Não conversamos só andamos. Ja estávamos longe da cidade. Montanhas nos rodeavam, e as estrelas brilhavam em cima da gente. Deveria ser meia noite ,por ai, estávamos andando por muito tempo, meu pé estava doendo, e Ethan não parou um segundo, só diminuiu o passo.

-Ethan... -eu disse segurando o braço dele, ele olhou para minha mão e depois para mim. Seu olhar não era mais de dor, era de raiva. -Podemos descansar, eu to muito cansada... Ele jogou a mochila no chão, olhou em volta e sentou.

-Vamos descansar então... -falou.

Me sentei distante dele, e tirei o tênis. As meias estavam rasgadas, e meu dedão estava com uma bolha enorme e sangrando um pouco. 

-Bosta. -falei e Ethan me olhou. Peguei minha mochila e procurei algum pepel ou gaze para limpar. Só tinha papel higienico. 

Ethan se aproximou de mim e olhou meu dedo. Pegou o papel enrolou na mão e colocou um pouco de água em cima e jogou um pouco no meu dedão. Depois colocou o papel em cima e apertou um pouco e depois enrolou com mais de papel. 

-Desculpa... -ele falou subindo o olhar pra mim. - Depois que vi minha tia fiquei... -ele não terminou a frase. 

Agora eu o entendi, deveria ter percebido que era a tia dele, ele ficou tão triste. 

-Vamos ficar um pouco aqui, estamos chegando e longe da cidade. -ele falou e me puxou pra perto dele, com o braço em volta de mim. -Descanse um pouco. -ele sussurrou na minha orelha o que me causou um arrepio. 

Ficamos um tempo parado ali. Olhei pra ele, lembrei do nosso beijo e sorri.  Ele sorriu de volta e aproximou a cabeça para perto da minha, e seus lábios colados aos meus. 

-Vamos voltar a andar? Estamos perto, é 30 minutos da casa. -meus lábios mexeram junto com os dele.

Minha mão subiu para seu cabelo e as mãos dele pararam no meu pescoço. Sua língua invadiu minha boca. Me ergui e fiquei sobre as pernas dele, e com as minhas em volta dele. Sua mão desceu para minha cintura e entrou dentro da minha blusa, acariciando minha pele e me causando arrepios. 

Seus beijos seguiram a linha do meu pescoço até meu ombro. Ele voltou para minha boca, e deu mais um beijo e ergueu minha cabeça para olha-lo. 

-Melhor nos irmos. - falou ofegante. Meu peito estava subindo e descendo contra o seu. 

-Ta. -respondi e me levantei. Sua mão, que estava na minha cintura, desceu pela minha perna. 

Ele levantou, pegou sua mochila e eu a minha e continuamos a andar, agora juntos. 

Andamos durante uns vinte minutos, quando avistei umas arvores secas, e algumas com um verde nas copas. Entre elas tinha uma pequena casa, térrea e com as paredes gastas. Dentro dela não tinha nenhuma luz acessa e nenhuma pessoa a vista. 

Fiquei assustada. Onde será que minha mãe e Emilly estariam? 

Estramos na casa. Tinha uma pequena cozinha, sem geladeira, com um fogão a gaz e uns armários em volta. Um sofá e uma comoda na sala. Nenhuma pessoa apareceu. 

Entramos no único quarto da casa, uma cama com um fino colchão e um armário quebrado. No fundo de um pequeno corredor tinha um banheiro, a privada estava suja e a pia também. Por mais das condições da casa, era melhor do que a pequena cabana precária. 

Meu coração acelerou ao perceber que não tinha mais ninguém na casa. Entrei em desespero. 

-Ai meu Deus Ethan, cade minha mãe?? Ela deve ter se perdido, não podia abandona-la. -cai de joelho no chão aos prantos e chorando, não podia perder mais alguém. Meu pai estava sequestrado. Meu irmão perdido. Minha mãe e Emilly sumidas. 

Não conseguiria fazer mais nada sem eles. A dor da perda consumia meu corpo, como se eu fosse uma tabua de madeira e a dor um fogo. Estava morrendo por dentro. E por fora. 

-MÃE. -gritei. Chorei. -EMILLY. Pai? -minha voz foi sumindo, junto com a minha coragem e com a minha vontade de viver. -breno? -sussurrei.

Ethan sentou do meu lado e colocou seus braços em volta de mim. Chorei mais, e um barulho me despertou. Algo batendo, passos. 

-Pode ser uma armadilha. -Ethan sussurrou no meu ouvido e levantou e abriu um armário. -Puta que pariu, a arma não ta aqui! -ele falou correndo para pegar uma faca na gaveta enquanto eu me ia para atras dele com medo. 

Os passos soaram mais rápidos. 

Pensei, posso morrer agora, sem  minha família não tenho nada. Nada.

Os olhos verdes brilharam para mim quando abriram a porta. Emilly. 

Sai de trás de Ethan e corri na direção dela e a apertei com um abraço de urso. Seus olhos estavam inchados de chorar, e seu rosto vermelho. Olhei para atras dela e não tinha ninguém. 

-Emilly, não acredito pensei que vocês tinham morrido. Mas... -parei de falar e olhei para ela. Esperei minha mãe vir me abraçar, mas ninguém veio. Emilly se desesperou.

-Ash... Eles vieram por todos os lados. Não sabia o que fazer. Ela mandou eu correr e me entregou o mapa para vir pra cá. Eu corri. Devia ter ficado com ela. Quando olhei para trás...-ela parou de falar e soluços ecoaram mais alto. -Eu corri. Não podia fazer isso. Cheguei a ontem a noite aqui. Entrei na casa não tinha ninguém, eu não tinha ninguém. Procurei comida, água.Só achei água. Hoje, pensei... Pensei em me entregar. Não ia conseguir viver sozinha, então era melhor eu morrer de algum jeito menos doloroso do que de fome. - Em sua mão tinha uma arma. Uma pistola. 

-Capturaram mamãe? -perguntei tentando entender a confusão de palavras dela. 

Emilly não respondeu,chorou mais. 

-E-ela... ela se matou. Quando eu corri olhei para trás para ver se tinha alguém me seguindo, não tinha. Estavam todos em uma roda em volta da sua mãe, que estava caída no chão... Como uma faca... com uma faca no coração- sua voz diminuiu e meu coração acelerou. -O sangue... -ela tentava falar. -O sangue estava em sua volta.

Não era culpa de Emilly era minha. Eu abandonei elas, por uma vontade idiota de ir até a cidade com Ethan. 

-Você quer me matar né? -Emilly perguntou. Ela colocou a arama na minha mão e fechou os olhos. Fiquei encarando a arma. Preta e pesada. Mortal.

-Ashley? -ouvi a voz de Ethan atras de mim, pegando a arma da minha mão. -Emilly, senta você tem que se acalmar. -Ethan a puxou para o sofá. 

Fiquei ali encarando as arvores secas, as montanhas que surgiam atras delas como um desenho e as estrelas brilhando no universo. Estava chorando. Querendo o abraço da minha mãe feliz por me ver e o do meu pai. Queria meu irmão bagunçando meus cabelos e o beijo na esta que ele me dava de noite antes de dormir.

Queria muitas coisas.

Todos nós queremos. 

Conseguimos?

É, as vezes não. 

PERDIDO - 3
Imagens passaram pela minha cabeça. 
Uma casa. Uma mulher. 
Não sabia onde eu estava, quem eu era? onde estava minha família? 
Um sono me abateu. Comecei a me lembrar da minha casa, dos meus filhos. Uma invasão. Nós fugimos, corremos, nos escondemos. Eu fui sequestrado. 
As imagens de Ashley e Brenda -mãe- conversando no sofá, Breno chegando em casa. Emilly com Ash. Meu pai e minha mãe me visitando em casa...
tudo começou a ficar preto, as imagens ficaram perdidas na minha mente. Ultima coisa que eu percebi era que estava morrendo.