O Ninja De Branco. escrita por Charlie


Capítulo 13
Capítulo 13 — A Escola.




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EU JÁ HAVIA SUPERADO O QUE JEREMY HAVIA FEITO A MIM.

    Eu sabia que se eu me prendesse mais a isso, eu me sentira pior.

    No dia seguinte a véspera de Natal, Jeremy havia ido embora e Oliver havia conseguido ir parar no hospital. O visitamos (todos, eu, Thea, minha mãe e Walter). O idiota havia conseguido sofrer um acidente de moto em pleno Natal. E ainda me pergunto como. Mas, por sorte, ele havia conseguido sair do hospital dias depois.

    No mesmo dia, Walter havia desaparecido; minha mãe havia ficado louca. Parecia fora de si. Ela não fazia mais as coisas que ela estava acostumada a fazer, segundo meus irmãos. Minha mãe havia mandado uma equipe de busca atrás de Walter, mas nem eles sabiam o paradeiro de meu padrasto. Eu não era, particularmente falando, fã dele, mas eu sentia o que minha mãe sentia por ele e respeitava, ou seja, me fazia querer ter ele de volta para casa. Por minha mãe.

    Por sorte, o semestre escolar havia começado e, com o azar, eu não podia ser muito visto com Thea — as pessoas iam comentar sobre o novo garoto da escola que se parecia muito com ela; minha mãe havia dito que era para dizermos, eu e Thea, que ambos eram primos, Thea não gostou muito da ideia, mas minha mãe e eu conseguimos por isso na cabeça dela.

    Minha mãe e eu estávamos nos dando bem, parecia que nada do que eu sentia há anos atrás me fazia sentir mais raiva dela — eu ainda sentia algum rancor, mas ela estava mudando a minha concepção sobre isso e eu agradecia, porque, confesso, eu não queria viver com rancor de minha própria mãe pelo resto da vida.

    Primeiro dia na escola, eu não poderia estar mais animado do que antes. Ótimo.

    Thea havia me mostrado onde era a secretaria naquela escola imensa e repleta de riquinhos metidos a besta iguais a Oliver. O que eu reclamei bastante por estar numa escola daquelas. Por que minha mãe não poderia me matricular em uma escola pública que nem a que eu estudava antes? Ia ser bem melhor, pensei comigo mesmo reprimindo o gemido em minha garganta quando Thea me mostrou onde ficava a quadra da escola e continuou mostrando o resto dela.

    Tudo parecia enorme naquele lugar. A quadra era enorme, o campo de futebol com a arquibancada era enorme, as salas eram enormes, o pátio era enorme... até o refeitório era uma coisa absurda de tão enorme. Eu parecia um anão no reino do gigante. Aquilo não era para mim. Eu iria convencer minha mãe a me tirar daqui, garanti a mim mesmo.

    Eu me sentia igual a eles... os riquinhos. Eu estava com aquela farda ridícula que Thea estava vestindo quando fora me visitar no hospital, porém masculina. Aquilo era uma versão os mantos de Hogwarts de Harry Potter, só sem o capuz que a veste tinha. Era estranho — eu gostava de Harry Potter, mas não era por isso que eu tinha que ficar vestindo uma roupa daquela durante o período escolar todo. Sem contar que eu tinha que usar sapatos pretos e calça social. Ugh! Eu não queria vestir aquilo, não me sentia bem naquilo.

    Thea me deixou em minha primeira aula — geografia, perfeito —, eu já não gostava da escola, agora tinha que ir para a matéria que eu também não gostava? Só podem estar de brincadeira!, chacoalhei a cabeça para interromper a minha revolta mental.

    Thea sussurrou algo como “Boa sorte!” para mim e seguiu o corredor à direita, provavelmente indo para a sua sala.

    Bati na porta e o professor olhou para mim. Dei um sorriso forçado para ele e depois o desfiz.

    Sua pele morena fazia jus a seus cabelos pretos, ele era alto e magro, e usava óculos — o que me fez lembrar que eu estava de lentes desde o dia em que saíra do hospital. Eu tinha que voltar a usar os meus.

    — Ah, Sr. Queen... — sorri a ouvi-lo dizer o meu sobrenome verdadeiro com sua voz grossa e rouca. — Entre, tem um lugar para o senhor bem ali. — ele indicou um lugar vazio perto da janela, na terceira fileira depois da porta.

    — Obrigado. — Falei e me sentei.

    O resto do dia passou rápido, agradeci aos Céus por isso acontecer, pois eu não queria continuar dentro daquela prisão de ricos por muito tempo.

    O sinal tocou indicando o fim da aula de inglês e indicando o início do recreio, onde passei pelos corredores sentindo os olhos em mim, mas eu fiz questão de ignorá-los — era a coisa mais fácil, principalmente com um bando de Oliver perto de mim. Era fácil ignorá-lo, ter quase quatrocentos dele por perto, era mais fácil ainda.

    Deixei minhas coisas no meu armário, depois de ter demorado quase cinco minutos tentando acertar a senha daquele treco que se chamava armário.

    Segui pelos corredores depois que consegui deixar minhas coisas no armário e cheguei ao imenso refeitório. Por que tudo naquela escola era tão imenso? Pelo amor de Deus!

    Não consegui encontrar uma mesa vazia naquela porcaria. Para quê ser tão imenso se não há lugares? Revoltado, peguei a minha bandeja com o lanche que eles serviam naquela escola, e segui para o pátio — outra coisa imensa —, me sentando em um pequeno banco que tinha perto de um chafariz, onde tinha um ser com asas jorrando água de sua mão com a palma aberta para cima. Uma coisa esquisita para terem em uma escola. Eu sei.

    Vi a comida e era um sanduíche e um refrigerante de cola. Um típico de qualquer escola. Balancei a cabeça em negativa e ri ao relembrar da comida de minha antiga escola.

    Eu comi rápido. Eu não queria estar cercado das centenas cópias de Oliver por muito tempo — eu não sabia quanto tempo eu ainda conseguia suportar tudo aquilo. Era uma agonia tremenda. Se eles estudassem de onde eu vim, eles não durariam uma semana lá dentro. Primeiro que não aguentariam “a escola de pobre” — revirei os olhos com esse pensamento —, ou todos apanhariam dos “valentões” da escola. Eu nunca apanhei porque eu conseguia combate-los. Eu tinha cérebro, eles não.

    Levantei-me de onde eu estava e voltei ao imenso refeitório para deixar a bandeja no devido lugar, quando vi três garotos implicando com um menino. Deixei a bandeja em qualquer lugar que eu não vi e segui para eles.

    Aproximei-me devagar deles e o som de suas vozes começaram a invadir meus ouvidos.

    — Me soltem... — pedia o menino louro que estava sendo encurralado pelos três caras. Ele tremia um pouco. Nervoso.

    O maior deles riu alto. Eles vestiam o mesmo uniforme que eu. O maior tinha cabelo louro e pele clara. O segundo maior também tinha cabelos pretos e a pele num tom de café muito chamativo e bonito. E o terceiro cara era ruivo e a pele tão branca quanto o primeiro. Ambos eram fortes. Aquilo não parecia justo.

    — Qual é, Ernie... — disse o ruivo.

    — Não sentiu nossa falta? — disse o moreno.

    — É a primeira do ano, Ernie... — disse o louro. — Vamos leva-lo daqui. — disse ele para os outros dois.

    Eles conduziram o garoto, contra a vontade dele, até um corredor que dobrava a esquerda de onde estávamos. Eu os seguia de longe. O que seria mais complicado seria o maior ou talvez o ruivo. Nem sempre o que aparenta ser, é o que aparenta ser.

    Assim que os seguia, o corredor começava a se esvaziar, as pessoas naquela ala da escola estavam começando sumir e me perguntei se havia batido o sinal para voltarmos às aulas, mas não.

    Eles continuaram a andar e não havia mais ninguém ali, a não ser eu e eles quatro.

    Aquele lado da escola parecia estar abandonado. O chão estava coberto de poeira, juntamente com a parede da qual eu me escondi para ficar de olho neles.

    Era como se estivesse no corredor da outra ala, porém sem toda aquela gente, limpeza e som. Só o que eu conseguia ouvir era o som de minha respiração e as vozes deles.

    — Onde quer levar primeiro, Ernie? — perguntou o ruivo estralando os dedos.

    — Acho que no rosto, Cal. — disse o moreno, rindo.

    — Eu farei as honras... — disse o louro.

    Ernie pôs as mãos no rosto.

    O louro levantou o punho fechado para Ernie...

    Não! Eles não fariam isso!

    — Hey! — saí de onde eu estava e eles ficaram imóveis por um tempo. Aproximei-me deles com os punhos fechados e trêmulos de raiva. — Soltem o garoto. — falei entredentes completamente raivoso.

    Os três me olharam e riram; Ernie parecia mais perdido no meio daquilo tudo. Eu não emiti som algum, minhas mãos ainda tremendo por conta da injustiça que eles estavam prestes a fazer.

    Eu parecia ser tão forte quanto o moreno e o ruivo. O louro parecia o problema. Ele tinha a mesma estrutura de Jason, mas eu conseguia lidar com Jason, então eu conseguiria lidar com ele também. E ele também parecia não saber pensar, então... mais uma vantagem para mim.

    — Está falando sério? — disse o moreno, ainda rindo.

    — Pareço estar brincando? — falei sério. — Soltem o garoto. — repeti.

    Eles não deram atenção a mim e ambos se viraram para Ernie novamente.

    O louro estivou o punho para o rosto de Ernie novamente...

    Foi tudo rápido demais.

    Eu havia partido para cima do louro e o derrubara no chão e ele batera com a cabeça na lata de lixo que havia perto dele, ele ficara desacordado. O moreno veio para cima de mim, pois ele estava mais perto, mas consegui chutar seu estômago, fazendo-o cair ao chão puxando ar, antes que ele chegasse a ponto de por suas mãos em mim; o ruivo me observou e eu a ele.

    Ele veio para cima de mim e eu para cima dele.

    Assim que chegamos perto, ele preparou um soco, onde consegui bloquear com o braço direito e direcionar um soco com o esquerdo, mas ele também me bloqueou. Separamo-nos por um momento e ele foi numa tentativa inútil de me dar um chute, pois eu bloqueei seu chute com a canela e ele sentiu dor, e eu não. Aproveitei para lhe dar um murro na cara, seguido de outro e de outro em seu estômago também. Ele também caiu no chão sem ar.

    Olhei para Ernie, ainda com raiva, que estava de olhos arregalados. Ele engoliu seco e se encolheu.

    Respirei fundo.

    — Não vou te machucar. — falei já mantendo a calma. Ele assentiu. — Está ferido? — perguntei já parando de tremer. Ele balançou a cabeça em negativa. — Vem, vamos sair daqui antes que eles levantem... — pus a mão em seu ombro e o empurrei para corrermos.

    Ernie e eu já estávamos de volta ao campus populoso, agradeci por ele saber correr e correr bem. Mas ele não corria quanto eu — ou ao menos não teve os mesmos tipos de treinamentos que eu tive no passado. Afinal, quase ninguém conseguia correr mais do que eu, para ser honesto. Começamos ouvir vozes dos outros alunos e, assim que chegamos ao corredor que ele havia sido tirado.

    Ofegante, Ernie me conduziu para outro caminho que, pelo que eu lembrava que Thea havia me levado, me levava para o campo de futebol. Chegamos ao campo e ele se sentou em um banco no alto da arquibancada que havia ali. Sentei logo em seguida.

    Ele me olhou de rabo de olho por um tempo e, por fim, me olhou, virando-se para mi, e perguntou:

    — Por que me protegeu?

    — Óbvio, não? Porque eu não queria que machucassem você. Aquilo seria injusto. Eles são três e você só um e um tanto magricela. — brinquei rindo. Ele sorriu por um momento e depois ficou sério. Suspirei. — Eles mereceram. Você estaria completamente todo machucado. Isso é errado. — fechei o punho com certa raiva e ele notou.

    — Certo, hã, hmmm...— ele parecia pensativo. — Obrigado.

    — De nada. — falei balançando a cabeça.

    Ele mexeu em sua mochila e vi alguns pedaços de máquinas — pelo que dava para ver e minha experiência em computadores, aquilo parecia uma placa-mãe de uma CPU. Franzi a testa.

    — Então... curte computadores, não? — falei indicando a placa-mãe.

    Ele corou.

    — Sim, sim, hã... — ele engoliu. — sou um tipo de cyber-nerd, entende? Minha vida é isso. — ele riu nervosamente e deu de ombros.

    Então, um cyber-nerd, não? Bom, isso me ajudaria bastante. Eu precisaria de alguém como ele para me ajudar em meus serviços a nome de meu pai. Ernie aceitaria, não? Eu o protegia e daria tudo o que ele precisasse para me ajudar e o que quisesse afinal... dinheiro não era de grande importância para a minha família, não é mesmo?

    Eu tinha que apostar, e aquela era a minha chance.

    — Ernie... — ele me olhou com as sobrancelhas levantadas — você poderia me ajudar em algo que preciso, topa? — seus olhos estavam brilhando. Essa era a minha deixa. — Eu te protegeria aqui na escola e, bom... e te daria todo o recurso que precisar. Mas, precisa me prometer segredo, combinado? — o olhei sério no final e ele ficara sério também enquanto assentia.

    Contei a ele toda a história.

    Contei a ele toda a minha história — depois que eu cheguei à casa dos Queen, é claro, pois eu não contaria de meu passado para ele —, contei sobre Oliver, Thea, minha mãe e até Walter, meu padrasto do qual eu não gostava e estava desaparecido. Ele parecia ficar surpreso quando eu contei sobre o meu sonho e o legado que meu pai havia dado a mim e ele não demonstrar que ficara espantado em momento algum. Ele parecia compreender tudo o que eu dizia e agradeci a ele por não perguntar sobre o meu passado. Não seria nada legal falar sobre isso.

    Nós não assistimos as ultimas aulas. Em vez disso, continuamos a conversar onde estávamos.

    Ele me contou sobre a vida dele. Ele vivia com seu irmão mais velho, Alex. Alex era um irmão mais velho que sempre mantinha Ernie em radar. Ernie dissera que Alex era tão protetor do que seus pais antes de falecerem a dois anos atrás em um terrível acidente de carro — segundo ele.

    Eu havia contado a ele sobre a minha opção sexual. Meu medo era perceber que ele tinha algo contra — preconceito — contra isso. Eu não gostaria de pensar sobre isso, mas, quando contei, por alívio, ele havia aceitado e ainda me disse que não era uma pessoa preconceituosa. Acho que ele havia percebido que eu tinha soltado a respiração, mas, quem ligava?

    Ernie parecia um menino sozinho — um típico de um nerd, como ele aparentava ser, e eu não deixaria nada acontecer com ele. Afinal, aquele ser baixinho já estava sendo alguém de muita importância para mim.

    Perdemos o resto do dia letivo, por fim. Ernie e eu conversamos sobre tudo. Tudo mesmo e, quando dei por mim, já estava de pé com ele e indo para frente da escola.

    Eu esperei por Thea e Ernie esperou seu irmão — o que ele diria que seria muito demorado e se sentou em um pequeno banco que havia de frente ao pequeno jardim da entrada da escola.

    Ele fitou a rua na espera de seu irmão enquanto balançava os pés. Será que eu era o único amigo que ele tinha naquela escola? Era.

    Eu não aguentei.

    — Hey, Ernie... — fui até onde ele estava.

    — Sim? — ele me olhou curioso.

    — Quer vir para minha casa? Bom... você pode ficar lá para, bom, você sabe... planejar as coisas, entende? De lá, eu levo você para sua casa, ou mando o motorista te levar, qualquer coisa. — cocei a cabeça.

    — É, parece legal... — ele sorriu.

    — Vamos... venha. — chamei-o fazendo um sinal com a mão para que viesse comigo.

    Assim que Ernie e eu chegamos à frente da escola, avistei o motorista com o carro parado bem à frente. Ernie e eu entramos naquele carro preto, cujo qual eu não sabia a marca. E não me interessava.

    Thea entrou no carro sorridente e seu sorriso logo se desfez quando nos viu. Ela olhou para Ernie, para mim, para Ernie de novo e para mim outra vez, jogando a cabeça de lado e vi por rabo-de-olho que Ernie se encolhera. Isso ele escondera, não me contara que era tão tímido.

    — Esse é Ernie. Ernie, essa é... minha irmã. — falei e, assim que acabara de falar, Thea me reprovou com os olhos e revirei os meus logo em seguida.

    Voltei a olhá-la e arregalei os olhos para ela com quem dizia cuidado-com-o-que-vai-dizer. Desejei que ela tivesse entendido, mas foi Ernie quem quebrou o silêncio dizendo:

    — Bom... prazer. — ele ainda estava tímido.

    — O prazer é todo meu. — disse ela com seu sorriso mais simpático. Agradeci mexendo os lábios para ela.

    E assim o carro deu partida e fomos para casa.


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