Coração de Fogo escrita por LNRD


Capítulo 8
DOMINGO, OITO DE DEZEMBRO




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Lana estava junto aos outros druidas, num lugar semelhante a um pomar, e com um pasto no horizonte.

─ Pode começar com eles, folhinha ─ disse o elfo.

─ Eu tenho que fazer isso? ─ perguntou a garota.

─ É a obrigação dos druidas, folhinha, dar materiais aos alquimistas. Ao trabalho. 

─ Alqui o quê?

─ Alquimista. Em Skelver eles têm a função de criar poções naturais que proporcionam cura rápida e aumento de força. Vai ver isso hoje, agora vai trabalhar folhinha! 

Lana grunhiu.

─ Não chame de folhinha! 

Ela se agacha junto a uma khitur. Ela tinha o corpo totalmente preto, com uma cauda que na ponta assemelhavam-se a uma flecha, cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e seus olhos eram amarelos e intimidadores. Lana sentiu um arrepio ao chegar perto dela, parecia uma experiência que tinha dado errado.

─ Não ligue para ele ─ disse ela.

Lana hesitou em olhar diretamente para ela.

─ Obrigada, mas por que ele me chama de... Folhinha? 

─ É o nome para druidas novatos. Eu sou Tina, prazer ─ ela estendeu a mão.

Lana olhou para a mão dela e reparou que ela tinha apenas três dedos, que se agrupava como se ele tivesse cinco.   

─ Lana. Prazer, Tina. 

─ Você é meio velha para estar aqui - disse analisando a garota. ─ É da Terra? 

─ Sim. Por quê?

─ Normalmente eles vêm quando estão menores, acho que com cinco anos sua classe já é evidente.

Lana pensou como ela conseguira seus poderes e chegado ali. Achou meio inconveniente para ser contado e mudou de assunto.

─ A gente precisa colher todo dia? 

─ Não, só nos domingos ou dias especiais.

─ Por que só no domingo? 

─ É o dia da Caçada. Você vai perguntar o que é então vou falar logo. 

Lana sentiu-se levemente ofendida. 

─ Obrigada. 

─ A Caçada é um treinamento intenso de batalha, quando todas as classes e raças de Skelver se unem para guerrear. Todos os guerreiros ficam divididos em duas equipes: os Protetores e os Destruidores. O campo de batalha é uma floresta extensa, e como diz o nome, cada equipe tem a função de proteger e destruí-la. 

─ E como sabemos quem ganhou ou perdeu?

─ Existe uma árvore, maior que todas as outras, chamada Árvore do Controle. Estará iluminada pela cor de cada time, verde para os Protetores e vermelho para os Destruidores. Dentro do campo de batalha não se pode usar animais como ajudantes. Suas habilidades são multiplicadas, portanto é bom ter cuidado. 

─ E. É para matar ou...

─ Não, não. Nada de morte. Desse jeito os guerreiros iam morrer em lutas insignificantes. Usamos um bracelete que está conectado à Árvore do Controle. Quando são acertados fatalmente, de uma forma que deveriam estar mortos e que nem os abades consigam curá-los, aí eles são dissolvidos para fora. 

─ Parece interessante. 

Tina se levantou com um cesto de ervas e plantas variadas. 

─ Venha comigo, vou apresentar-lhe ao alquimista. 


Lana não parava de pensar em sua casa. Mesmo tendo uma vida comum ela gostava dela, e lá parecia que sempre estava em risco. 

Ela se lembrara de quando pequena tinha vindo do Japão. Aconteceu tudo de um dia para o outro. Ela estava dormindo, e aparentemente ainda era de madrugada, quando seu pai chegou desesperadamente mandando todas se arrumarem, que iriam partir para a América. Eles estão vindos atrás de nós, foi o que ela pôde ouvir, depois foram apenas discussões. 

Sua mãe chegou ao quarto dela com os olhos encharcados.

─ Vem, Lana - disse com a voz embargada e puxando a garota pelo braço.

─ Para onde vamos, mamãe? 

─ Vamos fazer uma viagem. 

─ Agora? 

─ Sim. É... Importante. 

─ Mamãe tá chorando? 

─ Não é só... – sua mãe respirou fundo - Venha Lana.

Elas entraram em um carro e Lana voltou ao presente.


─ Tudo bem? ─ perguntou Tina ─ Você meio que se... Desligou. 

─ Ah, tudo bem. Não foi nada.

─ Ótimo. Chegamos.

─ É aqui? ─ perguntou como se fosse impossível alguém com cargo importante morar ali.

─ Sim.

Uma casa pequena feita de palha e algumas madeiras tortas, essa era a casa do alquimista. Tina se aproximou e gritou: 

─ Sr. Tinez! - gritou. 

A porta se abriu e saiu um senhor khitur baixo, com cabelos grisalhos usando óculos redondos e um dos olhos artificiais, feito de metal. Lana sussurrou:

– O olho esquerdo dele é de... Metal?

– Sim.

– Por que ele usa óculos então?

– Não pergunte ─ Tina se aproximou do alquimista.

─ Ah, Tina ─ ele pegou a cesta da mão dela ─, obrigado.

─ De nada... Vamos Lana ─ sussurrou.

─ Tudo bem com o senhor? ─ Lana se atreveu a perguntar

Ele pegou um punhado de plantas com a cauda e aproximou do rosto.

─ Está tudo bem, a mesma monotonia como a vida de qualquer alquimista. Sempre ajudando os guerreiros, fazendo poções todo domingo e nos outros dias ficar testando novas maneiras de deixa-los mais fortes, e quando não consigo ainda recebo reclamação do Lorde Ynis. Ah ─ ele fez um gesto com a mão espalhando o ar ─, mas eu não tenho o que reclamar... Fazer o quê? Quem nasce com essa maldição está condenado a passar o dobro da vida fazendo tudo isso.

Lana analisou o velho.

─ O senhor não pode lutar?

─ Não, não. Mesmo que eu vá para um campo de batalha ou uma missão, é perigoso demais. Os lonios não podem arriscar perder o seu alquimista. Demora demais para nascer.

─ É uma pena ─ arrependeu-se por perguntar.

─ Não sinta pena. Graças a mim, hoje você vai demorar mais alguns minutos no campo de batalha.

─ Obrigada, eu acho.

Sr. Tinez assentiu com a cabeça.

─ Se me der licença, tenho umas poções a fazer ─ ele virou-se para Tina ─. Venha em duas horas ─ ele entrou pela portinha.

Tina suspirou.

─ Vamos Lana, tem algumas coisas que quero lhe ensinar antes da Caçada.

─ Tina... Tinez... Vocês são parentes?

Tina baixou a cabeça.

─ Infelizmente sim. Ele é meu tio.

─ Você não falou com ele como se fosse... Seu tio.

─ É eu sei. Não gosto dele.

─ Por quê? O que ele fez?

Tina tomou fôlego.

─ Ele matou meu pai.

─ Hã? Sério? Aquele... Velho fez isso?

─ Não se engane pela idade, isso já faz muitos anos. Ele e meu pai eram gêmeos e ambos nasceram com o dom da alquimia. Isso é muito raro. Todos os alquimistas recebem uma bênção de Ninhursag que dobra o tempo de vida, mas ela só pode ser concedida a uma pessoa. Eles teriam que escolher qual deles receberia. Meu pai provou ser o melhor e levou a posição, mas aí... Depois de alguns anos, Tinez o matou.

─ Eu sinto muito... Ele não foi punido?

─ Deveria ser. Mas as leis daqui dizem que se você matar um alquimista tem que substituir por outro, se não conseguir você será punido, torturado, massacrado, dilacerado...

─ Já entendi ─ interrompeu Lana.

Tina deu um leve riso.

─ Era isso que eu queria que acontecesse ─ ela cerrou os punhos.

─ Tina... Eu... Eu...

─ Lana, eu quero vingança. Mas não posso fazer isso até que apareça outro alquimista para substituí-lo. Seria suicídio.

─ Se eu puder...

─ Tudo bem. Já estamos em Natyror. Vou dar uma arma a você ensinar a usá-la.

─ Lana Ayase? ─ disse uma voz masculina atrás delas.

Ela se virou para a pessoa.

─ Sim?

Ele entrega um pergaminho a ela.

─ Lady Ninhursag a espera.

Lana pegou o pergaminho e engoliu seco. O homem saiu correndo. Ela se virou para Tina e perguntou:

─ O que eu faço com isso?

─ Abra-o, coloque seu braço e ─ ela deu de ombros ─ veja aonde vai.

─ Hum ─ ela abre o pergaminho.

─ Espera!

─ O quê?

─ Você precisa de uma arma. Não pode ir para a Caçada de mãos vazias. Siga-me.

Elas entraram no terceiro lar. Era como qualquer outro. Tina chegou perto da cama e abriu uma passagem secreta no chão com uma escada.

Quando elas desceram, encontraram um arsenal com todos os  tipos de foices penduradas nas paredes.

─ Subarashi!

Tina deu um riso.

─ Vá escolha a que melhor se adequar a você. Lembre-se: não é você que escolhe a arma, a arma escolhe você.

Lana se aproximou e alisou a mão sobre as foices.

─ Cuidado ─ alertou ─. Elas estão afiadíssimas.

─ Essa aqui ─ apontou.

─ Pegue-a.

Lana puxou uma foice de um metro e quinze com o cabo levemente envergado para a esquerda e sua lâmina apontando para cima. Havia alguns detalhes perfurantes entre o cabo e a lâmina.

─ Lâmina Superior Envergada ou Sheeted como a chamam. É toda sua. Ah, e ela tem um segredo: aperte na junção lâmina-cabo.

Lana faz como o dito. O cabo se encolhe e a foice por completo desaparece e vira um objeto redondo de metal com um furo no meio. Assustada, ela deixa o objeto e o pergaminho caírem. Abaixa-se para pegar ambos.

─ Isso é um... Anel? 

─ Ahn-hã. Para ela retornar à forma original, aperte nessa folha e ela aparecerá em punho, não precisa retirar o anel. Pode testar se quiser.

Ela obedeceu. A foice ficou na mão dela como estava antes, pronta para atacar. Ela aperta e retorna à forma original.

─ Todas as armas aqui são assim? ─ perguntou.

─ Algumas. Você precisa ir. Abra o pergaminho.

─ Obrigada. Por tudo.

─ Agradecendo por quê? Isso é só o começo. Vejo-te na Caçada.

Ela abre o pergaminho, coloca o braço e quando se dá conta foi teleportada para uma mesa farta de alimentos e parou sentada.

─ Ah, você chegou Lana. Estava a sua espera.

Lana demorou alguns minutos para compreender o que estava acontecendo. Ela observou à sua volta. Estava numa casa branca luxuosa, com algumas paredes de vidro e uma claridade grande vindo detrás dela. Caiu sentada numa mesa em formato de elipse com Sam à sua esquerda e Ninhursag sentada na cabeceira. Demorou algum tempo até perceber que Ben estava do lado de Sam.

─ Sam, Ben?

─ Acho que você deveria falar com a anfitriã primeira, garota.

Ela abaixa a cabeça.

─ Perdão, Ninhur... Lady Ninhursag ─ corrigiu-se.

─ Tudo bem. Está com fome? Sirva-se!

─ Estou. Obrigada.

Não tinha comido nada desde que chegou a Skelver. Ninhursag ficou observando-a comendo. Samantha e Ben não tocavam na comida. Sam interrompeu o silêncio:

─ Onde você estava? ─ sussurrou Sam.

Ela engoliu.

─ Em Natyror. O que estamos fazendo aqui?

Sam deu de ombros.

─ Tem uns quarenta minutos que estou aqui. Ela não disse muita coisa, acho que estava esperando você.

─ Bem acho que já posso falar ─ disse Ninhursag, como se estivesse ouvindo a conversa ─. Chamei vocês aqui para saber como vão se acomodar aqui em Skelver.

─ Nin... Lady Ninhursag, nós só queremos ir pra casa ─ Sam tomou a frente ─. Voltar a ver nossos pais e não...

Ninhursag assentiu.

─ Entendo Samantha. Mas me diga como uma garota que pode incendiar sua casa num espirro pode viver uma vida normal? E ele ─ indicou Ben ─ pode fazer sorvete quando for beber alguma coisa. Samantha, você me entende por que não pode sair daqui? 

Sam suspirou.

─ Entendo ─ ela colocou as mãos no rosto ─. Mas e minha mãe? Minha vida na Terra, como fica?

─ Samantha, nós vamos dar um jeito nisso, você só...

─ Que jeito? ─ ela interrompeu Ninhursag e levantou-se ─ Eu. Não. Quero. Ficar. Aqui. Entendeu-me? ─ seu cabelo estava em chamas.

─ Sam ─ disse Ben puxando-a ─, eu acho melhor você sentar.

Ninhursag estendeu a mão para trás e o bastão veio voando e ela segurou. Levantou-se.

─ Vou mostrar sua mãe.

Ela fez um gesto com o bastão em direção à mesa e um buraco se abriu e a comida desapareceu. Lana protestou. O buraco foi tomando forma e apareceu o bairro onde eles moram. Não emitia som algum. Aos poucos, Lana pode detectar que era a mãe de Sam, Amelie. Ele estava com o rosto inchado e parecia coordenar um grupo de busca. Ficava apontando para todos os lados, indicando direções para uma multidão de pessoas. Uma mulher asiática apareceu ao lado de Amelie. Naomi Ayase, mãe da Lana. Ela estendeu a mão para tentar alcançar e Ninhursag a impediu advertindo-a. Ela fez um gesto com o bastão e a cena desapareceu. A mesa voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.

─ Sua mãe neste exato momento ─ disse Ninhursag.

Sam já estava com os olhos vermelhos.

─ Ela está me procurando ─ ela fungou ─. Já vi que vou ter que ficar aqui. Quanto tempo?

Ela se aproximou de Sam, tocou em suas costas e a levou para a sacada. Lana deu alguns passos e ficou perto delas.

─ Olha ─ disse a lonios ─, você pode viver aqui em Skelver com sua mãe. Muitas famílias moram aqui e vivem bem. Faz o seguinte: você pode decidir hoje, depois da Caçada.

Sam assentiu.

─ O.K. Caçada?

─ Você verá.

 Ben se aproximou e perguntou:

─ Lady Ninhursag, isso é um Sol? ─ apontou para o horizonte.

─ Sim. Acha que só sua galáxia tem sol?

Ben deu de ombros. Ninhursag mudou a expressão do rosto.

─ A propósito, deem-me os celulares.

Lana já havia esquecido que tinha celular. Ela pegou no bolso e ele estava cheio de terra. Apertou algumas teclas, viu que não funcionava e entregou. Os outros fizeram o mesmo, mas o de Sam tinha derretido completamente e o de Ben virado uma pedra de gelo.

─ Como eu imaginava. Não quero isso, joguem fora.

Ela indicou um local e eles foram. Quando voltaram, Equus estava pousando com Tiamat.

─ A carona de vocês chegou ─ ela olhou para a mão de Lana ─. Desçam. Equus os espera. E Lana, você fica aqui.

Ela acenou para Sam, que passou pela porta logo depois.

Ficou pouco à vontade pelo fato de ficar sozinha com Ninhursag. Até então, só quem tinha dado realmente atenção a ela era Ynis, e mesmo assim ficara desconcertada. Provavelmente era tímida. Ou estava mal-acostumada por Sam sempre tomar a frente em tudo. Às vezes isso a irritava.

Mas, olhando pelo lado bom, Hasting sempre teve facilidade em consolá-la. Considerava-se pessimista e ela ajudava a olhar o lado bom das coisas, ou pelo menos, diminuir seu desespero.

Sua mãe não conseguia fazer isso. Talvez o desespero de muitos anos atrás tenha ficado terrivelmente marcado e ela não conseguisse passar a tranquilidade necessária e acabasse fazendo totalmente o contrário. A inquietação de sua mãe não a fazia bem.

─ Não costumo ouvir sua voz ─ disse Ninhursag.

Lana deu de ombros.

─ Não costumo falar muito.

─ Prefere deixar que as pessoas fizessem por você? ─ Ninhursag suspirou ─ Lana, sente-se ─ ela estendeu a mão e a cadeira veio arrastando da mesa e foi parar atrás de Lana.

O que ela está querendo fazer? Pensou Lana.

─ Do que está falando?

─ Estou querendo dizer que não pode sempre se apoiar em Samantha! Vocês são de classes diferentes, Lana... Agora tem que aprender a decidir por si mesma.

Ela está insinuando que eu não penso?

─ Ainda não sei o que está querendo dizer.

─ Tudo bem. Mas um dia, você ainda será traída pela própria proteção dela ─ ela se levantou ─. A propósito, boa escolha.

Lana não respondeu, mas sabia que ela referia-se a seu anel/foice.

Ninhursag se encaminhou para a saída. Lana protestou:

─ Espera! Como eu volto pra Natyror?

─ Você dá um jeito. Use suas habilidades. Não demore, você precisa treinar ainda.

Lana grunhiu.

Estava começando a odiar essa criatura. Arranjou carona pra Samantha e Ben, mas não podia arranjar pra ela? Só porque eles são oheinas? Como sempre Sam tinha que levar o lugar superior.

A rua principal estava movimentada. Vendedores gritavam a todo instante, de uma forma que dava para ficar facilmente surdo. Em uma das tendas algo chamou a atenção de Lana.

Tinha uma khitur conversando com um vendedor, também khitur. Lana se aproximou devagar e percebeu que era Tina. Ela esperou alguns instantes.

─... eu já falei que de hoje não passa!

─ Tina... e se... ─ disse o homem.

─ Hoje! ─ interrompeu Tina.

Tina se virou e esbarrou em Lana.

─ L-Lana? O que está fazendo aqui?

─ Estava com Lady Ninhursag, esqueceu?

Tina bateu na testa.

─ Ah, é mesmo.

─ Hum.

Lana pensou em perguntar sobre o que ouviu. Mas desistiu. Isso não era de sua conta.

─ Eu acho que preciso treinar um pouco antes da Caçada.

─ Claro ─ Tina entregou um pergaminho a Lana.

Elas se teleportaram e em instantes estavam de volta a Natyror.

Entraram em um dos alojamentos e desceram até o subsolo. O local tinha terra por todos os lados e era extenso. Possuía luz elétrica. Em alguns lugares tinham troncos grossos, que possivelmente, serviam de sustentação para o local.

Lana concluiu o lugar seria ali. Tocou na folha cravada no seu anel de prata, usada no dedo anular direito, e a foice apareceu. Sheeted. Esse era seu nome, segundo Tina. Significa coberto, em inglês.

O que tem a ver com uma foice? Pensou Lana.

─ Concentre-se ─ disse Tina.

─ Em quê?

─ Todo druida precisa ter seu elo com a natureza. Você ainda não tem o seu. Concentre-se e imagine que as árvores pulsam por você.

Lana apertou os olhos por segundos. Nada aconteceu.

Tina bufou.

─ Não, não é assim. Veja.

Tina fechou os olhos, respirou fundo e ramos verdes começaram a brotar do chão de terra. Um deles cresceu no pé de Lana e foi crescendo até enroscar totalmente. Ela puxou o pé com força, mas nada adiantou.

─ O que está fazendo?

─ Acho que precisa de desafios. Solte-se sem usar a foice. Pense numa saída.

Lana grunhiu e transformou a foice em anel.

Ela tentou se libertar pensando em regredir o processo criado por Tina. Imaginou que ele voltaria de onde saiu. Nada aconteceu. Usou a força novamente, mas quando sentiu um estalo no tornozelo, parou. Ficou com medo de ter que arrancar o pé para sair.

Estava começando a pensar que ela fazia de propósito. Será que ela sabe que eu ouvi a conversa? Fez um movimento com a cabeça, espantando os pensamentos. Ache uma solução lógica, não deve ser difícil.

Ela se abaixou e analisou o que a estava prendendo. Tina observava tudo, calada. Lana percebeu que tinha uma saída, mas só dava pra ser por cima, e a posição que ela se encontrava não era favorável à sua liberdade. Eu preciso subir. Plantas que sobem... Plantas que prendem... Budo! E finalmente teve uma ideia.

Ela se levantou e começou a se concentrar, respirando. De repente ramos começaram a se formar no teto. E eles foram ficando cada vez mais grossos e se entrelaçando. Cada ramo possuía cerca de três centímetros de diâmetro, mas quando se juntavam, resultava em algo muito mais resistente. Folhas grandes com cinquenta centímetros de comprimento e com furos nela saíam.

Lana colocou a mão dentro de um dos buracos da folha que vinha em sua direção, usando a mão direita e com a outra se apoiou em no emaranhado de ramos. Andou alguns centímetros à frente e seu pé se soltou. Ela pulou no chão e expirou.

Tina estava boquiaberta.

─ Monstera pertusa!

─ Oi?

─ Você conseguiu ─ Tina pegou-a nos braços ─. Na verdade, era só você criar um novo galho para puxar pelo seu outro pé. Isso foi genial! Nunca vi alguém resolver assim.

─ Obrigada ─ respondeu, envergonhada.

─ A ideia da Monstera pertusa... Como teve?

─ Monstro o quê?

─ A planta que invocou.

─ Ah! Eu não sei, só... ─ ela deu de ombros.

─ Parece que está preparada para a Caçada. Lembre-se: sinta o elo com a natureza.


Às 15h00 ela estava prestes a entrar na Caçada. Estava junto com os outros druidas, em meio a uma multidão de pessoas de todas as classes e raças. Ainda não tinha encontrado Sam e Ben.

O lugar era uma clareira, com floresta densa por todos os lados. Atrás deles estava um lugar totalmente aberto, com grama verde, parecendo um campo de golfe. Em algum lugar tinha um córrego. Todos os guerreiros olhavam para o lado oposto ansiosamente, até que os lonios apareceram, cada um materializando-se de acordo com sua forma.

Equus usava uma armadura prateada, com os braceletes de pontas grandes. O que Ynis usava não era exatamente uma armadura; ela consistia em uma proteção densa para a caixa torácica, a parte baixo um manto, e uma capa nas costas. Axel estava com uma armadura leve, semelhante a uma militar, só que preta. Ombreiras de metal, uma capa rasgada atrás e capuz, cobrindo seu rosto. E finalmente, Ninhursag, estava com um vestido verde-musgo, em que a gola, ficava abaixo dos ombros e com uma tiara nos cabelos soltos, deixando à mostra suas orelhas pontudas.

Equus pediu silêncio.

─ Bom... Vocês conhecem as regras da Caçada. Mas vou repassar algumas coisas para os novatos ─ ele apontou para Sam e Bem, e nesse momento Lana conseguiu vê-los ─. Lá dentro seus poderes serão multiplicados, para não haver desvantagem. O objetivo é destruir a Árvore de Controle do time adversário. Se conseguirem, vocês ganham. Fiquem atentos: o tempo pode mudar a qualquer hora. À luta, tropa! ─ gritou. 

Os combatentes correram até o campo de batalha. Quando eles passavam, aparecia de relance uma imagem semelhante ao portal de teleporte presente no pergaminho depois sumia.

Ela tentou ir ao encontro de Sam, mas a multidão acabou empurrando-a para dentro do campo. Quando entrou estava com a roupa que Tina tinha a ajudado conseguir para completar seu traje de batalha: a roupa um tanto colada, verde, e com um tipo de saia como roupa exterior. Sem querer, estava com a foice em punho. E estava também com um bracelete reluzente no braço esquerdo, bem rente à pele. Cor verde. Protetora. 

Não parava de aparecer pessoas ao seu redor. Ela olhou para trás e viu uma árvore de cinco metros com um tronco de dois metros de diâmetro e um círculo verde, da mesma cor do bracelete, no centro. Tinha várias linhas que se assemelhavam a capilares e as folhas eram da mesma cor, reluzente. Parecia que estava ligado à energia. 

Alguém a cutucou por trás.

─ Oi, Lana. 

Ela se virou. 

─ Ben? Você por aqui?

─ Ahã. 

Ele usava roupas folgadas, camisa e calça com dobrinhas, azuis. Chegava a ser engraçado. Lana prendeu um riso.

─ Que roupa é essa...

─ Sem comentários.

─ Onde está a...

─ Lana! ─ interrompeu uma voz feminina atrás dela.

Ela se virou.

─ Tina?

─ Achei você. Vamos ─ ela olhou para Ben ─. Oi.

Ben apenas acenou.

De repente, o chão começou a tremer e brotaram árvores gigantes ao redor deles. Lana observou à sua volta e viram dois druidas de mãos dadas, possivelmente, fazendo aquilo acontecer. Em apenas algumas minutos formou-se uma floresta densa, escondendo a Árvore de Controle. Genial!, pensou.

Tina puxou Lana para correr entre a floresta e gritou algo que Lana só conseguiu compreender Gosto de amarelo. Isso não fazia sentido, mas ela não se deu ao trabalho de perguntar o que realmente ela havia dito, até porque, segundos depois uma flecha zuniu no seu ouvido, quase a acertando.

─ Tina! ─ gritou.

Não ouviu nada. Depois de alguns segundo um gritou quebrou o silêncio. Depois brandido de espadas. Ela correu em direção ao barulho, em busca de ajuda. Obviamente, se havia luta, havia alguém da sua equipe. Ela correu alguns metros na mata e viu Tina lutando com um equite. 

Era um humano. Cabelos pretos, pele morena e uma armadura bem pesada e já riscada, sinais que ele tinha sido acertado muitas vezes. Era incrível a facilidade que Tina lutava. Dava saltos, surpreendia o oponente, invocava plantas e até subia nas árvores, mas não era o suficiente. O escudo dele bloqueava quase todos os ataques. Lana precisava ajudar. Mas agora não dava.

Outra flecha passou pelo seu rosto, mas dessa vez explodiu na sua frente criando um clarão, que impediu sua visão. Cega, correu sem direção, mas sabia que estava ao lado contrário da luta de Tina. Ela se apoiou em uma árvore até sua visão retornar. Sabia que estava sendo seguida, mas não conseguia ver nada. Ouviu um vulto nas folhas e ficou procurando, ofegante.

─ Quem está aí? ─ gritou. 

Falou mal de si mesma por ter gritado, sabendo que o inimigo não ia se mostrar. Eu preciso saber onde ele está. Se está realmente nas árvores, talvez eu possa detectá-lo. O elo.

Ela se concentrou com a mão na árvore e fez o que Tina falou: sentir como se fosse você pulsando. Após alguns minutos recebeu uma batida forte no coração como se estivesse voltando de um infarto. A partir daí ela podia sentir cada centímetro, movimento e todo verde que compunha o ambiente. O movimento fez sua cabeça rodar e o estômago revirar.  Tem alguém querendo me matar e eu não posso desmaiar aqui. Matar não! Corrigiu a si mesma. 

Então sentiu a presença do seu inimigo. Ou provavelmente ele. De qualquer forma, podia sentir qualquer do time rival e ela quis se precaver para o que estava mais perto. Outra flecha passou por ela, mas essa raspou e conseguiu tirar sangue do seu braço. Felizmente, era o oposto que ela segurava a foice. Ela correu em direção à origem da flecha. De longe avistou uma sombra na árvore.

Ela criou uma escada de folhas. Anubia Gigantea. Ela não sabia como, e nem estava com tempo de descobrir como esse nome lhe veio à mente. Logo que chegou a cima lançou sua foice, na sombra. Ouviu o barulho de algo pesado caindo. Jogou-se do alto e foi em direção à pessoa. Ela se levantou. Era um pouco mais alta que Lana, usava uma roupa totalmente preta, com um arco na mão e não dava para ver seu rosto, estava coberto. 

O rival empunhou seu arco e estava pronta para atirar. Lana o jogou no chão com sua foice. O inimigo recuou. Lana fitou seu bracelete vermelho. Quando foi atacar o oponente pegou seu arco e virou uma sombra. Sumiu completamente. 

Quando Lana deu por si, já estava anoitecendo. Começou a chover. Era só o que faltava. Ela se abrigou debaixo de uma árvore e sentou. De repente, a temperatura baixou mais ainda. A chuva virou granizo. Podia ouvir o barulho das pedras arrebentando cada folha, de cada árvore. Gelo. Ben deve estar por trás disso. Sentiu-se vitoriosa por uns instantes. Até que ouviu uma explosão como uma bomba nuclear.

Um formato semelhante a cogumelo, feito inteiramente de chamas se formou no horizonte, no lado dos Destruidores. Samantha. Incrível! Logo depois, sentiu labaredas correrem por dentro das árvores. Mesmo que fosse do time adversário, ela sentiu que era algo bem pior e mais poderoso. Fechou os olhos e se concentrou em todo o campo. 

Localizou Sam, defendendo sua Árvore de Controle e percebeu que as labaredas estava indo em direção à Sam, portanto, o poder não poderia ter vindo dela. Ben estava logo do outro lado, bloqueando as rajadas de Sam. Depois disso, tudo foi muito rápido. A coisa chegou perto e abriu buraco negro em direção a Sam. Ben percebeu, empurrou-a em direção à Árvore e acabou sendo tragado para dentro. 


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Notas finais do capítulo

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