O barulho dos galhos das árvores balançando era quase insuportável, decidi levantar. Olhei as horas no celular, marcava 05h da manhã. Era uma boa hora para se levantar e para começar.

Troquei de roupa na maior rapidez possível, uma calça jeans, camiseta preta com uma jaqueta, tênis. Peguei os cabelos que estavam bem compridos e fiz uma trança.

O tempo estava agradável, nem muito quente e nem frio. Seria ótimo e quanto mais rápido eu encontrasse os idiotas da FEM mais rápido eu iria embora.

Desmontei a barraca e a guardei, peguei a mochila, coloquei nas costas e respirei antes de começar a correr mata adentro, as árvores passavam por mim como vultos.

Ouvi vozes ao longe a acelerei encontrando logo mais atrás de umas rochas dois agentes que para minha sorte eram da FEM.

- Agente devemos seguir rumo ao sul e encontra-lo o mais rápido possível. – um homem com a pele cor de chocolate falava ao outro baixo e moreno claro.

- Sim comandante, antes que ele resolva ir ate a cidade!

- Já mandei o agente 25 de volta ao comando ao norte e agora nós seguiremos em procura ao vampiro número 13!

- Sim comandante!

Revirei os olhos e corri dando meia volta. Quer dizer então que eles davam números aos mutantes? Coisa mais ridícula! Pelo menos peguei uma boa informação, a cede da FEM estava ao norte.

Será que o vampiro que eles estavam procurando era o que me atacou ontem à noite? Eu espero que sim, porque isso ira mantê-lo ocupado e assim não vem me encher a paciência com bobagens sobre os outros elementos. Eu nunca tinha visto nenhum dos outros dois dominadores a não ser o garoto extremamente lindo que vi na praia outro dia. Eu ate podia dizer que era um vampiro ou um mutante qualquer, mas seus olhos o condenavam, mais ai tive certeza que era um dominador quando vi o símbolo no seu braço esquerdo.

Ate falaria com ele, mas não estava com tempo suficiente para perguntar se era um dos dominadores, isso realmente não me interessava.

Virei perto de algumas árvores que eu considerava enorme. Um cheiro novo me acertou, não era do vampiro folgado da noite anterior na verdade esse novo cheiro era bom, um toque leve de eucalipto no ar.

Era quase atraente demais. Um humano qualquer se deixaria levar por esse cheiro, mas claro que não perderia meu tempo com isso ate sentir que estava sendo seguida.

O cheiro bom vinha a alguns quilômetros atrás de mim, não sei quantos, mas o suficiente para que eu percebesse sua presença. Mais que droga! Seguida de novo!

Não me importava quem era, se me atrapalhasse com alguma coisa eu não mediria esforços para arrancar sua cabeça e tirá-lo do meu caminho.

***

Felipe

Saímos da sala do João, percebi que o Henrique não tinha ficado muito feliz com noticia de termos que viajar todos juntos. Ate a Kate iria conosco e de certa forma eu fiquei feliz pelo João ter aceitado a amizade da Bianca com ela. A Kate era uma amiga, principalmente quando era para ajudar.

A Bianca voltou para o quarto com uma expressão meio triste, o Rick fez o mesmo e assim passou por mim pude ate sentir o ódio fluir dele. Suspirei e a Kate me puxou pela mão ate descermos as escadas.

- Parece que ele foi com a minha linda carinha! – a Kate falou assim que parei perto da porta de saída.

- Quem não vai com a sua linda carinha Katherine? – perguntei sorrindo.

- Tem razão anjo! – ela sorriu mostrando os dentes.

- Você falou com a Bia sobre nós, não é?

- Ela perguntou e eu falei a verdade, também iria falar de qualquer forma. – dei de ombros.

- Então está explicado o porquê da tristeza dela!

- Ela não esta triste por isso! – pelo menos era isso que achava.

- Está muito enganado meu anjinho, ela esta sim e por esse motivo!

- Ela só ficou surpresa ontem à noite, mas não parecia triste!

- Ela está com ciúmes! – ela deu um sorrisinho.

- Ciúmes? – isso era mesmo estranho.

- Está com ciúmes de você lindo! – não consegui segurar o riso que saiu e ela me olhou confusa.

- Fala serio Kate! – ri de novo.

- Não quer acreditar, tudo bem!

- Vou falar com ela, parece que é por causa do Henrique! – com certeza era.

- Fala sim, mas não é por causa do Rick que ela está assim!

- Tchau Kate! – aproximei para lhe dar um beijo e ela virou o rosto. Fiz um olhar confuso e ela apenas negou com a cabeça e depois deu um sorriso saindo. Revirei os olhos e subi as escadas.

Entrei no quarto encontrando a Bia penteando os cabelos castanhos. Apenas sorri e me sentei na cama e fiquei ali observando ela de costas, uma calça jeans preta, blusa de mangas compridas, branca, ela tinha um corpo perfeito, curvas no tamanho exato. Ri baixo e ela se virou.

- Não gostou da viagem marcada? – perguntei.

- Não é isso! Só que eu fico pensando: e se essa garota não estiver lá? Vai ser viagem perdida! – ela se sentou na cama me olhando.

- É sempre bom pensar positivo! – sorri.

- Acho que não tenho mais isso! – ela lamentou.

- Confesso que nem eu! – não pude deixar de rir com isso. Ela apenas ficou me fitando, os olhos castanhos eram tão intensos.

- Vem! – ela se levantou e estendeu a mão. – Quero te mostrar uma coisa! – olhei desconfiado. Peguei sua mão sentindo meu corpo estremecer com sua temperatura sempre muito fria.

Ela me puxou pelo corredor e depois virou para subir umas escadas que eu não tinha reparado, ela parou para puxar uma madeira e revelar uma porta velha.

- Sabe que nunca tinha reparado que tinha escadas que vinham pra cá! – falei.

- Ninguém repara! – ela sorriu apontando para que entrássemos.

Era o terraço do prédio, muito iluminado e batia vento de todos os lados, andei alguns passos para observar, havia uma ou duas cadeiras, alguns lençóis, mas o que me chamou a atenção eram os vasos de plantas, vários espalhados ali.

Cheguei perto das plantas e estavam secas, sem vida, mortas.

- Eu sei, estão mal cuidadas, e então eu pensei... Já que você gosta de plantas, poderia me ajudar a cuidar delas! – ela se aproximou levantando um dos vasos.

- Seria ótimo! – sorri observando que tinha vários vasos. – Você cuidava delas sozinha?

- É. Mas parece que não levo muito jeito! – ela deu um sorriso.

- Eu nem sabia que tinha um terraço aqui! – me virei para olha-la.

- Na verdade esse prédio foi comprado pelo João e nem ele sabe que tem um terraço aqui, sou a única que sabe deste lugar! – ela abaixou o olhar com se tivesse vergonha.

- Serio? – perguntei meio surpreso.

- Você é a primeira pessoa que eu mostro isso aqui! – ela me olhou, ouvi seu coração disparar quando eu retribui o seu olhar.

- É uma honra! – sorri e ela também.

- Então... Será que pode ajudar a salvá-las?

- Acho que sim! – coloquei a mão direita embaixo do vaso e senti a vida voltar, a força. Ela olhou deslumbrada quando lhe entreguei o vaso onde uma violeta roxa surgiu.

- Incrível! – ela sorriu.

- Só não te garanto que faça tudo hoje! – rimos juntos.

A tarde passou lenta e nós ficamos ali conversando ate o sol se pôr indicando que mais uma noite chegaria, fiquei feliz por ela confiar em mim e mostrar o “seu lugar favorito”, era assim que ela o chamava. Estávamos sentados no chão na parte de trás do terraço onde dava para ver toda a cidade, as luzes e a lua brilhando forte.

- Acho que... A noite é só mais chance pra você tentar esquecer tudo de ruim. – ela falou de repente se virando para me olhar.

- Talvez... Ou um novo começo! – me virei também para ver seu rosto que era iluminado pela a lua.

- Eu queria ter um novo começo! – ela suspirou.

- Eu também! – ela ficou me encarando e puder perceber os traços do seu rosto, delicados e combinavam exatamente com os cabelos compridos e a pele morena clara.

- Você gosta dela... Quer dizer, gosta de outro jeito? – ela perguntou.

- Quem? – eu já ate sabia sua resposta.

- Da Kate. – ela abaixou os olhos.

- Ela é uma ótima amiga, você tem muita sorte. Mas nada mais do que isso, talvez uma amiga especial, mas eu não a vejo de outro modo, só como uma amiga! – suspirei de novo.

- Mais vocês... – ela riu e voltou a me olhar.

- Isso foi... A sei lá, não posso dizer que foi ruim ou algo assim, mas não especial! A gente só queria diversão! – abaixei o olhar, não acredito que estava falando sobre isso com ela.

- Claro! E existe o especial? – ela se virou para olhar a paisagem mais uma vez.

- Com a pessoa certa sim! – que eu não tinha encontrado.

- Sei lá!

- E por que você não tenta falar com o Henrique? – mudei de assunto.

- Acho que não e uma boa ideia! Eu ainda não sei se estou pronta!

- Sabe, eu acho que se você gosta mesmo dele, não devia fugir disso ou tentar sufocar, só podia ouvir o que ele tem pra falar! – eu não era um bom conselheiro amoroso.

- Eu sei o que eu vi Felipe, não quero ouvir mentiras da boca dele e só quero esquecer. – ela me olhou de novo.

- Mais e se ele não tiver mentindo?

- Eu não sei. Só estou cansada disso, cansada de mentiras. Queria que pelo menos uma vez na vida, algum sentimento de alguém por mim fosse verdadeiro, puro.  Eu não precisaria de mais nada! – eu queria ajudar, vê-la sofrendo eram um tanto incômodo.

- Sei bem como é isso! – a dor me acertou de novo.

- Acho que toda essa dor, esse sofrimento está tomando conta de qualquer sentimento que sentia pelo Rick! – ela deu de ombros.

- Só não desiste dele, não desiste das coisas boas que ele tem e que você ainda sente por ele. – segurei sua mão. - Acho que todos devemos lutar por aquilo nos que faz bem! – ela sorriu.

- Obrigado Felipe, você é um bom amigo!

- Mas quer um conselho? – ela assentiu. – Se quer mesmo mudar, esquecer as coisas ruins, deve começar por mudanças em você mesma! – ela olhou confusa.

- Acho que para começarmos de novo, precisamos apagar tudo do passado, começando pela aparência, sei lá, estilo, cabelo, nem sempre eu me vestia assim! – ela olhou minha roupa.

- É uma boa ideia! Começar mudando a aparência para depois mudar a vida! – sorri confirmando e ela também.

Era bom conversar com ela, me fazia esquecer as coisas idiotas do passado e tudo de ruim que eu já tinha feito, de certa forma eu me sentia único, me sentia apenas humano.

...

Acordei de manhã pouco disposto para uma viagem, mas havia prometido que ajudaria e acho que agora seria um pouco tarde para desistir. Virei-me na cama encontrando a cama da Bianca vazia. Suspirei desanimado e me sentei, vesti a blusa preta que achei ali, uma calça jeans e coloquei uma jaqueta.

Escovei os dentes e fui me olhar no espelho, eu não sei se isso é estranho ou loucura, mas tinha algo novo ali, um certo brilho, eu estava feliz e isso definitivamente era bom.

Acordei da minha ilusão com a porta se fechando e virei levando uma surpresa. Era a Bianca, mas totalmente diferente.

- Está atrasado, já vamos sair, eu vim te chamar! – ela se virou sorridente. Fiquei congelado ali. Ela estava linda, eu não tinha palavras.

Usava uma calça jeans azul-claro, camiseta roxa, um casaco jeans branco por cima e tênis. Os cabelos que tinham crescido e que antes batiam quase na cintura agora estavam no meio das costas e lisos, agora ela tinha uma franja caindo de lado e o seu rosto estava diferente também.

- Você está... – comecei.

- Radiante? Linda? E isso aqui é rímel. Mudança lembra? – ela me interrompeu e apontou para os olhos. Um sorriso saiu do meu rosto e ela retribuiu.

- Está linda! – falei e vi seu rosto corar de leve.

- Obrigado! – ela deu um sorriso iluminado. – Pronto para a viagem?

- Depois te ver assim, estou muito pronto.

- Ótimo! Vamos? – ela abriu a porta, peguei a mochila e assenti saindo.

***

Rick

Os dois chegaram sorridentes, meu sangue ferveu. Só não matei o Felipe porque vi a Bia. Estava tão linda, os cabelos diferentes, o rosto. Como ela conseguia?

Queria gritar para que ela se sentasse ao meu lado, mas claro que o cabeça de pedra correu primeiro. Tive que respirar devagar e me sentar num banco mais atrás do ônibus e para minha maldita sorte a Loira veio se sentar ao meu lado.

- Pensei que não quisesse minha presença! – falei assim que ela se sentou.

- E por que não ia querer?

- Qual é Kate! – nem estava falando comigo direito e agora isso.

- Rick eu sei a verdade do que aconteceu! – olhei confuso, e por que ela não falou nada pra Bia?

- E por que não alivia minha barra e fala pra Bia!

- Ela tem que parar para te ouvir, não posso interver nos sentimentos de ninguém e ela precisa do tempo dela, você tem que esperar, não fica imaginando como ela se sente? – eu devia mata-la agora.

- E não fica imaginando com eu me sinto? Ficar esperando e vendo ela se afastar! – eu estava com raiva.

- Tudo acontece por um motivo Henrique, já parou para pensar que talvez ela não pertença a você? – ela olhou para os dois sentados mais na frente.

Olhei também e a última coisa que eu queria neste mundo era vê-la triste, por mais que eu queria voltar eu nunca faria mais nada para magoa-la e mesmo que tivesse que perdê-la eu a deixaria ir.

Olhei a Kate que apenas deu um sorriso educado.

- Dê o tempo dela Rick!

Apenas assenti fechando os olhos para esperar chegar ao meu destino.

...

Finalmente chegamos, depois de passar pela cidade seguimos rumo à bendita floresta onde a tal garota estaria. Passamos por milagre e conseguimos entrar na mata. O Felipe e a Kate ficaram dizendo que era melhor acampar.

Depois que eles discutiram o lugar certo e finalmente decidiram, eu me sentei em um tronco caído. E fiquei observando a Bia mexer na mochila e o Felipe discutir com a Kate mais uma vez sobre alguma coisa de água e comida.

Virei pro outro lado e senti um cheiro me acertar com força, cheiro de flores delicadas. Era perfeito, único, era hipnotizante. Levantei olhando os outros que já pareciam em alerta.

- Acha que pode ser ela? – o Felipe se virou para a Kate que se mantinha parada ouvindo.

- Eu não sei, o cheiro é bem parecido com o da Bia! – ela falou.

- Vamos verificar! – a Bia falou e saiu no meio das árvores.

O Felipe assentiu para a Kate e correu para o outro lado da floresta, ela apenas se virou para mim e apontou para minhas costas e eu assenti e corri para o local que ela havia indicado.

Corri pela mata densa, mais que droga de garota que corria rápido, parei por um segundo para sentir o cheiro que estava mais forte. Girei nos calcanhares e fui à outra direção. Se fosse mesmo ela, tinha uma velocidade mais avançada ou alguma coisa assim.

Era ate mesmo inacreditável, eu não estava trombando nas árvores!

Contornei uma curva e fui surpreendido quando senti a dor após meu corpo bater em uma pedra, ou sei lá o que. Balancei a cabeça que doía e olhei em volta, levantei ainda um pouco tonto, mas meu corpo automático bateu na pedra mais uma vez como se um imã me puxasse, desta vez me deixando em pé, não deu tempo de cair, fiquei imóvel, não me conseguia me mexer. Mais que droga estava acontecendo?

Meus braços estavam como se tivessem presos por alguma coisa e mesmo que usasse toda a minha força meu corpo não se mexia. Esforcei mais uma vez e nada.

Percebi que era algum tipo de pressão de ar que me mantinha ali, ou seja, a dominadora do ar, só podia ser.

A voz saiu de trás de alguma árvore, talvez a mais linda que já ouvi na minha vida, nem mesmo a melhor música do mundo podia ser comparada ou o melhor cantor, era simplesmente única.

- Por que está me seguindo?