Ele me olhava meio com raiva mais ao mesmo tempo curioso, eu tinha que contar e tinha fazer com que ele me contasse. Estávamos sentados em um banco debaixo de uma árvore que dava muita sombra, era um pouco escondido da praia e às vezes passavam pessoas. Ele se mantinha em silencio olhando o nada a nossa frente, eu estava pensando em como começar o belo discurso.

- Preciso que confie em mim... - comecei meio sem saber o que falar.

-Confiar em alguém que nem conheço e estava me falando um monte de besteiras sobre mim... Nem pensar! - ele falou me encarando e vi que os olhos tinham assumido o tom natural, avermelhados.

- Esta aqui não esta? Já é um bom começo!

- Talvez...

- Eu sei exatamente o que você é! - ele me olhou descrente.

- Serio? E o que eu sou?

- Um mutante! - falei confiante e ele soltou uma gargalhada e fiquei meio confusa.

- A, por favor! - ele se levantou e imediatamente eu girei e fiquei a sua frente, movi minhas mãos devagar e a água do chão se levantou ficando na direção dos seus olhos arregalados.

Eu sabia que estava arriscando demais, e se ele não fosse o dominador? Eu estaria ferrada de vez.

- Somos parecidos... - falei deixando minhas mãos caírem e a água ir junto.

Ele se manteve em silencio me olhando um pouco assustado, depois se sentou de novo e parecia pensar em algo importante e eu esperei paciente antes dele falar.

- Como sabe sobre mim?

- Bom... Eu notei a cor dos olhos e depois que toquei sua pele tive certeza.

- Entendi... Mais o que você quer?

- Lembra quando eu disse que morava um pouco longe? - tentei

- Sim.

- Não moro em uma casa comum... Desde que eu tinha 13 anos eu moro lá. É a única família que eu tenho e que me aceitou. O João criou aquele lugar pra ajudar pessoas especiais como nós, proteger mutantes raros e que não tem controle dos seus dons.

- E quem é João? - ele me interrompeu.

- Ele é um protetor, tem um dom raro que talvez só exista dois no mundo e ele sabe como é difícil ser diferente e sabe que FEM esta por ai e quer eliminar os que têm DNA diferente e não é atoa que se chama "Fundação Eliminadora de Mutantes", é meio clichê, eu sei, mais infelizmente é real.

- Eu já dei de cara com ela algumas vezes! - ele sorriu com a lembrança.

- Já tem um tempo que o João está procurando os outros dominadores além de mim, somos únicos Henrique e muitas coisas aqui depende de nós, quando um elementar morre tem outro pra substituir, porque o planeta precisa de nós e não são todos que entendem isso.
Podemos te ajudar, queremos proteger os quatro elementos e conseguir dominar inteiramente o nosso dom.

- Eu acho isso muito bom, que ajudem outros mutantes e que são legais, mas eu não preciso de ajuda!

- Tem mesmo certeza disso?

- Claro que sim. E também como eu vou saber se você esta falando a verdade?

- Terá que confiar! - dei um sorriso.

- Desculpe. Mais confiança não é algo que eu encontro por acaso. - ele levantou e pegou a mochila.

- Tudo bem e eu sei disso, mais, por favor, pensa bem... E se mudar de ideia vem falar comigo! - eu tirei um papel com o endereço do meu bolso e lhe entreguei.

- Vou pensar! - ele sorriu.

- Obrigado.

- Sabe não é todo dia que tem alguém que salva minha vida e depois me oferece uma casa pra morar! É um pouco suspeito! - ele sorria.

- Eu pareço ameaçadora? - dei um sorriso malicioso e ele me olhou de baixo pra cima.

- Na verdade não, mais pode ser uma armadilha! - ele agora brincava.

- Mais não é talvez seja sorte!

- Quem sabe!

Quem sabe... - repeti.

- Agora preciso ir, ate mais.

- Ate. - fiquei olhando ele andar pensativo e depois dar uma ultima olhada e virar a esquina.

Minha cabeça doía e eu queria correr e arrastar ele comigo mais sabia que nunca daria certo então me conformei e fui pro ponto de ônibus.

Assim que desci do ônibus olhei a padaria onde eu trabalhava, mais já estava fechada. Entrei no beco e empurrei um dos tijolos pra verdadeira porta se abrir e então andei pelo pequeno corredor e antes de me virar pronta pra subir as escadas eu ouvi sua voz baixa:

- Como foi à praia? - olhei e que ele usava uma camiseta de treino, uma calça de moletom e tênis. Os cabelos grisalhos estavam molhados e ele sorria educadamente.

- Foi maravilhosa! - fiz meu melhor sorriso.

- E então porque sua expressão não mostra isso?

- João eu encontrei! - ele me olhou curioso.

- O que?

- Encontrei o dominador do fogo! - seus olhos se arregalaram e ele deu um sorriso maravilhado.

- E onde ele esta?

- Não veio! - falei decepcionada.

- Como não veio Bia?

- Eu não podia arrasta-lo, mas fiz o que podia para convencê-lo e deixei um cartão com o endereço e tenho certeza que ele virá! - eu estava mesmo confiante.

- Eu realmente espero que sim e espero que seu charme funcione! - eu fiz uma careta e ele riu baixo.

- Vai funcionar! - sorri também.

- Finalmente teremos o dominador em segurança!

- Teremos! 

- Bom não vou mais tomar seu tempo, parece casada então descanse e depois conversamos.

- Obrigado! Boa noite!

- Boa noite Bia!

Subi as escadas com preguiça e entrei no quarto escuro, fui direto pro banho e deixei a água quente cair pelo meu corpo e minha mente flutuar no garoto que tinha descoberto, na sua beleza incalculável e na pele quente... Um sorriso leve brotou no meu rosto e sim, eu tinha certeza que ele viria. Viria ao meu encontro.