- É sempre assim! Sempre! Já estou cansada disso! –Luiza gritava comigo enquanto eu fazia cara de paisagem. – Será que você nunca me escuta?! Quando eu digo que é para você parar de sumir, estou falando sério! – gritou novamente.

  - Nossa, isso porque estou a um dia aqui... –comentei e ela me olhou ainda brava, mas não rebateu. Estávamos indo para a escola, e como não estávamos atrasadas e ela disse que queria falar comigo, resolvi que iria a pé com ela. Grande erro.

  - Sabe de uma coisa? –perguntou e olhei para ela sem entender. – Ainda não sei o porquê você saiu às escondidas com Emanuel, quem devia fazer isso era eu. Você devia ter ficado lá falando com Henri.

  - Eu saí de lá porque, primeiro: Você me obrigou a ir. Segundo: Não quero nada com Henri. Terceiro: porque quis. E sinceramente? Acho que você gosta do Henri e devia investir nele, assim para de me encher. –rebati impaciente.

  - RETIRE O QUE DISSE! –gritou me assustando e chamando atenção de algumas pessoas que passavam na rua.

  - Hum... Ta. –respondi confusa. Luiza bufou e arrumou a franja, colocando-a atrás da orelha. – Esqueci de te avisar: Já achei os três semideuses, assim que der vou voltar para o acampamento, e se quiser pode voltar também.

  - Voltar...? –Luiza questionou meio confusa. Ela já está aqui no Brasil há dois anos, acho que seria estranho voltar agora.

  - É. Emanuel é meu meio-irmão. –respondi.

  - O Quê?! Sério? –exclamou surpresa.

  - Sim...

  - Que azar! Achei que vocês tinham ficado, mas pelo visto não, né... –comentou rindo. Essa garota é bipolar.

  - Hum... Ah... –respondi corada, mas acho que ela nem percebeu, que sorte.

  Minutos depois chegamos à escola e cada uma foi para sua respectiva sala. Chegando a minha carteira Henri estava lá escrevendo algo em um papel.

  - Oi. –cumprimentei, mais para dizer “Sai do meu lugar!” do que ser educada.

  - Ah, oi. –ele respondeu dando uma boa olhada em mim, o que me deixou desconcertada.

  - Será que poderia... –falei gesticulando a mão para a cadeira.

  - Ta. –respondeu meio grosso. É, pelo visto ele não gostou de eu ter deixado lá na sorveteria com Luiza.

  As aulas passaram normalmente, comigo me embolando em algumas palavras do português (O língua complicada!), e nas contas de matemática, que são meu ponto fraco. No intervalo fui naquele mesmo banco que havia ido ao dia anterior e fiquei a observar o céu.

  - Oi filha de Zeus. –ouvi uma voz falando e meu coração acelerou achando que era Emanuel, mas, quando me virei era apenas Mark, o filho idiota de Hades que pode ler mentes. Oops.

  - Você devia ser mais discreto... –comentei me referindo ao fato dele ter me chamado de “filha de Zeus”.

  - Normalmente sou. –respondeu dando de ombros. – Falei com minha mãe, e ela meio que não deixou levar Lúcia para os Estados Unidos. –comentou e se sentou ao meu lado no banco.

  - Como não?! Você contou para ela sobre os monstros? E que lá Lucia iria aprender a se defender e... –estava falando, mas ele me cortou.

  - Falei tudo isso e um pouco mais, só que ela não quer que Lucia conheça o pai de verdade...

  - Isso vai atrapalhar tudo! –exclamei irritada. – Porque ela não quer que Lucia conheça o pai? O que isso vai mudar? –perguntei.

  - Vai mudar que Lucia vai descobrir que o pai dela não é o pai dela de verdade, entende? –rebateu e o encarei.

  - Mas... Lucia já foi reclamada? –perguntei.

  - Não sei nem o que é ser reclamada... –respondeu me deixando mais irritada do que já estava.

  - O pai olimpiano dela já a reconheceu?! –voltei a perguntar.

  - Não sei.

  - ARGHT! Assim não dá! –exclamei perdendo totalmente a paciência.

  - Olha, eu estava tentando te ajudar, mas se continuar a gritar comigo pode esquecer! –gritou de volta se levantando do banco.

  - Ótimo, não pedi sua ajuda! –rebati me levantando também. Normalmente evito responder, só penso em uma forma de rebater, mas já que ele lê mentes, que diferença tem?

  - Ótimo, o problema agora é totalmente seu e só nos seus sonhos eu vou com Lucia para esse acampamento. –respondeu saindo dali e entrando na escola.

  - Não! –gritei e reparei no que ia acontecer. – Espera! –gritei novamente o chamando, mas quando entrei na escola ele já tinha sumido. – Maldito! –falei entre os dentes. DROGA! Agora como vou fazer para completar minha missão aqui no Brasil?! AH! Mereço! Maldito filho de Hades!

  - Que foi? –perguntou uma voz vinda do banco onde eu estava sentada, me assustando.

  - Nada, é que eu... –comecei a falar inventado uma desculpa, mas parei e fiquei completamente vermelha. Lá estava Emanuel com um sorriso travesso nos lábios me encarando.

  - Que foi? –voltou a perguntar rindo da minha cara. – O gato comeu sua língua? –zoou-me. Ai, que moleque irritantemente lindo...

  - Na-não é que eu... –falei arrumando meus óculos e mexendo na franja totalmente constrangida.

  - Calma, estou só brincando, maninha. –cortou-me.   

  - Não me chame de maninha. –o repreendi.

  - Tudo bem, Melanie. –falou levantando os braços. – Vim aqui te dar um aviso... Bom, somos irmãos e então seria... Errado ter algo a mais do que amizade, além de que percebi que você só me beijou para enfrentar Zeus. –começou a falar e eu comecei a mexer na barra da minha jaqueta. – Eu tenho sentimentos, sabia? –falou fazendo uma voz fina, o que queria dizer que estava brincando, mas nem tanto.

  - É que... Zeus é um hipócrita. Vê-lo irritado virou meu lazer... –o cortei tentando explicar, mentindo, até porque o beijei sim para irritar Zeus, mas mesmo se Zeus não tivesse aparecido acho que ia acabar beijando-o...

  - Sério? Então temos mais uma coisa em comum. –falou. – Gosto do meu pai, mas irritá-lo é sempre muito interessante... Vamos fazer um acordo? –propôs e eu assenti.

  - Que tal nós... –começou a falar, mas Henri foi até lá com uma cara nada amigável.

  - Ah, você está aqui... –falou para mim, e depois se virou para Emanuel. – O que faz aqui no colégio? –perguntou. – E ainda mais conversando com a Melanie? –voltou a perguntar e vi o rosto de Emanuel perder um pouco a cor. Sério isso? Sério mesmo?! Eles iam brigar? E ainda... Por causa de mim?! Wow, estamos em um mundo paralelo?!

  - Vim fazer uma visita a Melanie, oras. Não posso? –perguntou.

  - Lógico que pode, só achei estranho. –Henri respondeu grosso.

  - Hum... É, o sinal já devia ter batido, não é? –perguntei mudando de assunto, e assim que paro de falar o sinal avisando que o intervalo terminou, toca. Graças aos deuses!

  - Bom, vamos para a sala, Melanie? –Henri chamou e assenti dando um breve aceno para Emanuel, como se dissesse tchau.

  - Tchau. –Emanuel respondeu para nós dois, e Henri fez um aceno com a cabeça.

  Quando eu já estava atravessando a porta para entrar no corredor do colégio, sinto uma mão por trás segurando meu quadril, e segundos depois sinto os lábios de Emanuel nos meus. Novamente uma corrente elétrica passa por todo meu corpo, e em meio ao beijo sorriu.

  - Tchau. –Emanuel sussurrou se separando de mim, e depois de segundos sumindo de minha vista. É, não sou a única filha de Zeus poderosa aqui.

  Alcancei Henri no corredor, que por sinal nem havia reparado que sai de seu lado, e fui para a sala de aula com um sorriso bobo no rosto. É sério isso? Estou apaixonada? E ainda pelo meu meio irmão? É, to vendo que Afrodite me ama...