Um, dos, três, quatro... Começando

Era véspera de meu aniversário e eu estava totalmente despreparado.

Finalmente eu ia fazer 18 anos e meus amigos me fizeram prometer que ia com eles, neste dia especial... Num passeio a noite só entre homens, se é que me entende.

Bem isso era o menor dos problemas, além disso, tinha o fato do resultado dos exames para a faculdade saírem exatamente no mesmo dia. Acho que essa saída à noite para comemorar meu aniversário, foi só um pretexto para fugir da responsabilidade que os resultados dos exames iam trazer.

Além de ter o fator Julie. Ela vai se mudar na semana que vem... E isso tava complicando minha mente...

Julie é minha vizinha, não bem vizinha, ela mora no ultimo andar do meu prédio e eu no térreo, mas gosto de pensar nela como minha vizinha, faz ate parecer que somos próximos. Se bem que nunca conversamos e nem estudamos na mesma escola. Mas nos encontrando ás vezes na portaria, encontros breves e felizes que fizeram meu amor por ela surgir.

E isso era um problema, já que ela era um ano mais nova do que eu. E ela conseguiu passar de primeira em medicina e isso não me deixava nem um pouco mais confiante para ir falar com ela, sendo eu um cara que tentava pela segunda vez entrar numa faculdade.

Pelo menos eu achava que não, até saber que ela ia se mudar então amanhã no meu aniversário eu iria pedir para sair com ela, afinal que mal podia fazer? Ela ia se mudar de qualquer jeito.

Fora isso, acho que são só detalhes que depois irei me preocupar... No final acabei dormindo, afinal de contas amanhã vai ser um grande dia.

Meus sonhos daquela noite foram ótimos, sonhei com meus pais dando-me um carro, eu passando na faculdade, Julie aceitando meu pedido e dizendo que sempre me amou, além de alguns outros detalhes mais picantes... Era realmente um bom sonho.

Mas algo o interrompeu, um barulho ensurdecedor que me arrancou do meu "pais das maravilhas" particular, para a realidade.

E olhe que realidade... Levanto-me aos pulos da cama e abro a janela para ver o que está acontecendo e ao longe vejo aquele enorme cogumelo vermelho pintando os céus. O som some, um vendaval se choca contra meu rosto que queima...

Um ar radioativo e venenoso destrói minha visão, derrete minha pele e contagia todo meu corpo. Foi tão rápido e tão sem dor que nem sinto quando meus olhos se fecham e desaparece engolidos por tudo aquilo.

“Foi realmente um belo sonho”

Meus olhos se abrem de novo, o despertador toca e eu me levanto...

Eu posso enxergar... Meus olhos ainda estão ali, meu corpo ainda estava ali, eu ainda estava ali...

Sinto que meus lábios se contraírem num sorriso... Até notar...

Eu estava ali, mas não o resto, tudo havia sido consumido, o teto que antes tinha em minha cabeça, agora mostrava um céu negro e sem estrelas.

A cama macia que antes eu dormia, havia sido substituída, por palha junto do chão frio da noite.

Eu me vejo preso em paredes e aquilo que eu julguei ser meu despertador não passa de um relógio, onde o ponteiro havia morrido á meia noite.

Levanto-me, procuro algo, qualquer coisa, mas não acho nada.

Nem uma janela, nem porta... Nada

Estou cercado por paredes que se estendem até o céu e um espaço aberto onde se pode ver a noite...

Meus olhos se fecham de novo e eu penso

"Era realmente um bom sonho"

Eles se abrem e dessa vez eles vem o rosto de Julie, dos meus amigos, dos meus pais e de todos aqueles que conheciam e não conheci.

Vejo o mundo se criar se mudar e se alternar... Vejo a bomba cair, vejo meu prédio, vejo a destruição e vejo o que um dia foi meu corpo...

Eu sorrio, pois parecia mais fácil do que chorar... Algo aparece em minha frente... Eu a conheço era á Julie, uma Julie encapuzada, com roupas negras e um sorriso no rosto...

Eu á chamo, e ela estende seus braços para mim. Á abraço, num abraço frio, mas que esquenta meu coração...

Ela diz que chegou minha hora...
Eu pergunto para ela se ela era Julie? Se tudo aquilo era um sonho?
Ela apenas me diz que ela é o que eu quiser que ela seja.

E nesse segundo eu entendo... Eu abraçava a morte.