ela nem ouviu o final e adormeceu com um sorriso no rosto enquanto segurava uma mão da madrasta e com a outra abraçava o troféu que havia se tornado responsável. A professora liberou-se da mão da menina, deu-lhe um beijo e após olha-la com um sorriso materno, dirigiu-se ao quarto de casal onde Edgar a esperava impaciente.

- Você demorou. Tá tudo bem com a Melissa? – perguntou um pouco aflito.

- Tá tudo bem, calma! Só fiquei olhando ela um pouco... Dormiu como um anjo abraçando o troféu! – respondeu afagando a barba do marido e rindo da situação.

Edgar acompanhou nas risadas até que se lembrou do que a esposa havia prometido durante a tarde.

- Hm, e falando em troféu... – sorriu malicioso enquanto se dirigia à porta para tranca-la.

- Hmm? O que tem? – ela havia entendido, mas fez charme.

- Bom, eu me lembro que a senhora me deu um prêmio hoje... – disse puxando a moça para seus braços

- Eu? Que eu saiba fui eu quem recebeu um prêmio... Não sei do que você está falando, Edgar... – ela prosseguia insinuante.

- Ah não? Era alguma coisa sobre ser melhor marido... Algo assim... – com tom brincalhão, franziu a testa.

- Ah, isso? Acho que to me lembrando agora... – disse sorrindo enquanto se virando de forma que Edgar ficasse de costas para a cama.

- É?

-  Aham... – Laura afirmou dando um beijo apaixonado e desejoso no marido, ao se afastar prosseguiu ofegante – Obrigada por ter me apoiado hoje, Edgar. Obrigada por seu companheirismo, dedicação. Eu te amo.

- Eu também te amo, Laura – respondeu puxando-a para si novamente e beijando-a com mais voracidade que antes.

Laura afastou-se ofegante novamente e empurrou Edgar na cama.

- E o prêmio de melhor marido vai para... – e se deitando por cima dele prosseguiu a ‘premiação’ – Edgar Vieira.

Edgar retribuía os beijos da esposa e sem levantarem do leito conseguiram despir-se até se amarem por completo. Durante toda a noite Laura agradeceu e premiou Edgar tornando a comemoração muito mais agradável que a tarde na Confeitaria Colonial.