A sala estava uma loucura e os alunos pareciam chimpanzés enlouquecidos em um zoológico pedindo comida. Eles pulavam, gritavam, se batiam e jogavam misturas químicas uns em cima dos outros. Era divertido e eu estava quase entrando na zona quando Becky me puxou para o canto afastado da sala e apontou para a ultima carteira vazia da fileira da porta. Ela se sentou logo na minha frente e jogou seu caderno na mesa, observou os alunos por um longo momento e lançou o olhar para mim.

Me sentei logo em seguida e joguei o material em cima da mesa, queria perguntar o porque de não participarmos da bagunça, já que 90% da sala estava de pé gritando, mas nem precisei de sua resposta. Não demorou muito para um professor calvo de cabelos grisalhos e avental branco entrar na sala de aula gritando e jogando seus livros gigantes sobre a mesa assustando os baderneiros.

As garotas de cabelos cacheados se esconderam atrás dele puxando seu avental quase o derrubando para se protegerem dos garotos que carregavam os potes. O professor virou para elas e as fuzilou com o olhar antes de se voltar para os alunos e segurar dois deles pela orelha.

Um inspetor chegou logo em seguida e os puxou para fora pelo braço enquanto o professor observou um por um se sentar em seus devidos lugares e se calarem diante daquela cena. Tentei conter uma risada, assim como Becky e mais um casal do nosso lado, mas não consegui e soltei uma gargalhada alta que incentivou os outros três a fazer o mesmo.

– Qual é a graça? – A voz rouca e áspera do professor calou nossas risadas imediatamente. – Era de se esperar – Ele se voltou para a lousa com seu canetão azul e começou a passar formulas estranhas enquanto murmurava sozinho.

– Não ligue para ele, ele é meio maluco. – Becky sussurrou sentando-se de lado e colocando seu cotovelo em minha mesa.

– Eu percebi.

– O que você quer fazer pra passar o tempo? – Perguntou inquieta em sua cadeira. – Tive uma ideia, gosta de criar historias? – Ela não deu o menor tempo de resposta e já jogou um papel em minha mesa com uma caneta. Apenas assenti com a cabeça me divertindo com sua animação.

– Digamos que você está sozinho em uma casa e entra dois ladrões, o que você faz?

– Eu pego minha arma na cabeceira e parto pra cima deles – Respondi com a maior naturalidade e ela fez uma careta.

– Não. Você não tem armas de fogo.

– Então eu pego meu taco de beisebol e vou pra cima de um deles o acertando na cabeça e depois saio a procura do outro.

– Não de novo. Eles não vão se separar e estão armados se você fizer isso você morre.

– Você é difícil – Revirei os olhos em frustração e ela riu.

– Você não pertence aquele grupo – Mudou de assunto rapidamente fazendo essa observação.

– Como assim? – Indaguei.

– Te vi de longe com Ellie e Derek e depois você conversando com os amigos dela... Vocês não pertencem ao mesmo mundo... – Respondeu sem graça. – Digo, você é tão tranquilo e ingênuo perto deles...

– Pera, você andou me seguindo? – Encarei-a confuso.

– Você é o aluno novo, é fácil de ser reconhecido em qualquer canto

– Uhum e obrigado por ter me chamado de ingênuo – Resmunguei.

– Ah, qual é, vamos continuar jogando. Você precisa se esconder antes de ataca-los e entrar no guarda roupa ou embaixo da cama não vale.

– Epa, porque no guarda roupas não pode?

– Você quer ir para Narnia? Não, então não pode.

– Eu gostaria... – Desde que li aquele livro quando mais novo, sentia vontade de conhecer um mundo do gênero, afinal, era maravilhosamente divertido e seria incrível viver aquelas aventuras, mas assim como quando eu terminei outra saga de aventura quando criança, aceitei que nada daquilo aconteceria comigo.

– Você pareceu meu irmão de sete anos agora – Debochou.

– Obrigado pela comparação e então eu me escondo atrás da porta e quando eles passarem eu saio correndo e os tranco – Dei de ombros como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo.

– Ah, por favor, você já estaria morto – Revirou os olhos.

– O que você faria?

– Eu iria tacar um sapato na cozinha e espera-los ir averiguar, enquanto isso, rastejaria até o sofá e correria para a porta de saída, entraria no elevador e estaria a salvo. – Respondeu como se houvesse tramando aquilo a muito tempo.

– E se não tiver energia?

– Quem passa as regras sou eu e eu não decidi que não teria isso –Fez bico e cruzou os braços. Ri da cena deixando-a ainda mais irritada.

– Ta rindo do que? Eu não sou sua namorada pra você ficar zoando.

– Eu não tenho namorada... – Murmurei baixo. – Eu acho.

– Como assim, você acha?– Indagou surpresa.

– Sei lá, desde que eu sai do Oklahoma as coisas não vão muito bem e ai ela anda muito grudada com meu amigo e...

– Então você foi traído por ambas as partes?

– Basicamente isso – Dei de ombros. Por algum motivo, não andava mais tão incomodado com aquilo, pelo menos, não no atual momento. Quem sabe mais tarde meu humor não mudasse?

– Você não merecia isso... Depois as mulheres falam que homem não presta, mas não veem no passado que magoaram o mais perfeito de todos que apareceu em sua vida. Raça desgraçada – Bateu a mao na mesa com força e cruzou as pernas.

– Você não é mulher? – Perguntei entre risos. – E relaxa, eu sei quem eu sou e não mudaria por ninguém... – Minha personalidade e meus ideais não, meu comportamento sim, se fosse necessário.

– Sim, mas eu sei dar valor.

– Então seu namorado tem sorte. – Afirmei.

– Não tenho um – Deu de ombros.

– Então como pode dizer isso?

– Não preciso ter para saber que vou cuidar. – Revirou os olhos como se fosse a coisa mais obvia de todo o mundo.

– Relaxa, só estava pegando no seu pé... Tenho certeza que você irá achar alguém...