De repente.

                Você está atravessando de um corredor para outro, atrasada para a troca de aula e completamente inerte em seus pensamentos. Amontoada de livros e trabalhos em seus braços, que mal deixam você enxergar o que esta a sua frente. E de repente.

Plack.

                Você se vê no chão, com todos os seus trabalhos e livros ao redor. Está tão desnorteada que nem sabe como que aconteceu, e é quando você olha para cima e você vê um anjo em forma humana. Ela está em desespero, pedindo desculpas adoidadas e você está tão encantada que nem ao menos consegue dizer algo. Ela por não saber o que fazer se abaixa na sua frente e segura seu rosto com as duas mãos e sussurra lentamente: “Você está bem?” Sorrindo logo depois, o que faz com que você retribua o gesto e diga: Estou. Ela te ajuda a levantar, mas você ainda está tão desnorteada e encantada com a sua beleza que chega a cambalear para trás, e senão fossem as mãos ágeis daquela garota você teria caído novamente. Ela ri e pergunta se você está realmente bem. Você sem graça diz que sim e cora murmurando que só está tonta. Ela sorri e se abaixa para recolher seus livros e trabalhos espalhados pelo corredor, e você faz o mesmo. Fazendo com que por acidente suas mãos se toquem. Você sobe o olhar para a mesma e ela sorri corando. Vocês se levantam um pouco sem graça e se apresentam, trocam sorrisos sem graças, e para sua infelicidade e felicidade, uma amiga dela a chama dizendo que iram se atrasar. Ela se despede e você faz o mesmo, mas continua ali a olhando partir. E só depois de um tempo volta a andar ruma a sua sala de aula.

                No dia seguinte você não consegue tirar aqueles intensos olhos verdes de sua cabeça, ou aquele cabelo loiro grande e levemente ondulados nas pontas, ou seu perfume. Você chacoalha a cabeça tentando afastar os pensamentos e sai campus a fora, já que é seu dia livre. Você anda, anda, anda e de repente se vê em frente a um lago, um grande lago azul. Você admira aquela vista por um longo tempo, até perceber um movimento na água. A alguns metros de você, a uma pessoa nadando. De longe você consegue reparar que é uma mulher, pelo traje de banho. Você vai se aproximando aos poucos, até poder ver cabelos louros boiando sobre a água. Seu coração dispara sem você saber o “por que”. E então ela se levanta e caminha lentamente para fora da água, de olhos fechados, passa as mãos pelos cabelos tirando um pouco do excesso da água. Você repara pela primeira vez em sua altura, devia ter por volta dos 1.68 metros de altura, mas seu corpo era... O mais próximo possível que você podia classificar de a perfeição. Você está tão perdida nela que leva um susto quando a mesma abre os olhos, e lhe vê. A primeira reação dela é arregalar os olhos e olhar para baixo, para logo depois se abaixar na água novamente. E você constrangida por ser pega olhando para ela, descaradamente, se vira de costas e pede desculpas em um tom audível. Tenta explicar que não a estava olhando de propósito, apenas tinha ido parar ali pelo acaso e que não sabia nem como havia ido parar ali. Você acaba balbuciando quase todas as palavras e escuta a risada dela, a seu lado. Você olha para o lado e pede desculpas novamente, a fazendo sorrir de um jeito fofo. Para tentar se livrar do nervosismo acaba puxando um assunto qualquer, o que milagrosamente, da certo. Vocês se sentam em uma das pedras que tem perto do lago, a mais alta delas, lhe deixando-lhes a quatro metros acima do lago. Vocês estão rindo, sorrindo em um clima distraído. Até que ela lhe propõe um mergulho, até uma rocha no centro do lago. Você acaba aceitando, mesmo não estando com roupa nenhuma de banho. Ela começa a se desenrolar da toalha que lhe cobre, e você de sua roupa, ficando apenas de roupas intimas. A princípio, você fica com vergonha por estar apenas de roupas intimas na frente de uma completa estranha, mas essa vergonha é jogada longe, assim que sente a mão dela cobrindo a sua. A princípio você sente uma onda de choques por todo o seu corpo e a olha, ela está sorrindo e você se vê novamente retribuindo a aquele sorriso. Contam até três e pulam no lago. Ao caírem na água acabam separando suas mãos, voltam à superfície rindo e então você percebe que ela está tão perto de você que é quase possível sentir o calor de seu corpo. Ela sorri e você olha para aqueles lábios rosados, fazendo o par perfeito com o sorriso mais lindo que já vira na vida. Você a olha nos olhos e se depara com um verde mais escuro e brilhoso, mais intenso do que antes. Ela sorri e começa um nado borboleta perfeito a sua frente, lhe deixando para trás inerte apenas observando-a se afastar. Ela para um pouco a diante e olha para trás lhe chamando e então você se toca, e começa a nadar até ela. Você chega à rocha há dois segundos depois dela, mas consegue subir primeiro. Ela lhe pede ajuda rindo da situação. Você tenta ajudá-la a subir, sem cair na água, o que demora alguns minutos. Assim que consegue, ela pisa em falso e escorrega, caindo em cima de você. Ela começa a rir e ergue o rosto, o deixando a centímetros do seu, você que até o momento estava rindo, acaba parando aos poucos. Trocam um longo olhar e como se fosse uma lei natural, seus lábios são atraídos um para o outro, como imas opostos. O beijo é lento, carinhoso, intenso, cheio de caricias e praticamente o mais longo que já tivera na vida. Você não queria que acabasse, mas quando acabou, estavam ofegantes. Os lábios úmidos e avermelhados. Os olhos delas estão fechados, como se ainda tentassem assimilar o beijo. E então ela abre os olhos e um misto de sentimentos se passa por eles, poucos são os que você consegue decifrar. Mas ela não lhe da tempo algum para falar algo. Ela sai de cima de você em um pulo e de repente já está nadando de volta a borda do lago. Fugindo de você e do que acabara de acontecer.

                Semanas se passam depois do beijo, e em nenhum dos dias que se seguiram você a viu de novo. Você vai inúmeras vezes até o lago, achando que ela estaria lá, mas ela não estava. Você olha para todos os lados do corredor a espera de achá-la, mas não á acha. Então você tenta esquecê-la, procura em outras bocas e corpos a mesma sensação que tivera com ela, mas não acha, não consegue sentir o que sentira novamente, o choque gostoso que sentira quando se tocara pela primeira vez, a maestria dos lábios, o cheiro embriagador. Nada. Você procura, até que se cansa. Você em meio de tentar fugir de tudo aquilo, vai para o lago. E como que por obra do destino, lá esta ela. Sentada na rocha no centro do lago. Ela está com a cabeça tombada para trás, fitando o céu. Você a observa encantada, mas não vai até ela. Você pensa no que fará se for até lá e ela fugir de novo. Você não agüentaria, pois já descobriu que se apaixonara por ela. Você não sabe como, foi tudo tão de repente, tão de surpresa e virou seu mundo de cabeça para baixo ou o fez finalmente começar a rodar na direção certa. Você apenas não sabe como aconteceu. Então você decide esperar, esperar por ela. Você se senta e se escora no tronco da arvore mais perto e a espera. Durante segundos, minutos e horas do dia. Você olha para o céu e está começando a escurecer, mas você não se move dali. Você a espera, a esperaria para sempre se preciso. E então você ouve o barulho da água, e olha para frente a vendo mergulhar e começar o seu perfeito nado borboleta até a borda. Em poucos minutos ela está ali, para a sua frente. Vocês se olham por um longo tempo e você não sabe o que fazer, ficam em silencio por um tempo apenas se fitando. Até que ela decide quebrar o silencio, dizendo que não pode. Mas você não parece escutar. Você da um passo a frente, fazendo-a dar um passo para trás e então começa a despejar tudo, que também tentou lutar contra isso, mas quanto mais tentava mais a queria para si. Ela ao escutar isso, era como se estivesse sendo torturada pelas palavras. Você começa a dizer tudo que vem na cabeça, dizendo que não importa o que tenha que passar não ira desistir dela, pois já esta apaixonara há muito tempo. Em meio a todas essas confissões, vocês já estavam a centímetros. Você leva sua mão até o rosto delicado e perfeito dela e faz uma leve caricia á fazendo suspirar e fechar os olhos. Você se aproxima dela lentamente até seus corpos estarem colados um ao outro. Você deposita um beijo em sua testa, depois em seu nariz, olhos, bochechas, até que chega aos lábios, mas você não os une, apenas os roçam de leve, uma vez, duas, até que ela se irrita, segura sua nuca e lhe puxa. Você a beija intensamente, com uma sofregão imensa, mas também a beija com uma paixão e desejo contidos por todo esse tempo. Quando o beijo acaba você é quem não quer abrir os olhos, com medo de que isso seja apenas um sonho e quem você estava beijando, não era quem realmente queria. Mas então você sente uma leve caricia em seu rosto e aquela sensação de choques se espalhando por todo o seu corpo, que lhe fazem ter certeza de que é ela. Você abre os olhos com um sorriso de orelha a orelha e ela ri balançando a cabeça. Ela te olha de um jeito diferente, seu olhar lhe diz tanta coisa: carinho, admiração, tentação, felicidade e... Paixão. Ela diz que isso é loucura e que talvez não de certo. Diz que ela de TPM é a pessoa mais carente, melosa e chorona do mundo, mas em seus dias de menstruação é a pessoa mais grossa, irritada e chata do mundo. Que é super desastrada, que ama o frio, ama filmes melosos de romance e que ira fazer você assistir a todos com ela e não ira deixar você dormir em nenhum minuto, de nenhum deles. Que ira te acordar de madrugada só pra ouvir sua voz sonolenta e dizer que te ama. Que ama pegar o carro e sair no meio da noite, sem rumo algum e voltar só de madrugada. Que terá dias que ela não vai querer ver você, mas terão outros que não vai querer sair do seu lado nenhum segundo se quer. Que ama musica clássica, mas também rock. Que não gosta muito de sair, mas não abre mão de um pagode no final de semana ou de uma balada, pelo menos uma vez no mês. Que não gosta e nunca gostou de comemorar seus aniversario, mas adora receber presentes neles. Prefere piscina do que praia, as vezes prefere tênis do que salto, mesmo salto sendo sua paixão. E você escuta ela falar tudo sobre ela, nos mínimos detalhes, mas não acha irritante, ou sai correndo dali. Você sorri e a olha de um jeito apaixonado a fazendo parar de falar e perguntar: “O que?”. Você da uma leve risada e diz que iria descobrir isso aos poucos, mas que mesmo assim não importa, pois estava adorando saber de tudo aquilo. Ela cora, depois sorri e lhe puxa para mais um beijo.

                Cinco meses se passaram e você continua namorando ela. Você está mais apaixonada do que nunca, aos poucos descobriu mais coisas sobre ela, que são pequenos detalhes que a tornam cada vez mais perfeita para você. Claro que vocês tiveram muitas brigas ao longo desses cinco meses, mas nada que não fizesse com que você ou ela, não tentasse concertar. O que quase sempre terminava em uma madrugada deliciosa de amor, torturas, risadas e carinhos.

                Um ano e dois meses se passaram. Você percebe que ela não está mais como há um mês. Ela está mais com um pé atrás, indecisa, sempre com duvida em tudo. Você sugere que façam uma viagem, mas ela diz que vai visitar a família. Você a pressiona mais um pouco e então ela te conta que esta pensando em te apresentar para a família dela. Você ao mesmo tempo em que fica feliz, entra em choque, mas não diz que não. Você sorri a puxa para mais perto, olha dentro daqueles lindos olhos verdes, e diz que se ela quiser por você tudo bem. Ela se anima e você vai conhecer a família dela. Passam uma semana lá. Você não desconfia de nada, todos te tratam bem, ela está feliz e você, por ver ela feliz, está feliz também. A semana passa rápida e logo vocês estão voltando para o campus.

                Duas semanas se passam e o clima entre vocês já não está mais tão “feliz”, está mais pesado vocês só tem brigado e não tem se entendido direito. Você demora a entender o motivo e quando entende já é tarde demais. Ela está indo embora. Você tenta concertar, mas acaba piorando e se exaltando, piorando ainda mais as coisas. E ela termina o namoro. Você a vê indo embora de novo e não consegue fazer nada para impedir. Você se sente um nada, uma pessoa oca, vazia. Você não tem mais emoções nenhuma. Se afunda em bebidas quase toda a noite e liga para ela no dia seguinte ou até mesmo no meio da madrugada, pedindo para ela voltar, mas ela não lhe da ouvidos, esta brava demais. Você fica com raiva, se xinga varias vezes, por ter ido conhecer a família dela.

                Sete anos se passaram. Você se formou na faculdade e nunca mais teve noticias ou a procurou, nunca mais pensara nela, mas também nunca a esquecera. Você seguiu sua vida, entrou em relacionamentos que duraram um mês e meio no máximo. Você se cansa de sua cidade e resolve sair, viajar conhecer o mundo, começando pela Roma, pois sempre amara a Itália, especialmente Roma. E lá está você, na frente da tão famosa “A Fontana di Trevi” com uma moeda na mão. Por anos você soubera o que desejar quando chegasse aqui, mas agora o que pedira ao jogar a moeda será algo diferente do que pensara. Você fecha os olhos e lança a moeda para o alto, e a olha cair na água. Você ri de si mesma ao fazer esse pedido. Após longos sete anos sem sequer pensar nela, você está agora a desejando. Você ri novamente de si mesma atraindo a atenção de um casal ao seu lado. Eles lhe olham e sussurram algo em italiano, que você não consegue ouvir. Você solta um longo suspiro e olha para o céu, abrigando suas mãos nos bolsos do casaco. Você fica durante alguns minutos ali, até que se cansa e se vira, mas congela logo em seguida. Lá está ela, parada a menos de dois metros de você, sorrindo. Você coça os olhos pensando que é algo como uma ilusão, mas ela continua ali. Ela ri do seu gesto e se aproxima dessa vez ficando a menos de um metro. Você não consegue se mover está ocupada demais a olhando, decorando cada detalhe dela novamente, cada pedacinho do seu corpo, tudo. Ela aproveita o seu congelamento e se aproxima um pouco mais, agora ficando perto o bastante para que você possa sentir seu cheiro. Você tenta prender a respiração, mas não a faz a tempo. O cheiro dela já lhe invadira as narinas, embriagando-lhe. E então ela começa a te puxar para um lugar mais reservado, para poderem conversar. Você não consegue negar. Você a segue até estarem em um lugar reservado. E ela começa a lhe contar, tudo o que acontecera desde a volta da viagem. Ela te conta que deixou seus pais lhe influenciarem pela primeira vez na vida, diz que falaram coisas e mais coisas do que fariam se ela não se separasse de você. Que teria como darem um jeito de destruir seu futuro e tudo em sua vida. E então você vê, ela agüentara tudo isso por você. Ela continua dizendo que durante sete anos inteiros da vida dela, agüentou a infelicidade e o nojo de si mesma por ter deixado que eles a manipulassem desse jeito. Ela chora ao contar tudo isso para você, diz que só agüentou todo esse tempo, para que já estivesse formada e não dependeria mais deles para nada e que eles não poderiam fazer nada contra você. Ela diz que nunca lhe esqueceu, que pensava em você toda hora e que o único motivo pelo qual não desistira de tudo, fora por você. Ela se aproxima de você, toca seu rosto pede para que lhe perdoe, diz que lhe ama e que nada mais ira separar ela de você, se a aceitar de volta. Você não consegue acreditar no que esta escutando, acha que está sonhando ou delirando, mas novamente o toque dela lhe faz perceber que está realmente acontecendo. E quando se da por si esta chorando, você não consegue parar de chorar. Você nunca imaginara que teria o amor da sua vida, de volta em sua vida de novo. E então você ri feliz e a puxa para seus braços a apertando. Você a beija, mas não a sofregão alguma no beijo. Nele só a paixão, amor e carinho. Quando se separam em busca de ar, você se escuta falar: “Casa comigo?!”. Ela sorri e lagrimas de felicidade caem pelo seu rosto, em um sussurrado rouco de um: “Sim” como resposta. Você a ergue no ar feliz e a gira, distribuindo beijos por todo seu rosto. Você considera esse dia, um dos mais felizes de sua vida.

                 Três anos se passaram vocês já se casaram apenas com a presença da sua família e dos amigos mais próximos, uma cerimônia simples, da qual assim que acabara vocês voaram para a lua de mel. Agora vocês estão todos reunidos na sala, conversando com sua família. Ela está sentada em seu colo, conversando com sua irmã e irmão mais velhos, mas você não escuta o que eles conversam, pois está admirando sua mulher. Ela sorri ao perceber que você a olha apaixonadamente e descaradamente. Você sorri também e rouba um beijo dela, á fazendo corar, já que seus irmãos dizem algo como: “Procurem um quarto!” E você só consegue rir. Pois está feliz como nunca! Você se casara com o amor da sua vida! Mesmo depois de tudo que acontecera, ela está ali em seus braços, lhe fitando com os olhos mais lindo que já vira, com o sorriso mais encantador, com o jeito mais divertido, meigo e carinhoso. Ela estava ali e era sua! Você a ama perdidamente e ela também te ama perdidamente.

                Você pensa lá trás desde o primeiro olhar, primeiro toque, primeira troca de sorrisos, primeiro beijo, tudo fora tão de repente, você se apaixonara tão de repente por ela, que nem você mesma consegue entender a intensidade e o porquê dessa paixão. Você sente que tudo faz sentido agora, o esbarram, o beijo, a separação, a reconciliação. Você percebe que tudo agora faz sentido. Vocês precisaram ficar todos esses tempos longes, para poderem estar aqui, agora, felizes, se amando e finalmente juntas, só você e ela.

FIM

De repente.

27/03/2013 á 28/03/2013. 22h15 á 03h13

Guarulhos – SP, Brasil.

H. B. A Joyce.