Felipe

Olhei o sol se pondo e o fim de mais um dia se aproximando. Peguei minha mochila e guardei o uniforme no lugar de sempre.

- Tchau Mary! Ate amanhã! – acenei já saindo.

- Tchau Felipe! – ela sorriu.

Coloquei o capacete e fui com destino à praça perto da padaria pra poder me encontrar com a Kate. Iriamos começar a caçada aos vampiros sanguinários hoje e eu não podia me atrasar.

Desci da moto vendo a lua brilhar no céu, eu gostava mais da noite que do dia. Havia alguns casais ali observando a lua, numa noite quente e bonita que estava. Isso trouxe de volta lembranças...

“- A melhor hora do dia Felipe! Onde não precisamos nos esconder, onde saciamos a sede, onde somos verdadeiros vampiros! – a Jeniffer falava enquanto olhávamos a lua brilhando no céu.

- Queria que fosse assim comigo também! – me virei para ela falando.

- Mais pode ser Felipe! – olhei meio confuso.

- Não Jenny, eu sempre tenho que esta fugindo e não sou tão esperto quanto vampiros! – expliquei.

- Se torne um de nós! – olhei meio desconfiado.

- Mais sou um mutante, isso não influi?

- Também era uma mutante quando me transformei. Você sabe! Agora sou muito mais poderosa do que antes! Se torne um de nós e será mais poderoso ainda! Eu mesma transformo você!”

Aquela maldita vampira não queria me ajudar e sim ficar ainda mais “poderosa”. Se não fosse pela Suzan que voltou a parecer na minha vida, talvez agora eu não estivesse aqui para me lembrar de tudo.

Olhei em volta e não vi a Kate, ela estava atrasada. Será que tinha se esquecido?

Virei no susto quando alguém segurou meu braço.

- Kate! Que susto! – eu estava distraído demais nos pensamentos que nem senti seu cheiro se aproximar.

- Desculpa Felipe! – ela parecia preocupada.

- O que foi? – perguntei olhando seu rosto.

- Não vai dar pra gente começar a caçada hoje! – ela estava seria demais.

- Por que não? O que esta acontecendo Kate? – perguntei analisando suas olheiras roxas começando a aparecer.

- Você precisa ir falar com a Bia.

- Ai Kate, pensei que era coisa pior. Ela deve ter falado que esta com raiva de mim. – me lembrei do modo como ela falou comigo nesta manhã.

- Não Felipe! Não é isso. – sua preocupação pareceu aumentar.

- O que é então? – a não ser que... – Alguém a machucou? – perguntei agora preocupado de vez.

- Ainda não!

- O que? – que droga!

- Ela precisa de você! Parece que um dos seus antigos amigos vampiros veio fazer uma visitinha pra ela hoje! – meu sangue congelou.

- O que eles fizeram com ela? – perguntei meio sem folego.

- Ela só esta assustada e preocupada com você Felipe. Queria que eu dissesse que estava comigo?

-Não! – passei as mãos no cabelo tentando pensar. – Eu vou voltar!

- Precisa contar a verdade pra ela, seja o mais sincero possível! Os sentimentos da Bianca andam meio perdidos, você precisa ajuda-la! – ela segurou minha mão.

- Tudo bem! Amanhã a gente se fala então!

- Tenha paciência com ela anjo! – ela tentou sorrir.

- Obrigado Kate!

- Por nada meu anjo! – apenas beijei seu rosto e sai.

***

Bia

Sai do banho e olhei involuntariamente para a janela, eu não conseguia entender porque estava sentindo tanto medo. Vesti um short preto e uma camiseta branca com alguns detalhes em preto. Penteei os cabelos e peguei o computador.

Senti um cheiro familiar no ar e logo em seguida bateu na porta. Levantei e abri lhe encontrando com a mochila nas costas. Um sorriso amarelo mais que nunca mudava as feições angelicais, os cabelos pretos e um pouco arrepiados, a pele clara, e os olhos inesquecíveis.

- Felipe... – sussurrei.

- Posso entrar? – sua voz sempre linda.

- Claro! – abri a porta lhe dando caminho.

Ele tirou a mochila e colocou em cima da outra e depois se virou para me olhar.

- Bianca...

- Não! Felipe me desculpa por ter sido tão grossa com você hoje! Eu estava irritada e não tinha o direito de descontar em você, desculpa. E você pode ir quando quiser porque não esta preso aqui e eu...

- Não, não! – ele veio parando na minha frente e me interrompendo.

- Você tem toda razão! Sempre tem! – seu perfume vinha invadindo minha mente.

- Desculpa... - sussurrei de novo.

- Tudo bem! – ele sorriu levantando meu rosto e pude ver que tinha preocupação ali.

- Eu encontrei com a Kate e ela me contou o que aconteceu com você! Quem foi falar contigo? – não acredito que a Kate falou isso com ele.

Fiquei em silencio apenas olhando seu rosto tão lindo, tão perfeito...

- Bianca! Quem? – ele interrompeu meus pensamentos.

- Eu não sei! Era uma garota...

- Jennifer! – ele se virou ficando de costas.

- Quem? – perguntei confusa.

- O que ela te disse? – ele ignorou minha pergunta.

- Por que ela está atrás de você? – não respondi sua pergunta.

- O que ela disse? – ele repetiu se virando pra mim.

- Que não vai desistir de você! – ele ficou em silencio e algo atingiu meu coração, ele estava sofrendo, então era ela que o fez sofrer?

- Lipe! – chamei, mas ele manteve a cabeça baixa. – O que ela fez com você?

Ele me olhou e por um instante eu senti a sua dor, a dor do passado.

- Eu não vou deixar ela machucar você! – ele falou baixo.

- E eu não vou deixar ela machucar você de novo, seja lá o que ela tenha feito! – ele me olhou confuso.

- Por... – ele suspirou como se não tivesse mais forças.

- Eu não vou mais embora! Vou ficar aqui do seu lado! – ele falou e senti meu coração se alegrar.

- Eu não quero que vá embora! – sorri e aproximou, mas como se tivesse medo. Antecipei-me lhe puxando para um abraço.

Respirei sentindo seu cheiro, e sua temperatura normal como dos humanos. Eu ainda tinha uma duvida, se ele não tinha voltado para a pensão, onde tinha na noite passada?

- Onde passou a noite? – perguntei assim que ele me soltou. Vi a surpresa nos seus olhos. Ele ficou em silencio pensando no que falar, eu suponho.

- Estava com a Kate! – ele falou quase num sussurro.

Pensei um pouco, ele e a Kate tinham virado amigos sim, mais não eram tão próximos, pelo menos era isso que percebia, a não ser que eles tenham se aproximado demais e...

- Você e ela... – eu nem sabia o que perguntar.

Ele apenas assentiu. Fiquei paralisada por um minuto tentando absorver, senti algo gritar dentro de mim.

- Bianca foi... Aconteceu e eu nem...

- Para! Não precisa me dar explicações! – o interrompi. – Afinal nos somos apenas amigos e você não precisa ficar dando explicação da sua vida!

- Desculpa! – ele virou olhando a janela.

Ele tinha mesmo ficado com a Kate e pior ela não me contou. Que maravilha eu estava com ciúmes dele ou dela?

- Se você quiser eu vou embora! – ele falou sem me olhar.

- Não! O quarto também é seu!

- Eu vou tomar um banho e depois se quiser a gente conversa.

Apenas assenti enquanto ele saía e eu fiquei ali tentando eliminar os sentimentos estúpidos que surgiram. Ele não era nada meu, não tinha o porquê ter ciúmes e a Kate é linda. Como eu era idiota.

***

A escuridão estava de volta, as árvores balançando com o vento frio, o medo me dominado de novo. Olhei em volta encontrando apenas mais árvores.

A mesma garota de todas as noites estava ali com o capuz perto tampando seu rosto deixando a mostra só os cabelos. Ela se virou e entrou na floresta, eu me levantei e a segui correndo o mais rápido que podia.

Ela parou de repente e atrás dela se antinha ali a mesma criança, eu sabia o que aconteceria. Para minha surpresa a cena a seguir mudou.

A garota se moveu ficando mais perto e retirou o capuz revelando seu rosto: a pele pálida, bochechas rosadas, olhos cor de mel, cabelos compridos em ondas batendo na cintura. Ela era linda, podia ser considerada ate mesmo um anjo de tão perfeita que era sua pele e os traços do seu rosto.

Ela sorriu e depois falou em voz baixa como se não quisesse me assustar:

- Você não pode deixar a conexão acontecer! Isso pode custar sua vida!

- Do que esta falando? Eu não entendo! – perguntei sem saber do que se tratava.

- Fique longe dele! Não pode deixar a conexão acontecer!

- Quem? – perguntei.

- Fique longe!

- Quem é você? – perguntei assim que vi ela colocar o capuz de volta e se virar pegando a mão da criança.

- Esperem! – gritei e corri puxando seu braço e vi a criança se virar e a confusão nublou minha mente.

A pequena criança era linda, mas algo me chamou a atenção, os seus olhos eram exatamente iguais aos do...

- Felipe! – falei olhando o pequeno rostinho.

- Fique longe! – a garota gritou estendendo a mão e uma onda de ar veio ate mim fazendo meu corpo bater com força na árvore.

A dor estava de volta, coloquei as mãos na cabeça sentindo o sangue descer e vi a criança fazer o mesmo como se sentisse a mesma dor que eu.

- A conexão está próxima! Não deixe! – a garota gritava.

- Não deixe... Não deixe... Pare a conexão! – a voz dela se repetia na minha mente.

- Para, para, por favor! – gritei sentindo a dor aumentar.

- Não deixe... Pare a conexão... Fique longe ou irá morrer!

Abri os olhos encontrando o teto escuro e a noite ainda ali, olhei em volta e vi que ele não tinha ido embora, estava deitado na cama do outro lado do quarto.

O sonho tinha sido diferente dessa vez, tudo o que acontecia e os outros que se repetiam... Agora faziam sentido pra mim. A garota, a criança, o sangue, o vampiro, a dor, o medo, tudo estava ligado a uma só coisa.

O garoto que dormia na outra cama.