Marlon não havia dormido a noite inteira apesar de ter se ido deitar bem cedo na tarde do dia anterior...sem se levantar sondou o calendário com o olhar. Quarta-feira. É...mais um dia de aula perdido...mas só de pensar em sair da segurança de sua casa Marlon já era acometido por tonturas e pela vontade de cair em prantos. Sem dúvida o medo havia se expandido ao ponto de se tornar uma crise de pânico. Ele sempre soube que era fraco pra esse tipo de situação trágica. Não queria nem ao menos pôr os pés para fora da coberta. Naquele momento o edredom era como uma espécie de barreira sagrada, um protetor contra tudo...parecia mais seguro ali, soterrado pela colcha grossa azul e branca.

Mais tarde ainda na quarta, a campainha da casa toca e Marlon desejou ardentemente que tivesse alguém em sua casa para atender e dizer que ele não estava, mas ele estava só...era emancipado pois seus pais viviam viajando e não tinham tempo para ele. Levantou já a tremer, a cama de solteiro praticamente implorava para que ele permanecesse mas ele precisava atender...vai que era importante. Era Camila...ela entrou e ficou um pouco, ouviu e aconselhou...resolveu dormir na casa do amigo, ele estava precisado, ligou para a tia e avisou que ali ficaria até o outro dia. Marlon se animou um pouco.

Camila terminou de ajeitar os sofás, ela ficaria no menor e ele no maior. Marlon saiu do banheiro, os cabelos pingando água, exalando cheiro de sabonete e limpeza. Ela gostava bastante dele...sua beleza morena, seu humor sociável, sua amizade...era estranho vê-lo tão abatido, tão preso e não comunicativo, tão distante dela. Deitou-se. Marlon entrou no quarto para pegar o celular. Havia uma mensagem: Cuidado (: sou ciumenta.

Ele mostrou a mensagem para Camila, os dois tensos, trancaram toda a casa e se foram deitar. Logo adormeceram. De madrugada Marlon despertou, olhou na direção de Camila por reflexo. Sofá vazio. Pulou do estofado e caçou pela casa. Foi até a cozinha. A geladeira estava aberta e sua luz clareava a cozinha. A porta da cozinha que dava para o quintal dos fundos estava também aberta. No chão havia um rastro enegrecido de sangue. Como se um enorme pedaço de carne tivesse sido arrastado porta afora. Marlon liga se prepara para ligar para a polícia mas no celular há uma mensagem: Nada de polícia ,hein? (:

Marlon ligou mesmo assim, explicou o que tinha acontecido...os policiais cercaram a casa e o mandaram para casa de um amigo. Ticiane o recebeu. Ela estava sozinha com a irmã mais nova que Marlon nem sabia que ela tinha, mas tudo ficaria bem, a polícia estava a fazer rondas por ali. Ticiane foi tomar banho e avisou que era para Marlon não se assustar pois sua irmã mais nova chegava sempre tarde pois vivia enfurnada na casa dos falecidos avós que agora estava vazia...a menina sofria com a perda dos dois,havia sido um choque então a família dava liberdade para ficar no quintal vivendo de lembranças. Se ela gostava então...

Marlon estava no sofá da sala quando a porta abriu. Ele olhou para os pés do visitante. Provavelmente a irmã mais nova de Ticiane. que estranho, nem estava chovendo...por que usava galochas???