Quatro Elementos: O Começo escrita por Amanda Ferreira


Capítulo 1
Terra


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo aí galera espero que tenha ficado bom.



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Rose

Me lembro exatamente do seu choro e de quando vi o seu pequeno rostinho pela primeira vez. A pela clara, com as bochechas rosadas, a boca pequena e com uma dobrinha no queixo. Era a criança perfeita.

O que mais me assustou foi quando vi seus olhos se abrirem. Eu podia ter certeza que se trincaram antes de revelar um tom de verde exuberante, que eu nunca tinha visto em lugar algum. Sim, era do meu filho, que agora dormia nos meus braços.

...

Felipe. Foi o nome que eu escolhi para ele, apesar do meu marido não gostar muito. Enfim. O pequeno bebê crescia uma criança simplesmente linda e muito inteligente, era sim o filho ideal, ate tudo acontecer...

Numa manhã de segunda-feira, eu, o Felipe que tinha completado oito anos, e a Caroline, minha filha mais velha, que tinha dez anos. Entramos no jardim cuidadosamente para não destruir nenhuma das plantas, apesar dos dois gostarem bastante de cuidar delas.

Me agachei e entreguei a cada um o regador cheio de água, a Carol saiu para molhar algumas rosas brancas e o Felipe andou abaixando-se para regar algumas flores muchas, me virei e comecei a mexer em alguns vasos com mudas. Ele ficou em silêncio, então resolvi olha-lo. Meus olhos se arregalaram. Ele movia devagar as mãos em torno das flores muchas e de repente elas voltavam a vida, lindas e prontas para serem colocadas em vasos.

– O que você esta fazendo? - perguntei assustada e ele se virou imediatamente me encarando.

– Estou fazendo elas melhorarem mamãe!

– Fazendo elas melhorarem Felipe?

– Sim! - ele respondeu num tom baixo.

Eu sabia que em algum lugar existiam pessoas que tinham dons. E quando eu digo dons, digo que podem fazer coisas diferentes e isso vivia saindo nos jornais e na TV. Os chamados mutantes. A polícia havia criado uma nova força para combaterem esses monstros, porque era assim que a população os chamava. Eu não podia admitir que meu filho fosse um deles, eu não aceitaria.
Me agachei ao seu lado e olhei dentro dos seus olhos, que para mim nunca foram normais e perguntei:

– Desde quando você faz isso?

– Eu não sei! - ele abaixou os olhos.

– Como não sabe Felipe? Vou perguntar de novo. Desde quando?

– Já faz um tempo mamãe! - eu estremeci e levantei seu rosto para ele me olhar e falei séria:

– Você nunca mais vai fazer isso. Nunca! - ele me olhou assustado e apenas assentiu.

...

Medo. Era a palavra perfeita que me definia. No começo eu tinha medo do que os outros iam falar de nossa família, mas depois eu fiquei sim, com medo dele, do meu próprio filho.

Numa tarde de sábado foi quando tudo aconteceu, e eu tomei a decisão mais certa. Desde que descobri que o meu filho era diferente, tentei ao máximo faze-lo esquecer e já tinha se passado um tempo. Ele completará onze anos.

Não era o tipo de criança que tinha muitos amigos e nem que se dava bem com muitas pessoas ao mesmo tempo. Se tornou independente e mais inteligente que as crianças normais, ou pelo menos aprendia mais rápido. Eu deveria me orgulhar... como mãe. Mas... era impossível. Meu filho era um mutante. Um mutante poderoso.

Ele tinha um ótimo controle dos dons, era quase como se não tivesse nenhum, mas aconteceu tudo rápido demais e não tive como evitar.

A Carol e o Felipe sempre discutiam, mas todas as vezes era resolvido. Mas neste maldito dia tudo foi diferente. Estávamos na sala, meu marido e eu. O Marcos. Eles estavam no quarto, Tudo parecia normal demais. A TV estava baixa e um copo de água estava ao meu lado no braço do sofá. Tive uma sensação ruim, o copo ao meu lado estremeceu e um barulho no andar de cima chamou minha atenção. Olhei para o teto e tive de fechar os olhos em seguida. Pequenos pedaços se soltavam do gesso claro.

Me virei para o Marcos que deu de ombros e se levantou. O segui pelas escadas e paramos na porta do quarto. Quando entramos, a Caroline saiu correndo com o Felipe atrás dela. Eu olhei para a parede perto da janela e uma enorme rachadura estava ali. Senti o chão debaixo dos meus pés tremerem. Não pensei duas vezes. Corri escada abaixo inutilmente e foi só o tempo de ver a Caroline empurrando o Felipe no gramado do quintal. Ele se levantou, ergueu a cabeça e avançou contra ela, segurando com força seu pescoço, tirando o corpo magro dela do chão.

Corri o mais rápido que meu corpo permitia e separei os dois. Ela caiu com a mão no pescoço e ele se manteve de pé e ainda segurou meu braço com uma força que nenhuma criança normal teria. Me olhou com raiva. E como eu imaginei ter visto da primeira vez em que ele abriu os olhos, estavam trincados,agora num tom marrom-esverdeado.

Senti uma dor invadir meu corpo e minha cabeça girar. Foi ai que eu percebi que era ele que havia me causado aquela dor. Encarei seus olhos e me senti presa ali, senti que meu filho se foi, que aquele ali não era ele. Os trincados me diziam isso, eram como se fossem feitos para... matar.

Para minha sorte o Marcos já nos alcançará e tirava sua mão do meu braço e a dor foi sumindo devagar. Eu levantei meio tonta e andei em direção a sala já decidida no que eu tinha que fazer. Peguei o telefone e digitei o número que eu já tinha decorado de tanto ouvir na TV. A FEM era a melhor opção para nós, a fundação feita para levar mutantes...

...

Não demorou muito para eles chegarem e minha mente estava confusa e eu só ouvia o Marcos gritar alguma coisa para o Felipe que se mantinha em silencio. Eu mesma atendi o portão e eles fizeram algumas perguntas, depois entraram segurando o Felipe pelo braço e lhe enfiando uma seringa. Ele parecia assustado e se debatia, olhava para nós confuso. Sabia que era meu filho, ou não. Mas eu não suportaria criar um mostro.

Ele se debateu e correu em minha direção me abraçando:

– O que eles querem mãe?

– Você vai com eles agora! - falei me forçando.

– Por que? Me desculpem. Eu não sei o que aconteceu, eu só via tudo, mas não controlava. Não deixa eles me levarei.

– Felipe nós não podemos ficar mais com você. Vai acabar matando um de nós como tentou fazer com sua irmã. - ele olhou confuso para Carol que se matinha agarrada no Marcos.

– Desculpe...

– Adeus Felipe! - engoli a dor que começava a se formar no peito.

– Não! Por favor, não deixa eles me levarem. - ele gritava enquanto os dois homens o arrastava para fora.

– Não podemos! - de certa forma eu não estava arrependida, porque era o certo a ser feito, para o bem de todos e ate mesmo dele.

– Não, não, não... - ele ainda gritava. Sua voz foi diminuindo aos poucos e então seus olhos se fecharam e ele se calou caindo nos braços do homem. Eu pude ver lagrimas ainda descerem pelo seu rosto.

Tinham varias pessoas na rua olhando os dois homens colocarem ele dentro do carro sem cuidado algum e entrarem com pressa, darem partida.

Eu ainda vi o carro se afastar levando embora o nosso único problema.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e muito obrigado por lêemEstou aceitando sugestões bjsss