Assenti suspirando, e com um leve sorriso empregado no rosto, entrei na sala.

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Depois que entrei, a primeira coisa que notei foi o quanto magro Eric estava desde a ultima vez que o vi, também tinha alguns arranhões no rosto, e uma perna estava engessada.

Ele estava olhando para a janela de vidro, que tinha no quarto, de costas para mim.

–Oi Eric- falei me aproximando, para chamar sua atenção.

Ouvi a porta bater atrás de mim, e sentir dedos quentes apertarem os meus.

–Hmm...- Eric deu um pigarro olhando em minha direção, e logo levantando o olhar para Tyler do meu lado.- Vejo que trouxe o segurança

Fitei ele sem entender, até me lembrar que a cerca de uns quatro meses quando nos encontramos, ele tinha chamado Tyler assim.

–Ah Claro- falei- Este aqui é Tyler, meu namorado, e o senhor ele já conhece- falei me aproximando mais, e sentando numa poltrona ao lado da cama.

–Ele vai ficar aqui ?- perguntou apontando para Tyler.

–Eric, deixa ele em paz, tá legal ?- perguntei bufando

Ele fez uma cara emburrada, e assim ficou por um tempo, até Tyler falar.

–Olha princesa, eu vou dá uma volta, depois passo aqui de novo- Tyler falou se levantando e caminhando até a porta, o acompanhei.

–Não precisa sair, você sabe disso, não é ?- perguntei a ele já na porta.

–É melhor, vocês precisam conversar. Passo aqui mais tarde- falou

Me levantei na ponta dos pés, e deixe-lhe um beijo no queixo, que era até onde eu alcançava.Não satisfeito, ele me pegou pela cintura, me deixando na sua altura, e me dando um beijo de verdade.

–Tava com saudades desse beijo matutino- falou me deixando de volta no chão.

Sorri, e fechei a porta, vendo ele se distanciar no corredor.

–Vocês parecem ser bem íntimos- Eric falou quando me sentei de volta na poltrona.

–Somos namorados- falei simplesmente, e peguei uma revista na mesinha ao lado.

–Estou falando de outro tipo de intimidade- falou com um sorriso zombeteiro no rosto.

–Não sei do que você está falando- respondi corando

Ele deu uma sonora risada, antes de falar.

–Qual é filhinha, foi eu mesmo que tive a famosa conversa sobre sexo com você, não se faça de sonsa- falou

–Eu tinha onze anos- falei

–Eu sei, e foi justamente por isso que conversei com você, não esqueça que tive uma sobrinha que engravidou aos treze- falou- Vamos lá, eu sei que você não fala disso com sua mãe, sempre que você tinha algum assunto relacionado a garotos, você vinha falar comigo.

–Ótimo, eu ia mesmo, mas só quando você estava em casa, e sóbrio- falei seca

–Uh, você me pegou- falou levantando as mãos- Mas fala ai, vocês namoram a quanto tempo ?

–Estamos fazendo seis meses hoje- falei só agora notando o quanto burra eu fui por ter esquecido.-Droga

–O que foi ?

–Nada, eu só tinha esquecido de uma coisa- falei tentando ter alguma ideia do que fazer.

–Hm... esqueceu a data de namoro, foi ?- Eric riu

–Não ria, tá legal ! Eu só esqueci por que estava com muitas coisas na cabeça- falei irritada com todo esse bom humor dele

–Preocupada com a morte do seu pai ?- falou rindo

Olhei-o perplexa.

–Como você pode brincar com uma coisa dessas ? Estamos falando da sua vida- falei me levantando.

–Ou do resto dela- falou rindo

Continuei o olhando procurando entender tudo aquilo.

–Ei não me olhe assim, não é porque vou morrer que decidir ficar bancando o defunto, o que tenho de falar vou falar- falou

–Mas você tá rindo- falei

–Claro, você queria que eu estivesse como, chorando ?- falou exasperado- Faça-me um favor, pirralha, eu já estou esperando a morte a muito tempo, durei até mais do que pensava.

–Você não tá com medo ?- perguntei baixinho

Ele me olhou por um tempo, e só depois suspirou antes de responder

–Não tenho motivos para ter medo. Olha filha, eu já vivi tudo que tinha que viver. Já aproveitei minha vida de todas as formas possíveis, tive tudo o que um homem pede a Deus, não preciso ter medo se vou partir sem deixar nada para trás.

Nunca achei que uma simples frase dele fosse me magoar tanto.

–Nada ? Tem certeza ?- perguntei com um nó na garganta

Ele abriu a boca para me responder, e assim que me olhou desistiu, me olhou por um tempo, e então vi o olhar dele se entristecer.

–Olha Ane, você ficou melhor sem mim, e tenho certeza que continuara melhor, en....- o interrompi

–Você é meu pai, DROGA, como você quer dizer que ficou melhor sem você ?- perguntei, ou gritei

–Olha só para você ai, tem uma família, um namorado que te ama, amigos, você é feliz filha- falou me olhando.- Eu nunca fui, e nunca iria ser uma coisa boa em sua vida. Quando sua mãe me contou da segunda gravidez, eu não suportei, eu já estava sendo um mau exemplo para você, agindo como eu agia, eu não poderia continuar estragando a sua vida, e muito menos de uma criança que estava vindo por ai. Então não tive medo, nem me arrependo .

–-Mas, você vai morrer, e isso d...- me interrompi antes de concluir a frase.

–Ane, por favor, eu vou morrer daqui a pouco, então me faz uma ultima vontade e fala o que você quer falar, não se priva

Respirei fundo e voltei a falar

–Você lembra quando eu tinha cerca de nove anos, e você me contou a historia de uma amigo que você teve ?

–O Luka ?- perguntou confuso

–Sim, esse mesmo- falei, e arrastei a poltrona até ficar bem próxima dele na cama – Então, você me disse que a vovó odiava o Luka, e que além de tudo te proibia de ver ele de todas as formas possíveis.
Más você nunca ouvia ela, e sempre saía com o Luka, você até ficou de castigo varias vezes por causa dele.A vovó dizia que o Luka era má influência, já que tudo de errado que se podia ser feito, ele fazia com um sorriso nos lábios, só para desafiar a quem dizia que aquilo era errado.
Só que em uma dessas saídas de vocês, numa noite o Luka resolveu te levar até uma área onde vendia as drogas que ele começou a usar. Você disse até que queria experimentar, más ele não deixou você fazer isso, porque alegou ser ruim para suas lembranças. Você não entendeu, mas mesmo assim obedeceu, já que para o senhor o Luka era um herói.
Quando vocês chegaram ao local da compra teve um tiroteio, e o senhor como único bem vestido ali, já era alvo para roubos, ou até para ser refém. Quando o senhor tentou correr, viu a arma ser apontada em sua cabeça, e em choque parou; ouviu o tiro, mas não sentia a bala. Quando abriu os olhos, viu uma poça de sangue ao seu lado, e um corpo estirado na sua frente.
Era o Luka, ele tinha se jogado em sua frente, e agora estava ali com uma bala na cabeça, e respirando com dificuldade. Quando o senhor perguntou o porque daquilo, ele só te respondeu uma coisa:
“Eu quero que você tenha uma vida irmão, e se tiver que perder a minha para isso, eu perco. Mas eu não vou deixar o meu único irmão sem boas lembranças, porque você sabe, que viciado como eu to, daqui pra frente eu não te daria muitas lembranças legais, então parceiro, guarda essas boas que eu to te deixando”

–O que eu to querendo dizer, pai– vi ele sorrir melancólico- é que mesmo ele sendo o errado para todo mundo, ele era o certo para você. Então pai, você por mais errado que seja aos padrões do mundo, continua sendo o meu pai.

Falei e sequei algumas lágrimas que rolavam por meu rosto.

Ele levantou o tronco da cama, e antes que eu percebesse já estava o abraçando e chorando ao mesmo tempo.

Ele me puxou até ficar deitada ao seu lado na cama.

–Sabe, eu achava que passei esses cinco anos te odiando, mas esses dias eu percebi uma coisa...- suspirei- Eu só tinha magoa, muita raiva também, mas o que me impedia de chamar o senhor de pai, era o fato de tudo o que eu tinha sofrido, por você não estar lá para representar esse papel.

Ele sorriu me olhando

–Eu adorei aquela apresentação que você fez no natal, você ficou ótima de princesa natalina- falou sorrindo e acariciando meus cabelos.

– Como assim, isso foi depois que você foi embora- falei confusa

–Você estava linda no primeiro aninho dos pirralhos gêmeos, a fantasia de princesa das flores combinou com os cabelos ruivos.- falou beijando minha testa

–Mas...- fui interrompida

–Aquela roupa que você usou para ir na festa com a Jenny não era muito bonita, mostrava muito suas pernas, e tenho certeza que foi escolha dessa tal Jenny, que se dizia sua amiga.

Fiquei o olhando até compreender o que estava acontecendo

–V-você nunca foi embora, você estava lá o tempo todo- falei espantada

–Ane, eu não poderia simplesmente ir embora da sua vida, fui embora sim, mas como você disse, eu continuava sendo seu pai.- falou me olhando

–E porque você não se aproximava ?- perguntei

–Por mais que eu te amasse, eu me afundava cada vez mais na bebida, filha- suspirou- Eu ia acabar deixando só péssimas lembranças com você. Preferi agir como o Luka, te deixando quando você ainda tinha muito mais sorrisos do que lágrimas, ao lembrar de mim.

–Quando você parou de me ver ?- perguntei

–Foi a cerca de um ano e meio, conheci uma mulher, e como ela morava em outra cidade, achei melhor seguir em frente – falou e notei um olhar triste

–Cadê ela ?- perguntei

–Ela morreu faz uns seis meses- suspirou

–De quê ?- perguntei cautelosa, pois notei a tristeza com que ele falava sobre a morte dela.

–No parto do nosso primeiro filho- falou

Arquei em surpresa

–E-eu tenho um irmão ?- perguntei

–Tem sim- falou

–E cadê ele ?- perguntei

–Provavelmente com a avó, nem posso aparecer por lá, já que com certeza ela vai me devolver.- falou

–Porque não está com você ?

–Não quis ele- falou simplesmente

Olhei-o espantada, e aos poucos comecei a me irritar

–Como assim não quis ? Você o abandonou também ?- perguntei rápido

–Eu não podia ficar com ele, Ane- falou simplesmente

–Porque ?- perguntei

–Droga, eu amava Isabella, tá legal. Eu amei ela com todas as minhas forças, desculpa o que vou falar, mais amei a Isabella, mais do que cheguei a amar sua mãe. Quando a Isa falou que estava gravida, eu nunca em minha vida me senti tão realizado, era o primeiro filho da Isa, ela estava tão radiante, tão feliz, automaticamente, eu estava feliz, mais ai a criança nasceu, e o que foi que aconteceu ? Ela morreu.

–Você culpa o bebê ?- perguntei mais calma, observando as lágrimas caírem pelo rosto daquele que nunca tinha visto chorar.

Ele amava mesmo a Isabella

–Eu sei que a culpa não é dele, mas é impossível eu conseguir olhar para o Isaric, e não lembrar-me da Isa- falou

Fiquei observando-o espantada, em cada gesto dele, via o quanto amou essa mulher Isabella.

–Como era a Isa ?- perguntei tentando melhorar o clima

E deu certo, já que ele abriu um sorriso enorme antes de começar a falar dela, acompanhando o brilho no olhar dele.

–Ela era linda, nunca vi mulher mais linda que ela. Maravilhosa, tinha cheiro de flores, era tão doce, tão perfeita, tudo o que tem de bom no mundo, eu encontrava nela.- falou sorrindo- Sabia que ela conseguiu em três semanas fazer eu parar de beber ? Ela me fazia querer ser o melhor.

Fiquei observando-o por um tempo.

–E o que aconteceu depois ?

– Com um mês de namoro, eu chamei ela para morar comigo, algum tempo depois ela descobriu a gravidez, e ficou muito feliz, era mãe de primeira viagem, fora que ela era bem novinha, tinha vinte e dois anos, não sei o que ela viu em mim, mas alguma coisa fez ela querer um cara com eu por perto, Preparamos tudo para a chegada do bebê, um pouco antes de nascer ela decidiu o nome, Isaric, a mistura de nossos nomes, ela tinha esses momentos de menina apaixonada, e eu amava isso nela.

–O Isaric, nasceu saudável ?- perguntei

–Por incrível que pareça, sim. Muito saudável, e lindo, uma copia perfeita da Isabella, só que na versão masculina.

–Como é ele ?- perguntei

–Tem olhos e cabelos castanhos, e traços tão doces quanto os da mãe.

–Você não pensa em vê-lo ?- perguntei

–Sei que vai doer vê-lo, mais do que estando distante- falou por fim.

Ficamos conversando por mais algum tempo, até que a minha mãe chegou acompanhada de Alicia e Alex.

Seria uma longa tarde.