Os Opostos Se Atraem escrita por Lasanha4ever
Abro a porta do banheiro delicadamente e vejo o Danilo olhando para mim com um sorriso diabólico. Ele anda na minha direção, mas eu vou para trás e a Sam avança, assustando-o, e dando uma chance de eu correr para longe. Fico na sala dele, com tipo, umas cinquenta pessoas só na sala, dançando, naquele esfrega-esfrega.
Vejo ele se livrando da Sam e correndo na direção da sala, mas, como eu sou baixinha, e tem realmente muita gente por aqui, ele não me encontra.
- O que uma princesa como você tá fazendo por aqui? – um cara meio bêbado pergunta já se esfregando em mim.
- Não é da sua conta. – me afasto dele, mas quem disse que ele se afastou de mim. Ele me segura pelo braço e não solta. Deve ter deixado um roxo.
- Por que já vai embora, princesa. – ele me enoja. Fala pertinho da minha boca, com esse hálito horrível de bebida, e ele tem um bafo horrível, tipo, parece que a boca dele tá em decomposição.
- Sai de perto dela, ou então as coisas ficarão feias por aqui.
- Como você me achou? – não consigo evitar, devo parecer muito aliviada, e ele percebe, porque, então, sorri com aquele ar de fodão e me puxa para perto dele.
- É muito fácil encontrar você.
- Larga ela, cara, eu a vi primeiro. – o bêbado fala, sem nenhuma noção do perigo.
- Se você sequer chegar perto dela, vai acabar em um hospital.
- Ih, gatinha, não sabia que você tem namorado. – o bêbado continua. – Isso torna tudo muito mais interessante.
- Eu não tenho namo – começo a falar, mas sou interrompida. O bêbado me puxa com força na direção dele, e eu bato em seu peito. Ele me beija, mas não abro a minha boca, e tento me afastar dele. As mãos dele se encontram na minha bunda – por cima do vestido. O cara é rápido. Isso tudo aconteceu em questão de segundos.
Só consigo ver o Danilo partindo para a luta com ele, e me empurrando para longe. Caio no chão, mas ainda consigo ver a luta. O Danilo está ganhando, em uma boa vantagem. Ele soca a cara do bêbado, várias vezes. O bêbado consegue disferir uma voadora na cara do Danilo, o que o machuca, mas ele ignora a dor e continua atacando. O Danilo dá-lhe uma joelhada na barriga, outra no saco, e continua acertando-o com uma sequencia de golpes. O bêbado não conseguiu acertá-lo mais nenhuma vez, e então cai ao chão, sangrando e desacordado.
O Danilo se vira para mim, com o rosto preocupado.
-Você tá bem?
Faço que sim com a cabeça, sem conseguir encontrar a minha voz. Ele segura minha mão e me leva até o seu quarto. Expulsa o casal que pretendia transar na sua cama e tranca a porta. Ele me deixa sentada na cama – que sem o colchão, não é nada confortável.
- Tá realmente tudo bem? Aquele imbecil não fez nada além daquilo, né?
- Eu tô bem.
Seu olhar encontra o meu e ele me abraça forte. Aos poucos, vou me acalmando, e ele também.
- Ei, Fernandinha. – ele murmura meio melancólico.
- Hum.
- Você conhece realmente todos aquelas pessoas que você mencionou?
Sorrio ao perceber o que está acontecendo.
- Ué, tá curioso por quê? Quer que eu te passe o telefone deles? Você vai sair do armário? – tento agir inocentemente, mas o meu tom de brincadeira está presente, e ele percebe.
- Ah, sem zoar, qual é. Tenha dó de mim, acabei de apanhar pra salvar a tua pele. Responde só essa pergunta, vai. – ele faz biquinho e seus olhos tristes esperam pela resposta.
Afasto um pouco dele, e olho em seus olhos.
- Não.
- Não, você não vai responder, ou não, você não conhece todos aqueles garotos? – ele está meio desesperado.
- Ué, vai saber, né. Mas que guri curioso...
Ele me mostra a língua, mas faz uma careta depois. Eu consigo perceber a inquietação em seus olhos, e a dor também. A voadora do cara realmente o machucou.
-Fica parado aí que eu já volto.
Corro para o banheiro dele e pego uma toalha de rosto limpa, molho-a com água gelada e coloco-a em cima do machucado dele. E então começo a limpar delicadamente.
- Tá melhor?
-Bem melhor, Fernandinha. – impressão minha ou ele tá corado?
- Eu vou pegar gelo, já volto. Fica aí.
- Não! – ele segura meu braço. – Não vai.
- Mas vai ficar roxo...
- Então deixa ficar, mas eu não tô querendo lutar mais uma vez, o que definitivamente vai acontecer se você sair daqui.
Reviro os olhos.
- Você está agindo como se fosse responsável por mim.
- Sou o mais velho aqui, então, tecnicamente, sou.
- É nada.
- Sou sim.
- Né não.
- Nem um pouquinho?
- Não.
Ele dá um meio sorriso maléfico, e eu já tenho a noção do que ele vai fazer, e não vai ser nada bom.
- Sai de perto! – empurro-o para longe de mim, mas ele avança com mais força e começa a sessão de tortura.
Eu estou entre o berro e o riso, sem fôlego, provavelmente vermelha. Ele sorri e parece totalmente alheio ao machucado no rosto.
- Fala agora que eu sou o cara mais lindo e perfeito de todo o mundo! – ele fala rindo, enquanto acerta meu ponto fraco, o pescoço.
- Nunca!
- Ah é?
Ele aumenta a quantidade de cosquinha, e agarra as minhas pernas. Eu olho confusa para o Danilo, mas ele apenas tira meus sapatos e dá aquele sorriso sapeca que eu adoro. O filho da mãe começa a fazer linhas imaginárias em meu pé, o que é horrível, porque eu sinto muitas cócegas no pé, e a minha situação fica até pior do que a mão dele no meu pescoço.
- Ok, ok, ok, você venceu! – berro enquanto tento me afastar dele, o que não é possível, mas ele para com a cosquinha.
- Agora fala.
Reviro os olhos e murmuro baixinho o que ele quer que eu fale.
- O que foi? Eu não escutei. – ele nunca aprendeu que eu tenho pavio curto?
- PORRA, VOCÊ É O CARA MAIS LINDO E PERFEITO DE TODO O MUNDO! – berro na cara dele, mas ao invés de se assustar, ele sorri e me abraça.
- Doeu?
- Ai, ai, ai, ai, ai! Que dor! – faço minha melhor cara de dor e ele me mostra a língua.
- Boba.
- Sou nada, tá.
Ele me abraça mais forte, e até que está gostoso... E me solta.
- É sim.
- Sou nada.
- É sim, e agora a boba vai pro seu apartamento ficar com o Phelipe antes que eu precise agir como segurança particular nessa festa.
- Eu sei me cuidar.
- Claro, e os bêbados sabem estuprar, só um detalhe. – ele fala com um olhar sério.
Reviro os olhos e levanto da cama. Ele me segue.
- Ei, para de me seguir e... Sam! – vejo a Sam bebendo sozinha e vou até ela.
- Ah, oi Fê! Oi segunda Fê. Não sabia que você tinha uma irmã gêmea. Agora são três Fê. Por que tá tudo girando? – ela resmunga, começa a rir e bebe o resto de ponche que estava no copo.
- Você tá muito bêbada.
- Não tô. – ela se enrola nas palavras e então desmaia em cima de mim. Eu cairia se o Danilo não estivesse atrás de mim para me segurar.
- Ei, leva ela pro seu apartamento, ela deve ter bebido demais.
- Não consigo carrega-la, né.
A Samantha é mais alta do que eu. Ainda menor que o Danilo.
Ele a carrega até o meu apartamento, onde a deita no sofá e me leva até o meu quarto, onde encontramos um Phelipe acordado, vendo televisão e comendo pipoca.
- Ei, espertinho, quem deixou você fazer pipoca? – vou para a direção dele e tiro a pipoca de perto. São duas e pouco da manhã, não é hora de um garoto da idade dele estar acordado, muito menos de comer pipoca.
- Poxa, tava gostoso! Por que voltaram tão cedo?
O Danilo senta na cama ao lado do Lipe, enquanto eu coloco a pipoca na cozinha.
-Sua prima estava correndo um grande risco perto de tantos caras bêbados.
- Ah, você tava com ciúmes, aí decidiu tirar a Fê da festa.
- Eu? Com ciúmes? Nem morto! Só não quero essa garota boba aí enchendo o meu saco depois.
- Aham, tá. – o Lipe finge que acredita.
Escovo os dentes, tanto meus quanto do Lipe, e coloco-o para dormir. Ele dorme em cinco minutos. O Danilo espera comigo.
- Vou voltar lá pra festa, se quiser que eu venha mais rápido, liga pra portaria e o manda vir acabar com a festa.
- Fica tranquilo, não farei isso.
Ele ri da minha cara de mal humorada e dá um beijo na minha testa, demorando mais do que o normal, mas acabando rápido demais para o meu gosto.
Eu durmo um tempo depois, na cama ao lado do Lipe, e acordo com o Lipe me cutucando.
- Fê, Fê, Fê!
- O que foi Lipe? – resmungo com os olhos ainda fechados. Estou morrendo de sono. Parece que eu nem dormi.
- Uma garota tá vomitando muito no seu banheiro.
Corro até ela e seguro o seu cabelo enquanto ela coloca para fora tudo o que ingeriu ontem a noite.
- Onde eu tô? – ela pergunta antes de voltar a vomitar.
- No meu apartamento, no mesmo prédio da festa.
- E por quê?
- Você desmaiou, e eu não ia deixa-la ali com um bando de bêbados.
Ela sorri.
- Obrigada, Fernanda, certo?
- É.
- Ei, Fernandinha, você tá bem? – o Danilo invade o banheiro com um semblante preocupado no rosto. Ele deve ter bebido bastante, porque está com uma puta cara de ressaca.
- Ah, você é o Danilo, né?
- Oi, garota que ajudou a Fernandinha a fugir de mim.
Ela tenta dar um meio sorriso, mas volta a vomitar.
- Fernandinha, eu seguro o cabelo dela, vai pegar aquele remédio que você me deu daquela vez.
- Ok.
Pego e volto correndo. Entrego o comprimido para ela, e um copo com água. Ela toma e eu a coloco no chuveiro. O Danilo se afasta e vai brincar com o Phelipe. Deixo a Sam tomando banho e pego uma muda de roupa minha que deve dar nela.
Ela acaba o banho rapidamente, deixo as roupas no banheiro e vou de encontro aos garotos.
- Como ela tá? – o Danilo pergunta meio preocupado, meio curioso.
- Aparentemente bem.
- Ela vai dormir aqui com vocês também? – o Lipe pergunta, com todo aquele ar inocente.
- Não, ela vai pra casa dela.
Aproveito para começar a fazer o almoço da gente, já que o Lipe almoça cedo, e, de acordo com o Danilo, o Lipe tomou café antes mesmo de me acordar.
Faço uma lasanha, já que eu adoro lasanha e faz muito tempo que eu não como uma. A Sam sai do banheiro e fica ao leu lado, conversando alegremente. Ela é bem legal.
- Tá, agora me diz, por favor, que aquele menino fofo não é o seu filho! – ela pede assim que eu coloco a lasanha no forno e o Lipe sai da sala pra brincar com o Danilo lá no meu quarto.
- Que? Não! O Phelipe é meu primo, e tá passando uns dias aqui por causa dos pais, e o Danilo é o vizinho, e o dono da festa de ontem. A gente é só amigos.
- Só amigos, aham, eu sei... – ela fala ironicamente.
- Somos sim.
- Fê, fala pro Danilo me devolver o controle da TV? – o Lipe resmunga com um biquinho enorme.
- Claro, vou lá falar com ele.
- Ei, Nanda, eu tô indo, a gente conversa mais na segunda! – Sam se despede.
- Não vai ficar para o almoço?
- Meus pais já estão putos o suficiente por eu ter dormido fora, não quero que eles fiquem mais putos.
- Ok, até segunda. E boa sorte.
- Valeu!
Subo até o meu quarto, mas o Lipe não me segue. Fico na soleira as porta e olho raivosa para o Danilo.
- Dá pra dar-
- Quer que eu dê pra você? – ele me interrompe pra mostrar o quão poluído são seus pensamentos. Apenas reviro os olhos, o que o faz rir e se aproximar.
- Quero que devolva o controle remoto pro Lipe.
- Ah, mas aí perde toda a graça de te ver irritadinha.
- Anda logo, folgado!
Ele me abraça forte e me joga na cama, caindo por cima de mim.
- Sai de cima!
- Me obrigue.
Fico me debatendo e tentando mordê-lo, mas não consigo me livrar dele.
- Desiste?- ele pergunta com um sorrisinho besta no rosto assim que eu paro de me debater.
- Nunca.
Ele não tira o sorrisinho do rosto, o que me irrita. Ele segura meus pulsos, cada um com uma mão, e se senta em cima da minha coxa, de modo que o peso dele não me deixa fazer nada além de ficar parada.
- Perdeu. – ele sussurra com o rosto bem perto do meu.
Sério, o rosto dele é lindo, e tá me seduzindo. Ele não tem noção do que faz comigo. O cabelo dele está tocando em minha testa, e eu sinto a respiração dele em meu rosto. Minhas bochechas obtêm uma coloração avermelhada indesejável, mais conhecida como: puta merda, eu tô corando. E meu coração começa a bater mais rápido, e mais alto também. Acho que ele tá escutando o meu coração, que vergonhoso.
- Me solta.
- Não. – ele sussurra e olha bem em meus olhos com aqueles olhos perfeitos.
Sinto a sua barba rala tocar a minha pele. Faz cócegas, a barba dele é macia, por incrível que pareça. Sempre pensei que fosse dura, e que arranhasse quem encostasse.
Estamos com os lábios quase colados, falando tipo, menos de meio centímetro. Ele vai me beijar. Ele vai me beijar? O que diabos ele tá pensando em fazer? Por que eu não consigo me mexer? Eu quero beijá-lo? Somos só amigos, por que ele tá querendo me beijar? Espera, ele está sorrindo, um sorriso do tipo: extremamente feliz. Seus olhos brilham e ele fica meio corado. Desta vez eu tenho certeza de que ele está corado.
Seus lábios se aproximam lentamente, como se ele quisesse ver a minha reação.
- O que vocês ‘tão fazendo? – a vozinha do Lipe nos desperta e o Danilo me solta, deitando ao meu lado.
- Er, nós estávamos apenas brincando de sério, Lipe. – eu invento qualquer coisa e ele sorri.
-Posso brincar também?
O Danilo ri.
Brincamos de sério – brincadeira da qual os jogadores precisam ficar encarando uns aos outros até sobrar apenas um que não riu ou sorriu – por longos minutos, acho que horas. O Lipe perdia primeiro, e eu perdia logo depois dele. O Danilo fica fazendo careta pra cima de mim, e elas são realmente engraçadas. E a risada do Lipe me fazia rir também. E, uma vez, uma vez só, eu olhei para o Danilo e ele me olhava de um jeito estranho, quase como um olhar apaixonado, e quando eu me dei conta, estava sorrindo, ele sorriu logo depois.
- Ai meu Deus, a lasanha! – berro assim que sinto um cheiro de queimado. Corro a todo vapor até a cozinha e tiro a lasanha do forno.
- Sinto muito pela sua lasanha, Fernandinha. – o Danilo dá uma risadinha da minha cara triste e o Lipe ri.
- Eu tô com fome, bora comer fora, Fê! – o Lipe pede.
- Ok. Só vou tomar um banho. – aviso aos dois.
- Danilo, melhor você tomar um também. E o Lipe também.
- Isso foi um convite? – ele sussurra em meu ouvido com aquela voz rouca perfeita.
- Não! – controlo a vergonha e subo para o meu quarto.
Tomo um banho quente e relaxante. Escuto a risada dos dois fora do banheiro. Acabo o banho e me seco. Enrolo o cabelo na toalha e visto a roupa que já havia separado e colocado dentro do banheiro. Uma calça jeans azul clara, uma blusa azul marinho, de manga comprida, e bem folgadinha.
- Até que enfim! – o Danilo resmunga assim que eu saio do banheiro.
- Tem outro banheiro aqui, e dois no seu apartamento, nem começa.
- Já tomamos banho.
- É?
- É, lá no outro banheiro.
- Nós tomamos banho juntos! – o Lipe fala sorridente – Sabia que o Danilo tem um piu-piu grande?
Ele fala com tanta inocência que chega a ser fofo.
Eu e o Danilo estamos corados. Eu mais do que ele, por incrível que pareça.
- Er, vamos? – eu falo, assim que acabo de calçar o tênis e coloco um casaco preto de moletom.
- Vamos.
O Lipe agarra a minha mão e a mão do Danilo, e fica brincando de balanço – ele encolhe as pernas e fica se balançando enquanto eu e o Danilo o seguramos pela mão. Ele é leve, então não tem muito problema. Andamos assim até o primeiro restaurante que vemos. Almoçamos peixe. Eca. Odeio peixe, mas era isso ou salada, e os garotos não comeriam salada nem fodendo.
- Fê, vamos para o shopping hoje? Eu quero comprar uma coisa.
- Comprar o que, Lipe?
- Um negócio pra uma garota lá da escola.
- Uma garota, hein. Como ela é? – pergunto e vejo aquele sorriso apaixonado nele.
- Ela é a garota mais linda que eu já conheci. Ela tem cabelo meio laranja, e um monte de pintinha laranja no rosto. Olhos tão verdes quanto grama e o sorriso mais fofo que eu já vi.
- Qual o nome dela? – o Danilo pergunta.
- Joanne, mas eu a chamo de Anne.
Pago a conta e levo o Lipe ao shopping. Ele compra um coelhinho branco de pelúcia. O Lipe falou que coelho é o animal preferido dela.
- Espere um pouco, eu já volto. – o Danilo avisa e sai correndo para outra loja qualquer.
Fico com o Lipe, esperando o Danilo. O Lipe parece realmente apaixonado. Ele me conta que conheceu ela na quarta, e ele a salvou de um inseto enorme. Ela, o John e o Lipe são grandes amigos agora. Incrível como as amizades se formam rapidamente quando se é criança.
Quando o Danilo volta, ele está com uma sacola pequena em mãos.
- O que é? – pergunto.
- Não é da sua conta, pequena curiosa. – reviro os olhos e ele sorri. - Depois eu te conto.
No caminho inteiro, ele não me mostra o que tem dentro da sacola, mas mostra ao Lipe, que sorri.
Voltamos para o apartamento, e eu fico na biblioteca, lendo novamente o livro Belo Desastre. Como nada é perfeito, logo o Danilo aparece ao meu lado.
- Ei, Fernandinha. Aqui pra você.
Ele me entrega a sacola de hoje cedo.
- O que é? – pergunto enquanto abro delicadamente a sacola.
- Uma coisa que você só pode usar quando eu estiver ao seu lado.
Tiro da sacola uma blusa preta com uma escrita branca e uma seta para a direita. Na blusa, tá escrito: He Is Sexy, e a seta logo embaixo.
- Grande mentira! Alguém se esqueceu de escrever o Not.
Ele me mostra a língua.
- Vai, experimenta aí!
Mando-o virar e tiro a blusa para colocar a camiseta que ele me deu. É baby look, de modo que se eu levantar o braço, a blusa para no meu umbigo. Safado – ele não parou de olhar para meus peitos, onde estava o inicio das palavras, mas eu sei bem que ele não estava lendo nada. E a blusa é apertada, então marca bastante, não que eu tenha muito, mas o que tem, fica bem aparente.
- Certo, agora é oficial. Essa blusa fica muito foda em você. – ele tá quase babando.
- O que é foda? – o Lipe pergunta inocentemente, entrando na biblioteca e se jogando na almofada.
- Algo fantástico, Lipe. – o Danilo fala com aquele sorrisinho safado e um olhar malicioso.
- Mas essa palavra não pode ser dita por crianças, então, Lipe, nada de tentar repetir o que o Danilo fala.
- Ok, ok. – ele resmunga.
- Ei, Lipe, sabe aquilo que a gente tava conversando antes? – o Danilo fala, sorrindo de um jeito meio sapeca pra minha direção.
- Sei.
- Quer pôr em prática?
- Sim!
O Lipe sai correndo e eu olho confusa para o Danilo, que dá de ombros e me abraça forte.
- Só use essa camisa quando eu estiver ao seu lado, ouviu bem? – reviro os olhos. – E nada de revirar os olhos!
- Idiota.
- Fê, eu posso tomar banho de banheira hoje? – o Lipe volta para perto de mim, todo manhoso.
- Vou lá preparar a banheira pra você.
Os dois ficam sorrindo. Vou para o meu banheiro e PUTA QUE PARIU, TEM DUAS BARATAS NOJENTAS NO CHÃO! Dou um berro no maior estilo – menininha assustada e com berro fino – e saio correndo do banheiro, fecho a porta e pulo na cama. Respiro fundo. Eu tenho um medo colossal por baratas. Isso mesmo, medo. E nojo. Mais medo. Vai que elas sobem em mim? Aí eu tenho um infarto.
Os dois aparecem no quarto, o Danilo com uma feição meio preocupada e o Lipe controlando o riso.
- O que houve? – o Danilo pergunta, nem tão preocupado assim.
- Ba-ba-barata!
Eles vão até o banheiro, segundos depois voltam com as mãos atrás do corpo.
- Você quis dizer, isso? – o Lipe fala e então ambos tacam as baratas em mim.
Berro mais que tudo e corro para a sala. Escuto apenas a risada deles e as lágrimas de desespero se misturam com as de raiva. Como eles podem rir enquanto eu estou em pânico?
Escuto-os descendo a escada e me tranco no banheiro. Não quero que eles me vejam chorando. É vergonhoso.
Eu tenho medo de barata porque, quando eu era bem novinha, tipo uns quatro anos, um garoto pegou uma barata na mão e tacou em cima de um grupo de garotas. Adivinha em quem a barata caiu? Aquele bicho nem saiu de mim. Ficou passeando pela minha perna... Argh! Não quero me lembrar disso! Aquele momento ainda me assombra. Desde então, eu odeio o garoto, e tenho uma fobia de baratas.
- Ei, Fernandinha, cadê você?
- Acho que ela tá no banheiro, Danilo.
Eles tentam abrir a porta, mas a mesma se encontra trancada.
- Ei, Fernandinha, é barata de plástico! Fica tranquila. Abre a porta aí!
Controlo as lágrimas, mas ainda está muito obvio que eu chorei. Não respondo, não abro a porta, não faço nada.
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