Beautiful escrita por Blue Dammerung


Capítulo 1
Capítulo Único: Dancing so Good.


Notas iniciais do capítulo

"Wallflower: Wall-flow-er [walw-flou-er]
1. A person who because shyness, unpopularity, or lack of a partner, remains at the side at a party or dance.
2. Any person that remains on or has been forced to the sidelines of any activity."



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-O nome dele é Malik. Ele não deve ter vindo com ninguém... Dizem que é muito grosso. Acho bem feito. Um Wallflower.-Ela disse, mas Altaïr mal ouviu. Na verdade prestou atenção só na última parte.-Dizem que ele é gay também.

-Um o quê? O que você disse antes?-Ele franziu o cenho, encarando-a agora. Ela ficava gorda com aquele vestido, mas ele não diria isso.

-Um Wallflower, Altaïr.-Ela revirou os olhos.-Procure no dicionário se não souber o que é.

Estavam ambos sentados junto com outros amigos a mesa. Ezio, o único de pé, dançava com duas meninas ao mesmo tempo, Desmond, na mesa, gritava com alguém no celular – provavelmente com o pai porque ele havia batido o carro na noite anterior e fora para o baile mesmo estando de “castigo” - e Connor, também sentado, conversava com aquela menina morena com sotaque francês cujo nome Altaïr nunca lembrava.

Wallflower, é? Teria a ver com flores? Muros e flores? Viera para os EUA não fazia muito tempo, há uns cinco anos, e às vezes ainda tinha dúvidas com certas coisas da língua inglesa. Virou-se para Maria então, com o cenho franzido.

-Ele é uma flor? Uma flor no muro?

-Não, seu idiota.-Ela riu.-Já mandei procurar no dicionário.

-Se você sabe, devia me dizer, poupar-me o trabalho.-Ele cruzou os braços, bufando.

-Você quer tudo nas mãos, sempre. Não sou sua empregada.

-Não disse que era.

-Então não tenho porque lhe dizer.

-Ah, Maria, chega. Se não quer falar, ótimo, não precisa ficar bancando a enciclopédia arrogante todo tempo.-Virou-se na cadeira, dando as costas para a atual namorada. Ou ficante. Ou seja lá o que diabos ela fosse. Os olhos dourados de Altaïr pairaram sobre o rapaz sozinho no outro canto do salão, braços cruzados, terno, costas apoiadas contra parede.

Já tinha visto ele, o tal Malik, andando pelos corredores vez por outra. Tinha fama de mal-humorado, grosso, rude, e porque só era visto com outros homens, era chamado de gay. Altaïr não tinha nada contra os gays, até porque Ezio às vezes gostava de aventurar-se com outros homens – principalmente um pintor nos subúrbios da cidade – e fazia questão de contar isso para os outros amigos. Eram grandes parceiros, colegas, quase irmãos, ele, Altaïr, Connor e Desmond. Edward às vezes se juntava à turma também, quando tinha folga da marinha.

De qualquer forma, encarou Malik, sozinho. Ele devia esperar esperando por alguém, então, quer dizer, ele tinha amigos. Andava com alguns nerds, como a menina que Desmond gostava, aquela loira. Os amigos dele deveriam aparecer a qualquer instante...

-Altaïr! Não me dê as costas assim!-Ouviu Maria lhe cutucar e virou apenas o rosto, suspirando pesado e levantando-se da cadeira, ajeitando o paletó. Começava a tocar uma música mais lenta, mais “bonitinha” do que a pop dançante de antes.

-Chega, Maria, ok? Deixe-me em paz um pouco. Desde de manhã que você me perturba com roupas, falando sobre suas notas, suas aulas, seus trabalhos. Quando eu falo alguma coisa, ou você me corrige ou age com desdém. Chega.-Altaïr ralhou, e se afastou enquanto ela o olhava com aquele ar surpreso, e pouco depois, voltava a chamar seu nome várias vezes, mas a música não o deixou escutar depois de aumentar a distância entre ambos.

Atravessou aquela multidão de jovens dançando, juntos, numa valsa ensaiada. Ezio conseguira a proeza de dançar com duas ao mesmo tempo, e Altaïr não queria saber que tipo de argumento ele usara.

Aproximou-se do rapaz sozinho, atraindo seu olhar. Aquela parte do salão era meio escura, e a música não soava tão alto por ali. Alguns casais também se comiam nos cantos, longe dos olhares dos professores.

-O que é?-Ele perguntou. Tinha os braços cruzados, cara de poucos amigos. Altaïr aproximou-se até ficar pouco mais de um metro de distância dele. Deu de ombros, mãos nos bolsos.

-Nada. Você é o Malik?

-Sou. E daí? O que veio fazer, veio rir também? Veio fazer piadinhas? Não trouxe nenhuma câmera com você?-O moreno ralhou. Ele era um pouco mais baixo do que Altaïr, e um pouco mais novo também.

-Não, eu vim só conversar. Não precisa me engolir.

-Ah, entendi. Veio fazer a boa ação do ano? Você nem me conhece, pode ir embora.-Ele revirou o olhar.

Altaïr suspirou. No dia em que estava sendo mais sociável, as pessoas tinham decidido ser todas rudes e arrogantes. Coçou os cabelos, virando o rosto um pouco para fitar todas as pessoas ainda dançando, a música na metade.

-Você está sozinho. Vim perguntar se está tudo bem.

-Estou, agora pode ir.

-Você está esperando alguém?

-Por que está tão interessado?-Ele estreitou o olhar, e Altaïr voltou a dar de ombros.

-Se eu perguntei, é porque estou interessado. Além do mais, só teremos um baile desses na vida. Ninguém merece estar sozinho, Malik. Eu sou Altaïr.

-Eu sei quem você é. Já o vi jogando pelo colégio, não sou idiota. O famoso Altaïr Ibn-La'Ahad. Eles pronunciam seu nome errado todas as vezes.

-É, eu já cansei de corrígi-los.-O maior assentiu, um repuxar nos lábios indicando um sorriso contido no rosto. Mas estava escuro, e Malik não conseguiria ver.-Então, você está esperando alguém?

Malik suspirou pesadamente. Aquele cara, de onde quer que ela tenha saído e qualquer que fosse a razão dele estar ali, com certeza não pararia de lhe perturbar até que o moreno dissesse alguma coisa. Não deveria fazer tanto mal, quer dizer, nem conhecia ele mesmo.

-Meu namorado.-Ele disse, revirando o olhar.-Ainda não chegou.

-A festa começou há duas horas.

-É, ele deve ter se atrasado.-Malik encarou o chão a sua frente, os braços ainda cruzados. Altaïr via a forma como os dedos dele, as unhas, cravavam-se nas próprias roupas. Ele sabia que o namorado, quem quer que fosse o cara, não viria. Duas horas de atraso não era atraso, era desistência.

Altaïr limpou a garganta, meio sem jeito então. Não devia ter perguntado.

-Tentou ligar pra ele?

-Tentei.

-E então?

-Uma menina atendeu. Disse que ele já estava vindo.

-Sei...-Altaïr coçou a nuca. Aquilo estava na cara, mas... Era melhor não falar nada. Era melhor não se meter.-Você podia aproveitar a festa enquanto isso.

-Não seja imbecil. Meu parceiro não chegou, quer que eu dance sozinho? Não. Prefiro ficar aqui, você pode voltar pra sua mesa e pra sua namorada. Aliás, acho que ela está olhando pra cá.

Altaïr o fitou então. Mesmo no escuro, conseguia ver os nuances de castanho dos olhos do outro, simples, mas especiais. Tudo bem, ele era grosso, mas não era tão má pessoa assim... Só meio... Solitário, talvez. Altaïr sabia o que significava sempre andar sozinho por aí ou ser deixado de lado por tudo e todos. Sorte sua que conseguira arranjar amigos, mas ainda assim, foi difícil.

-Ela tem um ar psicótico?-O maior perguntou pouco depois.

-Tem.

-Então é ela mesmo. Acho que acabei de dizer umas verdades à ela e ela vai querer terminar.

-Parabéns por ficar solteiro na noite do baile. Eu pelo menos ainda estou na dúvida, mas você, depois dessa, com ela olhando pra você assim, com certeza não tem mais namorada.

Os dois ficaram calados por alguns instantes então, Malik encarando o chão, Altaïr vendo todo aquele pessoal dançando. A música estava quase acabando. Era o baile, sua última noite por ali. Depois, faculdade, emprego, a possibilidade de nunca poder ter aquela chance de novo. Quer dizer, ele não tinha nada a perder. Malik estava sozinho. Ambos, Wallflower.

-Você quer dançar comigo?-Perguntou então, encarando o moreno, que franziu o cenho e fez uma cara feia. Altaïr teve certeza que ele ia brigar, que ele ia xingá-lo, dizer que estava brincando com sua cara ou que aquela era uma puta brincadeira de mau-gosto, mas não era, era de verdade.

-Quero.-Ele respondeu apenas, desviando o olhar, afastando-se da parede enquanto Altaïr respirava fundo, quase aliviado, e andava até a pista de dança, estendendo uma das mãos ao moreno, que o seguiu.

Claro, conseguiram atrair alguns olhares, principalmente sobre Altaïr, um dos grandes esportistas do colégio agora colocando uma mão na cintura de outro cara, um nerdzinho que vivia enfiado na biblioteca, enquanto o mesmo nerdzinho colocava uma mão sobre o ombro do maior e com a outra, segurava sua mão.

Outra música começou a tocar, lenta, e Altaïr sorriu de leve, mordendo o lábio, sobre a cicatriz, enquanto fitava o moreno. Moviam-se devagar, uniformes entre todas aquelas pessoas dançando numa sintonia improvisada.

“Remember when you lost your head; Sometimes I wonder how you stay so sad when you're so beautiful...”

-Onde conseguiu? A cicatriz?-Ele perguntou, encarando Altaïr de uma forma meio diferente, quase cautelosa. Parecia não querer se aproximar demais, como se os toques da dança não o agradassem, mas não havia nenhum outro traço em seu rosto. Na verdade, apesar de parecer não querer, ele estava bem próximo do maior, poucos centímetros separados os rostos enquanto se moviam, devagar.

-Briga, há uns anos atrás. Fui defender um amigo meu e o cara me bateu no rosto com uma garrafa de uísque quebrada.-Respondeu, lembrando-se dos velhos tempos.

“And i remember every word you said; How you were scared because you never been somewhere so beautiful, so beautiful...”

-Por que está fazendo isso? Seus amigos estão olhando pra cá, vão passar a noite inteira falando de nós, e você... Você nem é gay. Eu não...-Malik franziu o cenho, desconcentrando-se e pisando no pé do maior, que mordeu o lábio mas nada disse.

-Eu não sei.-Ele respondeu, encarando o moreno por alguns segundos antes de voltar a desviar o olhar.-Eu não sei. Eu o vi... Sozinho. Eu só achei que...

-Então foi por pena?-Malik ergueu uma sobrancelha.

-Não. Foi por empatia. Não sei, quer dizer, não sei...-Altaïr negou com a cabeça várias vezes, suspirando, voltando a olhar o menor então.-Achei que se eu não levantasse e fosse falar com você, você começaria a chorar.

So tell me why we're talking when we dance so good; So tell me why we're talking when we dance so good; And you know you can't stay but i wish you would; Yeah i wish you would, yeah i wish you would...”

-N-Não seja estúpido, idiota, eu não choraria por...

-Eu sei, eu sei.-Cortou o outro antes que ele dissesse o que Altaïr já sabia. Orgulhoso demais, já previa isso. Soltou a cintura do menor, junto com sua mão, mas sem parar de dançar. Malik franze o cenho, provavelmente achando que Altaïr pararia a dança no meio da música, mas longe disso, o maior o abraça, entrelaçando as próprias mãos na base da cintura do outro, nas costas.

Malik cora, quase engasga, e fica imóvel por alguns momentos, o que os obriga a parar de dançar. A-Aquilo já estava próximo demais, quer dizer...

Ouviu um som baixo no pé do ouvido então, o que lhe causou arrepios e o fez estremecer, corando um pouco mais. Altaïr estava rindo, baixinho, quase inaudível, mas estava. Nunca o tinha visto sorrir antes, nem quando o via com os amigos no corredor, nem nos jogos, nem em hora alguma, imagine rir então, mas... Ele estava rindo.

-Malik... Eu estou sentindo seu coração batendo.-Ele murmurou, e Malik voltou a corar.

-O-Oras, cale a boca!-Ele exclamou, virando o rosto para o outro lado e lentamente passando os braços por sobre os ombros do maior, entrelaçando as mãos atrás da nuca dele. Voltaram a dançar, devagar. Altaïr deitou a cabeça no ombro do menor, sorrindo de leve, os olhos fechados enquanto moviam-se no enbalo da música.

Nunca esteve tão calmo e relaxado em toda sua vida. Nem os olhares, nem os comentários, nada atraía sua atenção naquele momento. Era estranho abraçar alguém com as costas quase tão largas quanto as suas, era estranho sentir o tecido do terno, as pernas se tocando de forma constrangedora às vezes porque não era tão fácil dançar daquela forma, mas ele gostava.

Aquilo preencheu a necessidade que Altaïr teve, mas que não soube identificar, assim que pôs os olhos no outro árabe: Proteção. Malik, por mais que tivesse aquela postura rude e briguenta, toda vez que Altaïr o olhava, parecia clamar por um abraço, um ombro amigo, proteção. Altaïr não se incomodaria em protegê-lo um pouco mais, até.

A música acabou pouco depois, mas até o final do baile e até depois dele, dançaram juntos, conversando baixinho, rindo às vezes. Trocaram telefones no final. No dia seguinte, encontraram-se numa cafeteria, passaram o dia juntos.

Malik não era má pessoa, tinha apenas alguns traumas e às vezes ficava com um mau-humor absurdo, mas valia a pena porque ele ficava uma gracinha tentando pedir desculpas a Altaïr, sempre de forma indireta, comprando coisas pra ele ou lhe fazendo desenhos ou cozinhando seu jantar – visto que ambos moravam sozinhos, mas recebiam ou algo dos pais ou trabalhavam em meio-período. Malik descobriu que Altaïr também tinha seus traumas. Detestava água, e até banheiras o causavam arrepios, e que às vezes conseguia ser surpreendentemente egoísta e infantil.

Passaram para a mesma universidade, completaram seus anos de namoro e numa viagem totalment inesperada para o Canadá, casaram-se, e por lá ficaram. Canadá, onde fazia muito frio, onde de vez em quando as estradas ficavam absurdamente escorregadias, e onde sempre havia acidentes.

Numa noite, Malik estava voltando para casa, sozinho. Altaïr tinha ficado para resolver alguns assuntos, a papelada para adotar um garotinho turco. Tinha nevado durante todo o dia e parte da noite. Malik tentou a ultrapassagem na via, deserta naquele horário, xingando porque nunca mais faria tanta hora-extra de uma vez só, mas em poucas semanas seria aniversário de Altaïr, e queria dar algo que ele realmente gostasse, já que completaria seus 40 anos.

Malik sorriu, sentindo-se velho, mas nem um pouco infeliz. Na verdade, estava e era tão feliz que se morresse naquele exato momento, estaria satisfeito.

Foi então que viu reflexo das luzes da rua e girou o volante de repente, caindo no acostamento, o carro capotando três, quatro, cinco vezes até bater num monte de neve e parar. O caminhão que vinha com as luzes desligadas, no sentido contrário e no mesmo lado por onde Malik tentara a ultrapassagem, estacionou e parou, e dele saiu um motorista quase em pânico.

Altaïr quase entrou em pânico quando ligaram do hospital. Malik estava vivo, mas estava com feios hematomas e pedaços de vidro tinham cravado em seu braço de forma que ele perdesse muito sangue naquela área, tornando-o inutilizável. Células mortas, gangrena, precisavam amputar.

-Não tem outro jeito?-Altaïr engoliu em seco, os olhos vermelhos, cheio de olheiras, mãos tremendo dentro dos bolsos.-Vocês são médicos, droga, não tem outro jeito?!

-Infelizmente não. Se deixarmos como está, a gangrena pode se espalhar, e então ele pode não sobreviver. Precisamos da sua assinatura para realizarmos a cirurgia de amputação. Escolha, ou o braço ou a vida dele.

Altaïr engoliu em seco, mas assinou.

Depois de horas esperando no corredor frio do hospital, eles tiraram Malik da sala de cirurgia e o levaram para um quarto particular, onde Altaïr ficou por mais dois dias seguidos, comendo e dormindo no próprio hospital, saindo apenas para buscar roupas para si, até que o moreno acordou.

-Malik...-Altaïr chamou, tocando o rosto repleto de arranhões do menor com a palma, sorrindo por ele finalmente ter acordado.

O menor franziu o cenho, encarando Altaïr, murmurando alguma coisa com a voz rouca. Lembrava-se do que tinha acontecido, sentia todo o corpo doendo, os arranhões, hematomas, algumas costelas quebradas, mas ainda bem que estava vivo. Tentou se levantar, tentou apoiar ambas as mãos nas laterais da maca para isso, mas caiu de volta contra os travesseiros.

Não.

Não, não não não!

-A-Altaïr, o que...

-Malik...-O maior mordeu o lábio enquanto o moreno erguia parte do corpo só com um dos braços, olhando para onde o outro braço devia estar. Não estava. Só ia até pouco abaixo do ombro e acabava.

Sentiu o coração quase parar, o sangue gelar enquanto uma sensação silenciosa de terror tomava conta de si.

-Malik, o acidente, eles precisaram... Senão você podia morrer e...

-CADÊ A PORRA DO MEU BRAÇO?!-Malik gritou, a voz ainda rouca soando alto pelo quarto enquanto Altaïr desviava o olhar. A culpa, de alguma forma, tinha sido sua. Mesmo que não tivesse nada a ver com o acidente, mesmo que tivesse precisado fazer a cirurgia de amputação para o menor viver, mas... Mas podia ter feito alguma coisa, podia...

-Malik, ou era você ou seu braço. Desculpe. Eu...

-COMO EU VOU TRABALHAR? DIRIGIR? COMO EU VOU VIVER, ALTAÏR?!

-EU NÃO SEI!-Ele gritou de volta, levantando-se da poltrona onde estava, andando pelo quarto, ambas as mãos na cabeça.-Eu não sei! Você preferia morrer, é isso?! Preferia deixar tudo?! Eu sei que é difícil, Malik, mas era a única escolha!

O moreno empalideceu e desviou o olhar, deitando a cabeça nos travesseiros e levando o único braço até o rosto, começando a chorar, baixinho. Altaïr quis se aproximar, mas sabia que Malik não ia querer. Sabia que ele chorava daquele jeito quando não queria que ninguém escutasse. O maior pegou a poltrona e arrastou-a até outro canto do quarto, sentando-se, rosto escondido entre ambas as mãos, chorando baixo também, mais uma vez como entre tantas outras naqueles dias.

Deixaram o hospital não muito tempo depois.

Malik não falava nada. Durante toda a volta, ficou em silêncio, encarando a janela, e Altaïr também não ousava falar. Tinha medo de dizer alguma coisa e machucar ainda mais o moreno. Ele já estava tão ferido...

A casa estava uma bagunça, claro, suja. Malik entrou e se sentou no sofá, ligando a televisão, agindo de forma aparentemente normal enquanto Altaïr fazia café. Precisava distrair-se, mas aquela sensação, aquilo de agir como se nada tivesse acontecido... O sufocava. Serviu café para si e para o menor, estendendo-o a caneca.

-Tome. Cuidado, está quente.

-Não precisa ficar cuidando de mim o tempo todo, eu estou bem.

-Estou só sendo gentil.

-Pois não seja!-Malik voltou a exclamar, derrubando a caneca sobre o carpete e xingando alto, levantando-se de uma vez, meio que cambaleando para o lado. A falta do braço o tinha deixado meio desequilibrado. O moreno saiu, subindo as escadas e gritando um “vou tomar banho” lá de cima, batendo a porta com força. Altaïr suspirou, encarando a enorme mancha de café no carpete.

Deixou a própria caneca sobre o criado-mudo e subiu as escadas, devagar, indo até o quarto que dividia com o moreno, encontrando-o no banheiro, nu, de frente ao espelho. Tinha a mão tocando onde seu braço deveria estar, mas onde nada havia. Altaïr se aproximou por trás, abraçando-o com carinho, beijando seu ombro.

-Você se casou com um homem, mas agora tem um monstro.-Ele murmurou, a voz rouca ainda, de quem tinha chorado muito, olhos cansados, corpo cheio de manchas escuras ainda.-Olhe para mim, eu... Estou horrível. Deformado. É nojento.

-Shhh...-O mais velho assoprou no ouvido do outro, sorrindo de muito leve, beijando seu pescoço.-Você continua lindo para mim...

-Não seja idiota, Altaïr, olhe pra mim, eu...

-I remember when you lost your head... Sometimes i wonder how you stay so sad when you're so beautiful...-O maior cantou, movendo os quadris para o lado levemente, como se estivesse dançando.-Você lembra dessa música? And I remember every word you said... How you were scared because you never been somewhere so beautiful, so beautiful...

-Altaïr, não...

-So tell me why we're talking when we dance so good, só tell me why we're talikng when we dance so good... Eu te amo, Malik... Vou passar o resto da minha vida com você, porque eu te amo...-Murmurou no mesmo tom, segurando o queixo do moreno para que ele virasse o rosto para si, colando os lábios por alguns poucos segundos antes de voltar a se afastar.-Quer dançar comigo?

Malik sorriu muito suavemente, e Altaïr sentiu o coração ficar extremamente leve. Era assim que gostava, Malik, sorrindo, mesmo que pouco, mas sorrindo de forma espontânea.

-Como você pode me amar?

-Não, Malik, como eu posso não te amar? Vem, dança comigo, dança comigo...-Soltou o menor, puxando-o para si enquanto o virava, um de frente para o outro, abraçando-o pela cintura, sentindo que ele colacava o único braço sobre seu ombro, como tinham feito há pouco mais de 20 anos.

Altaïr movia o corpo devagar, guiando o menor, que tinha começado a chorar baixinho de novo. O mais velho segurava o choro, claro, enquanto beijava o rosto dele, pescoço, ombro, onde alcançasse, cantando ao mesmo tempo.

-I remember when you lost your head... Sometimes i wonder how you stay so sad when you're so beautiful... And I remember every word you said... How you were scared because you never been somewhere so beautiful, so beautiful... Eu te amo... Tanto...

-Eu também te amo, seu idiota...-Ouviu-o murmurar em resposta, ambos sorrindo de forma boba, apesar de tudo, apesar da dor e da tristeza. Tinham um ao outro, para sempre, e assim ficaram, dançando até o final da tarde quando Malik começou a reclamar do frio e Altaïr acabou tirando as roupas também.


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Notas finais do capítulo

Bem, aqui está! Espero que gostem, fiz o melhor que pude para escrever algo fluffy e.
OH, PALMAS PRA DONA FRANCE/ANA/ANNY FRANNY/ANA CAROLINA GUIMARÃES AGAIN PORQUE É HORA DE APAGAR A VELINHA VAMOS CANTAR AQUELA MUSIQUINHA *balões e confete bem gays ao fundo* mesmo que seu aniversário só seja, na verdade, amanhã -q
ANYWAY, PARABÉNS ♥
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