POV Katherine

Fácil.

Estava ai uma palavra que eu não sabia o significado desde que eu havia morrido. Todo o meu processo de adaptação eu tinha passado sozinha, e como se não bastasse isso, tinha a saudade enorme de minha família e também de Damon. E ali estava eu de novo sofrendo por ele, com seu corpo deitado em meu colo enquanto uma força sobrenatural do mal tentava se apossar dele. Stefan estava sentado do meu lado com lágrimas não derramadas em seus olhos. Ele segurava as mãos de Damon, que se contorcia e pedia para Vadik deixa-lo em paz. Elijah, Caroline e Klaus conversavam ao longe sempre olhando preocupados em nossa direção.

– Por favor, por favor! Não deixem ele se apossar de mim novamente! Stefan... – Damon chorava olhando fixamente para seu irmão.

– Nós vamos conseguir evitar isso, irmão. Tenha fé! – Stefan murmurava em resposta.

– Kathe... Katherine, me perdoe meu amor. Me perdoe por tudo. – Ele agora me olhava enquanto lágrimas escorriam tanto pelo seu rosto, quanto pelo meu.

– Não há o que te perdoar meu amor. Eu te amo. – Solucei.

Ouvindo isso, Damon fechou brevemente seus olhos, mas seu rosto se contorceu em uma careta de dor e ele abriu a boca em um grito mudo, com seu corpo convulsionando em meu colo.

– Stefan? Stefan, o que faremos? – Perguntei assustada segurando a cabeça de seu irmão. Seu olhar era desorientado e perdido.

– E-e-eu não sei. – Ele gaguejou.

O corpo de Damon arquejou em meu colo, enquanto um murmúrio estranho começou a sair de sua boca.

– Vocês acharam que ele teria força suficiente para me controlar? – Aquela era a voz de Vadik.

Em um instante Damon/Vadik saiu do meu colo e foi parar do outro lado do espaço em que estávamos. Por reflexo, vi Caroline sumir do lado de Elijah e Klaus.

– Damon, não deixe ele assumir o controle! Lute irmão! – Stefan gritava ao meu lado enquanto uma risada estranha saia dos lábios de Damon.

Seus olhos alternavam entre o azul que eu tanto conhecia e o vermelho que representava.

De repente, senti uma mão puxando meu braço.

– Você vem comigo. – Caroline sussurrou nos levando de volta para o carro em Mystic Falls.

– Caroline! – Arfei surpresa. – Por que você me trouxe de volta? Eu preciso voltar e tentar trazer Damon de volta!

– Eu sei, e é isso que estamos tentando fazer. Há uma possibilidade de conseguirmos livrar Damon da possessão, mas preciso de sua ajuda.

– O que eu preciso fazer? – Perguntei.

– Temos que ir para casa e procurar um livro antigo. – Ela respondeu

Sem perguntar mais nada, me concentrei na casa de Stefan, e logo eu estava na sala de estar e Caroline já vasculhava a estante na minha frente.

– Que livro é esse, Caroline?

– Um de aparência bem antiga, com uma capa preta e letras douradas em latim.

Procuramos toda a estante sem obter nenhum sucesso, e depois fomos para o quarto de Stefan, que parecia mais uma biblioteca do que outra coisa. Após uns 10 minutos, Caroline o encontrou e o folheou, fazendo com que caísse um pequeno saquinho.

– O que é isso? – Questionei.

– Essa é a salvação de Damon. – Caroline deu um suspiro aliviado. – Agora preste bem atenção no que eu vou te explicar.

POV Stefan

Aquele com certeza era um dos piores dias da minha vida. Ver Damon perdendo o controle de si mesmo para um ser do mal fazia com que meu coração doesse mais do que a dor que senti quando morremos na nossa casa que pegou fogo na Itália, ou quando eu via Elena se ferir. Seus olhos pediam socorro, mas ao mesmo tempo transmitia a arrogância do ser que estava o possuindo. Como poderíamos matar o mal sem afetar meu irmão?

Eu, Elijah e Klaus estávamos ao redor de Damon/Vadik, para impedir qualquer ataque, ou para auxilia-lo na luta que dele para não ceder seu corpo ao espírito, e uma parte de minha consciência questionava onde Caroline e Katherine haviam se enfiado. Gotas de suor desciam pelo rosto de meu irmão, enquanto ele grunhia e arfava.

– Stefan, eu não estou aguentando mais. Ele vai conseguir me dominar. – Damon murmurou com os dentes cerrados.

– Mesmo que ele consiga, nós daremos um jeito de te salvar. Não desista, irmão!

E assim que eu fechei minha boca, Damon soltou um grito de desespero agudo, enquanto as mesmas asas negras que eu tinha visto mais cedo despontavam imponentes em suas costas. Vi o momento exato em que seus olhos deixaram de ser azuis e se tornaram novamente vermelho sangue

– Damon. – Sussurrei horrorizado dando um passo em sua direção.

– Não, Stefan! – Klaus segurou meu braço. – É tarde!

– Sim, já é tarde e provavelmente vocês não voltaram a vê-lo novamente. – A voz bestial de Vadik saia da boca de meu irmão.

– Maldito! – Gritei puxando meu braço da mão de Klaus e partindo para cima de Vadik.

Como em um passe de mágica, ele se desviou rapidamente de mim e cravou sua espada em minha asa esquerda. Meu grito ecoava enquanto eu sentia o sangue começar a escorrer pela ferida que ardia mais do que tudo. Logo em seguida, vi Elijah e Klaus partindo para cima de dele sem obterem sucesso, mas em um movimento estratégico, Klaus conseguiu acertar a espada na coxa de Vadik, fazendo-o cair de joelhos e soltar um grito mais alto do que o meu.

– KATHERINE, AGORA! – Elijah gritava olhando para os lados, esperando uma resposta.

Surgindo do nada, Katherine apareceu na frente de Vadik/Damon, segurando um livro preto e sendo amparada por Caroline. Sua asa esquerda sangrava assim como a minha, mas ela parecia ignora-la propositalmente. Vadik olhou confuso para ela através de sua mascara de dor e depois um sorriso de escarnio surgiu em seu rosto.

– Ora se não é a Delicia Gilbert que eu tanto queria a alma para minha coleção. – Ele disse.

– Shhhhh. – Katherine sussurrou serenamente colocando o indicador nos lábios dele. – Esse não é você e agora quem fala é eu.

Vadik/Damon parecia estar começando a se desesperar, mas aparentemente ele não podia se mexer. Juntando o resto de minhas forças e segurando minha asa ferida, fui para perto de Katherine para ver o que ela estava fazendo.

– Você é uma das coisas perfeitas que o Pai criou, sendo seu corpo a Sua morada viva, e assim, nada nem ninguém pode usa-lo nem tomar posse dele. – Katherine começou a falar, enquanto enfiava o indicador no pequeno saquinho que Caroline segurava ao seu lado. Vadik/ Damon arregalou os olhos assustado, como se aquele gesto dela estivesse decretando a sua morte. Ela começou a desenhar algo invisível na testa dele. – Nada nem ninguém voltarão a te habitar.

Ao ouvir Katherine, Vadik soltou um grito forte e seus olhos ficaram totalmente pretos. As nuvens que anteriormente estavam claras agora estavam escuras, trovões ecoavam no céu e um vento forte começou a soprar, mas ela não se deixou abater.

– E como foi dado a ordem, agora eu te digo: lute, Anjo Damon, porque seu esforço será recompensado e sua alma e corpo serão livres.

– NÃO! – O espirito possessor gritou começando a balançar a cabeça, interrompendo o desenho que Katherine fazia.

Elijah, Klaus e eu nos olhamos e sem dizer nenhuma palavra, fomos para cima de meu irmão o segurando enquanto Katherine colocava o dedo novamente em sua testa.

– E por mim você deu a sua vida, e agora eu te dou o meu amor e sua salvação.

Katherine sussurrou olhando fixamente os olhos totalmente negros em sua frente e logo após começou a falar palavras que mesmo em latim, era perceptível que eram de exorcismo. Vadik começou a se sacudir mais violentamente e seus olhos alternavam do negro mais profundo, para o azul mais claro. Quando Katherine terminou o desenho na testa de meu irmão, ela se inclinou para frente até seu rosto estar a poucos centímetros do dele, e sussurrou: “Damon, volte para mim” e em um gesto que ninguém esperava, ela encostou brevemente seus lábios nos dele. E naquele momento o vento parou e os trovões não ecoaram mais, mas uma chuva fina começou a cair abafando o grito que saia da boca de meu irmão. Damon caiu desmaiado no chão, as asas negras dando espaço para as asas claras, enquanto um vento arrepiante soprava ao nosso redor e a voz fraca de Vadik ecoava se distanciando e dizendo “vocês me pagam, Salvatore”.

Sentei no chão colocando a cabeça de meu irmão em meu colo, enquanto lágrimas insistiam em cair dos meus olhos, e vi Katherine também sentar totalmente fraca se apoiando em Caroline. Elijah fechou os olhos em uma prece silenciosa aos céus e Klaus se aproximava de seu irmão. Notei quase inconscientemente que não havia mais ferida em minha asa, e nem na de Katherine. Olhei para a perna de Damon e vi que a água da chuva curava sua coxa machucada.

Enquanto observava fascinado sua perna se curando, ouvi um múrmuro baixo:

– Pelo menos minhas perfeitas asas claras voltaram. – Damon suspirou ironicamente me fitando com os olhos azuis que eu conhecia desde sempre.

Finalmente meu irmão estava de volta.