Ordinary World escrita por Westwood


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

A capa é dessa autora: http://mariemjs.tumblr.com/ (eu pude achar seu tumblr e seu deviantart [http://mariemjs.deviantart.com/], onde a imagem estava postada originalmente, imagino, mas ela apagou toda sua arte, o que é uma pena.)
O título é inspirado na música de mesmo nome tão famosa interpretada por Duran Duran(vale a pena dar uma procurada e chorar um pouco ouvindo).
Essa fanfic pode ser um pouco triste pelo contexto, mas eu jamais faria algo muito doloroso, pq pra isso temos Gatiss e Moffat.



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John acordou tarde naquela sexta-feira. Era a primeira vez que ele acordava depois das 3 da manhã em dois meses. Mas hoje ele acordou às 9 horas. E não por vontade própria. Quando sua mente entrou em foco e ele conseguiu se lembrar de quem era percebeu por que acordou. Tinha alguém lambendo sua mão. Abriu os olhos e Gladstone o encarava com a língua de fora. Provavelmente morrendo de fome.

John ergueu os olhos para o relógio ao lado da cama, na mesa de cabeceira e bufou tentando lembrar em que dia da semana estavam. Não, hoje não havia clínica. Gladstone latiu.

– Tudo bem amigão, eu sei que você está com fome, eu preciso só de mais dois minutos. – John disse enquanto fechava os olhos, talvez conseguisse voltar para o sonho onde estava.

Gladstone latiu de novo. John se levantou, mas ainda pensando se ele dormiu tanto por que ele estava sonhando e o sonho estava muito bom ou se foi por que tomou comprimidos para dormir na noite passada. Assumiu que a razão foram os comprimidos, mas isso é por que não conseguia lembrar qual era o sonho. Se conseguisse lembrar qual era o sonho John saberia que esse era o motivo.

O que aconteceu foi que Sherlock se atirou de um prédio na sua frente. Então John não podia dormir. Voltou a fazer terapia depois de um ano e meio longe, pensando que não precisaria daquilo nunca mais. Honestamente, ninguém pode culpa-lo. Mas na sua cabeça era como se ele tivesse sido derrotado. Os pesadelos do tempo de exército foram substituídos pelo pesadelo de ter seu melhor amigo se matando na sua frente sem poder fazer nada.

Ele tinha estado com tanta raiva de Sherlock. Então chorava de raiva, veja bem, não era nada além de raiva. Como Sherlock podia ter desistido da vida? Deixado John a própria sorte? Não, isso foi errado, então John chorava, por que não fazia sentido.

Mas a raiva eventualmente passou. E sem a raiva a única coisa que sobrava era o sentimento de abandono, a saudade. John nunca deu a Sherlock crédito suficiente sobre o quanto ele era significante na sua vida. E não foi por mal, foi simplesmente por que ele nunca parou para contabilizar a quantidade de sentimentos que havia no abismo entre os olhares.

Mas uma vez que Sherlock se fez ausente era impossível ignorar. E se você perguntar como ele soube que é impossível, bem, digamos que ele tentou. Mas a falha de John é que ele nunca entendeu o que realmente havia entre eles. Ele assumiu que por parte de Sherlock mesmo não existia sentimento algum além da amizade. E a necessidade de ter um capacho, John pensava com amargura. Mas John conseguiu interpretar errado cada sinal enviado pelo seu próprio subconsciente, então o que ele saberia? E aquilo foi algo que ele nunca tinha dado um segundo pensamento a respeito até perceber no auge de seu desespero o que estava fazendo. Ele estava de luto como uma viúva. Era inconcebível. Era inacreditável. E ainda assim ele não podia evitar.

O que ele sabia agora, nesse momento, é que ele estava apaixonado por um homem morto. O que não era de muita ajuda no caso de depressão que sua terapeuta leu nas entrelinhas das conversas com ele naquele escritório escuro e impessoal que John odiava e nunca estava confortável. Mas ele ia lá, por que achou que ficaria louco de vez se não fosse.

Por que é o sentimento que nos mantém vivos no fim das contas, e ele se permitiria isso, se esse era o seu consolo. Todos os dias dizendo em voz alta “você morreu e eu aceito isso”, e querendo acreditar do fundo do coração em cada palavra, mas no fundo pensando você ainda vai voltar por que essa é a sua casa, então eu vou estar aqui, por que é a minha casa e nós dois pertencemos um ao outro. É como tem que ser. E imediatamente se arrependendo do pensamento por que era o tipo de coisa que Ella dizia que piorava seu quadro de depressão.

Mas era por isso que John estava lá, agarrado a cada fiapo de memória que tinha de Sherlock. Ainda no apartamento 221B. E Baker Street ainda era a mesma. E naquele as gotas de chuva batiam na janela com força suficiente para deixar Gladstone assustado e esconder-se sob a mesa da cozinha.

Gladstone foi um presente, e como foi um presente da Sra. Hudson não havia forma de fugir com uma desculpa do tipo “a proprietária não permite animais”, apesar de que ele tentou isso. O cão veio depois de um chá tomado em 211A, na cozinha da senhora, quando John deixou escapar as palavras de sua terapeuta:

– John, você não pode se isolar do mundo, você precisa de companhia. E se o que você precisa é de alguém que dependa de você talvez um cachorro ajude. – John imitou-a com a voz afetada e depois riu como se a ideia fosse tão ridícula que essa seria a única reação possível. Ele não percebeu que a Sra. Hudson estava séria.

Então no dia seguinte um filhote de Bulldog Inglês branco com manchas marrons estava esperando com um laço no pescoço quando John empurrou a porta da sala de seu próprio apartamento e entrou. John tentou argumentar com Sra. Hudson sobre como ele não tinha a menor condição de cuidar de um cachorro, mas ela se mostrou irredutível, então Gladstone voltou para o apartamento aninhado em seu peito.

John disse a si mesmo que era impossível comparar um cachorro com Sherlock Holmes, simplesmente não era um substituto digno. Era só um cachorro estupido, e John não era como uma babá, tampouco. Como que para pontuar seu pensamento Gladstone começou a babar em seu jumper novo.

– Tudo bem, se você vai ficar então você tem que saber que se algum sapato meu aparecer mastigado ele é tudo que você terá para comer até terminar o último pedaço, você entendeu? – John olhou para Gladstone, as sobrancelhas levantadas, mas ele só latiu e babou.

Então ele dormia no quarto de John, que era o antigo quarto de Sherlock. John manteve o quarto de cima para guardar as coisas de Sherlock, todas em caixas, exceto as experiências que foram jogadas fora por questões sanitárias. Gladstone dormia no tapete ao lado da sua cama. Como quando era pequeno ele chorava muito, John colocava a mão para baixo e coçava sua barriga até ele dormir, então ele só dorme quando John põe o braço para fora da cama. Quando ele não consegue dormir nem com remédios deixa Gladstone deitar ao seu lado na cama, sua respiração ruidosa causada pelo focinho achatado ajudando mais que os comprimidos que toma como sobremesa após a janta.

Naquele momento, enquanto derramava ração na vasilha de Gladstone, John se lembrou de que precisava ir ao mercado. A ração está acabando, o leite está acabando e não há ninguém a culpar além de si mesmo, por uma vez. O remédio para insônia também está acabando.

Veja bem, não é que John fosse de alguma forma viciado em remédios para dormir, mas isso na maioria das vezes era sua única opção. Ele odiava precisar de drogas para uma coisa tão mundana quanto dormir, e isso fazia os comprimidos descerem mais amargos.

Algumas horas após o café John deixou Baker Street vestindo um casaco de chuva sobre o jumper muito antigo. O casaco foi um presente da sua última namorada. John tentou afastar o pensamento, mas só conseguiu lembrar de que eles terminaram por que John teve um sonho com Sherlock. E às vezes é melhor não ter um sonho molhado com seu amigo morto enquanto divide a cama com sua namorada, especialmente melhor não gemer o nome dele enquanto beija o seu pescoço. Péssima ideia. A pior, na verdade.

Não haveria desculpas suficientes nem em duas vidas para explicar isso pra ela, então John juntou o resto da sua dignidade e do seu amor próprio e voltou para casa. E foi assim que ele descobriu que estava apaixonado por Sherlock.

Quando John tentou afastar esse pensamento só conseguiu pensar que ele havia visto Sherlock naquele dia. Bom, ele pensou que tinha visto pelo menos. Mas isso acontecia o tempo todo. John tentou conversar sobre isso com Ella, mas ela disse que isso era normal, que Sherlock era próximo dele e que isso poderia acontecer quando ele estava pensando nele. Era apenas sua mente pregando peças.

Então John parou de contar a sua terapeuta, mas não parou de ver o fantasma de Sherlock, o mesmo casaco, o mesmo lenço, os mesmos cabelos ondulados e 1,80m de altura. John perdia o folego cada vez. Mas ele nunca o via frente a frente, ele apenas estava lá, olhando para ele quando ele se virava de repente, mas quando John olhava uma segunda vez ele já tinha sumido.

Não importa, quando ele via Sherlock ele dormia uma noite inteira, sem remédios, sem problemas. Então John entrou no mercado e comprou tudo que ele achava que estava faltando. Ele estava errado, amanhã ele voltaria por que se esqueceu de comprar chá e detergente. Quando passou suas compras pelo caixa pensou ter visto uma capa esvoaçando, mas nem ergueu a vista. Todos estavam de capa hoje, estava chovendo. Era apenas paranoia dele.

Enquanto estava no mercado seu telefone não tocou uma vez. Nada. John sentia falta disso. Sherlock mandando uma mensagem por minuto falando sobre nada, muitas vezes. Ou não mandando mensagem nenhuma. Apenas esperando em casa como se as compras não fossem pra ele. Aquele maldito preguiçoso, John pensou com carinho.

Mas não é a parte importante. A parte importante é que ninguém liga mais para John. John não os culpa e nem poderia. Lestrade tentou persuadi-lo tantas vezes a “tomar um chope, assistir um futebol”, “um novo filme de ação no cinema, vamos lá, um copo grande de refrigerante e uma pipoca” ou até mesmo e John ainda não conseguia acreditar “ingressos para o teatro John! Eu tenho esses dois, mas não tenho com quem ir”. Não, muito obrigado. Então ele parou. Molly parou, apesar de que ela foi bem mais insistente do que John achou que ela seria capaz. A Sra. Hudson não parou. Mas John pensou que o fato de que ela morava a 17 degraus dele tinha algo a ver com o quanto que ela poderia insistir para John fazer qualquer coisa para ela.

Mycroft parou, no entanto. John precisou socá-lo no rosto duas vezes (John nunca teve ilusão de que pegou Mycroft de surpresa, nenhuma das vezes), mas ele parou. John o culpava por cada gota de lágrima, por cada minuto de sono perdido, por cada vez que ele desejou estar morto apenas para que parasse de doer. Fazia dois anos que John não via Mycroft. Mas ele sabia que ele estava por aí, vigiando cada passo que ele dava. Ele podia sentir as câmeras de segurança girando enquanto ele passava em uma rua qualquer. Ele sabia que Mycroft pagava metade de seu aluguel. Quando ele foi até a Sra. Hudson para pagar no mês seguinte ao suicídio ela disse que absolutamente não. E quando John quis argumentar ela bateu a porta na cara dele.

Bom, quando John saiu do mercado a chuva tinha passado. Como não eram muitas compras ele decidiu caminhar até em casa. Se não fossem as pequenas poças de água nas calçadas e o asfalto molhado seria difícil de acreditar que estava chovendo há meia hora, já que o sol estava brilhando de maneira impressionante, ou pelo menos tão impressionante quanto o sol possa brilhar em Londres.

John suspirou e sentou-se em um banco do parque sem se preocupar que estava molhado da chuva. Olhar as pessoas o distraía. Ele se perguntou o que Sherlock deduziria de uma senhora que passou completamente molhada a despeito da chuva ter caído desde o dia anterior e ter parado há meia hora. Ou do casal que passava empurrando um carrinho de bebê, a mulher parecia entediada, mas o homem talvez não tivesse um sorriso maior apenas por que os músculos faciais não o permitiam.

John suspirou ao olhar em seu relógio e ver que ele tinha passado quase uma hora sentado no banco. Pensou que devia ter trazido Gladstone talvez, mas então disse a si mesmo que eles ainda poderiam passear quando ele chegasse em casa. John se arrastou por todo o caminho até Baker Street, a cabeça baixa. Ele não queria assustar os outros com a miséria estampada em seu rosto.

Quando estava a 200 metros do numero 221B, no entanto, percebeu alguém sentado nas escadas, como que esperando. E pelo visto esperando por ele já que quando o viu subiu em seus pés, 1,80m, pálido, muito magro. E John não ouviu as sacolas caindo, mas ele já não segurava mais nada. Sherlock ficou embaçado por um instante, antes de John piscar, mas quando abriu os olhos novamente ele ainda estava lá, ele estava... Chorando? Sim, definitivamente. Os dois estavam.

– John, eu... – Sherlock balbuciou fracamente.

Ele não completou a frase, mas não precisava. O que precisamos ter em mente aqui é que foram três anos. E John pensou que Sherlock não poderia estar mais bem gravado na mente de ninguém que não fosse a dele. Mas ele esperava agora que não fosse verdade, por que Deus, ele era lindo de uma forma que John não lembrava.

John não sabia disso, mas Sherlock estava pensando mais ou menos a mesma coisa. Ele estava pensando que John parecia muito mais agradável de perto, do que de longe, como ele estava acostumado a vê-lo há três anos. Ele podia ler cada ruga em seu rosto que não estava ali no passado, ele queria se ajoelhar e beijar seus pés e desculpar-se se ele fosse o causador de qualquer uma delas. Não que isso deixasse John menos adorável. Sherlock sentia falta do brilho intenso azul nos olhos de John, mas agora não poderia ver, por que John saíra de foco outra vez.

E quando John atirou-se em seu pescoço Sherlock parecia surpreso, hesitante. John não poderia explicar o porquê disso, mas talvez tenha sido por que não, ele não estava louco. Sherlock era firme e quente e cheirava a Sherlock de três anos atrás. E era real. Era mais real do que John pensou que seria.

Era muito real quando Sherlock o abraçou de volta, uma mão em suas costas, a outra afagando seus cabelos. Quando John fungou por que as lágrimas não paravam de rolar, Sherlock pensou que era o momento então, e disse, não ousando nem tentar de afastar de John, o que era ótimo, pois a sua voz saiu baixa e falhada:

– Eu nunca pensei por um momento que a minha ausência poderia ter lhe afetado tanto, e por isso eu peço desculpas. Mas eu fiz o que era necessário para mantê-lo seguro, e por isso eu nunca vou me desculpar, John, por que você estava seguro, você nunca correu o menor perigo. O que eu preciso que você entenda...

– Eu entendo. – John cortou-o com a voz baixa. – E obrigado. Muito obrigado por este último milagre. Obrigado por voltar. – John pontuou a frase apertando o abraço.


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Notas finais do capítulo

Ohhhh, então como sempre atirem pedras ou flores. Essa foi a primeira fanfic q eu comecei. Eu realmente comecei ela no meio do ano passado, mas eu decidi que não queria pensar nisso e então eu estava organizando arquivos e achei por acaso e terminei de escrever, pro bem ou pro mal. Em algum ponto da vida eu tenho q dizer isso, então eu vou dizer agora que ODEIO escrever diálogos e é por isso que quase não tem nenhum.
PS: eu revisei, claro, mas se por algum acaso um erro ortográfico passou despercebido me avise, porfa.