Gotas De Vida. escrita por Agridoce


Capítulo 6
Capítulo 06 - O eclipse solar.


Notas iniciais do capítulo

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Minha corrida era a mais apressada.

A mais descompassada.

Eu sentia uma forte sensação de perda sendo enraizada em cada pedaço de meu coração.

Eu sentia medo e aflição.

Eu sabia que corria na direção certa, porém, eu não gostava de saber que eu fazia isso por vontade própria.

Ou não.

Eu apenas sabia de uma coisa: Charlie necessitava de mim.

E eu sabia exatamente onde encontrá-lo.

Virando em uma curva e logo depois entrando no buraco negro, a sensação nojenta e violenta me invadiu.

Eu sabia onde eu estava. Eu sabia que era o lugar certo.

E eu sabia que eu não iria durar muito ali dentro.

Logo, todas as almas sem luz iriam tentar me atacar, pois nesse momento, eu estava sem concentração.

E James me alertava por pensamento para eu tomar cuidado.

"Por que não vem comigo, James?"

Mais uma curva e em menos de um segundo, os gemidos já tomavam conta de meus pensamentos.

Isso atrapalhou meu raciocínio lógico e por isso, não consegui escutar os pensamentos de James.

Respirei fundo.

Nada.

Não conseguia encontrar Charlie e nem mesmo formando um casulo em torno de mim, eu conseguia impedir os gemidos e pedidos por socorro.

Eu me sentia inútil.

Fraca.

Sem amor a vida ou as pessoas que me cercavam.

Uma mulher de cabelos crespos e um vestido do século dezessete estava de joelhos aos meus pés.

Seu olhar era tomado pela escuridão e de sua boca saia apenas uma palavra: Perdão!

Eu sentia a necessidade do perdão de todos e do quanto eles estavam arrependidos pelas coisas feitas na Terra.

Não digo pecado porque eu acredito que cada um tem consciência de seus erros.

Porém, eu também cometi muitos erros e não estava pagando por eles.

Meu olhar era fixo na mulher negra a minha frente, enquanto ela se rastejava de joelhos e caindo em posição fetal ao meu lado implorava mais e mais.

Até que a voz procurada por mim, alcançou minha audição:

"Socor...Ro!"

Meus instintos me guiaram diretamente a ele.

E nada, muito menos ninguém, conseguiu ficar em meu caminho.

Eu sabia que Charlie não era ganhador de minha ajuda ou de qualquer outro, porém, era meu dever e minha ligação atraia nossos espíritos.

- Pai! - Eu o chamava enquanto corria pelo túnel escuro.

Apenas minha audição, e a fraca luz de meus olhos me guiava.

Minhas energias não estavam fortes como da última vez, por isso, eu não enxergava mais do que um palmo de centímetro a distância.

Um trovão iluminou o lugar e percebi que estava cercada por montanhas.

Mas não eram montanhas normais.

Eram montanhas feitas de ferro e cercada de agulhas.

Em cada ponto de cada agulha, uma cabeça era pendurada por homens vestindo apenas calça de couro e um chicote cravado em suas mãos.

Eu tentava inalar o ar, mesmo sem necessitar, para me acalmar.

Eu precisava de concentração para encontrar Charlie.

"Por favor! Socor...Ro!"

Eu sentia a voz dele cada vez mais perto e continuei meu caminho.

Em um ponto, perdi totalmente a minha visão e deixei apenas minha audição e o trovões luminosos me guiarem.

Eu cheguei em um círculo e logo além do círculo, era apenas uma paredão da cor vermelha.

Me aproximando a passos lentos do paredão, o toquei e senti um líquido pegajoso em meu dedo.

Aproximando o dedo perto o suficiente para poder sentir o cheiro, logo notei que era sangue.

Sangue antigo misturado com sangue novo.

De todas as histórias que li sobre o inferno, nada chegou perto do lugar em que eu estava.

A tristeza deles se misturava com a minha felicidade, mesmo que obrigada, e trazia uma sensação estranha.

Um formigamento voltou por cada centímetro de meus pés e logo senti tudo ao meu redor girar.

Inclinando meu corpo para frente, abri a boca e me preparei para despejar o nada que restava em meu corpo.

Na realidade, eu não necessitava de alimentos ou líquido, por isso, nada saiu de minha boca.

Apenas ar.

Meu instinto de sobrevivência me alertou de passos atrás de mim e logo estava indo em direção aos passos.

A pessoa que caminhava estava em direção contrária a minha.

Suas roupas eram rasgadas e sujas de barro.

Na verdade, todo o seu corpo estava sujo.

Um enorme buraco em formato de laranja abrigava sua cabeça.

Ele tinha levado um tiro.

- Socor...Ro! Por favor, Senhor, me salve!

Em um clamado de desespero e alívio, sussurrei:

"Pai!"

Quando seus olhos encontraram os meus, uma forte luz branca nos envolveu e logo senti a paz de borboletas em torno de mim.

Eu sabia que estava de volta ao meu lar.


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