Paradoxo Temporal: A Origem De Ginmaru escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 23
Fuga não é sinônimo de covardia




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– C-Como é?! – Shinpachi estava estarrecido. – Guerra...?

Enquanto os civis corriam apavorados para se salvarem, ele imediatamente fechou os portões de sua casa e correu para dentro.

Quando se achava que as coisas não poderiam piorar... Elas pioravam. Até demais.

– O que houve, Sensei? – Ginmaru perguntou com a boca cheia por ter acabado de comer.


*


– Zura... O que é isso...? – Gintoki perguntava ao ver Katsura com uma colher na mão e, logo atrás dele, um grande buraco na parede.

– Um buraco.

– Eu sei que é um buraco!

– Então, por que pergunta?

O albino fez um facepalm enquanto pensava: “Dai-me paciência...! Se me der força, eu mato esse cara...!”

Respirou fundo, a fim de não ir para o pescoço do amigo, e disse:

– Eu tava perguntando da colher! Não me diga que você cavou isso tudo com uma simples colher! É impossível fazer isso em poucos dias com apenas uma colher!

– Não. Eu apenas bati a colher na parede e o reboco caiu. Parece que esse buraco não é recente.

– Quer dizer que apenas esconderam o buraco?

– Parece que sim.

Por alguns segundos, os dois homens se entreolharam pensativos e em total silêncio. Até que...

– SAI DA FRENTE QUE EU QUERO PASSAR! – Gintoki berrou e empurrou Katsura para o lado e se enfiou desesperadamente no buraco. – Eu é que não vou ficar mais um minuto aqui!

Nisso, os dois sentiram um tremor. Um tremor causado por uma forte explosão. E não parecia ser uma explosão qualquer. Como veteranos de guerra que eram, já sentiram que isso lembrava justamente um campo de batalha.

Suspeitas que foram confirmadas após ouvirem gritos dizendo “É guerra! É guerra!”, fazendo com que passos fossem ouvidos saindo das redondezas dali para fora.

Os dois amigos não pensaram duas vezes e aproveitaram a oportunidade. A dupla praticamente engatinhou pelo túnel por um bom tempo em meio à escuridão, deixando-se guiar apenas por seus instintos de samurais.

Pouco a pouco, viam uma fraca luz adiante, indicando que estavam se aproximando do final do túnel. Aceleraram mais os passos, ainda engatinhando, ignorando o ardor dos joelhos e das mãos em atrito com a terra. O que eles queriam naquele momento era a liberdade e nada mais.

Logo que alcançaram a luz no fim do túnel, saíram de lá completamente sujos de terra, suados pelo esforço da fuga e com os joelhos rasgados das calças do uniforme prisional que vestiam. O primeiro foi Gintoki, que logo reconheceu o lugar.

– Ora, ora... – ele disse enquanto procurava se readaptar à luz e Katsura saía logo atrás dele. – Se não estamos em Yoshiwara...!

– Então não estamos muito longe de Kabuki. Podemos ir até a sua casa e...

Katsura foi interrompido por um baque de um corpo que caía duro no chão, sangrando na testa e que, para seu desespero, era de...

– GINTOKI!!


*


As ruas de Kabuki estavam em um frenesi caótico, que nem Shinpachi imaginava que iria presenciar. Ele saíra de casa, junto com Ginmaru, para ir buscar Tae no host club onde ela trabalhava. Sabia que sua irmã era capaz de se defender muito bem sozinha, mas, mesmo em uma circunstância como aquela, nem o seu lado mais psicopata daria conta do recado.

Estava consciente de que há muito deixara de ser o garoto quatro-olhos franzino com dezesseis anos. Ele já não era mais um adolescente, mas sim um adulto com seus vinte e seis, e que se via no dever de proteger sua irmã mais velha de qualquer perigo. Não só ela, como aqueles que estavam à sua volta, como, por exemplo, Ginmaru. Para isso, estava munido da velha katana que pertencera a seu pai e o seu pupilo carregava a bokutou de Gintoki.

No entanto, uma katana voou e caiu fincada no chão. O Shimura pegou a espada e se aproximou do local de onde a arma viera. Tanto ele como o garoto albino estacaram ao ver quem estava ali.


*


– GINTOKI!!

Katsura tentava reanimar seu amigo, que ainda tinha uma kunai fincada na testa. O albino logo se refez e arrancou a dita arma de onde estava, fazendo com que sangue literalmente esguichasse do ferimento aberto. Gintoki se levantou e encarou o “comitê de recepção”, que aparecia à frente da dupla, com seu típico olhar de peixe morto e sem se importar com o sangue abundante que escorria por seu rosto – para pânico total do líder do Joui.

– Ei, ei, vocês deveriam receber melhor os visitantes, não? – ele encarava a mulher loira à frente de várias outras mulheres mascaradas.

– Nesses tempos de guerra, não tem como não ficarmos em alerta. – a loira Tsukuyo respondeu.

– Então está mesmo acontecendo uma guerra?

– Gintoki, onde você estava esse tempo todo, hein?

– Na cadeia. – ele disse aborrecido.

– O que você aprontou desta vez?

– Ei, espera aí! Eu fui preso injustamente!

– Ele foi preso comigo por terrorismo. – Katsura afirmou.

– Quantas vezes eu tenho que dizer que eu não sou terrorista, Zura? – Gintoki agarrou a gola do uniforme de Katsura, que retrucou calmamente:

– Não é Zura, é Katsura.

– Vamos deixar a discussão para depois, a essa altura a fuga de vocês já deve ter sido notada e precisamos encontrar um disfarce para os dois! – Tsukuyo interveio. – Sigam-me!


*


Por sua farda preta, na altura do ombro, era visível a grande mancha de sangue no ombro esquerdo de Kondo Isao. Apesar do físico avantajado, ele estava em clara desvantagem. Estava desarmado, sua katana fora jogada para longe graças a um ataque poderoso de seu adversário. Além do ferimento grave no ombro, o então Comandante do Shinsengumi estava visivelmente exausto, pois ao mesmo tempo em que procurava se defender, tentava defender Tae como um “escudo humano”.

Sentiu a ponta da katana adversária encostar de forma ameaçadora em seu peito. Sabia que aquela lâmina estava lá para transpassar seu coração.

– E então, “Alma do Shinsengumi”? – seu inimigo começou a zombar. – Onde estão as espadas que deveriam te proteger? Os seus amigos estão ocupados demais para te ajudar a proteger essa mulher.

Ele estava certo. Não tinha como contar com Toshi, Sougo, ou até com o Zaki. Todos os seus conhecidos estavam tentando sobreviver, como ele. O Yorozuya também estava completamente encrencado.

– Assim que eles puderem, vão me ajudar. E, mesmo que eles não possam, eu me viro. Tenha certeza de que a Otae-chan não vai sofrer nenhum ferimento enquanto eu estiver em pé!

– Você ficou doido, é? – Tae esbravejou. – Não tem amor-próprio não?

– Eu ainda tenho, mas posso abrir mão disso. – Kondo respondeu. – Não vou deixar um covarde te ferir, nem que tenha que me ferir ainda mais.

O humanoide de pele azul, cabelos alaranjados e físico parecido com o do Comandante do Shinsengumi riu.

– Quanta pieguice... Vamos ver por quanto tempo você é capaz de proteger a sua amada?

– Veremos, Kasler!

– Pare com isso, seu gorila maluco! – Tae ordenou. – Pare com isso ou eu vou te dar uma surra!

Nisso, Kasler fez um rápido movimento com a espada, fazendo um grande corte no peito de Kondo, causando um grande sangramento. Imediatamente, ele levou as mãos ao ferimento e caiu de joelhos, não se aguentando de tanta dor.

– Mas que droga... – disse. – Sou mesmo um grande estúpido... Acho que não vou poder continuar a “stalkear” você, Otae-chan...!

– Para de agir como idiota! Olha o que você tá fazendo!! – Tae começava a ficar assustada de verdade, deixando sua máscara de psicopata cair.

– O que acha se eu mandar você e seu amorzinho platônico ao inferno juntos? – Kasler ironizou enquanto preparava a katana para transpassar Kondo e Tae.

No entanto, Kasler não conseguiu seu intento, pois sentiu apenas sua pele se rasgar em um único golpe no seu olho esquerdo, que imediatamente sangrou com abundância. O alienígena azul logo levou a mão ao local atingido, do qual saía uma grande quantidade de sangue, que escorria sem parar por sua face.

– Você não vai mandar ninguém ao inferno! – era a voz de Shinpachi, que estava justamente com a katana que pertencia a Kondo. – Porque eu NÃO VOU PERMITIR!

O Shimura partiu para cima de Kasler, que ainda estava completamente desnorteado e deu-lhe outro golpe veloz com a espada, cortando-lhe o peito. Em seguida, com um novo ataque aproveitou que o adversário continuava atordoado e atingiu-lhe a perna esquerda, causando assim sua queda.

Aproveitou esse momento e ele e Tae ampararam Kondo, de forma que pudessem sair dali rapidamente e, assim, se salvarem. Ouviu uma jura de vingança ao longe, durante sua fuga. Mas isso não importava, e sim que estivessem a salvo.


*


– A barra tá limpa – Tsukuyo avisou.

Ela e as suas comandadas da Hyakka saíram da loja de Hinowa, junto com Gintoki e Katsura. Este estava caracterizado como Zurako. Já o albino, depois de muito protesto, apenas se vestiu com um quimono yukata comum, cobrindo a cabeça com um daqueles típicos chapéus de palha nipônicos para esconder ao máximo sua cabeleira prateada.

Andavam por Yoshiwara com muita cautela, não só por haver dois fugitivos ali, como também porque de fato eclodira a guerra em toda Edo, e aquela região ali não estaria imune ao clima tenso da superfície. Nesse momento, viram uma tropa de enjilianos se aproximando e, rapidamente, as mulheres da Hyakka se separaram do trio para não parecer muito suspeito na hora de uma possível abordagem.

E essa “possível abordagem” acabou por acontecer. Logo que os soldados se aproximaram do grupo, Tsukuyo rapidamente procurou ocultar Gintoki de uma forma não muito comum. Antes que o albino reclamasse de qualquer coisa, a loira lhe tascou um beijão, de tal forma que fosse possível esconder o rosto do Yorozuya pelo ângulo de visão dos enjilianos.

– Ei, vocês – um deles disse enquanto retirava do casaco branco da farda um papel, no qual estava estampada a foto de Gintoki e Katsura. – Não viram estes dois homens circulando por aí?

Katsura tentou disfarçar sua voz, tentando deixá-la mais “feminina” possível, e respondeu:

– Infelizmente não, senhor... Mas por que eles estão sendo procurados?

– Eles são dois terroristas perigosos que fugiram da cadeia, e tudo indica que foi através de um túnel que vinha até estas imediações.

– Oh, minha nossa...! – Zurako, quer dizer, Katsura exclamou teatralmente.

– Aqueles dois não sabem sobre o paradeiro deles?

– Não devem saber não... Até porque já faz tempo que eles estão aí no maior “Love”, se beijando. Nem devem ter prestado atenção em mais nada.

– Casalzinho apaixonado, não?

Zurako riu discretamente:

– E como...!

– Tudo bem... – o soldado suspirou aborrecido. – Qualquer informação sobre esses dois fugitivos, você ou aqueles dois “pombinhos” podem entrar em contato com um de nós.

– Pode deixar. Qualquer coisa – Zurako deu uma piscadinha marota e colocou um tom malicioso na voz para incrementar sua “personagem”. – Estarei ao seu inteiro dispor.

Constrangido, o soldado chamou seus companheiros para ir embora. Katsura certificou-se de que eles estavam a uma boa distância e avisou:

– Eles já foram.

Gintoki e Tsukuyo logo pararam, encerrando toda a beijação, que fora acompanhada com uns belos amassos... Já que era preciso ser convincente a encenação de amantes. No entanto, agora é que a loira corava violentamente ao encarar o Yorozuya e sentir que ele ainda tinha a mão direita em seu... er... seio esquerdo.

O pobre albino suou frio ao perceber que “esquecera” sua mão ali e, pra piorar a situação...

– Puff-puff...? – perguntou ao mesmo tempo em que deu mais duas apertadinhas no seio da Cortesã da Morte.

... Tsukuyo deu um berro de “GINTOKI, SEU TARADO!”, pegou o albino pelo braço e o jogou violentamente contra o chão, enterrando nele a cabeça do Yorozuya. E, claro, aquele grito histérico chamou a atenção de soldados enjilianos, que logo cercaram o trio.

Katsura, ainda disfarçado, murmurou de forma quase inaudível:

– Agora é que estamos encrencados...!


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