Silent Wish escrita por Uma Qualquer


Capítulo 1
Capítulo Único




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É tarde da noite na Seireitei.
Ela pede licença e entra em minha sala. Seu turno já acabou e ela deveria estar em casa, mas me pede para permitir sua presença ali. Não fará ruído, e nem me incomodará de qualquer forma. Apenas quer ficar por perto.
Eu aceno em consentimento com a cabeça. Não estou surpreso, não é a primeira vez que ela age dessa maneira. E enquanto termino de ler os relatórios do esquadrão, posso sentir os olhos dela às minhas costas, vigiando-me.
Está sempre tentando zelar por mim de várias formas. Todas inúteis, mas eu não seria imprudente de dizer-lhe isso. Além do mais, ela não o fazia por mal. Ela nunca fazia nada por mal.
Assim era Hinamori Momo, minha fukutaichou.
Sempre que olho para essa garota, enxergo coisas em seu olhar às quais não posso entender. Há a confiança e admiração que me levaram a escolhê-la, e posso perceber o carinho que ela sente por mim. Mas vejo mais sentimentos mais profundos e intrigantes em seus olhos escuros, e a esses não posso mensurar, e nem quero.
Sentimentos são de fato coisas perigosas. E minha fukutaichou é a prova viva disso. Nutrindo tão inadvertidamente tal devoção por mim, ela não pode sequer desconfiar dos caminhos aos quais será levada. Mas isso não cabe a mim alertar. Ela terá que descobrir sozinha e se machucar bastante, até que possa aprender com seus erros. Se algum dia deixará de ser a garota tola e ingênua que é hoje, isso eu não posso adivinhar.
Quando me volto para ela, Hinamori está cambaleando de sono, os olhos fechando-se no início de um cochilo. Eu me aproximo dela e sento-me ao seu lado, observando-a pensativo.
Não posso ainda afirmar o que sinto por ela, mas imagino que não seja nada. Hinamori não é diferente da maioria das pessoas que conheço e às quais utilizo como ferramentas. A única coisa que a destaca é o fato de eu não precisar de muitos artifícios para manipulá-la. De fato, eu a possuo sob meu domínio sem ter feito nada para isso, desde o começo. Ela foi quem ofertou sua lealdade, e desde então segue fielmente ao meu lado.
Contemplo seus traços delicados, perguntando-me como seria ter tal sentimento por alguém. Certamente deveria ser ruim. Esperava jamais sentir algo sequer parecido, por quem quer que fosse. Me submeter daquela maneira a outra pessoa era algo inconcebível, mas enfim, eu não precisava me preocupar. Sabia que me envolver por alguém daquela forma estava fora de cogitação.
No caso dela, porém, eu quero apenas me certificar.
Os olhos escuros e sonolentos abrem-se devagar, crescendo à medida que sua dona se dá conta de meus dedos percorrendo suas faces. Ela me encara assustada, mas não interrompo a carícia.
- A... Aizen-taichou... - ela murmura trêmula.
- Tudo bem, Hinamori-kun - eu respondo calmo, fitando os lábios pequenos à minha frente.- Está tudo bem.
Ela decerto não sabe se está realmente acordada, e a expressão de confusão e medo não sai de seu semblante. No entanto, acena a cabeça num sinal de concordância. Me aproximo mais e gentilmente tomo seus lábios nos meus.
Posso sentí-la estremecer por inteiro. O gosto dela é doce, delicado, puro. Não achei que seria de outra forma, e não o julgo de todo mau.
Apenas é inocente demais para que eu possa me acostumar.
Ela estremece ainda mais quando minha língua passa a roçar na sua, e suas mãos seguram-se em meus ombros. Corresponde ao beijo tímida, inexperiente. Seguro seu rosto em minhas mãos e me afasto um pouco, olhando em seus olhos. Ela está ruborizada, sua respiração pouco mais rápida que o normal. Sua mão está quente e toca meu rosto com hesitação.
- Precisa dormir agora, Hinamori-kun - murmuro para ela. - Será um dia cheio amanhã.
Ela assente e respira fundo. Puxo devagar o seu pequeno corpo para mais perto, fazendo seu rosto encostar em meu peito. Ela se acomoda em meus braços aos poucos, em silêncio, e posso ouvir sua respiração ir se acalmando. Acaricio sua cabeça e suas costas, os pensamentos vagueando por lugares distantes.
Por fim, ouço-a ressonar suavemente. Eu a acomodo e lhe cubro com um lençol, e me afasto. Vou até a porta, de onde posso ver uma lua muito pálida no céu e sentir a brisa tranquila que percorre a Seireitei.
Vejo-a dormir imperturbável, um sorriso leve em seus lábios.
Amanhã, agirei como se nada houvesse acontecido. Certamente ela não me indagará nada e acreditará que apenas teve um sonho.
Tão tola, eu penso.
E percebo que estava certo desde o começo.
Não sinto absolutamente nada por ela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Comentários são bem-vindos!



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