Hopeless escrita por Anne Avlis


Capítulo 1
Prólogo




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Annabeth Chase fechou a tampa do sanitário e se sentou nela, acionando a descarga enquanto franzia o nariz tentando ignorar o odor tão conhecido de seu vomito. Aquela poderia ser considerada a parte mais desagradável, mas, é claro, suportável. Ela se levantou e lavou o dedo do meio e o indicador enquanto mirava seu corpo nu no espelho, suas tentativas para ficar mais magra e bonita vinham sendo ignoradas.

A loira suspirou e ligou o chuveiro, depois de testar a temperatura da água com a mão deixou a água fria escorrer por sua cabeça, tentando se acalmar, já era a quinta vez aquele dia, ela não poderia suportar muito mais.

Sentindo as pernas doloridas protestarem, ela se sentou no chão e passou os dedos sobre o novo hematoma localizado na coxa da perna esquerda, resultado do chute de seu pai, um ex-professor frustrado que tinha como hobby espancar a filha.

Os olhos de Annabeth arderam apenas em pensar no pai, suas mãos se fecharam em punho, ela mordeu o lábio inferior com força reprimindo um grito de raiva e só parou quando sentiu o gosto do sangue se espalhar pela sua língua. Ela se levantou, apoiando-se na parede. Naquele momento a garota se odiou mais do que o pai, se odiou pela sua fraqueza, tanto física quanto psicológica, se odiou por falhar em ser igual à mãe, tão bonita, tão gentil, tão amada, tão segura, tão forte, tão feliz.

Atena Chase morrera fazia dois anos durante um assalto, Annabeth presenciou tudo, não pudera evitar, mas seu pai achava que sim, desde então ele vinha descontando toda a raiva, toda a saudade, toda infelicidade na garota, que agüentava calada.

No fundo, ela também se culpava, e toda aquela culpa veio a tona no momento, sufocando-a. Annabeth mirou um soco na parede e uma dor excruciante subiu pelo seu braço, mas ela não parou, a cada soco ficava mais insuportável, mas cada dor renovada fazia Annabeth se sentir aliviada.

Por fim, quando o chão já se colorira de vermelho a garota parou e recuou mortificada ao avaliar as mãos, uma delas parecia quebrada, e a dor já fazia a visão da loira escurecer.

Dor. Dor. Dor. Sempre tão presente, sempre tão insuportável, sempre tão irremediável. A dor fazia parte da rotina de Annabeth, como uma doença sem cura. Dor, apenas dor, substituíra o lugar da mãe, chegando assim que esta se foi, de algum modo, ela fazia a garota se sentir em casa.

O choro contido, o grito entalado, a dor fechando um punho de aço em volta de seu coração, tudo aquilo serviu para trazer uma conhecida sensação de asfixia. Annabeth estava sufocando lentamente, mas implacavelmente.

Não agüentando ficar de pé ela caiu de joelhos, a água ainda caia sobre ela, lavando todo o sangue e se confundindo com as lagrimas, o corpo da garota foi sacudido por soluços violentos, ela abraçou os ombros com força, e se balançou para frente e para trás, trancando-se em sua bolha de dor e sofrimento, Annabeth tentou encher seus pulmões de ar, ela queria desesperadamente acabar com aquela asfixia, acabar com aquela dor, mas se sentia tão ridiculamente impotente, ela já não tinha forças para tentar suicídio, não depois daquela primeira vez. A lembrança só serviu para arrancar mais lagrimas da garota.

Sufocando, sufocando, sufocando.

A asfixia chegou em estagio final e o corpo de Annabeth se debateu violentamente. Finalmente, a garota sentiu o grito rasgar a garganta.

— Eu sinto tanto, sinto tanto, mãe, eu sinto… sinto…

Então, lentamente, os soluços foram cessando, as lagrimas secando, Annabeth conseguiu respirar, e um arfar desesperado tomou conta dela. A dor ainda estava presente demais, corroendo seu corpo como acido em suas veias.

Respirando fundo algumas vezes, tentando conter o choro, a garota conseguiu se levantar e sair do banheiro, ignorando as pernas bambas e o corpo dolorido, ela adentrou em seu quarto.

E talvez tenha sido a dor, ou a falta de energia, mas nem bem conseguiu dar dois passos lá dentro e ela desmaiou.

Annabeth sonhou com a mãe.


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Notas finais do capítulo

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