Laura queria outra vida. Queria poder ser ela mesma, fazer coisas que as outras pessoas faziam. Queria ter amigos, mas nenhum tipo de relacionamento é permitido. Por quem? Por ela mesma. Ela decidiu que não iria se relacionar com nenhuma pessoa, pois o que ela fazia requeria trancar seus sentimentos e não se envolver. Então observava de longe, tentada a participar. Queria ter alguém para confidenciar seus segredos...

 Segredos... Tão obscuros e malignos... Talvez as pessoas sairiam correndo se soubessem da verdade, ou melhor, das verdades. Tremeriam as bases de tanto medo se contasse o que fazia depois das aulas. Não entenderiam seu trabalho, ninguém aceitaria.

 Tinha que fingir não gostar de interagir com pessoas. Tinha que fazer elas pensarem que não queria amizades, porém era exatamente o contrário que ela desejava. Olhava com tristeza as pessoas felizes, e as invejava por não terem problemas muito grandes.

 Sua mente estava repleta de pensamentos e não percebeu o garoto que vinha na contramão no corredor. Se toparam e ela caiu de bunda no chão.

  – Ah, me desculpe - a voz era suave e gentil.

 Laura se levantou, sacudiu o pouco de poeira que tinha nos jeans e o encarou sem demonstrar qualquer reação. Ele tinha olhos castanhos, uma mecha branca que se destacava no cabelo negro repicado, usava uma camisa preta, blusa de frio cinza e jeans escuro.

  – Eu disse "me desculpe" - ele disse como se ela não tivesse entendido da primeira vez.

 Ela nada disse, olhou-o sem expressão, desviou dele que era uma cabeça mais alto e seguiu em frente, rumo a sala de aula, deixando um garoto confuso para trás.

 Observava o pátio vazio e o melancólico céu nublado. Uma chuva fina caía preguiçosamente, e as gotas que ficavam na janela apostavam uma corrida para ver quem chegava primeiro.

  – Bom dia para vocês! - Jeff, o professor "bonitão animado" arrancou alguns suspiros, como sempre - Temos um novato. Por favor, entre e se apresente.

 O garoto que havia topado com Laura agora estava na frente da classe, atraindo olhares maliciosos de desejo de muitas das garotas.

  – Meu nome é Andrey e tenho 17 anos - ficou em silêncio

  – Ok... Quer acrescentar mais alguma coisa? Talvez de onde você veio antes de vir para cá?

  – Não - parecia entediado.

  – Hãn... - Jeff tossiu sem graça - Bem... Sente-se

 Ele foi em direção a carteira de Laura, que o olhava sem desviar o olhar, "Não tem porquê eu desviar o meu olhar". Ela sentia os olhos dos outros, uns com raiva, outros com desapontamento e até mesmo uns com medo. Medo dela... O garoto se sentou a sua frente.

 O tempo foi passando e Laura continuava olhando para fora, e não conseguia evitar em pensar em sua vida, em sua história, em sua irmã...

 De repente uma mão intrusa apareceu no seu campo de visão e estalou os dedos, fazendo com que ela olhasse para frente. O garoto estava a menos de cinco centímetros de seu rosto, tão perto que ela conseguia ver os traços que formavam sua íris. Não recuou.

  – Posso me sentar com você? Não tenho o livro... - ele sorriu.

  – Não - disse rispidamente e olhou para o professor que, assim como todo mundo, olhava para os dois de boca aberta.

  – Olha só, você falou alguma coisa, finalmente! - ele deu um sorriso largo.

  – Só cale a boca - encarou-o novamente.

 Ele olhou para ela e abriu a boca para falar alguma coisa, mas nada disse. Pegou a cadeira e se sentou ao lado dela. "Crianças", pensou. Viu Andrey jogando um pedaço de papel em cima de sua mesa.

  – Leia - sussurrou com uma voz firme.

 Abriu o papel e leu cuidadosamente:

Laura, há muito mais segredos envolvendo sua história e a organização. Pense bem, e saiba em quem confiar.