Encontrava-me estirada no chão frio de uma cozinha de um alguém qualquer que eu provavelmente não conhecia. A música da festa ecoava em meus ouvidos, entretanto eu não conseguia de fato escuta-la, porque minha cabeça girava com várias informações e pensamentos embaralhados.

Meu vestido preto estava todo amassado, a palma de minha mão sangrava por eu ter me cortado com um canivete. Eu queria sentir dor, uma dor mais profunda do que a que eu sentia dentro de mim e havia me cortado para isso, para poder sentir algo bem mais forte e doloroso.

Nick de repente entrou no recinto e correu até mim. Seus olhos castanhos mostravam-se preocupados e atentos. Ele observou-me atentamente e eu me senti envergonhada por ele estar me vendo daquele jeito.

― O que você está fazendo aqui ? - Eu gritei expondo fúria em minhas palavras.

Ele aproximou-me mais de mim.

― Tentando me certificar de que você está bem. - Seu tom de voz era calmo.

Eu respirei fundo antes de responde-lo, meu estômago revirava-se cada vez mais, parecia que eu iria vomitar ou desmaiar a qualquer momento. Não conseguia lidar com aquelas sensações que passavam por mim e me faziam querer me matar, fazer com que eu não desejasse mais existir nesse mundo.

― Parece que não estou bem, mas o que isso te importa ? Eu sou uma merda ! Eu trago merda para todos os cantos, tudo que eu toco eu destruo, eu estrago a minha vida e a vida das outras pessoas.

Nick não disse nada, apenas estendeu sua mão direita em minha frente. Eu sem muita vontade, peguei sua mão e me levantei, ainda não entendendo direito o que ele queria fazer.

Ele ficou próximo de mim, seus olhos penetravam-se aos meus de uma maneira que eu nunca havia sentido em minha vida inteira. De alguma forma, ele sabia como se conectar comigo e aquela sensação era realmente boa.

― Você é uma idiota sabia. - Ele disse de repente. ― Uma idiota por ter dito coisas que não são verdade. Todos fazemos merdas algum dia, é a vida, mas nem por isso somos um merda e você de todas as pessoas, você nunca seria comparada a algo tão podre assim. - Ele sorriu. - Você é linda Cassie, tanto de dentro como por fora. E a razão de eu estar aqui, é porque eu me importo com você, me preocupo !

Lágrimas começaram a descer de meus olhos, escorrendo por minhas bochechas como uma torneira aberta. A dor crescia em meu peito cada vez mais, ficando intensa e eu não conseguia mais esconde-la, então a coloquei para fora.

― Não ! - Eu gritei mais uma vez. ― Eu não te mereço, eu não mereço a ninguém ! Eu fodi com tudo Nick e não tem mais conserto.

― Para tudo na vida tem um jeito. - Ele segurou meus ombros fazendo com que eu olhasse para ele.

― Não quando você mata uma pessoa ! - Eu solucei e desabei nos braços de Nick, berrando e chorando com raiva e tristeza.

Seus braços eram quentes e acolhedores, Nick apertou-me contra ele confortavelmente e senti meu choro diminuir um pouco, entretanto a dor que eu sentia continuava lá, aumentando.

― Tem um jeito sim... Sei que não podemos traze-lo de volta e é difícil tentarmos continuar a viver sem ele, porém nos podemos e devemos seguir em frente e continuar com nossas vidas, o tempo ajuda curar a dor e o sofrimento. O que aconteceu com Charlie foi um acidente, você não teve culpa Cassie.

― Mas eu pedi ! Eu fiz com que ele entrasse no carro, eu causei tudo !

― Para de se culpar Cassandra, pare com isso !

No meio de nossas gritarias, uma calma surgiu em meu interior ao encarar Nick com toda aquela preocupação comigo. Ele era meu salvador, ele me salvava de mim mesma. Desde o dia em que eu o havia conhecido ele estava sempre ali do meu lado, me ajudando... Então eu me afastei de seu peito e o beijei, transmitindo o turbilhão de sentimentos que estava preso dentro de mim em um único ato.

Nossas bocas se fundiram com fúria, angústia, raiva, tristeza e amor. Minhas lágrimas nos molhavam, o calor de nossa pele se misturava e meus sentimentos explodiam como quando puxamos o gatilho de uma arma, rápidos e velozes. Estar em contato com Nick me fazia bem, realmente bem.

Quando paramos de nos beijar, ficamos nos encarando por um momento e depois eu voltei a abraça-lo, ainda chorando. Não queria sair de perto de Nick, sabia que se ficasse longe dele, tudo desabaria, ele me mantinha segura e calma. Nicholas era meu anjo da guarda.

― Não me deixe. - Eu disse em tom baixo.

― Nunca. Estarei aqui pelo tempo que você precisar...

E com essas palavras, eu me senti segura. Pela primeira vez em muito tempo.