Já podiam ver Du Weldenvarden. A grande floresta verde se estendia para os dois lados, leste e oeste, assim como para o norte. O cansaço se abateu nos dois dragões, que viajam a um bom tempo, mas ao avistar a floresta, pareceram revigorados. Subiram em espiral quase brincando. Isso era engraçado de ver. Parecia que nada nem ninguém poderia fazer mal algum. Paz. Era isso que os quatro sentiam. Passaram pelo guardião da floresta, que os deixou passar rapidamente. Fizeram uma pequena pausa para comer - e checar os ovos - e continuaram a voar. Em certo momento, Trianne deu uma guinada para frente, e mergulhou. Thorn a seguiu logo depois, vendo a mesma se dirigir para uma forma branca. Era um outro dragão, que vinha ao encontro deles. Era menor que Thorn, e um pouco maior que Trianne. Havia um Cavaleiro com túnicas brancas no dorso do animal. Decidiram descer e se cumprimentar. Trianne foi ao encontro do dragão branco saltitante. O Cavaleiro desceu, revelando um elfo de cabelos loiros alto e com as linhas de expressão feliz e finas, parecia que nunca tinha tido dificuldades na vida.

–Atra esterní ono thelduin. - disse o elfo para Nasuada. - Deve ser a Rainha Nasuada, e você, Murtagh.

–Atra du evarínia ono varda. - respondeu Nasuada.

–Eu sou Deodinus, Cavaleiro branco, e este é meu dragão, Bluetr.

Trianne e o dragão branco conversavam animadamente, e só então Thorn se aproximou do dragão branco menor que ele. Sentiu o dragão um pouco receoso ao conversar com ele.

–Vim acompanhá-los até Ellesméra.

–Então vamos. - falou Nasuada.

Os Cavaleiros montaram nos dragões e se foram. Trianne e Bluetr iam lado a lado, enquanto Thorn ia um pouco mais á cima.

Eles parecem ser legais. comentou Murtagh.

Seu dragão apenas mexeu a cabeça, e ele não pode conter a risada.

O que foi?

Você. Está... com ciúmes?

Já falei que não tenho nada com ela. Se eu estivesse, você também deveria estar.

Isso em parte era verdade. Claro que Nasuada nunca havia de fato tido nada com ele, mas ainda sim, pensava que ela o via como um companheiro de batalhas, ou algo mais. Mas de jeito nenhum conseguiu ver o elfo como rival, parecia ser um homem bem legal. Logo um dragão fêmea rosa se juntou a eles, com um Cavaleiro elfo em suas costas. Seu nome era Hufron e seu dragão Roseline. Obviamente Trianne ficou amiga do dragão rosa, e Thorn se viu realmente amigo dela. Pararam um pouco antes de entrar na capital. Nasuada e Deondinus foram à frente, Murtagh e Hufron um pouco atrás, e os quatro dragões o seguiram. Murtagh admirou a cena. Gostaria de um dia ainda ver tantos dragões voando que perdesse a conta. Isso seria bom.

–O que tu fizeste nos orgulhou. - comentou Hufron.

–Está se referindo?

–Dröttning Arya nos contou sobre sua situação. Você deixou de lado sua rivalidade com os anões para salvá-los. Orgulhou aos Cavaleiros daqui Murtagh-elda.

Murtagh riu com o comentário do elfo. Ficou feliz ao saber disso. Feliz já que nunca pensou em ouvir exatamente isso. Que havia orgulhado alguém. Pensava exatamente o contrário.

Sim, nos orgulhou. Quisera eu sair e salvar um povo em uma guerra. completou o dragão rosa.

Quem sabe um dia? falou Thorn.

O dragão rosa empurrou o vermelho de leve. Trianne olhou para trás por um momento, no qual pareceu incomodada. Thorn não percebeu, já que mordiscava Roseline. Depois passava algumas imagens a ela.

–Verdade. Não digo em uma guerra, já que o mundo é melhor sem elas, mas em alguma missão? Quem pode dizer? - falou Murtagh.

–Sim, eu gostaria de lutar ao seu lado. - falou o elfo lhe mostrando a espada branca, bem parecida com a que Galbatorix havia roubado.

–Ei Nas... Rainha. - se corrigiu Murtagh. - Sua espada. Acha que tem alguém que possa fazer uma nova?

–Mas é claro que há. - falou Deondinus como se fosse óbvio. - Temos uma, que forjou quase todas as dos Cavaleiros. Mas o que houve com a sua?

–Quebrei na luta contra a fêmea Ra'zac, Jhrans.

–E como foi? - perguntou Hufron.

–Vou explicar tudo em outro momento.

–Deve estar cansada. Não seria melhor levá-los para descansar primeiro? - falou Deondinus.

–Não. - falou Nasuada. - Onde estão os outros Cavaleiros? E em quantos são mesmo?

–Nós dois, um anão, um Urgal e um humano. - respondeu Hufron.

–Como será o Cavaleiro Urgal? - se perguntou Murtagh. - Seria o mais forte entre vocês? Ou seria o anão?

Nasuada lhe dirigiu um pequeno olhar, cheio de significados. Os Urgals haviam matado seu pai, do qual se orgulhava muito. Seria um Urgal que faria o mesmo que Galbatorix. Ele apenas lhe deu um sorriso calmo e confiante, que a mesma retribuiu.

–Chegaram a pouco tempo. Seu dragão é poderoso, porém jovem. E mesmo que fosse grande, não se voltaria contra nós. Seu Cavaleiro é bem legal, e divertido. - respondeu Deondinus acalmando Nasuada.

Finalmente entraram na cidade. Era linda, na vista dos dois. Gigantesca, com várias arvos coloridas - era primavera - e flores enfeitavam tudo ao redor. Elfos andavam por ai despreocupados, em paz, vestindo vestes coloridas, indo a mercados ou em tendas que estavam pelas ruas. As casas cresciam nas árvores, coisa que era bem peculiar. Murtagh temeu um pouco, olhando atento aos elfos que se aproximavam. Nasuada percebeu isso, ao ficar ao lado dele.

Glaedr o perdoou. Sei que muitos também quando foi para Osilon. ela falou em sua mente.

Eles eram afastados. Já aqui, os elfos conviviam com ele. Podem não me ver com bons olhos. Acho que deveria voltar.

Você matou um Espectro Cavaleiro, vai fugir de simples elfos?

Simples?

Ok, um povo que ficou sabendo do que fez pelos anões e compreendeu que fora forçado? Não se culpe, apenas aproveite.

Ele suspirou, e observou todos ao redor. Seu alívio foi profundo ao ver que todos o cumprimentavam felizes, sem nenhum tipo de rancor. O desejavam sorte e felicidade na língua antiga, e várias crianças élficas - que eram raras, até Galbatorix fora morto - vinham ao encontro do dragão vermelho. E suas mães não se importavam, não tinha medo. Muitos se dirigiam diretamente ao dragão, que abaixou a cabeça fitando a alegria dos pequenos.

Eles gostam de mim. falou ele com alegria.

Eu sei. e riu.

Seu alívio maior foi quando viu uma grande comitiva de elfos trazendo um trono nos ombros - não como escravos, e sim como voluntários, e pareciam gostar bastante - onde estava a Rainha élfica Arya. Seu dragão verde Fírnen - que estava bem grande e forte a esta altura - veio voando até eles. Thorn levantou voo antes de Trianne, bagunçando as roupas e os cabelos dos que estavam por perto, que apenas riram, e foi ao encontro do verde. Os dois lançaram fogo um no outro - brincando, como se fosse um show - e subiram aos céus em espiral. Viu a conversa animada dos dois, e depois desceram, enquanto o verde conhecia o dragão roxo. A Rainha desceu do trono e veio até os Cavaleiros. Murtagh tomou a dianteira, e se ajoelhou perante Arya, que sorriu para o mesmo.

–Levante-se Cavaleiro Murtagh. - e o surpreendeu com um abraço. - Fico feliz em te ver novamente.

–E eu a ti Rainha.

Ela sorriu, se virou para Nasuada.

–Rainha Nasuada. - se reverenciou.

–Dröttning Arya. - ela reverenciou.

Depois as duas se abraçaram, e ela se virou para os dragões.

–Sejam bem vindos, Thorn e Trianne. Estou feliz em recebê-los.

Trianne se aproximou do dragão verde. Os cinco dragões ficaram na frente do palácio, enquanto Arya arrumava um lugar para os viajantes.

–Amanhã vamos conversar melhor. Está ficando tarde. Sinto muito não recebê-los com um banquete apropriado. - falou Arya.

–Faremos isto amanhã, creio. Voamos horas seguidas. Uma longa noite de sono será bom. - falou Nasuada.

–Fírnen, leve nossos convidados para a ala leste. Temos duas casas vagas, e tenho certeza de que poderão se acomodar lá. Até amanhã.

Seguiram o dragão verde, que conversava bastante com o dragão vermelho. Trianne conversava com Bluetr. A ciúmes de Thorn havia aparentemente passado. Chegaram a uma rua bem iluminada, já que estava noite, e pararam perto de duas casas élficas grandes.

–Obrigada Fírnen. Até logo. - se despediu Nasuada.

–Obrigado Fírnen. Nos vemos amanhã. - agradeceu Murtagh.

O dragão branco voou ao lado do verde - que era bem maior - para o palácio, deixando Thorn e Trianne sozinhos. Se encararam intrigados. Por fim, Thorn tocou de leve no topo da cabeça dela, sussurrou um boa noite, e foi para perto da casa. Havia um lugar no topo da casa, como um sótão aberto, onde os dragões se enroscaram. As casas eram todas lindas e decoradas, com móveis delicados, e estantes de livros com cheios de feitiços. Murtagh tirou os cinco ovos dos alfajores de Thron, para garantir que ficariam seguros, e os deixou invisíveis, por precaução. Claro que a possibilidade de alguém aparecer e roubar era pequena, mas não impossível. Subiu para o segundo andar - não sem antes comer várias frutas e vegetais, já que não podiam comer carne - e se deitou em uma cama quente, com cobertores de lã.

Boa noite, pequenino.

Boa noite Thorn.