Forever & Ever escrita por soulsbee


Capítulo 34
Nova Companhia


Notas iniciais do capítulo

"Acordei com o som da chuva torrencial
O vento sussurrava e eu pensei em você
E em todas as lágrimas que chorou, que chamavam meu nome
E quando você precisou de mim, eu correspondi" I Remember You - Skid Row
— Notas finais -



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Eles não sabiam que essa não era minha escolha, não sabiam que isso era inevitável e me perseguia dia e noite, até mesmo em meus mais profundos sonhos. Eles apenas sabiam o que viam, mas nunca descobriram o que eu sempre via.

Esse era o meu fardo, o meu destino. Essa era a minha vida que não possuía o menor controle.

E ali estava eu, mais uma vez, sentada nas escadas mais afastadas do prédio principal da minha escola, remoendo minha vida em pensamentos de lembranças surreais, sentindo a chuva batendo contra meu rosto pálido e gélido em uma tentativa falha de limpar minha alma.

A vida foi mais fácil para mim há algum tempo atrás, mesmo com tantas paranoias, conseguia ignora-las – em sua maioria – e seguir em frente, contando com Robert, meu melhor amigo e fiel confidente. Porém, minhas ultimas alucinações passaram dos limites, aparecendo na sala de aula, fazendo-me parecer uma louca implorando para eles desaparecerem...

Eu virei o motivo de piada, mas também não me importava com eles ou suas opiniões, não me importava com a malicia deles e com as brincadeirinhas ridículas...

Tenho quinze míseros anos e, ao invés de me preocupar com os bailes de graduação, com as festas que as garotas populares davam, com as roupas que deveria usar, com minha popularidade e garotos, me preocupava em ter uma maldita boa noite de sono, mesmo sendo quase impossível.

Eu, definitivamente, estava longe de pertencer a esse mundo de garota. Estava longe de pertencer a essa sociedade medíocre e hipócrita, na verdade, meus sonhos eram bem diferentes e simples coisas tornavam meu dia maravilhoso. Como a garoa, por exemplo.

Adorava sentir as finas gotas da garoa do final de tarde, junto da leve brisa que ricocheteava em meus cabelos castanho avermelhados. Gostava do barulho que ela fazia, suave e quase imperceptível, da maneira como se destacava quando as luzes da rua se acendiam... Gostava da paz e da tranquilidade que ela me remetia.

Entretanto, dias seguidos com essa garoa traziam tempestades que assolavam a cidade, que acabavam com a energia do bairro e parecia carregar consigo a fúria de todo o universo. Nesses dias, coisas ruins aconteciam, pois a morte estava solta, marchando ao lado de milhares de monstros que traziam medo e dor as pessoas.

– Você não deveria se importar tanto com eles... – A voz meio rouca e suave de um garoto surgiu no horizonte, retirando-me parcialmente de meus devaneios.

– Ah, da um tempo... – Resmunguei desejando voltar aos meus pensamentos, por mais conturbados que eram a ter que conversar com alguém.

– De verdade, se eles fossem seus amigos, eles não iriam rir de você, mas estariam aqui agora conversando com você. – Disse sentando-se um degrau acima de mim.

Nesse instante, deixei de observar o céu cinza e silencioso, lançando um breve olhar irônico ao garoto de cabelos loiros repicados que desciam até suas orelhas, cobrindo boa parte de sua testa, indagando:

– Então, você se acha meu amigo?

– Não. – Respondeu diretamente. Revirei os olhos balançando a cabeça passando a fitar o chão de concreto a minha frente. – Mas se você me der uma chance... – Continuou em um tom mais sutil – Eu posso ser seu amigo – Completou.

– Posso te dar um conselho? – Perguntei virando parte do meu rosto em sua direção, mantendo o olhar no concreto segundo algumas ramificações do solo rachado.

– Claro.

– Para a sua segurança, não se torne meu amigo... – Terminei com um fraco sorriso no canto dos lábios.

– Deveria ter pensado nisso antes de me encarar constantemente – Replicou.

Corei intensamente, sentindo minhas bochechas ferverem de vergonha. Não acreditava que ele havia reparado que eu passava boa parte do meu tempo o fitando durante as aulas na tentativa falha de descobrir o porquê ele era tão quieto.

– Eu não faço isso. – Dei de ombros.

– Você sorri quando eu olho pra você. – Insistiu me deixado ainda mais envergonhada. Realmente fiz isso duas ou três vezes, mas por educação!

– Tanto faz – Tentei parecer indiferente – Só queria saber por que você é tão quieto...

– Porque eu não conhecia quase ninguém? – Indagou como se fosse a resposta mais obvia do mundo. – A propósito, me chamo Jared. – Se apresentou – como se já não soubesse seu nome - estendendo sua mão na frente dos meus olhos, retirando minha atenção daquelas pequenas rachaduras do chão.

– Jared do que? – Perguntei esticando minha mão em direção a sua, porém não a tocando.

– Ah... Sério mesmo? – Suspirou frustrado e eu assenti com a cabeça – Jared Jones Kohs... – Abaixou o tom da voz ao pronunciar seu nome inteiro.

– Jared Jones? – Ri baixinho com a careta que ele fez.

– Meu pai era muito fã de Indiana Jones... – Explicou – Acho que Kohs não foi o suficiente para ele... – Murmurou.

– Jones era o sobrenome do guitarrista do Sex Pistols... – Disse fitando seus olhos tão azuis quanto o céu diurno.

– Como você sabe? – Arqueou uma sobrancelha querendo uma boa resposta.

– Porque eu gosto de rock clássico?! – Inquiri como se fosse o mais obvio.

– Eu também gosto de rock clássico, mas nem por isso eu vou à Wikipédia ver a biografia de todo mundo – Revirou os olhos como se seu ego houvesse sido atingido.

– Olha só, você tem bom gosto, Henry Walton Jones Jr – Disse o nome verdadeiro de Indiana Jones para provoca-lo. Jared abriu a boca com uma expressão indignada, mas engoliu as palavras arrancando algumas baixas gargalhadas de mim.

– Como é o seu nome? – Perguntou – Senhorita engraçadinha – Completou com um meio sorriso irônico.

– Hayley Thomas Campbell.

– O Jerry está bem? – Indagou com um meio sorriso sacana no rosto, fazendo-me pensar ao que ele estava se referindo, levando tempo até demais para processar sua brincadeira e responde-lo:

– Claro, quer dar oi a ele? Ele está aqui no meu estomago. – Rimos juntos por algum tempo, como se toda a tensão a nossa volta fosse quebrada de uma vez por todas.

– Você é legal. – Concluiu – Mas essa touca não é uma das melhores – Disse puxando a touca do meu moletom preto, expondo meus cabelos castanhos avermelhados para a fina garoa que duraria o dia inteiro.

– Não... – Resmunguei tentando puxa-la de volta para a minha cabeça, sendo impedida pelas mãos gélidas e pálidas do garoto loiro.

– Assim da para ver melhor seus olhos!

– Agora você é o Lobo mau?

– Talvez – Respondeu ainda segurando a touca.

– Pelo visto já se conheceram bem – Robert disse se aproximando de nós, parando alguns passos da pequena escada em que nós estávamos.

– Uhum – Jared disse largando minha touca que, em seguida, coloquei no lugar que ele retirara, protegendo meu cabelo daquela garoa fina e pesada.

Coloquei minha mão no bolso da jaqueta, sentindo um pequeno objeto em forma de tubo tocar a ponta de meus dedos longos e finos, e junto dele encontrava-se um pequeno quadradinho metálico e gélido.

Demorei a perceber que era uma bombinha que havia sobrado do dia anterior que corri as ruas do bairro ao lado de Robert, jogando as bombinhas na frente de quase todas as casas da rua, ouvindo-as fazerem um barulho infernal e quase em uníssono, assustando alguns vizinhos e provocando outros.

Não sabia se ela estava boa, parecia estar meio úmida, entretanto se o pavio estivesse bom, seria muito provável ela fazer um barulhinho infernal capaz de assustar ambos.

– Vamos jogar vôlei na quadra? – Robert indagou colocando suas mãos grandes dentro do bolso de seu casaco, chutando uma poça de água.

Agachei fingindo arrumar o cadarço do meu All Star velho e surrado, jogando a bombinha ao lado do corrimão da escada satisfeita por não terem reparado na presença do pequeno objeto faiscante.

– Tenho planos melhores – Disse marchando apressada em direção à quadra, olhando de relance para Jared e Robert que me curiosos com o que planejava fazer, mas até eles descobrirem que eu já havia feito.

Demorou mais que o comum, mas quando minhas esperanças estavam quase se esgotando, o tão esperado estouro rompeu o barulho da garoa contra aquele asfalto acinzentado, lançando Robert e Jared para longe da escada, tropeçando um no outro como se ouvissem o barulho do tiro de uma arma.

– Porra, o que foi isso? – Jared perguntou com a mão no coração, encarando a escada de olhos arregalados.

– Hayley... – Robert sussurrou meu nome, lançando um olhar cerrado em minha direção, preparado para correr atrás de mim.

– Haha, franguinhos – Provoquei correndo em direção à quadra, segurando minha touca em minha cabeça para que ela não caísse enquanto eu me esquivava de alguns alunos da escola, ganhando uma boa distancia entre Robert – que já corria atrás de mim – e Jared que ainda estava no chão.

Não sei, no fundo, Jared parecia um garoto legal e não pensava isso apenas por ter passado longas tardes fitando o garoto loiro silencioso, mas ele não parecia ser falso como os outros. Ele transmitia a mesma energia boa que Robert e parecia ser tão irritante e gentil quanto ele, mas com seu próprio jeito, é claro. Mas apenas o tempo dirá quem ele será e o que ele irá fazer em minha vida...

E foi essa a primeira vez que conversei com Jared... Eu o alertei que não deveria se tornar meu amigo... Pois agora ele é apenas mais um fantasma em minha mente conturbada, incapaz de decifrar o real do ilusório...

Mas se eu pudesse voltar no tempo e mudar as coisas, não faria nada diferente, pois ele e Robert me ajudaram a superar todas as minhas dores e a conviver com minha anormalidade, entretanto, se eu pudesse voltar no tempo, eu daria a minha vida pela de Jared sem pensar duas vezes, porque eu só quero fugir de uma vez desse caos, eu só quero descansar para sempre...


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Notas finais do capítulo

Oi gente sentiram minha falta? Me desculpem pelo mes de julho sem atualização... Mas eu mudei tanta coisa na minha vida que não tive tempo de sentar na frente do pc e escrever esse capítulo, sem contar que ele estava pronto mas o hd terminou. Enfim, o refiz e ficou muito melhor que o original, então estou muito feliz.
Espero que vocês tenham gostado e estejam entendendo que Jared nunca foi o vilão e que Hayley sentia uma afeição diferente por ele que não sentia por Robert. Jared pode ter sido mal - e era mesmo a intenção - mas no final, tudo o que ele queria era o bem de Hayley.

PS: Quem acompanha as outras histórias, não se preocupem, estou desenvolvendo os proximos capítulos delas e também a continuação do F&E.

Até a proxima e obrigada por me acompanharem mesmo com tanto atraso



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