O Ninja De Branco. escrita por Charlie


Capítulo 1
Capítulo 1 — Informado.




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MAIS UM DIA SE PASSAVA DENTRO DAQUELA MALDITA CASA E MAIS UM DIA sendo escravo dos Parkers. Eu não via a hora de sair daquela casa e procurar a minha verdadeira família — eu sabia que eu era adotado, os Parkers faziam questão de me lembrarem disso todo o santo dia.

Eu odiava ter que lavar a louça daqueles imundos. Eles não faziam nada em casa, era eu quem fazia todas as tarefas domésticas, sem contar que o quarto que eu dormia era no sótão da casa, longe de todos.

Hoje não era um dia diferente...

Eu estava fazendo ovos com bacons e algumas torradas para eles.

— Anda logo com essa comida, garoto! — disse Jason. Jason era um garoto que tinha o dobro do meu tamanho (extremamente definido e pouco mais forte do que eu), louro, olhos verdes tão clarinhos e branquelo como o pai — eu não era um magricela da vida, eu tinha músculos, mas não como ele.

— Já disse para parar de me chamar de garoto, Jason! — exclamei me virando com raiva e olhando-o. Eles sabiam o meu nome, mas parecia que faziam de tudo para me ver completamente irritado.

— Que se dane! — ele se levantou e veio em minha direção. Não me mexi, continuei encarando ele. Eu não tinha o tamanho dele e também não era tão forte, mas eu conseguia enfrentar Jason tranquilamente. — Quero meu café da manhã agora mesmo... já! — disse ele me encarando com os olhos semiabertos.

O encarei de volta. Eu sabia que Jason era um cara briguento, mas ele não brigaria na frente dos pais para isso lhe causar algum castigo ou coisa do tipo.

Ouvi barulho de passos e voltei para o fogão e Jason para a mesa. Por sorte aquele imprevisto com Jason não me fez queimar os ovos e os bacons, seu pai me mataria.

— Que cheiro maravilhoso é esse de ovos e bacons... — ouvi uma voz masculina vindo em direção da porta.

Falando no diabo.

— Querida, sinta o cheiro... está maravilhoso! Esse garoto fez ovos e bacons para o café. Não é maravilhoso? — gritou o Sr. Parker para a sua esposa que não estava na cozinha.

— Querido... é maravilhoso, sim. Finalmente esse garoto fez alguma coisa que prestasse para comermos. Devemos comemorar! — disse a irritante da Sra. Parker assim que chegou a cozinha.

O Sr. Parker era um homem gorducho nojento e porco de cabelos pretos, branquelo como uma vela, olhos azuis vivos e um tanto baixinho — ele era menor que Jason. A Sra. Parker já era um pouco mais cuidadosa, ela era limpa, linda — se é que se pode dizer isso —, loura e olhos verdes, eu sempre soube que os olhos de Jason viam dela e não do nojento de seu pai. Eu me recusava a pensar que a Sra. Parker fosse burra o suficiente para casar com um homem igual ao Sr. Parker. Isso me dava repulsa. Eu acredito que se ela não casasse com ele, ela seria uma pessoa diferente, tenho certeza.

— Sirva-nos. Ande! — ordenou Sr. Parker.

— Como quiser... — falei baixinho de modo que nenhum deles pudessem me ouvir.

Os servi. O que mais eu poderia fazer? Se eu não os servisse, eu era supostamente “castigado”. Eles tirariam a televisão de mim, comida de mim, água de mim e, se duvidasse, até a escola eles tirariam de mim. Por sorte eu consegui o celular que eu havia ganhado sem que eles soubessem.

Depois do café da manhã — eu já havia tomado o meu aquela manhã antes deles —, subi as escadas, entrei no meu quarto e peguei a minha mochila com meu material escolar. Aproveitei para por o meu diário ali dentro (era uma coisa que eu sempre fazia quando eu saia daquela maldita casa, questão de segurança). O abri e vi na contracapa o meu nome escrito “Theodor J. Queen” e o alisei. Vi minha certidão de nascimento com o nome de meu pai e de minha mãe, onde nasci e que horas. Um dia eu saberia o paradeiro dos Queen e eu irei atrás deles!, prometi a mim mesmo e desci as escadas.

— ... foi preso ontem à tarde o herdeiro das empresas Queen. Oliver Queen, recentemente encontrado depois de cinco anos naufragado em uma ilha deserta, foi preso por ser acusado de ser o vigilante da cidade... — dizia a voz do repórter que abria o jornal das sete da manhã.

Não dei mais um passo. Eu sabia que se eu desse mais um passo essa maldita escada me denunciaria e os Parkers não sabiam que eu estava planejando fugir da casa.

— ... diretamente de Starling City, Chris Peterson para a redação... — disse o repórter e o apresentador mudou de assunto.

Starling City... não ficava muito longe daqui. Eu tinha a prova de que eu era um dos Queen, eu tinha tudo o que me fazia provar que eu era filho dos Queen. A minha oportunidade: fugir o mais rápido possível. Eu tinha de fugir... e logo. E eu partiria cedo.

Animei-me, mas desfiz o sorriso e desci as escadas. Não falei com nenhum deles — eles também não falariam comigo —, e esperei Jason do lado de fora para irmos à escola. Ele sempre demorava, então fiz uma busca rápida na internet pelo celular sobre “Oliver Queen” e deixei buscando enquanto o pus o celular no bolso. Por sorte eu havia colocado o celular no bolso bem antes de Jason chegar — ele, provavelmente, contaria aos seus pais que eu tinha um celular e eu não queria discussão tão cedo numa manhã ensolarada, porém fria.

Assim que ele chegou, fomos andando até o ponto de ônibus que ficava no fim da rua. Quem nos olhava, pensava que éramos irmãos, apesar de eu ser quase do tamanho de Jason, eu tinha cabelos dourados, olhos azul-esverdeado, pele branca num tom de oliva... o que me fazia diferente é que eu tinha consciência e esse idiota, não. Jason não pensava direito, só fazia o que vinha primeiramente em sua cabaça — raciocínio nunca foi o seu forte.

Dentro do ônibus, eu sentei no meu acento de sempre: umas das últimas cadeiras do ônibus. Ali eu sempre tinha a privacidade que queria. Jason ficava com seus outros amigos desprovidos de inteligência, o que me fazia ficar sem sua presença irritante por algum tempo, porque ele sempre me infernizava, além de dentro de sua casa, dentro da escola. Ele sempre fora desagradável.

Peguei meu celular o bolso discretamente e vi as pesquisas da minha busca rápida no celular.

Jovem é resgatado com vida após cinco anos confinados em uma ilha deserta...”.

Confesso que essa primeira manchete me fez querer ler mais, mas não era o que eu estava procurando... eu tinha que achar algo mais concreto, algo que me levasse aos Queen e contasse a eles toda a verdade.

Oliver Queen é preso na tarde de quarta-feira aproximadamente às 17h...”.

Claro que eu queria saber tudo sobre os Queen, principalmente desse Oliver. Ele parecia um garoto mimado que não sabe a hora de falar sério e brincadeiras. Ele se daria muito bem com Jason, esse era outro que não sabia de nada da vida.

Oliver Queen, resgatado de uma ilha deserta é preso na tarde de ontem aproximadamente às 17h, por acusações de assassinato, invasão de domicílio...”.

Isso eu duvidava, eu não acreditava que esse tal Oliver Queen poderia ser um assassino ou assaltante para invadir domicílios. Descartei esta opção.

Oliver Queen, jovem que mora na mansão Queen em Starling City, juntamente com sua mãe, irmã mais nova, padrasto...”.

Apertei naquela última procura da página...

Padrasto? Eu não sabia que a família Queen estava com mais um novo integrante... tudo o que eu sabia estava na carta e no exame de DNA que vinha com o nome de duas pessoas, que na carta dizia que eram meu pai e minha mãe — apesar de eu já tê-los vistos. Mas, pelo visto, meu pai não estava mais com minha mãe. Alguma coisa deveria ter acontecido e eu tinha o direito de saber, afinal, eu era um Queen, não era?

Senti o ônibus parar e guardei o meu celular imediatamente. Levantei-me do acento e saí do veículo, e fui em direção à escola. Eu sabia que se eu entrasse ali teria o alívio de não estar na casa dos Parkers, porém, um deles me acompanhava. E para piorar, se fazia de meu irmão mais velho adotivo. Eu não merecia tanta honra.

Por sorte, Jason e seus amigos nada inteligentes não me deram atenção durante os primeiros horários. Tive a minha maravilhosa aula de biologia com a fantástica da Sra. Sullivan; tive a aula de geografia com o nada agradável do Sr. Thomas; mas, por sorte, a primeira aula de inglês do dia com a Sra. Black foi um tanto divertida — ela não falava coisa com coisa, o que nos fazia rir da cara dela e ela se atrapalhar toda, mesmo ela sendo jovem e linda. Mas eu não me preocupei com isso, eu me preocupava se estava bem informado para ter a minha fuga completa com sucesso absoluto. Eu tinha que ter absoluto sucesso, caso contrário, eu teria tudo tirado de mim na casa dos Parkers. Esse era um preço alto, mas eu estava disposto a pagar por ele. Eu queria conhecer a minha verdadeira família.

— E irei. — assim que pronunciei aquelas palavras, o sinal do fim da terceira aula e o início do intervalo havia tocado.

Levantei-me da cadeira, peguei minhas coisas e fui para o corredor barulhento em direção de meu armário.

Não demorou muito para eu achar o meu armário — apesar dos corredores estarem completamente lotados e barulhentos. Mas foi fácil vê-lo de onde eu estava e não demorou muito para eu chegar até ele e por minhas coisas, e retirar meus livros dos próximos horários. Aproveitei para por a carta que meu pai havia me deixado e o exame dentro do armário.

Inspirei fundo e fechei a porta do armário.

Segui o corredor em direção ao refeitório. O pior que podia me acontecer era...

— Theozinho... — disse Jason do fundo assim que pus meus pés no refeitório. Tratei de ignorá-lo e segui para uma mesa vazia — o que não foi nada fácil de encontrar, a única que consegui visualizar foi a que estava perto da saída de emergência, que por sinal, é onde ficava a reserva de lixo da escola. Também acho que era um local estranho para por a reserva de lixo.

— Quantas vezes já disse para você não ignorar o seu irmão mais velho, hein? — perguntou Jason sentando em minha frente. O olhei brevemente e reparei que ele estava sozinho, mas depois voltei a olhar meu caderno que eu havia deixado em cima da mesa retangular do refeitório.

Jason conseguia ser insuportável, às vezes, principalmente quando estava com seus amigos, mas por alguma razão ele estava sozinho e eu não sabia o por quê. Mas não era difícil de desvendar o que ele tinha em mente, afinal, ele era um perfeito idiota.

— O que você quer, Jason? — perguntei olhando-o com desprezo.

— Isso é jeito de tratar seu mano? — perguntou ele fazendo cara de indignado.

Voltei a olhá-lo.

— Tá vendo aquela garota ali? — ele, indiscretamente, apontou atrás de mim. Dei uma pequena olhada e vi uma menina de pele clara, cabelos vermelhos, conversando com umas amigas.

— Por que você está dizendo que você é meu irmão mais velho? Você não me chama dessa maneira quando está sozinho, só com seus amiguinhos retardados...

Não vi o movimento que ele havia feito e o zumbido em meu ouvido foi forte quando ele havia terminado de me dar um tapa com força no ouvido, o que me levou jogar a cabeça para o lado e por a mão no ouvido onde eu havia sentido a dor. Senti minha orelha esquentar, juntamente com o resto de meu rosto de tanta dor e raiva.

— Mas o quê...

— CALE A BOCA! — disse ele em voz alta me interrompendo quando tentava me recompor. — Não chame meus amigos de retardados, porque nós não somos isso. Chame-me dessa forma outra vez e será pior do que um tapa em seu rosto. — finalizou ele de pé e me olhando sério.

— Quantas vezes tenho que dizer que eu não tenho medo de você, Jason? — falei me recompondo. — Só não revido porque há testemunhas o suficiente aqui para provar que foi você quem deu o tapa primeiro. Então, se eu for à diretoria, você quem se dá mal, e não eu. — falei com um sorriso vitorioso para ele e ele engoliu seco. Era realmente bom ver Jason se dar mal, ele sempre se safada das coisas e eu era quem recebia a culpa. De alguma forma, todos acreditavam naquele idiota.

Ele se sentou na cadeira a minha frente e eu o olhei normalmente.

— Você irá fazer o que eu...

— Faça você. — o interrompi, levantei da cadeira e segui em direção aos corredores sem dar mais ouvidos ou, sequer, atenção a ele.


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