Meu amor escrita por Aila


Capítulo 8
Obstáculos do primeiro dia


Notas iniciais do capítulo

A partir desse capítulo tentarei escrever um pouco mais, para que a estória não fique tão fragmentada. Espero que gostem.
Boa leitura à todos.



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Passei pela porta e pude notar pessoas me olhando com curiosidade. Me senti sozinha e com medo mas, como não tinha nenhum amigo na faculdade, resolvi ir ao banheiro e esperar a aula começar.

Entrei em uma das cabines e tranquei a porta atrás de mim, quando ouvi garotas conversando do lado de fora.

— Vocês viram a Tracy Tomlinson? – perguntou a primeira delas.

— Eu vi, ela está careca. O que foi que deu nela? – disse a segunda.

— Não sei, acho que ela virou rebelde e resolveu mudar o estilo. Ficou engraçado. – retrucou a primeira.

— Vamos logo, vamos nos atrasar.

As duas saíram do banheiro, rindo. Só podiam ser minhas colegas. Fui tomada pela vergonha e pude sentir meu corpo inteiro tremendo. Abri a mochila e peguei a touca. Observei minhas mãos por alguns instantes; “Não, não há vergonha nenhuma em estar doente”. Desisti de vestir a touca e guardei-a novamente na mochila no instante em que tocou o sinal.

Gelei. Não estava pronta para sair dali e entrar na sala de aula como se nada estivesse acontecendo. Respirei fundo. “Vamos, Tracy. Você consegue”. Eu precisava ir, precisava retomar minha vida.

Saí do banheiro e caminhei até a sala. Me sentei no mesmo lugar de sempre, ao lado da janela.

Era o período de biologia e o professor Preston entrou na sala, gritando sua frase habitual:

— Bom dia, turma! Que lindo dia para estudar biologia, não acham?

Preston era meu professor favorito desde a primeira aula, talvez o fato de eu adorar biologia tenha ajudado,  mas ele costumava conquistar os alunos com seu jeito brincalhão e prestativo.

— Vejam quem voltou! Tracy Tomlinson! – gritou ele, a plenos pulmões, apontando em minha direção.

Ótimo, era tudo que eu precisava. Quem ainda não havia reparado na minha cabeça careca, agora reparou. Se eu pudesse, cavaria um buraco e me enterraria ali mesmo.

— Como você está, garota? Adorei o novo corte de cabelo! – continuou Preston.

— É, pelo jeito alguém resolveu ser rebelde! – gritou uma voz masculina, ao fundo da sala, em tom de piada.

No mesmo momento, me virei para ver de quem era a voz, mas não identifiquei a pessoa. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o professor Preston disse:

— Não sei quem disse isso, mas quero deixar claro que foi de muito mal gosto! Ninguém aqui sabe pelo que Tracy tem passado. Então, se não quiserem que eu os retire da minha aula, aprendam a respeitar os colegas!

Olhei para Preston e sussurrei um “obrigada”. Ele me respondeu com um aceno de cabeça. A aula continuou.

Duas horas depois, no intervalo, me sentei sozinha em uma mesa afastada no refeitório, para poder comer e me organizar em paz. Quando dei a primeira mordida no meu sanduíche, Dereck Hale, meu colega na aula de biologia, se aproximou.

— Oi, Tracy, se importa se eu sentar aqui?

— Oi, Dereck. Fique à vontade.

— Tracy – disse ele, sentando-se do outro lado da mesa – eu queria te pedir desculpas pelo que falei hoje na aula. Eu não tinha nem ideia do que estava acontecendo. E-eu... sinto muito.

Pensei em ser estúpida, para mostrar o quanto aquilo me chateou, mas isso não me levaria a lugar algum.

— Tudo bem, Dereck. Afinal, não é sempre que uma garota aparece careca na aula, não é mesmo? – falei, sorrindo.

— É verdade, não é algo que vemos todos os dias. – ele retribuiu o sorriso e continuou – mas então, como você está?

— Eu estou bem, na medida do possível.

Nesse instante o sinal tocou e nós dois começamos a juntar nossos pertences.

— Bem, boa sorte, Tracy. – disse Dereck antes de sair.

— Obrigada.

Caminhei até a sala da próxima aula, química. Depois história, inglês e enfim o sinal para irmos embora. Nada demais aconteceu nesse intervalo de tempo, exceto pelo fato de que todo mundo já sabia da minha doença, então começaram a perguntar como eu estava me sentindo. Frases como “estou bem, obrigada”, “Não se preocupe, estou bem” e “vou me cuidar, obrigada” já saiam quase automaticamente pela minha boca.

Louis veio me buscar, passamos no McDonald’s para pegar um lanche e fomos para casa.

— E aí, como foi seu primeiro dia? – perguntou Louis, com a boca cheia de Big Mac.

— Não foi o melhor primeiro dia do mundo. – falei, sem ânimo – algumas pessoas fizeram piadas maldosas sobre meu cabelo no início e depois, quando descobriram da minha doença, ficavam perguntando como eu estava.

Louis me olhou com um olhar triste, seguido de um longo silêncio.

— As coisas irão melhorar com o tempo, Tracy. – concluiu ele.

— É, eu espero. – eu disse – Vou subir e tomar um banho.

— Os meninos estão vindo aí, com certeza irão querer te ver, posso deixar eles subirem?

— Claro, já estava com saudade deles.

Subi as escadas e liguei o chuveiro. Já estava mais animada com a ideia de ver os meninos, afinal, fazia dias que não nos víamos.

Me olhei no espelho por alguns segundos e me despi, sentindo a água quente tocar meu corpo. Queria que todas as coisas ruins escorressem pelo ralo junto com aquela água.

A última coisa de que me lembro foi do som da campainha tocando.


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