A Lâmina Escarlate escrita por Tiagobm


Capítulo 3
Capítulo I- Lar Doce Lar




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   Acordo com um salto assustado e levo minha mão à cabeça, o ferimento estava coberto por um curativo. Acalmo-me um pouco e olho o ambiente ao meu redor, eu estou em uma sala escura, forrada com feno e com goteiras caindo do alto teto de pedra antiga e suja.

   Eu pareço estar em um calabouço ou catacumba. Seja o que for, esse lugar não vê a luz do Sol há muito tempo. Escuto um ruído e me viro rapidamente para o lado.

   Observo alguém sentado ao meu lado, seu rosto tapado pela escuridão do cômodo mal iluminado por umas poucas velas. Ele diz através das sombras:

   -Teve bons sonhos querido?

   -Quem é você?

   -O tempo me deu vários nomes de presente. A pergunta certa seria: Quem sou eu agora?

   -E quem é você agora?

   -Ora, eu sou um velho no escuro.

   Charadas. Eu odeio charadas. Estou machucado, cansado e com medo, não tenho tempo a perder com esse tipo de brincadeira.

   -Certo senhor “Velho no escuro”, você pode me dizer onde eu estou?

   -Bem vindo ao inferno rapaz. População: Eu, você e mais vinte e cinco coitados.

   Murmuro irritado:

    -Você pode ser mais específico. Está parecendo meu pai quando bebe em festas e começa a falar coisas sem sentido...

   Escuto um barulho que parece ser algo próximo de um riso. Após um momento de silêncio, o velho fala:

   -Certo. Acho que eu posso ser mais útil para você garoto. Mas isso depende.

   -Depende do que?

   -Você sabe se defender?

   -O que?

   -Se defender. Lutar, se portar em uma situação de perigo. MATAR, se necessário.

   -Sim, eu sei.

   Ele ficou em silêncio por um tempo, como se medindo suas decisões e depois disse:

   -Isso quem decidirá sou eu.

   O velho saiu das sombras, revelando sua fisionomia estranha. Trata-se de um homem alto, de membros finos e poucos cabelos brancos em sua calva cabeça. Por algum motivo, seu porte me lembra de alguma autoridade religiosa.

   Ele mostra-me um sorriso desdentado e amarelo e diz:

   -Siga-me. Se me provar que você pode sobreviver por aqui, vai ter todas as respostas que quer. Enquanto caminhamos, conte-me sobre você. Sou um velho que gosta de histórias.

   -Como seu que posso confiar em você?

   Ele começou a rir e falou em tom de deboche:

   -Criança, você está sozinho, ferido, em um lugar desconhecido no subsolo da sociedade. Você TEM alguma escolha além de vir comigo?

   Passo alguns instantes sem responder até que começo a falar:

   -Meu nome é Theo Laph. Sou um morador da vila de Florin, lá eu nasci e cresci.

   Enquanto eu falava, nós andávamos pelos corredores escuros e fétidos daquele lugar.

   -Sempre conheci todas as pessoas do vilarejo, tinha muitos amigos e um futuro ótimo, tanto como esgrimista, como sucessor do chefe da vila, meu pai. –Conforme eu falo, noto que não estou mais falando com o velho e sim refletindo sobre minha vida. –Embora fosse um lugar pequeno e sem graça, sempre tive tudo o que precisei. Mesmo que eu reclame de Florin várias vezes, acho que eu não desejaria ter nascido em outro lugar.

   Percebo algo no olhar do velho, será pena? Paro de falar, não quero entrar em detalhes sobre minha vida, sobre Lice. Apesar do meu silêncio, meu acompanhante não parece incomodado, ele diz enquanto caminha:

   -Parecia realmente ser uma vida boa. Que pena ter acabado desse jeito.

   -O que você quer dizer?

   -Sua antiga vida acabou. Você não vai mais encontrar seu vilarejo.

   -Isso depende do senhor. Se você me disse onde fica a saída daqui, eu vou encontrar meu vilarejo.

   -Acho que você não entendeu a situação em que se encontra garoto. Você não foi socorrido por alguma alma benfeitora. Esse lugar não tem saída.

   Isso está começando a me assustar, a simples menção de não voltar para minha vida antiga já me causa arrepios. Falo incerto:

   -Onde n-nós est... Onde exatamente nós estamos?

   -Quando eu falei em inferno, eu não estava brincando. Ninguém sabe que lugar é esse. Todos os dias eles trazem mais vítimas para virem até aqui, e nunca mais voltar.

   -Eles? Quem são eles?

   -Sou profundamente grato por não saber quem são eles.

   -Mas, o que eles fazem conosco?

   -Eles passam em lugares pouco conhecidos, matam as pessoas e trazem sobreviventes para o cativeiro. Nós somos obrigados a lutar por nossas vidas no coliseu, apenas para a diversão de pessoas ricas e influentes.

   Isso não pode estar acontecendo. Minha vida não vai terminar assim. Falei indignado:

   -Isso é horrível.

   O velho mostra um sorriso melancólico e diz:

   -Garoto, essa é a menor parte. Os poucos que sobrevivem às lutas são torturados e usados. Eles injetam coisas em nós, fazem experiências, a dor é insuportável. A maior parte das pessoas morre em uma semana. Você é um garoto saudável, dou-lhe um mês.

   -Eu não vou morrer aqui.

   -Parece bem decidido. A prepotência vai ser a guilhotina de sua alma criança.

   -Você é velho, e está vivo aqui. Por que não eu?

   -Eu já teria me matado há tempos se eu não tivesse medo da morte. Não teria passado do 3º dia se dependesse de minhas habilidades. Mas, eu era um homem de negócios antes de vir para cá. Felizmente, quando eu cheguei aqui, percebi que essas lutas no coliseu podiam ser exploradas. Desenvolvi um sistema de apostas para os visitantes, e isso me deixou bem mais rico. Se não fosse o dinheiro que eu tenho, eu teria que lutar e sofrer, assim como você. Não estou aqui por ser mais forte, e sim por ser mais inteligente.

   -Você está aqui por ser mais covarde. Está usando a dor e o sofrimento de outros para manter-se vivo.

   -Não vou negar o que você diz. Mas, é graças a minha influencia e ajuda que o número de novatos mortos vem caindo.

    Na hora em que ia começar a discutir, paro e um lampejo passa pela minha cabeça. Falo assustado:

   -E o meu vilarejo?! Como estão todos? Alguém mais veio para cá?

   -Disso eu não sei rapaz. Se vieram, foram para os outras celas.

   -E garotas... Elas também sofrem aqui?

   -Alguma pessoa em especial?

   Sinto meu rosto corar e falo irritado:

   -Não é da sua conta.

   Ele parece se divertir com meu nervosismo e fala:

   -Não sei dessa informação. O que posso dizer é que eu nunca vi uma única mulher dentro dessas paredes. Sugiro que espere pelo pior.

   Não. Não pode ser. Sinto minhas pernas ficando fracas. Se Lice se machucar, não sei o que será de mim. Pergunto com medo da resposta:

   -Como posso descobrir o que aconteceu com meus conhecidos.

   Ele responde sem presar atenção em mim:

   -Faça como eu, sobreviva. E as informações virão ao seu alcance. Pronto, chegamos ao nosso destino.

   O velho para de frente para uma velha porta de madeira podre no fim de um enorme corredor de pedra. Ele pega uma lamparina ao lado da porta e a acende.

   Adentramos no cômodo escuro e, através da luz da lamparina, vejo que se trata de um estoque de armas. Meu acompanhante se vira para mim e diz com seriedade:

   -Chame-me de Estevão. Serei seu guia nesse pedacinho de dor e sofrimento que será seu lar. –Ele aponta para uma prateleira de espadas. –Espero que saiba usa-las. Vai precisar.


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Notas finais do capítulo

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