The Strange World Of Phalland escrita por Nightfall Deer


Capítulo 6
O Lobo




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Um instante depois ela estava encostada num muro, recuperando o fôlego.

–Ficou maluca?!- disse Alba.

–É provável.

Ainda estava com a roupa de empregada do palácio, tinham corrido tanto que nem pararam para pegar suas roupas.

–Por que nós corremos?

–Acho que entrei em pânico.

–Pode me explicar o que aconteceu lá?

–Vamos para casa.

–Assim, sem mais nem menos? Não, você vai me dizer...

–Alba- disse Lunna, séria- casa primeiro, explicações depois.

–Está bem... Mas... Onde estamos?

Olharam em volta. Elas nunca tinham estado nessa parte da cidade antes.

–Ótimo, simplesmente ótimo.

–Sim, estamos numa rua deserta, no meio da noite e perdidas. Pode se explicar agora?

Lunna a olhou com raiva.

–Cale a boca.

Andaram pelas ruas escuras, sem saber para onde ir.

–Nós precisamos achar a praça principal, de lá podemos nos orientar...

Ela parou.

–Lunna? O que foi?

Sentiu um calafrio. Olhou para trás.

Um enorme lobo dobrava a esquina, farejando o ar.

Lunna pegou Alba pela pata e a puxou para um beco.

–Ai! O que foi agora?

–Fique quieta.

Ela esperou um pouco e foi espiar a rua.

–Ele foi embora.

–Quem?

–O lobo, ele nos seguiu.

–Por que está tão assustada?

–Eu não estou assustada! Eu só...

Ela não terminou a frase. Uma portinha no final do beco, que elas não haviam notado, se abriu.

De lá saíram quatro rapazes, grandes e mal-encarados. Estavam rindo alegremente, até que as viram. Pararam de rir, e se aproximaram.

Elas os reconheceram. Eram os caras que queriam o dinheiro de Liz. Os Abutres.

E, pelos sorrisos sinistros estampados em seus rostos, deduziram que eles também as tinham reconhecido.

–Fiquem longe- disse Lunna, agressiva.

Mas eles continuaram a se aproximar.

–Olha só quem é.- falou um deles- Procuramos você o dia inteiro, para acertar as contas.

–É uma grande coincidência você estar justo aqui.- disse outro.

–Eu estou avisando, para trás!

Eles riram.

Ela ouviu um farfalhar de asas e olhou para cima.

Quatro abutres circulavam no ar bem acima dela, como se esperassem a morte.

Então eles avançaram. Ela se defendeu e socou o estômago do mais próximo. Alba cravou os dentes na canela de um, mas foi jogada longe com uma pancada. Lunna mordeu o braço do líder, sentiu o gosto metálico de sangue em sua boca. Ele gritou, os outros a puxaram pelos cabelos e a imobilizaram no chão.

O que foi mordido olhou para seu braço ensangüentado e cuspiu.

–Vai pagar por isso, cadela.

Alba começou a se levantar, mas ele a chutou na barriga.

Ambas cuspiram sangue.

Eles levantaram sua cabeça, ainda agarrando seus cabelos.

–Pelo menos você é bonitinha. Acho que podemos tirar proveito disso...

Ele estendeu a mão para a alça do vestido.

–Vocês realmente não deveriam estar fazendo Isso.

Eles se viraram para encarar o dono da voz.

Lunna mal conseguia vê-lo, mas sabia exatamente quem era.

–Vá embora, isso não é da sua conta.-disse o líder.

–Soltem a garota.

–Não ouviu o que ele disse?-falou outro- Não sabe quem nós somos?

–Eu sei, mas pelo visto vocês não sabem quem eu sou.

Os Abutres soltaram Lunna e foram em até ele.

–Escuta aqui cara...

Ele não teve tempo de terminar a frase. Foi muito rápido, um segundo depois todos estavam no chão.

Lunna ainda estava no chão, imóvel, e olhava espantada para o rapaz que vinha em sua direção.

Ele estendeu a mão e a ajudou a se levantar.

–Você está bem?

Ela não respondeu.

O olhar dele se fixou em seus cabelos brancos, sua boca se abria e fechava, como se quisesse dizer algo.

Lunna lembrou-se de Alba, e correu até ela, que estava desacordada. Ela a pegou no colo.

Um grande lobo se aproximou deles e se postou ao lado do rapaz.

De repente toda confusão e surpresa que ela sentira antes se transformaram em raiva. Lunna se virou furiosa para o garoto que a abandonara naquele vilarejo, sozinha, sem nenhum amigo, e nem sequer se despedira.

–Então, se lembra de mim?

–Não... Mas eu acho que você deveria me agradecer por salva sua vida.

–Eu estava indo muito bem sozinha.

–Ah sim, eu percebi.

–Mas você realmente não se lembra de mim?

Ele ficou em silêncio.

–Ah, mas é claro que não se lembra, por que iria se lembrar de uma menininha que você simplesmente deixou sozinha em Devilcross, Rowan!

–Como sabe meu nome?

Ele se aproximou dela lentamente.

Agora era Lunna que estava em silêncio.

–Isso não é engraçado!- gritou ele- Como sabe meu nome?!

Ele estava furioso.

Ele olhou nos olhos dela, e toda a raiva de ambos desapareceu.

–Você deveria estar morta...

–Mas ninguém morreu no ataque a Devilcross...- Ela murmurou.

–Não, você morreu à dez anos atrás.

...

–O que?!

–Você morreu, por isso eu saí de Devilcross.

Lunna estava sem palavras.

–Como...Quem te disse isso?

–A mulher que morava com você. Ela disse que tinha caído do topo da escada, e me expulsou de sua casa.

–Mary...Eu não entendo... Por que?

Ela tentou se lembrar daquele dia. Estava na janela, olhando a rua, quando ele fora embora. Se ao menos ele tivesse olhado para trás...

Mary preparara carne para o jantar, numa tentativa de alegrá-la. Estranho... A carne do vilarejo era muito cara, aquela fora a única vez que tinham comprado, pois nunca tinham dinheiro suficiente...

–Ela foi paga.

Rowan não parecia surpreso.

–É provável que meu pai tenha feito isso...

Eles foram interrompidos por um barulho próximo a porta do beco.

–É melhor nós irmos embora.

–Mas...

–Não se preocupe, eles não irão atrás de você depois disso. E para chegar até a praça, apenas siga em frente.

Então ele a abraçou.

–Eu senti tanto sua falta.

Agora Lunna estava muda.

–Por favor, por favor vá ao palácio amanhã. Não vá embora.

Vozes se aproximavam da porta.

Ele a soltou.

–Espero vê-la de novo.

Ele se afastou e correu em direção do castelo. Ela o acompanhou com os olhos até ele desaparecer na noite.

Lunna foi despertada de seu transe por Alba, que, ainda em seu colo, despertava lentamente.

Ela a apertou contra o corpo e correu pela rua, até ver ao longe a fraca iluminação da praça. De lá pudera se orientar até a casa de Liz, que as esperava sentada à mesa.

–A onde vocês se meteram?-perguntou.

Então ela viu Alba em seus braços.

–Que diabos aconteceu com vocês?!!

–Bom...Conseguimos um emprego...

Lunna colocou Alba sobre a mesa. Não havia nenhum ferimento, as Almas se recuperavam muito rápido, ao contrário dos humanos. Ela abriu os olhos devagar.

–Lunna...?

–Alba! Você está bem?

Ela se levantou e pulou para o chão. Olhou em volta.

–Sim...Mas como chegamos aqui?

Lunna contou para as duas o que tinha acontecido no beco, mas nada falou sobre Rowan.

Liz a olhava desconfiada.

–Mas a boa notícia é que estamos trabalhando no palácio agora!- continuou.

Tentou dar um sorriso. Não devia ter se saído muito bem, pois Liz parecia mais preocupada ainda.

Depois dessa animada conversa, ela tratou de seus ferimentos, colocando bandagens depois. Então Lunna comeu o que sobrara do jantar, lavou-se no pequeno banheiro da casa, vestiu a camisola emprestada por Liz, e foi se deitar. A outra garota já roncava na cama, e ao lado da porta, enrolada numa cesta, estava a bola de pêlos que era Penny.

Deitou-se no colchão e Alba se enroscou ao seu lado.

–Boa noite.

–Boa noite, Lunna.

Ela estava em um quarto muito bem iluminado, deitada em algo macio. Não conseguia se levantar. Olhou para o lado. Haviam grades de madeira em volta dela. Duas pessoas se aproximaram do berço. Um homem, com cabelos castanhos, olhos de um azul-elétrico igual aos seus, e um rosto bondoso, e uma mulher, com longos cabelos brancos e calorosos olhos castanhos. Lunna se espantou, era a mulher do bosque! A mulher riu. Pequenos braçinhos se estenderam e tentaram alcançar o berço. O homem levantou nos braços uma criança que parecia ter, mais ou menos, uns cinco anos. Devia ser filho dos dois, pois era uma mistura dos dois, com olhos e cabelos castanhos. Todos sorriam para ela, deitada no berço. Houve um estrondo. Eles se entreolharam assustados. O homem se afastou, enquanto a mulher estendeu seus braços para ela...

Lunna acordou.

Ainda estava escuro lá fora, e todos no quarto dormiam.

Ela não sonhara com a mulher desde que saíra de Devilcross, e quem eram as outras pessoas do sonho? Era quase como se fizessem parte de uma lembrança.

Ela se levantou e foi até a janela.

Um enorme vulto passava perto da casa.

Lunna piscou.

O vulto sumira, não havia nada na rua.

Ela voltou para o colchão, e adormeceu rapidamente.

Dessa vez, não sonhou com nada.

No palácio, Rowan não conseguia dormir.

Trancado em seu quarto, deitado em sua cama, ele pensava.

Não podia acreditar. Ela estava viva. E estava aqui, em Soulforth. Ele tinha se culpado pela sua morte por dez anos, e ela estava viva. Seu pai certamente pagara aquela mulher para mentir.

Algo arranhou a porta. Ele se levantou e a abriu. Um grande lobo adentrou o quarto.

–Ainda esta acordado?

–Não consegui dormir. A onde você foi?

–Só fui dar uma volta...

Esse era Remus, sua Alma.

–Você deveria descansar. Tenho certeza de que ela virá amanhã– disse, deitando no tapete.- Boa noite.

Rowan voltou para a cama.

–Boa noite, Remus.

Fechou os olhos e, surpreendentemente, dormiu.

Dormiu pensando em Lunna.


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