O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 13
Passo O Ano Novo Em Família E Outras Desgraças


Notas iniciais do capítulo

comentem!



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Na noite de trinta e um de dezembro eu coloquei a blusa preta a calça jeans preta clássica e desbotada, o tênis de Hermes e o casaco que Apolo tinha me dado.

Vou passar o Ano Novo de preto, pensei, Pelo menos meu azar não pode aumentar. Espero, pelo menos.

Só para constar eu estava errado. Sinto-me no dever de avisar que minha sorte nunca foi tão do contra quanto naquele ano. Sinceramente tudo o que aconteceu naqueles anos poderia ter sido evitado de algum jeito, eu tenho quase certeza disso.

Todos os presentes, dos deuses e de Amanda, estavam nos bolsos, pescoço e pés.Loki e Falcon nos seguiriam por ar e pousariam bem longe da festa. Meus pais acharam que não seria muito bom ter um cão infernal na festa de Ano Novo da família. Eu não vejo por que. Loki era minha personificação do fantasma do Natal presente. Sacou? Presente? Fantasma? Ele foi um presente de Hades, o deus dos mortos. É, concordo; não teve a menor graça. Dois a zero para minha falta de graça. Não custava tentar. 

O sitio de dois hectares da minha tia não ficava muito longe da cidade, todo ano minha tia o usava para unir a família no Ano Novo e aquele não era o melhor lugar que eu ficara na minha vida nem a melhor época da minha vida. Meus primos por parte de pai eram três trogloditas: Thor, Téo e Hercules. E eles me batiam toda vez que me viam.

Durante as férias o lugar era perfeito. Só ficavam lá eu, minha tia e meu sobrinho mais novo: Lucas, filho do meu meio-irmão por parte de pai, o Marcelo. Nós brincávamos, corríamos, íamos até um lago que tinha perto de lá, era divertido e não tinha mais ninguém para me atormentar, o que é raro.

Meus pais também não estavam muito animados. Eu sabia que eles queriam passar o Ano Novo comigo sozinhos para me dar atenção e matar logo a saudade e tal, coisa de pais, mas era uma tradição familiar e não poderíamos faltar de jeito nenhum, infelizmente.

Era lua cheia e eu passei a viagem inteira olhando para ela e me sentindo perto de Ártemis. Eu sinceramente esperava que ela não estivesse por perto quando eu fosse levar uma surra. Que é sempre uma certeza nessa situação e seria vergonhoso. 

Meu pai estacionou o carro debaixo de uma enorme mangueira. Olhei melancolicamente para eles e sai do carro. A casa era muito antiga, dês do tempo da colonização estava na minha família e depois de algum tempo vendemos as terras em volta e destruímos os currais e senzala. A fachada da casa era muito bonita com janelas e portas em marrom-avermelhado, as paredes brancas com detalhes em azulejos azuis.

 Quando entramos na casa a primeira coisa que vi foi o pescoço da minha tia Vera, que me agarrou, como sempre fazia. Minha outra tia, Antonieta, riu quando viu que a irmã chegara primeiro ao sobrinho mais novo. Eu adorava ser o mais novo, mimos sem fim.

– Menino, de onde você tirou tantos músculos?! – exclamou tia Vera enquanto a outra conversava com meus pais – E o que foi essa cicatriz? – eu abri a boca para responder não sei exatamente o que – Não importa, ficou tão charmoso!  Por que você veio de preto? Aí está tão lindo!! Combina com você, seus cabelos e olhos. Afinal, você não vai mais cortar essa juba? Deixa você mais parecido ainda com seu falecido tio. Ele era tão lindo... – seus olhos ficaram sonhadores e eu só consegui me lembrar de Afrodite.

Duas doidas pensando em seus amados... Bizarro.

“Eu estou tão triste com sua prima, Catarina, ela não passou o Natal aqui, coisa que você nunca faz, não é mocinho?”, forcei um sorriso envergonhado,“E agora ela viajou para São Paulo ontem.”

Que bom, pensei.

Para dela, completou Vox.

Catariana Leal era uma das primas que eu mais odiava. Bem, eu odiava todos os meus primos. Eu só tinha aqueles quatro. E eram quatro idiotas. Na verdade só o quatro mortais por que sendo filho de Zeus eu sou primo de Órion, filho de Poseidon, os filhos de Deméter, de Hades. Não, pára! Esqueça tudo que leu nesse parágrafo porque se for assim sou parente de... Teseu. Eca.   

 Nós estudamos a vida inteira juntos (Catarina e eu. De Teseu quero distancia), na mesma classe. Mas eu virei um “revolucionário” (ou encrenqueiro, ou perturbador da ordem, pode escolher) entre pessoas que já estavam de saco-cheio da monotonia ela virou uma patricinha, queridinha dos professores e super amiga e informante de Martins. Nós nos detestávamos, todos a detestavam, menos, é claro, as pessoas iguais a ela. Só para constar nossos pais se adoravam.

– Ah, eu soube da sua amiguinha! – minha tia ainda falava. Como ela conseguia falar tanto? Nem eu sou assim! – Vocês eram próximos? – eu, de novo, abri minha boca para responder– É mesmo uma pena, tão bonita. Seu pai me disse que você ficou sem querer sair do quarto. Eu sinto tanto que tenha sofrido assim Eu fiquei tão preocupada, meu amorzinho lindo – ela espremeu minhas bochechas.

“Você cresceu. Ah! Devem ser os sapatos. Que bonitos. Quem te deu?”, nem me dei ao trabalho de tentar responder,“Tem muito bom gosto, e conhece você. Sei que gosta de vermelho e preto, meu menininho.

Ela acariciou minha bochecha com carinho. Podia ser chata, meio doidinha, mas toda tia viúva é. E eu sabia que gostava de mim como eu era, o que era bem difícil. Sorri para ela tentando não parecer triste, e como eu esta. Ela voltou a apertar minhas bochechas e o encanto do momento se foi. 

Eu massageei minhas bochechas com as palmas das mãos e forcei um sorriso dolorido: 

– Eu estou bem, titia. Eu queria falar com...  

– Ah, eu sei. Venha, os meninos estão por aqui.

Eu ia dizer: com o tio Luis, pensei.

Eu tentei protestar me agarrar em alguém, mas ela me arrastou por meio da multidão de parentes e amigos até o lado fora falando com eles tinham crescido naquele ano e que Thor tinha começado a fazer musculação e estava lindo! Eu não queria nem ver, mas eu sabia que ia sentir os efeitos da musculação na minha própria pele.

– Vocês ficam tempo demais separados sei como são amigos. Ah, ali estão eles. Cresceram muito, mas não dá para perceber com essa escuridão. Que bom que é Lua Cheia se não vocês não poderiam ficar conversando aqui. Ela está linda, não é?

Olhei para cima e todo o meu medo se foi; ela estava bem acima de nós. Perfeita. Seu brilho amarelo era incrivelmente poderoso. O céu a sua volta também não deixava por menos. Ali, longe da cidade e da poluição, podíamos ver todas as estrelas. O céu estava limpo. Era como se todas as nuvens tivesse se retirado para que a beleza da noite pudesse brilhar livre. Mas ela não estava linda, não era como se fosse um evento raro. Ela...

– Sempre esta linda – minha voz estava embargada de emoção.

O problema de ficar olhando para a lua foi que não percebi que tínhamos chegado perto deles, só notei quando paramos. Ela me colocou na frente dos três idiotas como uma oferenda para três deuses canibais.

Eles estavam vestidos numa estanha (e ridícula) mistura de rapers e gângsters e estavam encostados na cerca da propriedade cheios de marra, pelo cheiro eu poderia afirmar com toda a certeza que estavam fumando, mas não esperava que tia Vera sentisse o cheiro e, se sentisse, ligasse para ele. Para ela nós éramos perfeitos, crianças maravilhosas e sem defeitos.

Os três tinham quinze e catorze anos e eram o dobro do meu tamanho (para todos os lados). Quando eu nasci todos me davam atenção e praticamente os esqueceram isso causou o ódio que eles têm por mim.

Quando eu tinha cinco anos Thor, o líder deles, pisara no meu pulso e o quebrara em duas partes, é claro, que eu tentei gritar afinal doeu muito, tente quebrar sua mão, mas ele tapou minha boca enquanto os outros dois começaram a me chutar. Quando terminaram de se divertir me ameaçaram e correram gritando que eu tinha caído de uma árvore. Eu fiquei com medo e nunca contei para ninguém, uma criança assustada, mas naquela noite eu estava determinado a não deixar a historia se repetir. 

Thor era irmão mais velho de Catarina, tudo que eu sabia sobre sua relação é que ele era terrível com ela por serem só meios-irmãos. Eram filhos do meu tio: Luis Aquiles. Ele se divorciara da mãe de Thor quando ele tinha um ano e nunca se casara com a mãe de Catarina, nem ela sabia direito quem era sua mãe. E eu não imaginava que ele já estivesse daquele tamanho quando tia Vera disse que ele estava fazendo musculação.

Téo e Hercules, dois imbecis, eram filhos da minha tia Antonieta e do marido dela: Claudio. Vamos só dizer que ele é um treinador mal resolvido de Box que transformara os filhos em dois gorilas estúpidos. Contando que ele conseguiu fazer isso muito bem podemos afirmar que os dois já tinham pré-disposição genética para serem idiotas.        

– Jack! – exclamou Hercules feliz da vida.

– Priminho, que saudade! – continuou Téo me olhando com os olhos brilhando como se eu fosse o maior embrulho debaixo da árvore de Natal.

Minha tia riu, orgulhosa deles e de mim por nos darmos tão bem, me beijou no rosto e foi embora.

– Adoro quando ela faz isso – disse Thor sem demonstrar sentimento algum, desencostando da cerca, tirou um cigarro de trás do seu corpo, deu uma ultima tragada e jogou no chão – Sabe, ela gosta de nos ver unidos.

Os outros dois riram sarcasticamente. O ódio foi subindo minha cabeça e eu tentava me acalmar.

Relaxe, filho de Ártemis, pensei, Relaxe

Avance filho de Ares avance, instigou Vox, Acabe com eles filho de Atena, Acabe com a raça deles.

Má idéia, filho de... Quem é o deus dos idiotas?

Ares, não?

– Pessoal não tô a fim de arrumar confusão – afirmei tentando manter minha voz baixa – e eu tô voltando para dentro. Se eu vocês não tentaria me impedir.

Eu venci do deus da guerra em uma luta mano-a-mano, pensei, E tenho uma espada.

Que não teria efeito com eles.

Fique calado.

Estou falando a verdade.

Por isso quero que fique calado.

– Mas Jack! – disse Hercules dando um passo para frente – Nós também não queremos arrumar confusão. Tudo que nós queremos é nos divertir! E você vai nos ajudar nisso. Que tal brincar um pouco com a gente? 

Acredite em mim foi a coisa mais longa que eu o ouvira falar. Mas não imagine partes com sarcasmo porque ele falou sem demonstrar nenhuma emoção.

Téo abriu um sorriso grotesco e tentou me acertar com um soco no estômago. Mas e segurei sua mão e a girei no sentido contrario. Ele gritou de dor e Hercules me chutou nas costelas, outra fratura com certeza.

Eu soltei a mão de Téo e ele começou a esfregar o pulso convulsivamente. Girei um chute no rosto de Hercules (Como fiz isso? Não faço a mínima idéia) e Thor me prendeu em uma gravata. Téo estava de volta e começou a me socar no estômago.

Hercules o tirou do caminho e me chutou exatamente onde eu o chutara.  Eu joguei o meu peso em Thor e chutei o peito de Hercules. Ele caiu em cima de Téo.

Thor e eu caímos no chão e aproveitei a chance para lhe dar uma cotovelada, quebrando suas costelas para variar, e girei o corpo para dar uma cabeçada em seu queixo. Ele ficou no chão, desmaiado.

Téo pisou na minha coxa e eu gritei com o choque que percorreu meu joelho. Ele se jogou em cima de mim e nós giramos pelo chão.

Ele ficou tentando me atingir e eu só queria me soltar e levantar, algo me dizia que eu não devia ficar no chão. Hercules tentava me acertar com chutes, mas eu continuei em movimento e ele só chutou o irmão.

Quando Téo conseguiu me acertar um soco no olho, Hercules o tirou de cima de mim e pisou no meu peito varias vezes. Ele me suspendeu nos ombros de lado e falou:

– Você conhece o “Vai dormir”?

Eu conhecia. Ele ia me jogar no chão e no meio do caminho ia me dar uma joelhada no pescoço, eu perderia a consciência na hora. Eu não ia o deixar fazer isso, nem morto.

Girei meu corpo por cima de seu pescoço e dei-lhe um soco no rosto. Eu caí no chão arfando de dor e Hercules caiu para trás. Téo se preparou para me chutar, mas caiu exausto do me lado.

– Meninos! – exclamou uma voz ao meu lado esquerdo.

Os convidados conseguiram nos levar para dentro. E, quando Thor acordou, nos mandaram explicar. Olhei para os meus primos que simplesmente viraram o rosto como se estivessem com raiva por eu ter resistido. Como se estarmos sendo interrogados fosse minha culpa.

– Olha – falei (zangado!) por fim –, lembram quando eu caí da árvore, naquela vez? Eu não caí da árvore. Ele tinham me dado uma surra. Todo ano eles me dão uma surra. Eu não aguentei mais e resisti. Não podem me punir por isso, se quiserem também não vou reclamar, eles por outro lado...

– Com certeza vão. – disseram meus tios ao mesmo tempo. Os três se encolheram sob a autoridade dos pais. Pelo menos disso eles tinham medo.

Todos ficaram em silencio e o rádio começou a contar:

– 10,... 9,... 8,... 7,... 6,... 5,... 4,... 3,... 2,... 1... Feliz Ano Novo, queridos ouvintes!

Eu não pude deixar de sentir pena do pobre radialista, ele com certeza não era pago para aquilo.

Ninguém disse nada, eu comecei a sentir fome e um pouco de constrangimento. Todos ficaram quietos até que se prepararam para ir embora, quando meu tio-avô disse:

– Esse foi um Ano Novo dos meus. O ano vai ser ótimo!

Meu pai engoliu seco, sem jeito, e olhou para minha mãe. Ela suspirou e fingiu um enorme bocejo jogando os braços pro alto:

– Vamos, Jack? Amanhã você viaja e ainda temos que fazer suas malas. Se despeça de seus tios.

Eu pai me puxou pelo ombro antes mesmo que eu falasse alguma coisa sem muita delicadeza, já estava dolorido, aquele aperto não ajudo muito, e nós três saímos apressados em direção ao carro e minha mãe deu a partida o mais rápido que pode.

– Feliz Ano Novo – disse ela quando entramos na estrada de terra.

Meu pai e eu rimos.

Apoiei meus cotovelos no banco (ignorando a dor na lateral do corpo) e pela primeira vez por toda aquela semana deliciosa eu pensei no tal treinador imortal de heróis e no ano que eu teria pela frente.  

Uma certeza eu tinha: ia voltar para casa assim que ele terminasse.  


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Notas finais do capítulo

próximo tem Quíron!



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