Jared estava rígido em seu lugar, sentado diante ao volante. Ele me olhou pelo retrovisor algumas vezes antes de se pronunciar mais uma vez:

– Hayley, ele me contou! – Insistiu na mesma desculpa esfarrapada. Aquilo nunca iria colar.

– Vocês conversaram pela primeira vez no quarto e não ouvi nada disso! – Revidei.

– Pare de teimar, eu conversei com ele do lado de fora! – Tentei organizar os fatos dentro de minha mente e encaixar algum momento em que eles pudessem ter se encontrado, até mesmo por acaso, mas até onde sabia, Robert nunca saia do meu lado. Bem, se Violet não estivesse no meio, ele jamais sairia...

– Me poupe – Disse por fim saindo de dentro do carroe fechando com força a porta atrás de mim.

Caminhei mata adentro seguindo a trilha fraca do acampamento. Pude ver alguns restos das faixas amarelas enroladas em algumas arvores e algumas flores secas em homenagem as vitimas. Era incrível como permaneceram ali após tanto tempo.

O ar estava denso sendo difícil respirar e uma manta de neblina cobria toda a região como se a excluísse do resto da floresta. Era assustador e de dar arrepios. Não queria ir mais para o fundo, mas deveria esclarecer algumas coisas de uma vez por todas.

Obriguei-me a ir me aproximar mais do centro da campina e tentar encontrar algum lugar que me lembrasse de alguma coisa, mas nada que eu fizesse trazia as memorias de volta a minha mente, apenas em determinadas horas ou em sonhos durante a noite.

– Volta aqui Hayley! – Jared ordenou logo atrás de mim puxando-me pelo braço.

– Agora vai me dar ordens? – Puxei meu braço com tudo parando de frente para ele – Você sabe que eu odeio mentiras! – Gritei. Eu poderia tolerar qualquer coisa estupida, sem logica e até minhas lagrimas derramadas por culpa de algum idiota, mas mentir para mim era o pior erro que qualquer um poderia cometer e, ultimamente, Robert e Jared faziam muito disso.

– Só não vale a pena ver nada aqui a policia já tirou tudo e a chuva tomou conta do resto! – Gritou de volta. Ele me empurrou contra uma arvore pressionando meu corpo entre ele e o tronco atrás de mim. Estava ficando um pouco assustada, mas a vontade de acerta-lo era ainda maior, porem eu era impedida pelo pouco de piedade que restava.

– Essa foi a arvore em que eles te encontraram sangrando e próxima da morte! – Sua palavras se chocaram contra meu rosto como se fossem pedradas. – Foi aqui em que te encontraram com a cabeça sangrando! – Gritou. – Foi aqui que eu e Robert quase te perdemos! – Ele se afastou de mim com as mãos tremulas. – Foi aqui onde tudo piorou... – Sussurrou.

Cai de joelhos diante dele começando a chorar com as mãos contra o meu rosto lembrando de alguns flashes daquele momento.

– Ela vai ter sorte se sobreviver... – Um paramédico negro disse ao colocar a tala ao redor da minha cabeça me imobilizando.

– Ela tem que sobreviver! – Jared gritou aos prantos.

– Estaremos fazendo o possível – O outro paramédico disse. – Mas se ela sobreviver, ela vai ter toda a sorte que seus amigos não tiveram... – Suspirou e olhou para a direita onde se concentrava um grupo numeroso de policiais tirando fotos e marcando certos pontos no local para investigar posteriormente.

– Hayley? – Robert chegou correndo desesperado e sem folego com a camisa branca completamente suja de terra.

– Ela vai ficar bem... – Jared disse lentamente como se quisesse acreditar em suas próprias palavras.

– Você é um imbecil! – Robert gritou. Em um rápido movimento ele levantou o amigo pela jaqueta o jogando para a frente contra uma arvore. Ele correu na direção de Jared pronto para chuta-lo quando alguns policiais o seguraram até se acalmar. Ele resistiu por muito tempo antes de se render e esfriar a cabeça.

– Eu não tive culpa... – Jared sussurrou em meio as lagrimas.

– Eu sei... Eu que tive... Deveria ter cuidado de alguns assuntos antes de deixa-la longe... – Robert sentou-se desolado em uma pedra logo em frente ao meu corpo sendo ajeitado pelos paramédicos em uma espécie de tábua.

– Nós deveríamos... – Jarry ressaltou – Mas ela vai ficar bem... Ninguem vai embora antes de resolver seus assuntos pendentes... e esse será o assunto dela por muito tempo... – Sentou-se ao lado do amigo com o rosto enterrado em suas mãos.

– Você acredita mesmo nessas coisas? – Indagou irônico.

– Diante de tudo o que sabemos? Sim. – Foi indiferente.

– Do que você se lembrou...? – Jared perguntou parado de joelhos a minha frente.

Ele me fitava com serenidade e pegou minhas mãos nas suas entrelaçando nossos dedos. Seus olhos sempre me desconcertavam ainda mais quando estavam focados nos meus esperando algo de mim. Não conseguia dizer nada, estava em choque e paralisada com minha lembrança sem contar que minha cabeça latejava miseravelmente me dando náuseas.

– O que você e Robert sabem?– Forcei meus lábios a se moverem e dar inicio ao meu interrogatório.

– Não podemos contar... Você tem que descobrir por conta própria... – Suspirou derrotado e se pôs de pé ajudando-me a levantar também. – O que mais?

– O que ele quis dizer com cuidar de alguns assuntos? – Tentei obter uma resposta com uma pergunta diferente. Não estava conseguindo organizar as palavras direito em minha mente e não deixei de ficar irritada com ele, mas o que aconteceu anteriormente não tem tanta relevância, agora que estamos tendo uma conversa civilizada e ele não me impediu de ver a campina.

– Robert nunca me contou seus problemas, pensei que você fosse a única a saber... E os meus, nada importante, apenas deveria ter cuidado mais de você aquele dia ao invés de ter saído dali... – Murmurou frustrado. Ele estava me lembrando o Jared que conheci naquela época e por quem me apaixonei deixando para tras aquela mascara de vilão criada por Robert e, consequentemente, pelo meu subconsciente na tentativa de esquece-lo com mais facilidade.

– Porque você saiu ? – parecia que eu estava fazendo um interrogatório policial.

– Não importa... – Odiava essa resposta. Como ele queria se passar por inocente se ele não provava isso?

– Me diga... Por favor... – Disse em um tom de suplica e depois senti nojo de mim mesma por isso.

– Você iria me odiar...

– Talvez não...

– Eu precisava falar com uma pessoa... – Desviou o olhar para o chão decepcionado consigo mesmo. Pude sentir uma leve alteração dentro de mim e meus nervos se contorcerem. Meu ciúmes estava aflorando em minha pele, pois naquela época nós estávamos prestes a namorar e se tivesse outra garota envolvida eu o esganaria.

– Quem? – Rosnei. Para eu chegar a esse ponto, significava encrenca.

– Uma garota... E não era uma qualquer...

– Jared... – Balancei a cabeça negativamente tentando ignorar os milhares de pensamentos confusos e acalmar meus nervos.

– Eu posso esclarecer tudo, não é nada que você está pensando! – Disse apressadamente – Mas por hora você não precisa saber de nada. – Ele olhou para a copa das arvores e procurou um feixe de luz que anunciava estar anoitecendo. – Está tarde e Robby está te esperando. – Finalizou marchando até seu veículo.

– Robby? Olha a intimidade – Debochei seguindo logo atrás dele.

– Você e seu humor até nas horas mais tensas – Riu comigo e entramos no carro seguindo de volta para a “civilização” onde encontraria meu amigo e esclareceria mais algumas coisas, afinal, parecia que agora tudo iria se encaixar aos poucos se eu conseguisse ligar todos os pontos.