Indiferente. Foi como Margareth reagiu ao ver a loirinha balançar a carta no ar, afirmando que finalmente havia sido escolhida para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Alexia havia completado 11 anos no dia anterior e já havia perdido as esperanças de receber alguma carta para qualquer escola bruxa que pudesse existir. A menina achava que era um aborto e para piorar a situação, sua avó pouco se importava com seus sentimentos, ela insistia em continuar lendo aquela papelada chata ao invés de ouvir o que a neta tinha a dizer:

- Vovó, a senhora me ouve? Eu vou para Hogwarts! Está vendo a carta? – A menina balançava ainda o papel, mas o que recebeu em troca foi apenas palavras frias.

- Alexia, faça silêncio, estou ocupada. Parabéns, Loren irá com você amanhã ao Beco Diagonal e lá você poderá comprar seu material, está em anexo, certo?

A menina bufou e olhou dentro do envelope, encontrando a tal lista que a mulher havia mencionado:

- Eu não quero ir com a Loren, ela é chata, quero ir com a senhora!

A mulher retirou os óculos de leitura e olhou para a loirinha de belos olhos azulados:

- E eu estou lhe dizendo que estou ocupada, por este motivo não irei com você. Seja agora uma mocinha educada e vá tomar um banho, o jantar logo será servido e não quero que se atrase.

A menina ainda pensou em protestar, mas o olhar frio que recebeu a fez desistir. Virou-se para a saída do escritório de sua avó e seguiu cabisbaixa para o andar superior da mansão onde morava, tendo Loren a sua espera. Alexia Helstrong era rica, mimada, bonita e prepotente. Sempre teve tudo o que quis, quando quis e na hora que exigia, mas quando precisava da companhia de sua avó, sua única família, nunca podia contar com ela.

Segundo palavras de Margareth, a menina havia perdido os pais, Adele e Alexander em um terrível acidente de carro, onde a menina ainda bebê, salvou-se por muito pouco. Desde então, passou a ser criada pela avó, que era mãe de Adele. Na casa, não existiam fotos deles, nada que pudesse mostrar a Alexia como seus pais eram e, toda vez que ela mencionava aquele assunto, a avó sempre ficava irritada e fazia questão de deixar a menina falando sozinha. Apesar de ter tudo o que sempre quis, Alexia se sentia solitária, passava o dia todo em uma mansão enorme na companhia de sua babá Loren e dos empregados da casa, não tinha amigos, não tinha vizinhos, não tinha ninguém. Sua única alegria era saber do mundo bruxo, Loren contava-lhe histórias de Hogwarts, a escola de magia bruxa onde estudou e a menina ficava fascinada com tudo o que ouvia do lugar sonhando que sua carta chegasse e, ela saísse daquele pesadelo e encontrasse o mundo de Hogwarts.

Agora, ela tinha a carta, tinha a certeza de ser realmente uma bruxa, mas precisava se contentar a dividir suas alegrias com... Loren:

- Não é justo! Ela nem olhou para mim Loren? Eu parecia que estava falando com uma porta, vazia e sem reações! – A menina resmungava enquanto a mulher lavava seus cabelos dourados gentilmente.

- Não fique irritada Srta. Alexia, ela deve estar realmente ocupada. Tenho certeza que amanhã mudará de ideia e irá com a senhorita até o Beco Diagonal, para comprar seu material, não se preocupe com isso, está bem?

- Isso é ilusão Loren. Minha avó não quer saber de mim, só quer saber de suas festas e eventos onde ela precisa se mostrar para a sociedade bruxa, ou para me obrigar a acompanhá-la. Como se eu quisesse ficar na companhia daquelas senhoras irritantes. – Alexia amava sua avó, mas sentia-se rejeitada pela mesma apenas usá-la em ocasiões que se faziam necessárias e, apesar de ter apenas 11 anos, a menina já era bem madura para sua idade.

- Não deve pensar assim, venha, vamos dormir que amanhã será um novo dia e tenho certeza que a sua avó irá com você comprar tudo o que precisar.

- Eu sei que está falando isso para me animar Loren, mas eu já sei o resultado...

Naquela noite, enquanto Loren observava Alexia dormir, imaginava como uma pessoa podia ser tão fria com uma criança tão especial e imaginava a face triste que a menina faria no dia seguinte quando descobrisse que... Sua avó havia viajado, ainda de madrugada.