Forever & Ever escrita por soulsbee


Capítulo 14
Pequenas lembranças, grandes momentos


Notas iniciais do capítulo

Sempre existe um dia em que qualquer coisa que façamos nos lembra de algumas coisas bobas e que nos marcaram de uma maneira incrivel...e é isso que nos faz passar horas e horas ouvindo musicas para completar essa sensação maravilhosa de ter vivido aquilo e triste por ter acabado...



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Esqueci completamente de tudo o que havia ‘planejado’ fazer e fiquei ali encarando os dois rindo e se divertindo juntos e só reparei que havia mais pessoas em volta quando um carro atrás de mim buzinou freneticamente para mim quando o semáforo abriu e eu permaneci parada por um longo período.

– Vai dormir em casa! –O homem gritou de seu carro quando passou ao meu lado.

– Agora você vai ver uma coisa! – Resmunguei alto e acelerei o meu carro iniciando uma ‘perseguição’ ao sedan preto e reluzente daquele homem.

Ele se deu conta daquilo e acelerou mais ainda tentando se afastar de mim. Olhei para o velocímetro e reparei estar dirigindo a 90 km em uma pista de 60 km. Minha sorte era que quase não tinha muita fiscalização policial naquela área. Quando fiquei a poucos centímetros de seu carro, ele aumentou sua velocidade e cortou vários carros abrindo uma vantagem maior de distancia. O observei sorrir pelo seu retrovisor enquanto me encarava. O carro que eu estava dirigindo era velho, comparado ao novo modelo que meu inimigo estava usando, mas, apesar de tudo, ele era rápido o suficiente para alcança-lo.

Ultrapassamos alguns sinais vermelhos e o segui para uma pequena trilha na floresta que ele utilizou para cortar caminho e sair na outra pista onde seu carro deu uma pequena derrapada fazendo-o diminuir gradativamente sua velocidade, mas ainda permanecer na minha frente.

Puxei o freio de mão e virei o volante para a direita em um movimento rápido fazendo meu carro dar um pequeno cavalo de pau na pista e ganhar um pouco mais de velocidade alcançando pouco depois. Nossos carros estavam completamente próximos. Pisei mais forte no acelerador batendo levemente na traseira de seu carro. Percebi um pequeno amasso surgir em seu para-choque traseiro.

Com minha investida, ele reduziu sua velocidade parando alguns metros depois no acostamento da estrada. Estacionei atrás dele e desci do carro observando-o ficar nervoso com a minha... Petulância.

– Qual é o seu problema? – Perguntou de dentro do carro.

Ele saiu do carro batendo a porta com força. O observei pelas costas. Ele era alto, talvez, uns seis centímetros mais alto que Robert. Seu cabelo loiro estava arrumado em um penteado comportado de gel e estava vestindo um jeans preto com uma varsity vermelha de mangas brancas. Quando ele se virou, a primeira coisa que vi em seu rosto foram seus olhos verdes escuros e penetrantes. Ele tinha a barba mal feita e a pele pálida.

– Você me irritou – Dei de ombros desviando de seu olhar penetrante.

– E por isso me perseguiu por milhares de quilômetros e fez isso com meu carro? – Fez o pequeno amasso parecer uma batida grave de dois caminhões incontroláveis.

– Sim. – Respondi com um tom de deboche.

– Problemática!

– Playboyzinho! – Revidei deixando-o ainda mais nervoso.

– Escuta aqui, você não pode julgar ninguém pelas aparências, se não, tenho o direito de te chamar de moleque! – Jogou na minha cara ao observar minhas roupas.

– Ah, por favor! – Revirei os olhos e joguei os braços pra cima. Para varias, sempre os mesmos comentários.

Dei as costas a ele e fui para o meu carro. Ouvi-o gritar algo para mim, mas não entendi. Apenas o ignorei, liguei o carro e fiz o retorno seguindo em direção a minha casa.

Durante todo aquele caminho, não consegui tirar o rosto dele da minha mente. Algo nele, não sei o que, chamou-me completamente a atenção e não saber o que era estava me incomodando.

Encontrei Robert sentado na porta da minha casa me aguardando e me observou estacionar o carro sem dizer nenhuma palavra. Algo que era completamente estranho nele.

– Oi Rob – Disse forçando um pequeno sorriso no rosto. Afinal, acabara de relembrar seu ‘encontro’ com Violet e acabei ficando de mal humor.

– Ah, oi – Respondeu como se estivesse pensando.

– O que você fez hoje? – Perguntei tentando descobrir algo.

– Nada, só falei com a Violet e tal...

– Quem? – Fingi não me lembrar dela.

– Uma médica ai...

– Sobre?

– Sobre qualquer coisa.

– Tipo?

– Tipo tudo

– Tudo o que?

– Hayley, da pra parar? – Reclamou do meu interrogatório e eu comecei a rir. – Para de rir! – Pediu grosso.

– Não posso mais brincar? – Perguntei diminuindo o riso e percebendo-o completamente sério.

– Não e porque você estava dirigindo? Você não está bem para isso!

– Até você?

– Qual é você não está bem, sabe disso e ainda teima em fazer certas coisas. Sabia que poderia ter batido o carro? – Advertiu-me nervoso.

– Eu tenho alucinações, paranoias e qualquer coisa do gênero, mas elas não são constantes e nem as respiro a cada segundo! Eu também tenho vida! – Respondi no mesmo tom que ele utilizou.

– Você realmente é teimosa. Cansei de tentar te ajudar, vou é viver minha vida. – Foi sua ultima frase. Então, ele passou por mim e andou em direção a sua casa.

– Qual é o seu problema? – Perguntei, mas ele não respondeu, nem ao menos olhou para trás.

Bufei alto e bati meus braços contra meu corpo. Como é possível, em uma hora tudo estar bem e pouco tempo depois as coisas mudarem tão drasticamente? Porque até algumas horas atrás estávamos sorrindo e zoando e agora isso ai: Ele irritado, mandão e incompreensível.

Entrei na minha casa e fui para o meu quarto. Peguei um controle de vídeo game, joguei-me em minha cama, liguei a tv com o controle remoto e continuei jogando de onde havia parado; uma caverna cheia de monstros chatos de matar.

Tentei me distrair com aquilo, relaxar, mas não consegui tirar a imagem de Robert naquele lugar com Violet, nem consegui tirar a imagem daquele garoto do carro e não consegui fazer minha mente parar de repetir aquelas ultima palavras que meu amigo disse agora a pouco.

Não me concentrei no jogo, morri diversas vezes em sequencia, algo que raramente acontecia, ainda mais quando eu sabia até as falas daquele jogo de tanto que havia zerado... Resumindo, fiquei ainda mais irritada e nervosa, minha cabeça começou a doer e eu estava virando refém da minha própria mente incalavel.

Quando não eram minhas paranoias era isso, será que nunca vou ter paz? Bem, pelo menos, Jared não me irritava a um bom tempo... Mas, devo admitir que eu gostava da presença dele... Mesmo apesar de tudo... E eu me sentia uma completa idiota por aquilo e por não me lembrar o que aconteceu naquela noite que deixou minha vida pelo avesso...

Desliguei meu vídeo game, coloquei meus fones de ouvido e tentei dormir, mas fechar os olhos apenas intensificou aquelas lembranças. Aumentei o som da musica e tentei me concentrar em seus solos e no que eles diziam, mas, para piorar, todas as que ouvi, principalmente Lithium me lembraram ainda mais de Robert e das coisas que vivemos...

Era quase setembro de 2004, tínhamos nove anos e estávamos na casa de praia dos meus pais. Passamos quase todos os verões ali longe de tudo e todos. E, como em todos os outros anos, a praia estava cheia naquela época. Podíamos ver crianças empinando pipas ao longe e outras no mar acompanhada de seus pais que tomavam banho de Sol. Enquanto isso, os adolescentes jogavam vôlei em um canto mais afastado. Eles faziam pequenos campeonatos entre si e permaneciam jogando desde o amanhecer até o Sol se por no horizonte. Eram assim quase todos os dias das férias...

– Hayley, pare de ser besta e venha aqui! – Robert disse.

– Não. – Resmunguei.

– Vem cá, qual é o seu problema? – Perguntou.

– Só não quero andar de bicicleta, entendeu?

– Aham, medrosa – Provocou-me.

– Não sou medrosa! – Gritei em defesa – Só não quero, sou livre para tomar minhas próprias decisões! – Disse de braços cruzados.

– Ta com medo, popopopo – Disse e começou a imitar uma galinha cacarejando.

– Não estou e vou provar! – De tanto ele me irritar, subi na minha pequena bicicleta e comecei a pedalar rapidamente pelo calçadão da praia enquanto ele me seguia.

Eu estava apreensiva, afinal, da ultima vez que havia subido em uma bicicleta eu tinha quebrado o braço em um tombo e estava com trauma daquilo, uma vez que fiquei mais de três meses com o braço engessado.

Pedalei o mais rápido que pude afastando-me dele e dando inicio a uma corrida amistosa que teria fim ao chegar à outra ponta da praia. Estava indo muito bem, tanto é que já havia chegado perto dos jogadores de vôlei, o que sugeria faltar poucos metros para a minha vitória. Eles estavam ouvindo uma musica muito boa, Lithium, que havia me marcado algum tempo atrás quando sempre tocava na radio que meu pai mais gostava de ouvir. Eu passava as tardes ouvindo aquela musica e vendo-o trabalhar em sua oficina no tempo livre criando algumas coisas supérfluas que nunca entendi o que eram.

Fiquei completamente distraída com a musica tendo lembranças daquele dia quando bati em uma pequena pedra e fui arremessada longe da minha bicicleta caindo no asfalto e escorregando alguns metros à frente antes de parar. Senti minha pele sendo cortada e reparei algo branco passando ao meu lado.

Levantei-me desesperada e cambaleando, meus olhos se encheram de lagrimas e comecei a chorar de dor. Passei a língua nos dentes e senti um buraco no fundo. Olhei para o chão e notei que aquele algo branco que havia passado ao meu lado era meu dentão da frente. Olhei para as minhas mãos e as sangrando devido aos vários cortes.

Robert jogou sua bicicleta no chão e correu para o meu lado tentando me ajudar, mas ele entrou em desespero ao me ver toda machucada e perdeu a reação. Algum tempo depois, ele pensou e pediu-me para esperar. Então, subiu em sua bicicleta e correu de volta para casa para pedir ajuda. Minutos depois, meus pais estavam no local do acidente de carro colocando-me lá dentro e me levando para um hospital.

Robert ficou o caminho todo triste e pedindo-me desculpas por me ter feito andar de bicicleta. Disse a ele que a culpa não era dele e que ele não havia me forçado a nada, mas, mesmo assim, ele estava apavorado e sentindo-se completamente culpado.

Mas, enquanto eu chorava, ele começou a cantar Lithium, afinal, provavelmente percebeu que eu havia ficado agitada e dispersa com aquela musica e, pouco tempo depois, mesmo com tudo doendo, eu estava o acompanhando e esquecendo-me da dor...

– Idiota – Comecei a rir daquela lembrança dolorosa. Fazia tempo, mas eu ainda podia ouvir o barulho do pneu de minha bicicleta girando e o barulho da correia solta após o meu tombo.

Aquela lembrança durou exatamente o mesmo tempo que a musica durou e então, minha playlist aleatória começou a tocar The Only Exception, o que me levou a outra lembrança um pouco menos antiga.

Era maio de 2008 e eu estava na escola jogando vôlei com Robert e alguns outros amigos. Estávamos na quadra de fora isolados de todo o resto em uma pequena roda. Rimos, contamos piadas, não falávamos nada com nada, apenas conversávamos e tentávamos manter a bola em jogo, mas errávamos toda hora. O Sol da tarde estava batendo em nossas peles passando uma sensação de conforto. Não prestávamos atenção no resto do mundo quando fazíamos aquilo, na verdade, nos esquecíamos deles e apenas ficávamos ali nos divertindo durante a aula.

Robert colocou The only exception em seu celular e começamos a ouvi-la e canta-la em perfeita harmonia... E ele deu replay nela umas cinco vezes seguidas sem que enjoássemos, pelo contrario, gostávamos ainda mais...

Sorri de saudades daquilo enquanto algumas lagrimas rolavam pelo meu rosto... Velhos tempos inigualáveis e que jamais voltariam... Eu ainda não tinha ido para o acampamento, meu grupo de amigos era inabalável e minhas paranoias não eram constantes, alias, naquela época, elas apareciam uma vez ou outra e eram raras.

– Saudade é o preço que pagamos pelos bons momentos... – Suspirei e, com esse pensamento, dormi.


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