Looking For Happiness escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 1
Aula de Filosofia




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Dias em que as aulas são chatas, no McKinley High, já eram corriqueiros. Dizer que aquele estava sendo um porre e que as aulas não podiam ter sido mais monótonas seria quase que afirmar o óbvio. Por causa dessa rotina, eu quase nunca esperava o melhor dos períodos do McKinley. Por exemplo, antes, eu até acreditava que as aulas de espanhol do Mr. Schue fossem as melhores preparadas, ou as que mais ensinavam, mas eu não podia estar mais enganado. Holly Holiday ensinava melhor do que qualquer professor que esse colégio um dia já teve, mas parece que a vida não é justa nem mesmo no ramo dos professores.

Então, dias e dias passavam e lá estava eu, Sam Evans, na sala de aula, sempre pronto para dormir ao menor sinal de que uma grande bagagem de chatice estava prestes a ser despejada nas minhas costas. Não sei como os demais alunos conseguem aguentar isso. Talvez eu seja a exceção, ou talvez meu caso de dislexia ajude com a minha falta de atenção. Jamais vou saber. Não tenho força de vontade o bastante pra pesquisar a causa de alguns problemas.

Naquele dia, por exemplo, eu estava devaneando há algum tempo, na última carteira da sala, a poucos metros da porta – o McKinley nunca teve salas de aula grandes -, quando vi Quinn Fabray entrar. Os pensamentos que percorriam a minha mente não eram muito diferentes desses que tenho agora, então, em casos como esses, distrações são sempre bem vindas. Ainda mais se ela for acompanhada da garota mais bonita da escola.

Não... Quinn Fabray não é a garota mais bonita da escola. Ela é perfeita, esculpida sob encomenda para mim. Basta um olhar na direção dela e então você percebe que amor à primeira vista ou paixões súbitas não são lá coisas tão impossíveis assim. O meu sentimento por ela é tão forte que eu quase consigo tocá-lo. Pena que me falta, em tão grande quantidade, a iniciativa necessária de abordá-la e demonstrar o que sinto.

Porque, querendo ou não, ao mesmo tempo em que é admirável, a beleza da Quinn é intimidadora.

Conversei poucas vezes com ela desde que cheguei aqui, mas acho que já assisti alguns dos trejeitos dela por tempo suficiente para entender algumas de suas reações. Por exemplo, quando ela franze o cenho ao mesmo tempo em que sorri é porque está se sentindo constrangida e não vê a hora de se livrar da situação em que está. Quando pisca demoradamente e dá de ombros – o ombro direito – é porque gosta do que está ouvindo e achou justo agir com um pouco de provocação. “Trata-se de provocar, não de agradar” é o que ela diria.

Mas mesmo conhecendo esses trejeitos, acho que não há homem no mundo que consiga me dizer – ou pelo menos descobrir para os próprios fins – como Quinn Fabray age quando está apaixonada.

Nem o Finn saberia. Sei que os dois já namoraram por bastante tempo, mas ele é capaz de afirmar, de peito erguido, que ela nunca foi apaixonada por ninguém, nem mesmo por ele. Gostava do status de estar ao lado do garoto mais popular da escola, apenas. E duvido que o Puck saberia. Ele próprio não deve saber o que é se apaixonar.

Talvez a Quinn nunca tenha se apaixonado, afinal.

Ou talvez saiba esconder muito bem quando isso acontece.

Fato é que eu não sei se ela está apaixonada por mim, por exemplo. Sei que na primeira vez em que nos vimos ela gostou do que viu – afinal, não foi à toa que eu malhei esse corpo e tingi os cabelos. Mas até aí atração física não é o suficiente, se o que você quer pra vida é um pouco de amor, e não só sexo. Atração física só é o bastante quando se trata daquela que não é a mulher da sua vida.

Mas a Quinn é a mulher da vida. Tenho vontade de tocar o seu corpo com as mãos e com lábios, é claro, mas também tenho vontade de saber o que ela pensa e como seria gastar toda uma tarde tranquila e ensolarada ao seu lado. No mínimo, penso que essa seria a mais perfeita de todas as sensações. Talvez até fosse como estar com um pé no paraíso.

Eu estou apaixonado pela Quinn Fabray.

Talvez fosse essa a razão de eu não conseguir prestar atenção em qualquer uma das palavras que a professora de Inglês falava. Quem vai prestar atenção em uma mulher de idade, que esqueceu que tinha um corpo para cuidar, quando pode simplesmente olhar para as costas da Quinn Fabray?

Não, também não é como se eu gostasse apenas das costas dela, mas é que, sentada lá na frente, ao lado daquelas duas outras líderes de torcida que me assustam e muito, esse é o máximo que consigo ver dela. Além dos cabelos.

Aqueles belos cabelos.

Quinn tem cabelos tão lindos que parecem os de anjos. Não os de anjos como aquelas imagens de igrejas católicas, estou falando daqueles de filmes de ficção, como aquelas guerreiras de beleza peculiar e uma aura intimidadora! Aquelas, sim, são anjos de verdade.

Talvez a Quinn seja um anjo de verdade e eu nem saiba disso. Quer dizer, nunca conseguiram provar a existência de anjos no planeta Terra, mas também não conseguiram provar o contrário, não é?

Sendo um anjo ou não, sei que há um defeito nela que me frustra profundamente: ela não é a minha namorada. Não sem razão, é claro, até porque ela nem deve saber que gosto dela. Por essas e outras que eu acredito que devesse expressar pra a Quinn o que sinto. No entanto, tenho medo da reação que ela pode ter. Receber um não seria como uma apunhalada no peito.

No coração, pra ser mais preciso.

A professora já falava há tanto tempo que, quando terminou seu discurso, meus ouvidos perceberam que algo estava faltando naquele cenário. Deixei de olhar para Quinn apenas naquele instante, mas isso porque, se a professora estava prestes a aplicar algum teste, eu precisava estar atento para não me dar mal e evitar correr o risco de deixar a classe de Quinn tão cedo por causa de notas ruins.

Recebi uma folha de papel em branco e me assustei quando vi aquilo. Não tinha percebido que a professora estava tão próxima assim. Concedi um olhar melhor à folha e então notei que ela não estava totalmente em branco: havia nela um título.

 - O QUE É A FELICIDADE PRA VOCÊ? –

Ótima pergunta, professora.

Aulas de filosofia. Quem, em sã consciência, acharia justo colocar essa matéria na grade curricular de um formando do ensino médio? Filosofia é para aqueles que procuram o sentido da vida, e eu já encontrei o meu há muito tempo. Estava olhando para ele agora há pouco.

Li o título mais uma vez e refiz a pergunta em pensamento. Ora, para mim era fácil dizer o que era felicidade. Estar ao lado de Quinn era a felicidade, mas como fazer a professora entender isso, sem parecer um garoto perdidamente apaixonado, com a cabeça oca?

Chegar a uma resposta para essa pergunta foi mais fácil do que eu podia imaginar.

Tratei de colocar as ideias em prática e procurei escrever tudo o que vinha à mente no papel. Tive alguma dificuldade com algumas palavras, mas não foi nada que o cara que senta ao meu lado não pôde me ajudar.

Falei sobre o tipo de felicidade que as pessoas procuram, e como muitas vezes elas parecem superficiais ao atribuírem esse sentimento a coisas como um carro, por exemplo. Quer dizer, eu próprio tenho vontade de comprar o meu carro – as condições, por enquanto, não têm sido favoráveis -, mas não acho que ele me complete.

Fiz questão de falar sobre como há pessoas no planeta Terra que nos fazem se sentir completos, porque, geralmente, são elas as mais perfeitas do mundo, em todos os quesitos, como beleza, simpatia, bom papo. Pensei em dizer que às vezes o cheiro da pessoa também nos deixa felizes, mas não sei o quanto estranho isso soaria para a professora, então deixei a ideia de lado.

E falei que a felicidade que eu procurava só seria possível ao lado daquela por quem eu me apaixonei e sei que é a garota por quem todo o amor do mundo é possível sentir. Aquela por quem eu deixaria qualquer objetivo menor de lado para gastar uma vida ao lado.

Aquela que eu gostaria de estar beijando enquanto aquela aula chata dos infernos acontecia.

Li e reli o texto algumas vezes. Substituí a última frase por algo mais suave do que “aula dos infernos”, porque, por mais que eu estivesse revoltado, a minha intenção não era humilhar a professora, mas fazer com que ela entendesse que só conseguiria ser feliz realmente se tivesse a garota que eu amo, que é a Quinn, ao meu lado.

E foi então que eu percebi que a minha redação sobre “O que é felicidade?” era a carta de amor mais bonita e sincera que eu escrevi na vida.

Nada mais natural. A Quinn é inspiradora. Pensar nela faz com que todos os meus problemas não signifiquem nada. Ela é praticamente a razão de eu ainda querer vir à escola. Ficar um dia sem vê-la é a pior parte da minha rotina, e talvez seja por isso que eu não anseie tanto pelos fins de semana.

E foi pensando nessas coisas que eu assinei a redação com um “Quinn, eu te amo – Ass: Sam Evans”, amassei a folha e joguei para a frente, esperando acertar a mesa da garota. As aulas de basquete até que serviram para alguma coisa, já que a bolinha descreveu uma parábola perfeita no ar e pousou em cheio na superfície plana da mesa de Quinn.

A mão delicada e perfeita dela, pousada tranquilamente ao lado da folha da sua redação, tinha uma lapiseira entrelaçada nos dedos. Quando a bola de papel caiu à sua frente, essa lapiseira se desprendeu e foi de encontro à mesa, afinal, Quinn queria ter a mão livre para poder apanhar a folha de papel, abri-la e ler o seu conteúdo. E foi justamente o que fez.

Meu coração saltou à garganta.

Quinn leu a folha por muito mais tempo do que eu tinha demorado para escrevê-la. Isso me preocupou. Talvez ela não estivesse lendo realmente, mas pensando no que fazer a respeito. Sem ver o seu rosto, era praticamente impossível saber o que ela pensava, e aquela demora estava me matando.

De repente, Quinn virou-se para trás e, sem olhar no meu rosto, o que eu achei uma atitude suspeita, jogou uma bolinha na minha direção. Apanhei-a ainda no ar. Abri-a sem pensar duas vezes, certo de que leria uma enxurrada de insultos.

A sua felicidade está comigo? Desculpe-me por isso. Acho que você devia vir buscá-la, então.

Só não se esqueça de trazer a minha também, pois tenho certeza de que ela está com você.

Ass: Quinn

Sem acreditar que tivesse lido aquelas palavras, virei-me para frente para ter certeza de que elas tinham vindo de Quinn. É claro que tinham vindo, por mais improvável que isso fosse.

Pousei a folha de papel sobre a mesa e levantei-me num pulo, tomado por um sentimento de empolgação que me fez ignorar que havia mais pessoas naquela classe além de mim e de Quinn.

Caminhei até ela.

Assisti, animado, quando ela se levantou para me receber.

A felicidade que eu procurava estava a apenas um palmo de mim de mim quando ficamos face a face.

O beijo, então, só veio para confirmar que a felicidade que ela procurava estava em mim e que a que eu procurava estava, de fato, nela.

E nunca, em toda a minha vida, eu me senti tão completo quanto naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Obrigado à MiaFabrayLagune, que me ajudou com algumas citações e dúvidas de nomes rs
~~~
Tanto tempo sem escrever fanfics, espero que tenha valido a pena... rs