Where I Left My Smile? escrita por CClarice Phantomhive


Capítulo 1
Pra onde ele foi?


Notas iniciais do capítulo

Sim, estamos falando do sorriso de Shizuko.
Um sorriso que ninguém vê há muito tempo.
Pra onde ele foi?



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Ville du Kiss, 5 de Fevereiro, 07:00

Primeiro dia de aula. Escola nova. Primeiro contato com pessoas desde o dia em que Sayuki foi levada ao orfanato. Apesar de não ser necessário ter contato com elas. Primeiro passo para dentro de Sweet Amoris.

"Pisa com o pé direito primeiro, pra dar sorte". A voz da mamãe ecoou em minha cabeça. Ela era boba. Acreditava realmente em sorte. Ou que eu ia me lembrar qual foi o pé que eu usei pra dar um passo. Era apenas um passo comum, assim como qualquer outro.

O portão de entrada ficava de frente para o pátio. Um pátio como qualquer outro de qualquer outro colégio. E com pessoas como de qualquer outro colégio. Essas poderiam ser quaisquer outras pessoas. Mas não. Eram aquelas. E aquelas pessoas não pareciam se agradar com a minha presença. Elas olhavam pra mim com olhar de desprezo. Desprezo e outras coisas que eu preferia não ler.

Minhas mãos no bolso. A direita segurava minha adaga ainda encapada. Não que eu tivesse desejo de usá-la, mas só por precaução.

Mas no meio de todos aqueles olhares inexpressivos – não que fossem realmente inexpressivos, como eu disse, eram repletos de emoções, mas que não valiam a pena ler – tinha um olhar realmente inexpressivo. Olhos cinzentos e inexpressivos – ou seriam indiferentes? – que me encaravam de forma... hm... inexpressiva?

Ainda mexia minha adaga dentro do bolso. Rodando, puxando pra cima, pra baixo, empurrando pro lado. Mas nada que alguém que não estivesse dentro do bolso – ninguém estava dentro do bolso – pudesse perceber.

Até que fui espetada por algo no bolso esquerdo. Não diria exatamente espetada, mas algo incômodo o suficiente para atrair minha atenção para aquele bolso. E como qualquer um faria, eu tirei de lá. Segurei em minha mão esquerda – não tinha necessidade de usar a outra mão – e observei. Era uma folha. Uma folha que continha os horários das aulas. Aula com a qual eu deveria estar preocupada. Mas por algum motivo não estava.

Primeiro horário: Sociologia.

Ótimo! Que matéria mais insignificante para se começar o ano! Eu tinha razão em não estar preocupada. E com tão pouca preocupação, fui me dirigindo lentamente até a sala de aula. Eu não tinha pressa. Pressa pra quê?

Quando finalmente cheguei em frente a sala de aula, vi algumas pessoas passando pela porta. Eu ia esperar que todas entrassem. Eu podia esperar. Assim eu teria menos contato com aquelas pessoas. Tanto físico quanto verbal, no caso de algum deles me dizer "olá, você é a novata, não é?"

Assim que todos entraram e o último fechou a porta, esperei alguns segundos para que se sentassem empurrei a porta, passando por ela e em seguida a fechando lenta e cuidadosamente. Odeio o som de portas se fechando. Portas batendo.

–Bem vinda. Você é a aluna nova, não é? – perguntou-me uma mulher um pouco gordinha, porém alta de cabelos que tinham a cor flor de cerejeira. Devia ser a professora.

Assenti. Eu não ia responder. Eu não gostava de falar. Em nenhuma situação.

–Sente-se por favor, senhorita.

Me dirigi a uma carteira vazia. No fundo da sala. Ótimo! Assim as pessoas não vinham falar comigo. Infelizmente último lugar estava ocupado. Por um garoto de cabelos brancos e olhos heterocrômicos dourado-verde. Eu gostava disso. Eu não sei porquê.

Suspirei enquanto me dirigia ao lugar vazio em sua frente.

–Com licença – me chamou. Sua voz calma e suave.

Eu não disse nada, apenas o encarei.

–Se quiser pode ficar aqui – ele disse me encarando também.

Eu permanecia calada. Ainda o encarando.

–Sente-se por favor, senhorita! – a gordinha de cabelos cor-de-rosa.

–Quer se sentar aqui? – o heterocrômico.

Apenas assenti.

–Fique à vontade – ele disse se levantando. Me sentei no lugar dele e ele no lugar vago à minha frente.

x-x-x-x-x-x-x-x-x

Sweet Amoris, intervalo, 12:00

Saí da sala sem pressa. O último horário havia sido de geometria. Hora do almoço. Alunos no corredor. Rindo, conversando e alguns fazendo gracinhas. Mais alunos rindo. Em outra circunstância eu estaria rindo também. Rindo no meu outro colégio com a minha antiga amiga-colega-de-sala.

Mas agora não. Não depois de tudo o que aconteceu. Na verdade eu tinha perdido essa capacidade. Tinha perdido meu sorriso. Se Sayuki estivesse aqui agora, ela ia dizer que o tinham roubado. Mas que ela mesma ia me dar um "novinho em folha". Nunca entendi o que ela queria dizer com "novinho em folha". Podia ser que ela o desenhasse? Mas ela não estava aqui. Então eu não tinha mais sorriso. Nem velhinho em seda e nem novinho em folha.

Me dirigi lentamente a cantina. Mas antes que pudesse chegar ao meu destino, meu próximo destino foi o chão.

–E então, outra novata.

Notei que meu dinheiro havia caído, e quando estendi a mão pra pegá-lo, cabelos loiros e ondulados que cobriram um rosto foram mais rápidos.

–Eu fico com isso.

Quando pude me colocar de pé, já com a adaga faminta em mãos, as garotas já haviam ido embora. Sorte delas que não pude ver seus rostos podres e medíocres.

–Você está bem? – cabelos prateados vinham em minha direção. Acompanhados por um garoto. O heterocrômico. Assim que o vi, encapei a adaga e a enfiei novamente no bolso direito.

Assenti.

–Essas garotas são realmente umas... q-quer dizer... me desculpe.

Hã? Por que ele estava se desculpando? Ele não me fez nada.

Ainda o encarava.

–Meu nome é Lysandre. Prazer em conhecê-la.

Eu não queria falar. Não que eu não quisesse falar com ele. Tudo bem, eu não queria falar com ele. Eu não queria falar com ninguém. Mas me via forçada. No entanto "meu nome é Shizuko, o prazer é todo meu" era uma frase grande demais para eu pronunciar. Fiquei calada esperando que ele fizesse alguma coisa.

–Como se chama? – perguntou reduzindo a minha resposta.

–Shizuko – disse baixo.

–Encantado – ele me olhou profundamente nos olhos. Como se procurasse algo dentro deles. Como se os quisesse ler – está com fome?

Assenti.

–Vem, vamos comer alguma coisa. Eu pago pra você, já que elas roubaram seu dinheiro.

"Como sabe que roubaram meu dinheiro?" eu queria perguntar. Mas minha curiosidade não era maior que a vontade de ficar calada.

Então nos dirigimos finalmente à cantina. Lysandre pagou meu lanche. Eu queria agradecê-lo, mas não sabia como o fazer sem usar palavras. Na verdade as únicas palavras que eu gostava de usar eram sim – assentindo, sacudindo a cabeça pra cima e pra baixo – e não – negando, mexendo-a de um lado para o outro. Não gostava de usar linguagem verbal a menos que fosse escrita.

Quando acabamos de comer, Lysandre se levantou.

–Venha, vou te apresentar à um amigo.

O encarei.

–Não se preocupe, não vai precisar falar com ele.

Sendo assim, tudo bem.

Fomos até o pátio, Lysandre andava na direção de um garoto de cabelos ruivos e olhos cinzentos. Os olhos inexpressivos e cinzentos que eu tinha visto ao entrar no colégio.

–Oi Lysandre.

–Oi.

–Quem é? – disse o ruivo me indicando com a cabeça.

–Uma aluna nova. O nome dela é Shizuko. Shizuko esse é o Castiel.

–E ai?

Meus olhos rolaram de seus olhos cinzas para os olhos heterocrômicos de Lysandre. Ele retribuiu o olhar.

–O que foi, você é surda?

–Castiel, deixa ela. Ela não gosta muito de falar.

–Hm... já vi porque se deram bem.

Espera ai, Lysandre não gostava de falar? E como assim nos demos bem? Mal nos conhecemos.

–Hunf, tão esquisita quanto você – o ruivo disse com um sorriso de canto.

"Eu não sou esquisita!" eu teria gritado, se quisesse.

–Ela não é esquisita. – disse Lysandre como se lesse meus pensamentos. Ainda não tinha tirado os olhos dos meus.

Ficamos nos encarando por um tempo. Eu podia ver cada linha, cada traço de seus olhos dourado-verde. E ele parecia analisar cada linha dos meus também. Tudo bem, talvez eu fosse esquisita.

–Vamos? Já estamos atrasados – disse ele rolando os olhos dos meus para um pequeno relógio de bolso preso por uma corrente em sua calça.

Olhei para o lado. Castiel já não estava mais ali. O que tinha acontecido? Eu fiquei tanto tempo encarando Lysandre assim?

Assenti para o garoto de cabelos prateados. Cabelos prateados com as pontas pretas.

Na sala de aula retomei o lugar que tinha pegado na sala de sociologia: atrás do Lysandre, do lado da janela. A janela ficava do lado direito da sala.

Em todos os horários fiquei nessa mesma posição, até bater o sinal para os dois últimos horários.

Os horários agora eram de química. Mas não era aquela química que geralmente há nas escolas. Era uma química chata. Uma química onde só se usava o caderno e o lápis. E era o que eu estava fazendo.

Até o de olhos dourado-verde se virar para trás e apoiar os cotovelos sobre a minha mesa, apoiando seu rosto sobre os dedos entrelaçados de suas mãos. Seus olhos não deixavam os meus em nenhum instante.

Eu queria deixar seus olhos. Queria rolar meus olhos para o caderno e continuar copiando. No entanto não parecia possível. Ele parecia me prender com os olhos. Prender de algum jeito que não dava pra deixá-los e desviar o olhar para outra direção. Ele me encarava de uma maneira tão intensa que parecia me hipnotizar com seus olhos dourado-verde. Lindos olhos dourado-verde.

Quando finalmente consegui me desviar de seus olhos, meus olhos rolaram quase que como se controlados pros seus lábios. Ele estava sorrindo. Eu nem tinha reparado. Há quanto tempo ele estava sorrindo? Há quanto tempo nos estávamos encarando?

Até que fui despertada pra realidade. O sinal do colégio. Indicando... a saída? Dois horários haviam se passado? Tínhamos ficado quase dois horários inteiros nos encarando?

Guardei meu material e ia me dirigindo à saída da sala.

–Espere! – ouvi a voz de Lysandre. Calma, doce, suave.

Instintivamente rolei meus olhos pros olhos dele. Droga! Caí de novo naquela armadilha que eram seus olhos dourado-verde!

Ele se aproximava lentamente de mim. Como se não tivesse pressa. Como se soubesse que eu não ia sair dali porque estava presa em seus olhos. Mas em nenhum momento tirou os olhos dos meus.

Eu permaneci parada na porta. Não que eu quisesse esperar por ele. Talvez quisesse, mas independente disso eu era forçada.

–Eu te levo pra casa se quiser – disse fechando os olhos e sorrindo gentilmente.

Neguei com a cabeça quando ele abriu os olhos.

–Por favor? – disse ele me prendendo novamente com o seu olhar.

Droga! Minha cabeça involuntariamente sacudiu pra cima e pra baixo assentindo.

–Ótimo! Vou guardar minhas coisas no armário. Pode me esperar na portaria se quiser.

Assenti indo em direção a portaria, depois dele ter me soltado de seus hipnotizantes olhos dourado-verde.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Amanhã tem mais *--*
Eu acho '-'



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